segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Sophihammer

Vomitório de Ideias

Pois afinal a lágrima de ontem será o sorriso de amanhã, a semente cresce da superfície para as profundezas e das profundezas para a superfície.
Não sabia o significado daquela palavra, hiperbóreo, uma palavra, sem dúvidas.
Não há poesia se não há nome, mas não há um único nome sem poesia, ou uma palavra sem significado, tudo é arte.
Hiperbórea, esse foi o termo escolhido para descrever a mim mesma para quem quiser ouvir.
Oh! Conheci toda a beleza do amor em sua forma mais perversa, e ele moldou-me em mármore com grande destreza.
O sorriso branco e cheio de doçura é o bem precioso de quem vive o presente, pois a sabedoria é uma maldição.
Ingênua, inocente, ignorante, caracterização do cordeiro que se satisfaz com o nada, que para ele é como tudo.
Mas o niilismo foi pregado em minha pele, e remover um prego é atividade demasiado dolorosa para uma egoísta.
Mas como temer a dor em toda a sua natureza, se a ela atribui-se tantas formas de prazer? Agora escrevo de caneta, não há volta.
Deliciosa, porém, é a emoção de um coração partido, esmigalhado e destruído. Por que não dividir essa linda emoção?
Doze mil maravilhas pude presenciar, ninguém é mais feliz que aquele que sofre e que tem seu prazer no sofrimento. Pois se o humano sofre em sua excursão imunda, por que não tirar dos espinhos afiados o seu doce vinho?
Masoquistas em minhas emoções, assim posso falar, sentir bem ou ruim, paixão ou rejeição, não há diferença alguma, vive-se, sente-se, e cada vitória e derrota será um prazer hedônico.
Quem vive na riqueza possui sua oportunidade, tive a minha e agradeço à... mamãe, que sorte a minha. E onde está papai?
Demasiado intimista, este é como um diário, no entanto não o chamaria de diário, mas de vomitório das ideias, termo grosseiro por excelência, que o define bem... melhor cuspir do que engolir.
Todos estavam preocupados com geografia, matemática e português, nada para mim tem valor, triunfo de olhos fechados sobre tamanha mediocridade.

Sócrates tinha o dom do questionamento, uma mente acima da média de todos os tempos e seres, todavia cometeu seus erros e mesmo o mais sábio dos homens não conhece a perfeição. Esse foi o primeiro antecessor do primeiro exemplar daquele a quem me refiro: o hiperbóreo.
Ignorar as moscas é necessário para caracterizar tal indivíduo, suas picadas não o atingem, e a morte não o assusta. Um homem forte, uma mulher forte, espírito livre, cujos pés pisam abaixo de nuvens. Muito acima, o hiperbóreo não pisa na lama, não afunda no mar, não se queima no fogo, e se fogo tenta tocá-lo, a queimadura não terá importância.
Mas se Platão em seu excesso de platonismo, idealismo e sua semente do comunismo já era capaz de desprezar. Quem, em seu infinito amor, terá bondade o bastante para praticar a real virtude filosófica?
Nos montes elevados onde os seres superiores regozijam de saúde e prazer, todos os males da ignorância são ausentes, e é essa ausência de mal que define de fato o bem, meu bem.
Poderíamos atravessar o tempo e falar de Aristóteles, Santo Agostinho, Tomás de Aquino, Descartes, Voltaire, Kant e Bacon, mas nenhum deles me interessa, pois somente atrai, desprezar torna a existência tão amis agradável.
Foi um niilista não assumido, é difícil viver feliz entre os porcos, é inevitável odiar a própria raça.
A menos que se supere o estado de homem entre bestas, a menos que se eleve àquelas terras do norte, a menos que não se viva como os extremos me atraem.
Falemos de Nietzsche, ora, o seu desprezo meu homem entre porcos mas como ubermensch entre homens.
Ubermensch, super-homem, a superação do ser humano, esse é o objetivo definido pelo filósofo, esse é o monte elevado a ser escalado.
Superação, destruição dos antigos valores, tão vazios, tão insignificantes, não, caem esses impotentes valores, de joelhos aos meus pés, diante de mim, hiperbórea, o super que foi profetizado. É essa a história.

Dormindo o mais longo dos sonos, adormecida além da áurea graça, uma bela adormecida.
Adormecida em feiúra, na imperfeição pálida de um pato.
Quando tornar-me-ei um cisne de extensas asas?
Falsa superioridade, este é meu sentimento. Do que adianta um advogado na selva? De nada!
De nada adiantou a minha falsa superioridade! Ser especial é uma maldição! Ser diferente de forma alguma poderia ter algum valor, a ovelha negra sempre morre antes.
Oh! Mas se odeio o rebanho a ainda mais o pastor, como posso me adaptar a eles? Tornar-me comum?
Como? Por que? Por que a normalidade me gera tanta repulsa? Ainda assim... fora do rebanho não é melhor, vejo os ordinários juntos, felizes e bem alimentados, e mesmo no meu maior desprezo, invejo-os.
Como seria ter um amigo? Não ser vista com espanto nem como assombração? Queria achar alguém como eu, mas é mais fácil ser como o mundo é, ou tornar o mundo como se é?
O rebanho não se torna negro por minha causa, e avida solitária é demasiado estéril e gelada.
Dormindo despertei de meu sonho de doze anos, o mais ingênuo de todos, e ninguém na realidade era como eu. Única a fera a ser abatida, melhor jogar fora o meu desprezo.
Colocarei afinal a máscara da sanidade, suportarei o cheio de imundície? Pois que intelecto vale a felicidade?
Colocada, não me tornei de fato estúpida, e o fedor já não era tão fétido. Desprezo se torna conveniência, respeito se torna amizade e o amor eu guardo para mim.
Foi assim que me tornei verdadeiramente hiperbórea. Ser uma deusa entre porcos, agindo como porca é mais divertido do que parece. O mais adaptado sobrevive, e não o mais forte, afinal.

Sou tão contraditória, não é mesmo? Ou não. Não! A melhor forma de desprezo e de superioridade entre os homens é viver feliz entre eles, lidando com seus métodos ridículos, usando a minha máscara para me elevar pelo caminho deles, para rir deles e para desprezá-los de cima. Como poderia de baixo? A vítima que amaldiçoa seu algoz sente o mais intenso desprezo. De que lhe serve? Ainda assim morrerá e com maior amargura.
Não existe nada pior que a inveja, e esta é tão notória exige de mim uma caneta verde (esse trecho estava escrito com caneta verde). Mas abrirei mão desse recurso, verde é demasiado claro e ilegível.
Afinal conheci a beleza, transformei a face sem brilho no rosto mais lindo, e uma vez que se tenha conhecido a beleza, nunca mais se desejará a feiúra, o imperfeito é insuportável.
E essa foi a minha primeira luz. Presa em uma cela quente, escura, desconfortável, só. Prisão de corpo e alma, nenhuma companhia além dos insetos venenosos, e como a odiei, de corpo e alma.
Pois a primeira luz é demasiado dolorosa, como fogo para os olhos do recém libertado, um mito da caverna que ecoa pela eternidade.
Mas depois! Ó, depois que o desconhecedor da felicidade, o infeliz involuntário, o filho dos infortúnios vê a primeira luz que é a felicidade, mesmo a menor delas parecerá a maior.
Onde a água vale mais? Em um rio ou em um deserto? O primeiro gole dessa água divina é sempre o melhor de todos.
E isso me lembra de uma pobre amiga que eu tinha, contarei sua triste história, Goethe me invejaria. Tamires todos os dias se dedicava ao estudo das letras, escrevia em seu caderno, mesmo nas aulas de matemática e geometria, ninguém sabia o que saía de sua caneta. Um dia alguns garotos decidiram desvendar o mistério, pegaram o caderno debaixo da mesa enquanto ela estava no corredor e leram em voz alta. Terríveis segredos do mais profundo amor platônico, pobre Tamires, o amado Calebe aceitou uma brincadeira maldosa. Quando a menina voltou para a sala, viu todo lendo suas declarações de amor, correu desesperada, ruborizada ao extremo, gritou, esperneou, tentando tomar o caderno das mãos de um rapaz alto. Calebe a chamou gentilmente, ela perdeu a voz de tanta vergonha, ele, porém, declarou seu amor. Correspondia? Aquele vexame acabou, para Tamires foi a maior das alegrias, saía de sua cela, a mais intensa primeira luz. Amor! Amor correspondido! O mais doce sentimento! Muito lamentável quando o malvado gargalhou dela, pobrezinha, a primeira luz se apagou e Tamires foi atirada na cela solitária. De tão humilhada e desesperada lançou-se pela janela daquele segundo andar. Suicídio.
Assisti tudo com interesse, foi assim que percebi que quem vê a Primeira Luz prefere morrer a voltar pra prisão. Lamentável! Estava, em dizer ser ela minha amiga, demasiado errada, a boa menina está morta, na glória ou não.
Gosto de respirar, sem insegurança é melhor, que eu esteja pronta para todas as cargas. Tristemente pensava demais. E por que não sentir? É o melhor sabor que se tem, é vida, saúde, mas nunca como os bolinhos que agem sem a cabeça, mas antes ser um deles que ser um estéril positivista.

Pois se a existência é a maior das graças, como poderia haver algo de mais valor? Os espiritualistas creem que o mundo material seja uma cópia de seu “mundo verdadeiro”, mas não perceberam que suas idealizações s]ao contraditórias. Pois eles dizem que não devemos nos importar com os bens e felicidade terra, que ser feliz na Terra não é importante, que o importante é preparar sua alma. Porém, se a vida material é a cópia da espiritual, por que haveríamos de sacrificá-la? De vivê-la sem prazeres? Ao contrário, se se desejar felicidade do outro lado, ela também é desejada no plano físico, devemos obter o máximo de prazer, riquezas e felicidade, esse é nosso objetivo, não o sacrifício, não a privação.
Podem chamar-me de hedonista, talvez seja o termo conhecido mais correto, mas prefiro “hedonista espiritualista”. Por que minha busca por prazer terminaria na morte? Só muda o tipo de satisfação a se ter, substituir as delícias carnais pelas delícias espirituais que sequer imagino quais sejam.
Mas a liberdade da vida pode ser demasiado perigosa para algumas pessoas, e essas almas fracas, impotentes e indignas de respeito não podem lidar com si mesmas, não podem controlar suas vidas, e, portanto não podem ser livres, precisam de um guia ou um freio para protegê-los deles mesmos. Inúteis! Se tivessem discernimento não precisaria haver leis, por causa da maioria de celerados é que os espíritos superiores têm seu verdadeiro livre arbítrio restrito.
O Espírito Superior cria suas próprias regras, mas não se limita a tal, ele também as segue e não produz leis que não possam ser perfeitamente cumpridas por ele. Eu criei meus mandamentos de tal maneira que eles se adaptem a mim, e não eu a eles, a roupa é feita pro corpo, não o corpo pra roupa, não nós para o mundo, mas o mundo para nós. A Terra é meu banheiro e todas as coisas devem ser adaptadas ao ser humano, como se diz: “A mulher é a medida de toda as coisas”.
Talvez não sirvam aos outros, mas para mim servem. Não proíbo, apenas permito, permito a beleza, a saúde, o intelecto, a desenvoltura da fala, a coragem e a boa condição física. Como necessito de inteligência e conhecimento, de saber me relacionar com as outras pessoas, me adaptar a essas e adaptá-las a mim mesma, sou loucamente apaixonada por mim, e o resto sempre será substituível e imperfeito. Odeio timidez, desprezo o medo, a culpa, a feiúra, quero riqueza, delícias, toda forma de bens, sou gananciosa e também egoísta.
Por que viver pelos outros e não pelo doce eu? Por isso nunca me apaixonarei, e meu desprezo pela fraqueza e desatenção , e ser filósofa não é pensar sentada o dia todo, mas alcançar satisfatórios ou excepcionais padrões emocionais (auto-controle), intelectuais e físicos.
Ser poderoso emocionalmente é ter equilíbrio e se adaptar a toda as situações, controlar completamente seus sentimentos. O amor é propriedade privada de valor inestimável. Como seria possível e aceitável que tamanho tesouro fosse dado a outrem? Não se sabe que ninguém cuida do que é outro como cuida do que lhe pertence. Não, o amor não pode ser banheiro público, não deve ser compartilhado, tudo que se compartilha é degradado, o bem comum é sujo, é corrompido, apenas o amor egoísta a si mesmo é puro, completo.
E meu amor egoísta é azul e imenso como o mar.

Vivi muitos anos de vida rodeada por pedestais, sabem? Em cima de todo pedestal existe um ídolo, uma mentira, um objeto a que é atribuído um valor que não é realmente merecido. É uma estátua de barro aos quais são atribuídos poderes mágicos e divinos, também pode ser qualquer pessoa ou idéia que é tratada de forma diferente daquele que condiz com a realidade, pode-se dizer que ídolo é tudo aquilo que é idealizado, em que se tem falsas noções, o que inclui idealizar algo que não existe como se existisse de fato. O Ideal tem sido considerado o maior tesouro da humanidade, tudo o que é utópico e inalcançável é o que as pessoas consideram como valioso, é o seu precioso ideal. Que valor poderia ter o que não existe? O Ideal tem sido o grande Ídolo da humanidade, e é por isso que ela sofre mais do que é necessário.
Na realidade, não existe uma diferença clara entre Ídolo e Ideal, o primeiro é um engano, e o segundo é um engano também, se pudermos considerar uma diferença é que Ídolo é como chamamos o ideal que desmascaramos, ou como chamamos o ideal de outra pessoa. Muitas das guerras da humanidade foram feitos em nome de um Ideal inalcançável (isso é redundante), o mundo sem desigualdade do comunismo, o império cosmopolita dos romanos, o mundo virtuoso dos cristãos, a liberdade do mundo capitalista, o mundo sem infiéis da Jihad, o mundo de raça superior dos nazistas e tantos outros casos. Cada um com seu ideal, seu objetivo inalcançável, impossível, pois todos os Ideais têm em comum a tentativa de criar uma regra universal para todos, ou até mesmo uma ausência completa de leis(o que não deixaria de ser uma regra às avessas); essa universalização é um erro inaceitável, os homens não são iguais, tentar impor uma forma de comportamento para uniformizá-los é apenas a maior demonstração de estupidez que se pode fazer. Não é o caso de leis necessárias para a convivência entre os indivíduos, é muito razoável que se proíba que qualquer um possa entrar na sua casa, te espancar, estuprar, matar e roubar, essas são regras realistas, não Ideais, a liberdade total dos anarquistas também é um ideal estúpido. E mesmo com uma lei que proíbe tais atos, eles ainda são cometidos, pois os indivíduos não são iguais, e nem todos tem a mesma propensão a obedecer normas de qualquer tipo, mesmo que essas sejam muito justas. Dessa forma, como pode-se impor uma forma de pensamento? Uma fé? Algo que interfira no espírito, na mente, nos gostos, nas vontades da pessoa? Não pode! Cada um é dono de si mesmo, as leis realistas que devem existir só devem servir para evitar que a liberdade uma pessoa seja ameaça a outro indivíduo, mas esse não é foco, voltemos ao assunto.
O ato desprezível da tentativa de uniformização é tão inútil quanto prejudicial, é prejudicial às mentes fracas que se deixam alienar por essa idéia irreal e baseiam seus valores em algo que não existe, seja o comunismo, ou seja o islamismo, e inútil às mentes fortes, que livres de sua influência, não serão afetadas pelos Ídolos, ficando fora do alcance das intenções do idealizador. Eis meu lema:
Tudo importa, nada é igual.
Existem três tipos de Ídolo:

Ideologias que se tornam Ídolos, ou o ideal propriamente dito, já falei bastante dele. É o ídolo não físico, baseado em uma idéia que o seu criador considera como correta, é aqui que vemos o comunismo, o cristianismo, anarquia, a moral, a repressão sexual e o neo-liberalismo. A ideologia geralmente estará ligada de alguma forma a política e moral, todavia essa não é uma regra. Uma dica para quem acredita cegamente em ídolos ideológicos:
Nunca existirá igualdade, sempre existirá fome, sempre existirá miséria, a violência nunca terminará, a corrupção não sumirá, sempre existirão doenças sem cura, sempre existirão idiotas, trapaceiros, conflitos, injustiça, estupidez, ignorância, e uma diversidade imensa de defeitos e qualidades, pois os homens não são iguais, e é impossível que eles vivam de forma que uma única ideologia possa ser seguida perfeitamente, sempre haverá alguém que se oporá a ela, talvez eu.

Crença, ídolo por excelência, a religião seria considerada um tipo de ideologia como outro qualquer, e de fato é, religião é Ideologia quando se trata de uma doutrina moral e ética que define regras. Só que por trás de toda moral religiosa há a fé, que é sua parte mais importante, a fé sim é um ídolo de classificação diferente, uma vez que se baseie na crença em algo que não pode ser visto, sentido ou comprovado, seja um mundo diferente, deuses, fada do dente. Às vezes podemos passar por uma experiência e interpretá-la erroneamente, como ter um sonho e achar que estava em projeção astral, então se converter ao espiritismo, ou fazer uma projeção astral e achar que foi um sonho em que Satã tentou nos influenciar, esses são ídolos de crença que, mesmo baseadas na experiência, acabam sendo gerados por uma incompetência de quem a vive. Deve ficar bem claro para os mais céticos que nem tudo que não se vê, sente ou comprova é Ídolo, é muito provável que exista vida após a morte, por exemplo, no entanto a forma como se costuma descrevê-la é tão rica de erros que é absolutamente um Ídolo, se os idéias não existem aqui, não é mais provável que existam perfeitamente em outro mundo. Infelizmente não posso martelar os ídolos da crença com muita precisão, eles são escorregadios e gasosos, dissipam e escorregam ao levarem o golpe, são impalpáveis, fugidios, incompreensíveis e obscuros. De qualquer forma, posso afirmar pelo menos um fato com meu martelo: Sua possível religião católica/evangélica/islâmica/qualquer uma é baseada nas palavras de um homem que inventou dogmas e os definiu como absolutas, não tem nada a ver com a vontade divina, posso não poder afirmar ou negar a existência do Senhor, no entanto é fácil perceber que as organizações religiosas pouco tem a ver com ele.


Às vezes transformamos pessoas em Ídolo, como se fossem muito melhores do que são. É quando falo do amor romântico e ingênuo, eis aqui a idolatria de chefes políticos e religiosos, a exaltação de ídolos artísticos, a idealização das pessoas, a atribuição de valores muito superiores aos de realidade em qualquer indivíduo, incluindo a si mesmo. Quanto a esses , tenho apenas três conselhos:
O modo correto de se quebrar um Ídolo é martelando o pedestal em que se apóia.

Uma vez que o Ídolo perde seu valor, ele se torna apenas uma estátua, real e palpável.

Tente martelar o seu próprio pedestal, é doloroso. Quem disse que a dor é ruim?

Suas mães não são virgens como imaginam, o bom padre também se masturba, seu cantor favorito é um canalha, aquela atriz maravilhosa só está lá porque chupou o diretor, o seu herói caridoso só fazia caridade para ganhar publicidade, você não significa nada para esse mundo, seu companheiro te trai(em pensamento, pelo menos), seus amigos são falsos com você(pelo menos, às vezes), você nunca será perfeito, nunca terá uma família perfeita, um namorado perfeito, um patrão perfeito, nada, e jamais, jamais espere que alguém te escute/entenda, ou que a humanidade deixe de ser estúpida e cruel como sempre foi. Aliás, por que tais marteladas em seus possíveis ídolos tornariam a vida menos prazerosa? Quem disse que a dor é ruim?

Oh, estão bem esclarecidos, não estão? Quem disse que a vida é boa? Quem disse que a vida é ruim? Não há justiça, não há amor incondicional! Vivemos em uma grande selva chamada mundo, somos os animais mais perigosos já produzidos pela natureza, matamos uns aos outros pelos motivos mais fúteis. Que importa? Que importa se há fome e miséria? Não é assim também na natureza? Igualdade, eis o mais desejado e mais impossível de todos os ideais! O mundo não é justo, a vida não é justa, algumas pessoas são justas! Nada disso torna a vida ruim, pois não existe nada sem conflito, e não existe conflito sem sofrimento, seja da parte derrotada ou da parte vitoriosa. O universo é um constante fluxo de energia e matéria, o que hoje está hoje, amanhã estará morto, o rei que governou metade da Terra, logo se torna alimento dos vermes que rastejam no chão. As maiores nações caem, talvez se elevem novamente, o que se vê é que nada é eterno, esse fluxo define os conflitos que constroem a humanidade, a briga pela vida, dinheiro, comida e poder aqui a grande verdade, o conflito causa dor, desconforto, miséria, uns ganham para que outros percam. A lei do mais forte se aplica na vida humana, é por isso que não acredito na justiça, embora simpatize com sua possibilidade. Ah, a justiça é o meu ideal! Não devo me prender a ela, é apenas um ídolo... mas parece tão bom, tão correto. Ser forte ou ser fraco, as duas únicas possibilidades que podem definir um homem, não se trata da quantidade de músculos, da inteligência, da honestidade ou das riquezas que ele tem, o que difere o forte do fraco é:
Tudo é o que é, não como eu queria que fosse, não como deveria ser. Nada é perfeito, nada é ideal, nada é igual.
Aceitar a realidade como ela é, sem fugir, sem idealizar, sem temer, eis o sintoma da bem aventurada doença do Homem Filosófico, assim chamo o indivíduo que aceita o mundo como é, e ao invés de idealizar uma utopia, aprende a superar o obstáculos de forma prática e realizável, conseguindo ser feliz mesmo sendo parte de um mundo, de certa forma, ruim. O mundo não é belo, a vida é. Que importa o mundo? Eu sou o que me faço, e não o local onde minha existência se encontra. O determinismo é a desculpa do incapaz para seu próprio fracasso, ou mesmo para o fracasso de outros imprestáveis. Malditos sejam o que acreditam em determinismo e que se apóiam no coletivo, o coletivo é a grande destruição da liberdade e do livre pensamento, da capacidade de pensar e inventar, é o abrigo do fraco e daquele que eu chamo de Imbecil. Os leitores com o mínimo de raciocínio entenderão a minha mensagem, mas sempre há alguns menos agraciado pela luz da inteligência, não que essa seja especialmente rara, só que também não é comum, portanto devo esclarecer com maior precisão que em momento algum Aceitar a Realidade Como Ela É signifique ser impotente e passivo contra tudo a que a vida te submete, significa entender que ela não é perfeita e estar preparado para passar por cima de todas as suas dificuldades. É saber que as pessoas mentem, que doenças existem, e que o universo não conspira a seu favor, mas nem por isso baixar a cabeça e aceitar o que acontece, apenas entender o que é que pode acontecer, conhecer os fatos para combatê-los. Basicamente, o que se deve entender como “as coisas são assim” significa “eu sei que há muitas coisas ruins, porém estou pronto para lidar com todas elas sem esperar que seja diferentes”, o que é “assim” geralmente é o que não Está Sobre Nosso Controle, não se deve esperar que as outras pessoas sejam honestas, boas, razoáveis, inteligentes, nada disso está sobre nosso controle, não se deve esperar que alguém te ame do nada, que chova do nada, que tudo aconteça como você quer Sem Que Você Faça Com Que Aconteça. Além disso, toda pessoa nasce diferente, e às vezes tenta-seguir o exemplo de outras que nada tem em comum com ela, aceitar ser o que você é também é Aceitar As Coisas Como Elas são, é ser o homem como ele é, e não como deveria ser. Só que para se ser o que se é, antes é preciso descobrir o que se é, por isso é importante conhecer-se a si mesmo, tarefa difícil que Sócrates já havia lançado, e que evita que acabemos por usar o “sou o que sou” como desculpa para defeitos desleixados que poderiam ser facilmente superados.

Sofrer não é motivo de lamentação, é motivo de superação. O que seria da vida sem sofrimento? Não teria graça, a luz que penetra na escuridão é sempre mais forte. Sem sofrimento, todos os prazeres seriam em vão, eis a vida, a eterna luta, a eterna superação. É o teste sem juiz em que não existe outra opção além de trespassar os obstáculos ou morrer, na vida, como ela é, a dor é inata, a dificuldade é inata, superemos a dor. Melhor! Saboreamos a dor e bebamos do seu mel amargo com prazer.
Toda pessoa tem três componentes, como já dizia Platão, corpo, mente e alma, ou em uma visão mais materialista, corpo, cérebro e coração, que representam respectivamente os prazeres físicos e materiais, como sexo, comida e riqueza; a inteligência, intelectualidade, o prazer de se ser culto, sábio, racional, perspicaz, de se ter boas faculdades mentais; e os valores espirituais ou emotivos, entre os quais se encontram os sentimentos, a fé, as virtudes, a personalidade, são os prazeres que vêm a partir do sentir da alma, é o amor, o ódio, a construção de uma vida religiosa ou espiritual, fé em Deus ou em Buda. Devo antes explicar um pouco sobre o engano tem se propagado através dos anos sobre a virtude da Alma, costumam dizer que ela se baseia apenas na bondade e na fé em Deus, é o mais comum. Enfim, esta definição é absolutamente errônea, pelo menos no nosso mundo material, o correto é que o Espírito Superior (aquele que tem uma alma “forte”) é aquele que consegue controlar suas emoções de acordo com a necessidade. Não me refiro a um psicopata, e muito menos a um reprimido, mas essa inteligência de alma pode ser resumida como a capacidade de adaptar seus sentimentos à necessidade, podemos ser totalmente recalcados ou totalmente soltos, só importa a situação, em uma festa, podemos mostrar todas as nossas emoções mais pueris e primitivas, isso nos trará prazer e satisfação, porém essa conduta seria inaceitável no trabalho, onde devemos agir de forma séria e mais racional. Não são os mais virtuosos que sobrevivem, são os mais bem adaptados. Obviamente isso também não significa que se deve deixar influenciar demais pelo ambiente, só quero dizer, devo explicar para os mais “lentos”, que exponha seus desejos e sentimentos quando essa exposição convir, e se faça de duro e frio quando não for necessário seriedade. Auto-controle, eis a virtude, e o maior auto-controle é saber quando se descontrolar.
Um Ídolo que tem sido exaltado através dos anos é a necessidade que se tem de eleger um único foco para os esforços humanos, alguns diziam que era a alma e a salvação, outros que era a mente e a racionalidade, já alguns outros falavam do corpo e do prazer. Mentiras estúpidas! Como pode-se alcançar a melhor vida quando se negligencia um de seus três formadores básicos? Não se deve ser muito racional, muito espiritual e nem muito carnal, todas as opções são mentiras criadas por pessoas fracas, que foram incapazes de conciliar os três. Você pode ser a pessoa mais inteligente do mundo e ter um espírito evoluído ao máximo ( como já disse, chamo espírito evoluído aquele que controla seus sentimentos e sabe se adaptar), de nada adianta se ele tiver um corpo frágil e doente, pois fica muito fácil de “quebrar”. Da mesma forma, alguém forte e inteligente demais, que não possui controle emocional ,facilmente poderia surtar, o espírito evoluído é necessário para se lidar com essas altas faculdades, os artistas de cinema sabem como é isso, seus talentos excepcionais, sem o acompanhamento de um espírito evoluído (auto-controle, na língua popular), acabam em guiá-lo para as drogas. E parece redundante dizer que uma pessoa sem inteligência não funciona, não é? Poderia até sentir a tentação de dizer que a inteligência é o formador mais importante, porém não é, a explicação só se torna mais direta porque a falta de inteligência é a que mostra efeitos negativos mais diretos e claros na sociedade de hoje, o que não significa que seja mais grave que um corpo ou espírito fraco, ela não funciona sozinha, os outros formadores são tão importantes quando, isso pode ser observado facilmente com qualquer exemplo empírico... Steve Jobs? Bela mente, pelo equilíbrio emocional, mas a doença o destruiu e nem todas as suas virtudes interiores puderam salvá-lo. Espero que tenha ficado claro que esses três formadores têm igual valor, que todos necessitam estar em perfeito, ou, sendo mais realista, razoável equilíbrio, eis meu retrato de um homem superior.

sábado, 4 de junho de 2011

Niilismo

- A vida humana é terrível, meu querido. Eu vivi bastante e cheguei a uma conclusão única, e todas as reflexões, as experiências, aquilo que assisti e tudo que senti, presenciei, fiz, tudo, absolutamente tudo indica uma única verdade, que é irrefutável, por ter total embasamento lógico e empírico. A conclusão é de que a existência é definitivamente uma sequência constante de infortúnios e sofrimentos, e que não há maior felicidade e fortuna do que a de não estar em sofrimento. Afinal, o que é a vida? Por que a natureza nos criou? Qual é o sentido de vivermos, de existirmos? Os religiosos diriam que fomos criados por Deus e que fomos feitos para adorá-lo, mas como eu poderia considerar tal visão se eu sequer cheguei a ver, ouvir ou mesmo sentir esse tal Deus? E se essa fosse o objetivo de nossa existência, então esse seria natural, e portanto os nossos instintos mais primitivos nos levariam a essa adoração, mas não é isso que vemos, pois os humanos primitivos não adoravam um Deus, mas sim os elementos da natureza, a colheita, a caça, os animais e o sexo. Então não poderiam todos esses elementos serem Deus, representado pela natureza? A resposta é não, pois esse ser em que todos acreditam deveria ser perfeito, e não se vê perfeição na natureza. Natureza perfeita? Uma ova! Por que temos falhar evolutivas? Por que há câncer gerado por células mal programadas? Por que crianças nascem deficientes físicas, cegas, com retardamento mental? E dizer que isso se deve ao fato do homem ter mudado o estilo de vida, e ser o culpado por todos esses problemas, dizer que a humanidade que vivia em sintonia com a natureza, sem tanta química, tecnologia,industrialização, poluição e alimentação sintéticos, dizem que todos esses são responsáveis pelos males de saúdes modernos. Pode até ser, mas um humano que vive em estado de natureza não passará dos 20 anos certamente, enquanto hoje em dia vivemos 70, um homem na floresta tem mais chances de morrer de fome ou devorado por um predador do que o mendigo que vive na cidade e pode ser assassinado a qualquer momento, por isso, por pior que seja o estilo de vida criado pelos seres humanos, eles vivem mais tempo com ele do que o tempo que viveriam se agissem como animais comuns, seguindo instintos primitivos e naturais, que são cruéis e inseguros, a qualquer momento, pode-se ser vítima de um predador, e misericórdia não é um sentimento natural, ao contrário, é totalmente humano, desenvolvido por nós de maneira artificial para permitir uma boa convivência. Bem, consideremos essa boa convivência como teórica e utópica, pois não podemos negar totalmente nossos instintos por sangue e violência, que são aqueles que temos quando habitamos em uma mata cheia de presas e predadores, onde não há lei ou regras além da sobrevivência. Além do mais, o que absolutamente completo precisa ser adaptável, e nós que mudamos nossos costumes com o passar dos milênios, e já não precisamos de várias características, ainda as carregamos, um real perfeição na programação dos seres vivos seria boa o bastante para que nos adaptássemos ao estilo de vida moderno, ao novo ambiente, mas isso não ocorre, e por isso a obesidade, a hipertensão e a apendicite são problemas comuns, para não falarmos do já citado câncer. Resumindo esta parte de minha explicação, quero dizer que o humano pode fazer um trabalho melhor do que o da própria natureza, então ela não é perfeita, pois se fosse perfeita, seria impossível melhorá-la ou superá-la, ela seria o estado mais evoluído possível, mas se nós conseguimos superá-la e manipulá-la para nosso conforto, abandonar a carne crua e fazer fogueiras, construir armas de metal e televisões, se nós somos capazes de usar da ciência para a dominarmos e estarmos acima da existência que teríamos nela, então não pode ser perfeita, e se a Natureza não é perfeita, não pode haver um Deus por trás dela. Mas não é esse o assunto principal de minha explicação, essa pequena introdução foi apenas para evidenciar duas verdades: A primeira é que Deus não existe, e se existe, não é perfeito, e a segunda é que a natureza também não é perfeita, e essa segunda verdade será a base para o resto da explicação. Enquanto os religiosos falam que o motivo para nossa existência é Deus, os materialistas falam que vivermos para sermos felizes, satisfazermos nossos desejos, seguirmos nossa racionalidade e tentar existir em uma existência cada vez mais completa e satisfatória. Acreditam que a ciência venha para trazer conforto para o homem, e de fato ela traz, mas estão errados em achar que o motivo para existirmos seja a felicidade, a satisfação, a racionalidade. Não! Como poderia? Essas razões para existirmos não podem ser naturais, elas foram escolhidas, são motivos que as pessoas selecionaram ou simplesmente criaram para explicar o porque de viverem,mas isso não explica porque vivem, apenas explicam pelo que vivem. Para ser mais clara e não permitir nenhuma forma de ambigüidade, irei usar um exemplo: Por que existe um barbeador? A resposta é óbvia e automática, para fazer a barba de alguém, isso explica o propósito para que ele foi criado, isto é, o porque que dele existir, a função inicial, e o pelo que será o mesmo, pois ele estará sendo usado para barbear. Mas se pegarmos uma bola de gude, o pelo que dela será o de ser usado no jogo de bolinha de gude, mas ao mesmo tempo, ela poderá servir como uma arma branca, se for lançada sobre a cabeça de alguém para machucar, nesse caso, o pelo que dela será diferente do seu porque, ela foi criada para o jogo, mas no momento do ataque, estará existindo para outra função, a de arma branca. Isso deixa esclarecido que Porque é a razão primeira da criação de algo ou alguém, é o porque ele existe, algo que será imutável durante toda a existência do objeto analisado, independente e qualquer fator, o porque é sempre o mesmo, e o Pelo que é a razão imperfeita da existência, é uma razão secundária, que não está eternamente ligada ao objeto, mas se liga por causa de uma escolha ou um contexto, sendo então variável. Tudo isso indica a impossibilidade das pessoas existirem para serem felizes, pois essa não é a razão primeira da sua existência, a razão primeira é apenas uma, a mais fundamental, e que se aplica a todos os seres vivos, sendo também de fácil dedução: Sobreviver. Todos os instintos de todos os seres vivos levam a essa afirmação, de que a natureza nos fez com o único objetivo de tentarmos nos manter vivos pelo maior tempo possível. Mas e quanto ao suicídio? O suicídio pode ser de dois tipos, altruísta, que é quando uma mãe morre pra salvar o filho, um soldado morre pelo seu general, um presidente se mata para proteger seu povo, um revolucionário se mata para evitar que descubram informações sobre seus camaradas, é todo o caso em que se provoca a própria morte, ou em que se permite morrer pelo bem dos outros. E há o suicídio egoístico, e este é a chave de toda a minha explicação, aqui está! O suicídio egoístico é aquele feito pelo próprio bem, quando uma pelo que supera o porque natural da existência da vida, esse pelo que é o de não sofrer mais, as pessoas se matam pois consideram que o alívio de parar com a dor e o sofrimento que sentem é mais importante que o mais fundamental de seus instintos, o de sobrevivência! O mesmo acontece no altruísta, em que o pelo que de fazer o bem, escolhido pelo indivíduo, que preferirá ajudar os outros a manter sua sobrevivência, mas é no egoístico que podemos acentuar o quão terrível é viver! Através da história, podemos ver que guerras, doenças e fome, miséria, crime e crueldade, toda a forma de infortúnio e mal, sofrimento para todos os gostos, mas ainda assim, os humanos continuaram a viver, mesmo vivendo como ratos, piores que animais, trabalhando sem parar para poder comprar um pouco de lixo pra comer, sem descanso, sem lazer, sem felicidade, não, o ser humano não tem vivido durante todos esses séculos de sofrimento para ser feliz, ele tem vivido para continuar vivendo, sobreviver tem sido o único objetivo, e nos casos em que as pessoas percebem que talvez não a velha a pena tanto sofrimento apenas para manter a própria existência, temos os suicídios egoísticos. Todos precisam lidar com alguma forma detestável de infortúnio, povos primitivos sofriam pela constante insegurança e medo, pela fome, a dificuldade de sobreviver, as doenças, o desconforto, a dor causada por atividades perigosas ou trabalhosas, povos mais modernos sofrem dos mesmos males, e aqueles que tem a sorte de não serem vítimas da fome, da dificuldade e da insegurança, esses ainda sofrem com seus problemas pessoais: solidão, amor não correspondido, remorso, tédio, e claro, doenças, pois não são só os miseráveis que ficam gripados. Vemos os artistas famosos e ricos se acabando em drogas, se suicidando, vemos os pobres miseráveis morrendo de fome, morrendo de doença, mendigando um pouco de lixo, ou os nem tão miseráveis, usando de toda sua força e trabalho incansavelmente por horas e mais horas para poder viver com o básico dos básicos, para poder comprar um pão mofado, ainda no melhor dos casos, essas pessoas serão submetidas ao sofrimento da exaustão do esforço excessivo. Isso que quero mostrar, todos sofrem, o sofrimento é naturalmente ligado à existência, e não apenas nos humanos, vemos as formigas que vivem em condições de trabalho escravo, as gazelas que vivem com medo e terror de serem devoradas por um guepardo, os tubarões que nunca dormem e não podem parar de nadar para não afundar, além de devorarem os próprios irmãos na barriga da mãe. Ora, a águia precisa passar por um violento e doloroso ritual de auto-mutilação para poder sobreviver, tendo que arrancar todas as penas e o próprio bico para continuar vivendo por mais alguns anos, para nascerem novos em folha, além de suas presas, que são comidas vivas, passando por dores terríveis. Todo ser vivo está condenado ao sofrimento, mais ou menos, seja ele por viver como um escravo, ou seja por melancolias infantis e tolas, pois podem ser infantis, mas causam sofrimento, como os jovens que se mataram após ler o livro de Goethe, todos eles deviam ter suas dores emocionais e melancólicas, e decidiram dar cabo de suas vidas para poderem descansar, se aliviar, se livrar das sensações agonizantes do sofrimento melancólico emocional! Assim como aqueles que se tornam aleijados após algum acidente ou doença, e preferem morrer a ter que lidar mais com a própria situação infeliz. Ora, assim como tantas crianças vítimas da solidão, da doença, da fome, que só não se mataram porque morreram antes, vítimas da cólera, dos acidentes, da pneumonia, assim como Judas Iscariotes, que não pôde lidar com o violento remorso de ter traído Jesus, e para evitar mais daquela sensação tão torturante que é o remorso por um crime, tirou a própria vida, apenas para se aliviar. Sim, a vida é uma sequência de sofrimentos, o sofrimento do filósofo que não é compreendido pelo povo estúpido, do rei que não consegue governar como quer e se frustra, do mendigo que sofre com o ronco da própria barriga o dia todo, da mãe que vê o filho nas drogas , do filho que está nas drogas para esquecer de algum infortúnio de sua vida, pessoal ou não, do soldado que passa por situações degradantes na guerra, do padre medieval que se penitencia em nome, do bom menino que apanha dos colegas na escola e é excluído, do menino que bate para descontar suas frustrações, da garota que se prostitui com pessoas que considera asquerosas para poder se alimentar, do idoso sem forças que sofre ao pensar que já teve a saúde perfeita, do idoso fracassado que vê o quanto sua vida foi sem frutos e em vão, do velho bem sucedido, que imagina todas as alegrias que ele deixou de viver por causa do trabalho, a pessoa rica que se sente culpada pelos pobres, a pessoa rica que se sente insegura por não ser capaz de viver como os pobres vivem, o pobre que inveja o rico e odeia imaginar que poderia ter tudo aquilo mas não tem, o paraplégico que pensa em como seria bom andar, o corredor profissional que sente as dores do treinamento, mesmo que recompensadas, o louco que ouve vozes e não tem paz, o preguiçoso que sofre com a própria preguiça, desejando dormir e até morrer para não ter que mover nenhuma palha, e é infeliz por não poder estar sempre descansando. Tudo, tudo isso apenas prova que a felicidade não é nada mais do que a ausência de sofrimento, pois com tanto sofrimento possível, não poderia haver nada mais gracioso e agradável do que não sofrer, feliz de verdade é quem não sofre, mas isso é impossível, por isso, não dá para negar, a vida é uma longa e eterna desventura, e só vale a pena quando conseguimos ao máximo reduzir os momentos sofridos, e assim, alcançar o bastante da felicidade, já que ela completa é tanto utópica, quanto impossível.

quinta-feira, 24 de março de 2011

teste

/* Defina aqui o tamanho máximo do arquivo em bytes: */
if($arquivo_size > 1024000) {
print "\n";
exit;
}

/* Defina aqui o diretório destino do upload */
if (!empty($arquivo) and is_file($arquivo)) {
$caminho="upload/";
$caminho=$caminho.$arquivo_name;

/* Defina aqui o tipo de arquivo suportado */
if ((eregi(".gif$", $arquivo_name)) || (eregi(".jpg$", $arquivo_name))) {
move_uploaded_file($arquivo,$caminho);
print "

Arquivo enviado com sucesso!

";
} else {
print "

Arquivo não enviado!

";
print "

Caminho ou nome de arquivo Inválido!

";
}
}
?>

Up






Upload Simples










Up






Upload Simples










domingo, 13 de março de 2011

Temporadas no Abismo

Um livro que mostra a pior face do ser humano, extrapolando todos os limites de decência e moral, obsceno, grotesco, doentio, perturbador e bizarro, uma análise das mentes mais doentias já existentes em primeira pessoa, apresentando o pensamento e o raciocínio de um serial killer perfeitamente, através de páginas de pura, “refinada” e extrema brutalidade.



“Para uma pessoa que vê o mundo do seu próprio modo, não há nenhum limite ou culpa que possa ser usado como barreira, mas apenas se tornam mais um combustível para a sua ação.”
“A indiferença é a pior monstruosidade que uma pessoa pode sentir”


Nota do Autor:

Alguns serial killer do mundo real são citados no livro, então, caso não conheça suas histórias, é bom que sejam esclarecidas antes.

Andrei Chikatilo( O Açougueiro de Rostov/ O Monstro de Rostov): Assassino russo responsável por 56 mortes de mulheres e crianças, tinha impotência sexual e só conseguia sentir prazer com sangue, o que o levou a matar, torturava e estuprava suas vítimas ainda vivas, quase sempre crianças, também praticava canibalismo, comendo pedaços de algumas de suas vítimas enquanto ainda estavam vivas. Chegava a imobilizar suas vítimas, lentamente torturá-las, mutilá-las e devorar suas partes enquanto podiam sentir tudo conscientemente.
Charles Manson: Líder da “Família Manson”, grupo que liderava e cometeu alguns assassinatos muito violentos. Achava ser reencarnação de Jesus Cristo, que os Beatles conversavam com ele através de músicas, e que o mundo iria entrar em uma guerra final entre os brancos e os negros, uma guerra chamada Helter Skelter, nome da música dos Beatles. É um criminoso extremamente popular, e é adorado por muitas pessoas ainda hoje.
Ottis Toole: Junto com Henry Lee Lucas, mais de 200, sem dúvidas, canibal e pedófilo, confessou que gostava de ouvir os meninos gritarem e ficarem com o pênis ereto enquanto os sodomizava, e que a parte que mais gostava de comer nas vítimas eram as “bolas”, que de acordo com o próprio, daria mais poder sexual ao predador, era definitivamente um grande apreciador de carne humana, e chegou até mesmo a publicar a receita do seu molho especial na Internet.
Henry Lee Lucas: Junto com Ottis Toole cometeu incontáveis assassinatos, mais de 200, sem dúvidas. Era o mentor intelectual da dupla assassina, necrófilo convicto, matou a própria mãe e estuprou seu cadáver ainda adolescente, tinha o costume de fazer sexo com os corpos das pessoas que matava, gostava muito mais de necrofilia do que de sexo. Seduzia mulheres para matá-las, era sedutor, diferente do desajeitado Ottis.
Pedro Alonso Lopez (O monstro dos Andes): O homem com mais mortes registradas, assassino colombiano que matou mais de 300 pessoas e que levou a polícia ao túmulo de 53 de suas vítimas, matava em média 3 pessoas por semana, um número definitivamente assustador, geralmente matava garotas jovens.
Tsutomo Miyazaki( Assassino da Menina Pequena/ Drácula): Assassino japonês que matou 4 meninas, cometeu necrofilia, vampirismo e canibalismo com suas vítimas, e chegou a mandar cartões para as famílias das vítimas, dando detalhes da morte das crianças.






















Temporadas no Abismo


- O que acha, querida? – Gabryella e sua filha estavam almoçando em um restaurante, um prato especial com peixe e algas, na verdade, dois, um para cada uma, mas em porções diferentes, a pequena garota já tinha comido metade da comida. Gabryella era uma mulher com cerca de 1,70 de altura, morena clara de cabelo longo, uma brasileira casada com o programador japonês, Satoshi Hitokaze, era extremamente bonita, e seus negros e brilhantes olhos colaboravam muito, tinha um nariz perfeito, nem grande, nem pequeno, nem achatado e nem pontudo, apenas perfeito, devia ter uns 35 anos, embora aparentasse 25, possuía um corpo escultural, definitivamente, uma mulher linda.
- Eu não quero mais comer, eu me sinto mal, não me faça comer mais. – Camilla estava com uma cara horrível, como se estivesse muito enjoada.
- O que filha? O que sente?
- Enjoo, não é bom, mãe, acho que vomitar, vem comigo pro banheiro, por favor.
- Oh deus. – Gabryella se levantou, segurando a mão da filha, levando-a ao banheiro, a pequena menina estava um pouco tonta, andando e cambaleando, se segurando pra não vomitar. Ela pôs a cabeça na pia, levantada pela mãe, e pôs tudo para fora, enquanto a mãe olhava, com muito nojo, querendo vomitar também, mas se segurando firmemente pra não fazer isso, segurando a filha.
- Eu não vou parar. Bleergh. – Vomitou novamente, várias vezes, e cada vez que vomitava, ficava mais tonta e vomitava novamente, seu vômito se tornava cada vez mais líquido, à medida que o alimento em seu corpo acabava. Gabryella não fez nada além de ver o que estava acontecendo, e segurar a filha na altura da pia, a pia estava quase totalmente entupida com a imundície orgânica, e a menina ficava cada vez mais tonta, e com a visão escurecida, até desmaiar, sem nada dentro do corpo, muita fraca.
- Oh meu Deus. – A mulher a segurou antes dela cair no chão, mas não sabia o que fazer. – Satoshi está viajando, o que eu faço com você? Oh meu Deus, oh meu Deus, eu preciso achar um hospital. – Correu com a filha nos braços para fora do banheiro, chamando atenção de todos. – Por favor, alguém me ajuda? Um telefone? Por favor, minha filha desmaiou vomitando por causa de sua maldita comida. – Podia-se perceber certa raiva na sua voz.
Um garçom a atendeu imediatamente, embora não fosse exatamente sua função.
- O que ela comeu, senhora?
- Sushi com algas acompanhando.
- E o que ela comeu antes de você chegar aqui? Bem, vamos ligar para um médico, se somos realmente os responsáveis, nós precisamos pagar os custos médicos. Mas a senhora tem um plano de saúde?
- Sim, um plano Coração Dourado. Ela comeu um hambúrguer no Burger King ontem. – Ela falou enquanto o garçom pegava um telefone que ficava na parede do restaurante, todos no local espiavam a mulher com uma criança nos braços, mas ninguém ousava falar uma palavra, pelo menos não em voz alta.
- Hambúrguer? Bem, garanto que essa é a real razão do problema, pegue o telefone. – Ele não podia acreditar que sushi fosse mais perigoso que um hambúrguer, ela pegou o telefone e apertou os números de um hospital próximo coberto pelo seu plano de saúde familiar, colocando a garota nos braços fortes do paciente funcionário que a assistiu, ele realmente colaborava como podia.
- Alô?
- Alô. O que a senhorita deseja? – Era uma voz feminina atendendo do outro lado.
- Sou Gabryella Hitokaze, minha filha desmaiou de tanto vomitar, quero fazer uma consulta agora mesmo, eu não sei o que causou, mas eu preciso de uma consulta agora!
- Senhora Hitokaze, você pode vir agora mesmo, temos um médico para sua filha, você pode vir. – A atendente foi realmente eficiente, com a mulher e a filha de Satoshi Hitokaze, não poderia ser diferente, ele poderia destruir a vida dela e de qualquer outro em qualquer momento em que quisesse. Neste ponto, Camilla abriu seus olhos, falando fracamente, olhando o homem que a segurava.
- Quem é você? – Ela estava realmente mal, movendo a boca muito devagar, exausta.
- Camilla? – A mãe desligou o telefone e pegou a filha nos braços do garçom, segurando nos próprios. – Você está bem?
- Não, por favor. Eu preciso ir a um hospital, eu continuo com nojo, e... o que é esse cheiro? – Sentiu um cheiro de peixe frito bastante desagradável, vomitou no colo da mãe, o corpo dela estava muito quente também.
Oh meu Deus, eu estou indo. – Ela saiu do restaurante, abriu o carro, pôs a filha lá dentro, sentou na frente do volante, e rapidamente acelerou até o hospital. Do carro para a sala de exames foram apenas dois passos, tudo seria fácil para uma Hitokaze. Mas a garota estava realmente mal, tinha febre, vomitou várias vezes mais, uma no carro, e duas no elevador, onde as náuseas cresceram muito, o vômito na roupa da mãe convenceu todo mundo sobre a emergência, mas o fato de ser uma mulher milionária convencia mais ainda.
- Veja, isso é uma infecção alimentar, sua filha certamente comeu algo mal cozido, e foi infectada por estalaficocos. O que ela comeu nos últimos dois dias? – O doutor Hatori perguntou após examinar a criança com vários aparelhos, estava sentada na frente da mãe e do doutor, em uma cama, aquela sala de exames possuía uma mesa com algumas coisas, incluindo uma garrafa de soro, mas Camilla já estava com uma bolsa de soro ligada diretamente nas suas veias, segurada por um tripé.
- Comeu um hambúrguer no Burger King. – Os olhos da mãe estavam muito perturbados, e estava cheia de vômito no vestido, uma visão nojenta, mas preocupada demais para se preocupar com um detalhe tão pouco importante, embora desagradável.
- Hum, é possível que tenha sido. Mas você fez algo você mesma para ela?
- Ah, sim, lamen, com ervas.
- Lamen? Ervas? Nós podemos e devemos fazer um exame para descobrir o que causou isso, mas será bastante desagradável e prolongará a estada de Camilla aqui. Ou nós podemos apenas cuidar dela até que sua saúde melhore, nesse caso, seremos rápidos e amanhã nós a liberaremos, mas a primeira opção é estritamente mais aconselhável.
- Sério? – Camilla falou, animada achando que logo poderia voltar para caso e ficar tudo bem, mas vomitou muito líquido junto com suas palavras, o líquido amarelado foi todo para a roupa branca do doutor, bastante nojento, mas aceitável para um médico, ele agiu naturalmente, mesmo que vômito fosse uma das pior coisas para se ter na roupa.
- Sua filha definitivamente ainda não está boa, mesmo sem febre, eu preciso dar soro, ela vai descansar, é provável, certo, que ela irá vomitar muito mais, ela pode vomitar em um balde, então você vai precisar ficar aqui, ela é muito pequena, e está fraquíssima devido a tudo que botou para fora, então não conseguirá manipular bem o recipiente, e pode até derramar tudo em si mesma, se ela vomitar, ela pode beber o copo de soro, além do que está sendo posto direto no sangue dela, já temos um copo de 400 ml e uma garrafa de 5 litros, então basta dar pra ela. Camilla não deve ir no banheiro para vomitar, isso a cansaria, ainda mais tendo que levar o tripé, o balde é confortável, e portátil, embora seja desagradável a idéia de vomitar nele, acho que a idéia de vomitar já seja ruim por si só. Eu vou ali e voltarei com um antibiótico, ela deve estar cheia de bactérias e vai precisar disso. Mas vai querer fazer o exame para descobrir os detalhes sobre o problema?
- Sim, eu quero fazer o exame, eu preciso saber o que causou isso e processar o causador.
- Mas mãe, eu quero ir embora. – A garota estava exausta, com uma expressão péssima, e uma voz que soava pessimista, infeliz e cheia de lamentação.
- Fica quieta, a gente tem que saber o que é, e é mais seguro que fique aqui até termos certeza de que está bem. – Dessa vez Gabryella foi severa, falando brava com a filha, coisa que não costumava fazer.
- Voltarei com os antibióticos, são e. – O doutor falou, mas foi interrompido por uma frase gritada e aguda da criança enferma.
- Por favor, me traz o balde que eu vou vomitar de novo. – Ela segurou a própria boca, tentando segurar a porcaria que queria pôr pra fora, Hatori pegou balde no chão e colocou bem perto da cabeça dela, de lado, ela se virou um pouco e vomitou, mas dessa vez, um líquido avermelhado. – Minha garganta queima. – Vomitou de novo, puro sangue dessa vez, o desespero começava a tomar conta de sua mente, chegava a achar que seu corpo estava se dissolvendo por dentro e sendo jogado fora.
- Isso é pior do que pensei, vou pegar o antibiótico imediatamente. – Ele correu rapidamente da sala, era uma emergência, dava para ver traços de preocupação em sua face, era um bom médico, que se importava de verdade com seus pacientes.
- Queima, queima, eu não quero mais. Mamãe, salva-me, eu vou morrer, por favor, não me deixe só, Deus, eu odeio isso. O que é isso? Rena? É você? Hoho, você veio me visitar, que bom, minha amiga, venha, abrace-me, mamãe não se importa comigo. – Ela começou a ter visões, em seus olhos era possível ver que estava delirando, estava vendo uma estranha forma de humano imaginário que não falava nada, como se fosse real, a garota ria bastante, bem baixo, já que nem mesmo conseguia fazer algum som alto, estendendo o braço para a amiga imaginária, uma garota japonesa de cabelo castanho com aparência de 8 anos, um pouco gorda e redonda, com bochechas rosas, uma “visão fofa”.
- Querida, o que, o que você tá dizendo? Quem é Rena? – A mãe estava confusa, com medo, tocou na testa de Camilla, estava quente como fogo, uma febre violenta, o médico retornou à sala com uma bolsa cheia de remédios, e um ajudante dessa vez, mas assim que elas os avistou, falou antes deles. – Doutor, ela está delirando, faça algo, ela tá vendo uma amiga imaginária.
- Por favor mamãe, não seja má para a Rena, ela é minha melhor amiga.
- Espere, eu a anestesiarei, imagino que tenha piorado com a desidratação. – Ele abriu a bolsa e pegou uma injeção e um pequeno vidro com conta-gotas. – Camilla, me dê seu braço, eu preciso usar isso em você para te curar.
- O que? Não, eu sei que você quer me sedar, eu não quero isso. – Ela abraçou a imagem ilusória de Rena, ao lado de sua cama. – Rena, fale pra eles.
- Inferno, quem é Rena, Camilla? – Gabryella segurou os braços da criança com força, mas ela se debateu com tudo para escapar, e mordeu o braço da mãe, fazendo com que ela recuasse, sangrando dolorosamente onde os dentes finos e afiados penetraram.
- Me largue, me deixa em paz, eu não quero morrer. Vocês quer me matar, me larga. – Ela gritava, enquanto o doutor segurava firmemente seus braços, resistindo às mordidas que recebia da pequenina, e injetando a anestesia. – Bobos! Eu te odeio, me larga, mãe, não te perdoarei por isso, Rena, Rena. – Ela caiu rapidamente, com a substância em suas veias fazendo rápido efeito.
Oh meu Deus, oh meu Deus. O que fizeram com minha filha? - Gabryella chorava desesperada, borrando toda a sua maquiagem.
- Calma, por favor, ela está com uma febre violenta, está delirando, apenas a sedamos pra conseguirmos trabalhar direito, e fazê-la melhorar.

- Eu estou morta? Deus? Onde estou, eu sempre acreditei que não havia vida após a morte. Não! Eu vou pro Inferno, é isso que toda religião diz, mas eu sou uma criança, eu não mereço algo tão horrível, eu nunca fiz mal a ninguém. Por que? Será como naquele horrendo filme, Jigoku? Não quero ser queimada e nem espetada. – Ela estava dormindo, era apenas um sonho, a anestesia não era tão forte, não a deixou totalmente inconsciente, acabou gerando um sonho lúcido, que parecia mais real que um sonho normal, como se fosse uma projeção astral, um estranho sonho em que ela se encontrava na cama de seu quarto em casa, sentada, com a porta aberta, por onde Rena entrou, mas sentia um profundo desconforto.
- Rena, você vai pro Inferno comigo? – Ela estava chorando sem parar, mas a chegada de sua suposta amiga era um pequeno alívio, pelo menos não ia estar só.
- Oi Camilla, nós não iremos pro Inferno, isso é só um jogo, você vê? – Rena se aproximou, levantou sua mão, uma serra elétrica apareceu instantaneamente, e ela a segurava firmemente, como se fosse do peso de uma pena.
- O que, Rena? O que é isso? – A visão de Camilla era assustadora, a garota com a motoserra tinha uma expressão diferente da de sempre, parecia estar louca, e com aquilo na mão, não era nada bom.
- Lembra daquele filme que você assistiu em que um cara matava um monte de gente com uma dessas aqui? – Ela ligou a serra, barulhenta, sorrindo docemente.
- Sim, eu lembro, o Massacre da Serra elétrica, muito legal – A pequena gostava de filmes de terror, principalmente os violentos, mesmo sendo bem nova, um gosto herdado do pai Satoshi, mas aquilo não soava nada bem para o momento, nada bem, sentia uma forte vontade de sair correndo, mas era como se algo a segurasse por dentro.
- Você lembra onde me conheceu?
- Sim, em “A Açougueira”, um filme dirigido com a ajuda da Hitonomi, empresa do papai, você é a protagonista, a menina que tenta escapar da serial killer que mata as pessoas com um cutelo. Oh meu Deus, você não é real, você é apenas a menina do filme, de onde eu te tirei? Por que te chamei de amiga? Isso é um sonho, você não existe. – Ela caiu na real, a febre a os vômitos a tinham deixado confusa e sem noção de realidade, misturando-a com ficção e delírios.
- Você está louca, amiga, então agora, Massacre! – Ela moveu sua serra em direção à “amiga”, tentando fazê-la em pedaços, a garota pulou da cama e correu para escapar, mas foi perseguida, com uma menina louca correndo atrás dela com uma serra elétrica para esquartejá-la.
- Por que uma serra elétrica? Por que não um cutelo como em “A Açogueira”? Por favor, não me mate, pare, o que você tem? Sou uma boa menina, por favor. – Ela estava realmente com medo, mesmo sabendo que não era real, lágrimas corriam pelo seu rosto, desesperada. – É um sonho? É um sonho ruim? Oh Deus, salve me, se você existe, me salve. – Corria, chorando sem parar, afogada em medo, com o som alto da serra elétrica.
- Volte aqui Camilla, volte, vamos brincar juntas, minha amiga, venha aqui, não irá doer nada. – Rena gargalhava enquanto corria com aquele objeto enorme e cortante girando em direção à pobre criança, que chorava e gritava sem parar, imersa em total desespero e pânico. A maníaca parecia se divertir muito, e corria muito rápido, obrigando sua “presa” à correr mais rápido, de algum modo, elas corriam no nada, em um estranho vácuo sem fim, onde apenas as duas eram visíveis, tocáveis e escutáveis, mas era como se fosse real, um horror real.
- Não. – Camilla via tudo escurecer aos poucos, enquanto corria o mais rápido que podia, não sentia cansaço sem suor, apenas medo, um medo tão intenso que não poderia descrever, o barulho da serra, as risadas da sua amiga mais infiel, sentiu aquilo, até que tudo escureceu de vez e não sentiu mais nada, nem a própria existência, como se estivesse morta.
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Camilla chegou na escola, levada pelo pai, no seu carro, uma Mitsubishi Eclipse vermelha e branca.
- Tenha uma boa aula, querida.
- Obrigada. – Respondeu seca, como se não estivesse nem aí para o seu primeiro dia de aula, entrou na escola tranquilamente, na entrada tinha uma funcionária muito bonita, que deu um simpático cumprimento, e a levou até a sala 4, onde ficavam os alunos que acabavam de entrar no nível básico escolar.
Era uma escola elementar na cidade de Tóquio, a sala não era muito grande, cheia de carteiras, com apenas 3 crianças que chegaram antes dela. Camilla era uma menina muito pequena para sua idade, tinha cabelos totalmente negros e olhos da mesma cor, uma menina japonesa de olhos apáticos, parecia sempre estar observando sem tomar partido, não se importar com o que acontecia à sua volta, e nem com as pessoas, como se realmente não fizesse diferença. Seu nariz era um pouco pontudo, e era bonito de se ver, o cabelo era muito liso, longo e caído, parecia ser alvo de dezenas de “chapinhas”, mas era natural, não era bem cuidado, caía-lhe na frente dos olhos e às vezes atrapalhava sua visão, mesmo assim, não cortavam, já que os pais não reparavam nesse pequeno problema e ela nunca tivesse reclamado, sempre resolvendo o problema com as mãos, afastando as tiras de cabelo para os lados com bastante graça.
Sentou-se com um livro na mão, um pequeno manual de desenho, gostava de desenhar, e era muito boa nisso, mas não deixava de ler a parte teórica, pela qual se interessava bastante também, o pai designer era sua principal influência, estava no seu sangue.
- Oi, qual é seu nome? – Uma das garotas que já estavam na sala quando ela chegou a chamou de sua carteira, era uma menina muito bonita com longo cabelo negro, assim como Camilla, só que menos liso, e também tinha olhos mais puxados, e castanhos ao invés de pretos, mas o equilíbrio dos elementos de sua face, boca, nariz, olhos, formato, sobrancelhas, tudo garantia que ela fosse realmente linda, no futuro poderia ser uma grande modelo se cuidasse bem do corpo.
- O que quer? - Camilla virou o rosto, sua voz saiu fraca, mas podia ser ouvida, sua feição permanecia a mesma, embora sua frase pudesse soar grosseira, o tom não foi, foi apenas vazio.
- Saber seu nome. – A outra menina se sentia ligeiramente desconfortável com a resposta que não respondia sua pergunta.
- Camilla Hitokaze. – Respondeu e voltou o rosto à sua leitura, a outra menina percebeu que ela não queria conversa, e chamou outra criança da sala, perguntando o nome, era óbvio que a baixinha não queria nem falar o nome e nem saber o nome dos outros, apenas ler seu livro tranquilamente
A professora chegou na sala, uma japonesa de porte médio, gorda, de olhos e cabelos castanhos, tinha um penteado curto, mas elegante, chegava com dois livros nas mãos, a primeira aula deveria ser especial, aquilo era novidade para a maioria dos alunos ali, e teria que apresentá-los ao mundo escolar. Todos os 20 alunos da sala estavam bagunçando e se divertindo quando chegou, ela deu duas batidas no quadro com o livro, e chamou atenção:
- Olá crianças, gostaria que se sentassem. Eu sei que isso aqui é uma novidade para todos vocês, é o primeiro dia no ensino fundamental, não é isso? – Seu tom de voz chegava a ser simpático, combinando com o sorriso otimista que tinha.
- Sim. – As crianças responderam em coro, pareciam animadas pro primeiro dia de aula, bastante inquietas também, apenas uma não disse nada, exatamente a baixinha de cabelo liso, a professora não reparou nesse pequeno detalhe, mas reparou que a garota nem sequer olhava para ela, mas que ficava lendo seu livro sem dar a mínima.
- Bem, já que somos uma sala pequena, quero começar conhecendo vocês, estão começando uma nova fase em suas vidas, e ficaremos um bom tempo juntos, o ano todo, acho que seria bom que realmente nos conhecêssemos, para podermos nos dar bem com maior facilidade. – A professora apoiou as mãos na sua mesa e se inclinou um pouco, sorrindo com muita simpatia, quase rindo, demonstrava que realmente gostava do que fazia, senão não teria escolhido aquele trabalho. – Bem, eu começo, eu sou a professora Mizumi, tenho 33 anos, gosto de dar aula, ler livros, estar com meu marido, cuidar dos meus filhos, ver filmes românticos, gosto de comer lamén e chocolate, ir em parques de diversão, e gosto de ouvir jazz e pop. – Contou pequenos detalhes de sua vida, embora a maioria dos alunos certamente não fizesse nem idéia do que seria Jazz.
A sala estava ouvindo sem interromper, embora se movessem muito e não se sentassem, até que eram alunos educados, não interrompiam a professora e ouviam, mas não sabiam como agir, ninguém ali sabia, era realmente uma novidade.
- E então, quem gostaria de se apresentar primeiro?
- Eu! – A garota bonita que chamou Camilla antes da aula foi a primeira a falar, nem chegou a levantar a mão, mas sim a pular, era o primeiro modo de chamar atenção que vinha em sua cabeça, muito extrovertida. – Eu, meu nome é Chiaki Takahashi, eu tenho 7 anos, gosto de tocar piano, cantar, filmes de comédia, da maravilhosa Kylie Minogue, e de meninos bonitos. – Sua apresentação mostrava o que certamente no futuro, uma líder de alguma banda, ou uma cantora pop, de qualquer modo, uma artista ligada à música, seu entusiasmo era bem perceptível quanto falou o nome de Kylie Minogue, a cantora australiana que a inspirava fortemente, dava pra ver no brilho dos seus olhos.
- Oh, então temos uma música aqui na sala?
- Sim. – Chiaki riu, estava feliz em falar de si mesma para todos ouvirem, uma garota muito extrovertida.
- Bem, eu vou escolher o próximo. – Mizumi avisou, com o olhar estilo “hum”, pensativa, foi caçando na sala o aluno que queria, como uma águia, não era uma escolha difícil, seria certamente feita por caso, se não fosse a pequena garota que era uma das poucas sentadas corretamente, e única que não olhava para frente e nem para os lados, olhava para seu livro.
- Você, qual é seu nome? – Apontou pra Camilla, parecia muito curiosa. Não teve uma resposta, como a garota não estava olhando, nem percebeu que estava falando com ela, a professora esperou de braços cruzados e não teve resposta, até que uma garoto de cabelo bagunçado cutucou a escolhida:
- Ei, ela tá falando com você.
- Ah, é? – Abaixou o livro e levantou o olhar para a mestre. – Eu sou Camilla Hitokaze, sou filha de Satoshi Hitokaze, gosto de livros, filmes de terror, desenhar é o que faço, artes marciais, mangá, a banda Slayer e vídeo-game, o resto não me importa. – Explicou com tranqüilidade, e depois retomou sua leitura, realmente desinteressada, até que ela tinha mais interesses do que se esperava, mas mesmo assim nenhum deles teria qualquer ligação com “um mundo exterior”, tudo era para se fazer só, trancada no quarto, provavelmente.
- Ah, então temos desenhista na sala? – A professora sorriu largamente novamente, mas dessa vez era forçado, a secura na voz da garota chegava a ser um incômodo, um grande incômodo, sentia uma sensação ruim falando com ela.
- É. – Confirmou sem parar de ler.

Era natural que acabasse sofrendo tentativas de bullying na escola na primeira semana, mas era a mesma coisa de tentar perseguir e humilhar uma estátua, algumas colegas chegavam, tentavam chamá-la de nomes desagraveis, fazer piadas, mas eram ignorados. A primeira pessoa que a incomodou sem ser apenas verbalmente, mas usando de agressão, nunca mais ousou chegar perto, uma patricinha de cabelo tingido de dourado, que a chamou enquanto, pra variar, lia no banco do parquinho, no quinto dia de aula:
- Por que você é tão esquisita, Camilla? Você não tem pai não? - A menina a abordou com tom de voz bastante grosseiro, e o rosto aparentemente irritado, pelo jeito, a existência da pequena era o bastante para irritá-la, e realmente, sua presença chegava a ser um pouco perturbadora. Camilla nem sequer olhou para ela, como se não ouvisse, mas ouvia, ignorava porque não um assunto de seu interesse. - Você é surda? Me responde, é sério, por que você é assim? - Aumentou o tom de voz, estava irritada, esperou por uma resposta, então se exaltou e meteu a mão na nuca da colega, com força, mas não demais, doeu bastante. Camilla jogou o livro no chão e agarrou a mão da colega, arranhando até sangrar, apertando com força, tinha unhas extremamente afiadas, não foi difícil, mas sua força física era pouca na época, ainda não tinha começado o caratê, e acabou levando vários murros no rosto, com o nariz sangrando, ela caiu pra trás, mas fez um tremendo estrago no braço da patricinha, chegou a perfurar a veia no pulso dela, o sangue saía muito rápido, só nessa hora que a professora rapidamente interveio, quando Kushira subia em Camilla, que não reagia, e a estrangulava, também apertando suas unhas no pescoço da baixinha, mas nem tão afiadas, nem chegando a perfurar, começou a chorar nos braços da professora, enquanto sangrava e sentia muita dor, Camilla apenas se levantou, sentindo muita dor, com o nariz quebrado, mas sem chorar e nem ao menos gritar ou dizer um "ai", então sorriu vendo a adversária que sangrava e gritava nos braços da professora, rapidamente dois monitores se aproximaram, na verdade, a ação não foi demorada, mas a briga tinha sido muito rápida e violenta, um deles agarrou a menina de unhas afiadas, que ria bastante, sentindo uma sensação muito boa, estava feliz, ela estava sempre séria, raramente se sentia feliz mesmo, mas agora estava, estava sentindo intensamente como se a vida realmente valesse a pena.
- Meu Deus. – A professora não acreditava naquilo, levando a garota desesperada para a enfermaria, mas antes estancou o ferimento com um lenço que usava para limpar o próprio suor, não tinha tempo pra ficar escolhendo, aquilo ia parar o sangramento, a coitada tinha dificuldades para ficar de pé, Hitokaze também foi levada para a enfermaria, depois que reclamou de sentir uma dor violenta no nariz, apesar de rir, o monitor mais velho conferiu a fratura com os dedos e a levou para ser cuidada. Mizumi consolava Kushira, que chorava sem parar, na maca, tendo os braços enfaixados, Camilla tirou o sorriso da face quando entrou lá, e ficou em silêncio, mas ainda estava feliz, se divertindo como há tempos não se divertia.
Aquele foi um caso incomum, desde aquilo muitos outros ocorreram, mas nenhum tão feio, o corte no pulso a deixou próxima de uma expulsão da escola na primeira semana. O pai a repreendeu com seriedade, dando uma surra de cinto, mas ela simplesmente não reagiu, ficou toda marcada, mas não chorou, não gritou, nem pediu pra que ele parasse, ele bateu até que ele mesmo não poder mais, sabia que ia acabar machucando demais ela se continuasse, mas se continuasse até ela reclamar, a mataria. Aquilo foi realmente impressionante, Satoshi ficou com medo da filha, enquanto ela, com as roupas finas que tinha colocado para receber o castigo, sangrava por alguns machucados, sem reclamar, olhando fixa e séria pra ele, ela não soltou nenhum chiado, não tinha nenhuma reação, reflexo, nada, era como bater em um poste.
- É, é isso filha, não faça de novo, se não eu vou ficar muito triste. - Tentou apelar para o respeito que ela tinha por ele, já que à força não daria certo, ele sabia que ela tinha se defendido na escola, apenas reagido, mas o jeito como ela fez tinha obviamente que ser repreendido, ela quase matou a colega e ainda ficou rindo. Não podia deixar que a pequena Camilla fosse expulsa da escola, que tivesse problemas, ordenou que ela se comportasse, que reagisse com suavidade, e não arrancando os pulsos das pessoas à unhadas. Torcer o braço, segurando a mão e apertando, isso sim seria mais apropriado, e menos perigoso de causar expulsão, suspensão e todo tipo de punição por má conduta escolar.
Ela se comportou no resto do ano, e depois daquilo, as outras crianças a evitavam, mesmo as que eram loucas para incomodá-la, não ousavam, e a professora avisou bem a sala que qualquer um mexesse com ela iria ter uma punição exemplar, não mostrou as ataduras que ficaram nos braços de Kushira por uma semana por causa dos arranhões, mas todo mundo tinha visto aquela briga incomum, não era necessário que a professora avisasse, a intenção não era proteger Camilla, era evitar uma tragédia. Ela só não foi expulsa porque Satoshi era o pai, um homem muito influente, mas naquele caso desastroso ,o diretor, os paramédicos escolares, os monitores, e até mesmo os alunos entenderam que Camilla não era o tipo de pessoa com a qual deveria se mexer, a péssima combinação de indiferença e reações violentas. Ela tinha que ser mantida em controle, e todos os funcionários daquela escola se preocupavam com isso, e garantiam que não mexessem com a garota, que apesar de tudo, era a mais brilhante de sua sala, com notas fantásticas e uma excelente escrita, era impressionante que uma pessoa aparentemente sem capacidade de se relacionar socialmente podia se comunicar bem por escrito, redações, e até mesmo falando mesmo, quando queria ou precisava. Em alguns casos, ela discutiu com colegas, trocou insultos, chegou a dar e levar empurrões, com algumas pessoas muito ousadas, mas nunca ocorreu novamente algo parecido com a primeira e pior briga.
Quando foi levada para conversar com a diretora por causa do acontecido, junto com os pais, Kushira, os pais de Kushira e a professora Mizumi, se apresentou muito bem.
- Bem, primeiro eu gostaria de saber o que aconteceu, professora Mizumi, diga o que foi que você viu exatamente. - A diretora colocou os cotovelos sobre a mesa e perguntou, olhando séria e pensativa para a funcionária.
- Eu vi que a Camilla estava lendo em um canto, quando Kushira se aproximou, falou alguma coisa, sem resposta, e então deu um tapa na nuca da colega, foi aí que Camilla cortou os pulsos dela, eu fui correndo na hora, Kushira ainda deu murros na cara da Camilla, fazendo-a cair no chão, e pulou no pescoço dela quando ela tava caída, o que me assustou, foi que enquanto a colega a socava e sangrava, ela ficou rindo, rindo como se tivesse ouvido uma piada ótima, e ela tava com o nariz quebrado, os socos foram fortes, ela devia estar chorando, que nem a outra, que eu peguei em lágrimas, sangrando que nem louco pelo braço profundamente perfurado à unha. Foi isso, Camilla não atacou do nada, mas aquilo... Meu Deus. - Mizumi contava meio amedrontada, lembrando da cena que ocorrera há pouco tempo, tinha sido horrível, era algo que levaria em sua memória até o fim de sua vida.
- Está bem, agora é a vez de Camilla. - Virou o olhar de juíza para pequenina, que tranquilamente olhava em volta,
- Bem, Kushira me atacou, eu estava lendo e ela me chamou e perguntou por que eu era estranha. Eu não respondi aquela pergunta idiota, ela me deu um tapão, que doeu, fiquei com raiva, agarrei os braços dela e arranhei com toda a força que eu tinha, bem na veia, pra me defender, e se eu ri, bem, foi porque foi engraçado, ela tava sangrando e gritando feito a garota do filme "A Hora do Pesadelo", quando vê o namorado ser reduzido à suco de gente. - Já não parecia aquela garota introvertida e calada de sempre, mas sim uma menina tranquila, feliz e extrovertida, que contava tudo com o maior prazer, Satoshi a observa preocupado, aquela sinceridade toda poderia lhe dar sérios problemas. - A dor no meu nariz, eu tava sentindo, mas bastou concentrar em outro coisa, no caso, os gritos e o sangue que escorria na Kushira, muito sangue, ficava engraçado, muito engraçado, aí eu ri e esqueci a dor e vim aqui, só.
Nunca naquela escola houve tanta discussão quanto naquele dia, ela foi mandado para a psiquiatra, para fazer análises e talvez ser compreendida, ela se esquecia da dor porque via o sangue e achava engraçado, podia ser considerada um projeto de criminosa, coisa pior, talvez. Eles mesmo interrogaram a outra menina, Kushira, e a explicação confirmava o que a professora e a baixinha tinham dito, embora sob outro de ponto de vista.

- Então Camilla, o que aconteceu naquele recreio? - O psiquiatra era um homem jovem de uns 20 anos, usando óculos, parecia razoavelmente com o arquétipo atribuído aos homens da profissão, poucos alunos eram encaminhados para aquela sala, mas consideravam aquele um caso de emergência, ela tinha que ser analisada por um profissional. A sala era cheia de prêmios escolares, na verdade, o doutor atendia pessoas da escola e de outros lugares, naquele local, ali mesmo, dentro da escola, ainda era novo na profissão, e tinha que fazer esse negócio para ter um escritório próprio, mas pagando com atendimento aos alunos mais necessitados.
- Eu já falei pra diretora, eu cortei a menina porque ela me bateu por trás, na nuca, um tapão. E eu ri porque foi engraçado. – Ela segurava o livro “A Prostituta Maligna”.
- O que tem de engraçado em ver uma colega sangrar e gritar? - O doutor Hiroya Oku tinha um olhar repreensivo.
- Ah, é como um filme de terror, só que pessoalmente, é muito engraçado, agora por que é engraçado, não sei dizer, é algo natural, deixa feliz e nos faz rir. - Ela sorria debochada enquanto falava.
- Você não respondeu. O que tem de engraçado?
- É engraçado porque é. Como posso explicar? Hilário? Engraçado? Cômico? Divertido? – Era totalmente sarcástica.
- E por que, por que é hilário, engraçado, cômico e divertido? – Ele mantinha a postura, embora as respostas da criança chegassem a soar como uma verdadeira zombaria.
- Porque eu sinto que é, eu senti uma coisa boa, uma vontade de rir, é inexplicável, é como sentir fome quando se fica sem comida. – Deu uma convincente e sincera resposta.
- Então você simplesmente sente vontade de rir? – Agora o doutor começava a se interessar.
- Sim, é algo totalmente natural, não tem como explicar, mas é bom.
- Camilla, você sofre de depressão?
- Depressão é o que mesmo? – Desconhecia alguns termos, embora tivesse um vasto vocabulário.
- Uma espécie de tristeza permanente, sua vida não faz sentido, você não sente felicidade, ou se sente, é muito raro, você deseja morrer, essas coisas.
- Não, não quero morrer, não me importa o sentido da minha vida, não fico triste, mas também não fico feliz, as coisas são sem graça, mas não são incômodas.
- E o que tem graça pra você?
- Filmes de terror, alguns deles, acho que só, eu ouço música, mas não é interessante.
- Por que faz algo que não é interessante?
- Porque usar fones é algo bom, eu não escuto o que está ao redor, e aí não me distraio no que estiver fazendo, eu escuto Slayer, eu não entendo o que eles cantam em inglês, mas sei que estão falando coisas que parecem filmes de terror, eu vi as traduções, é mais interessante.
- Você parece viver no seu próprio mundo, Camilla, você parece não se importar com as pessoas, apenas com sim mesma. Se acha melhor que os outros?
- Sim, eu sou forte, eu não como os sentimentais, os fracos, os cheios de fé, os covardes, os ignorantes, os burros, os perdedores e os idiotas. Eu sou uma pessoa preparada para a vida. E vivo no meu mundo quando posso, nunca tive problemas.
- Quem te disse isso? – Ele sabia que uma criança não podia tirar aquilo do nada
- Papai, ele disse que existem os perdedores e os vencedores, os fracos idiotas são perdedores e os fortes inteligentes são os vencedores, isso nos torna superior.
- E você acha inteligente levar uma suspensão na primeira semana de aula?
- Sinceramente não, mas não foi algo tão idiota também, foi necessário, acho que agora ela sabe que não deve mexer comigo.
- Por que não faz amigos na escola, Camilla?
- Porque não quero, prefiro ler, desenhar ou estudar.
- Não se importa de ver seus colegas brincando, se relacionando, e você ficar isolada?
- Tanto faz, não me importo com eles, não faz diferença o que estão fazendo.
- Entendo, estou anotando o seu perfil psicológico, é isso que faço, eu irei aconselhar você e seus responsáveis a como devem agir, você sofre de um avançado problema de sociopatia, você não se relaciona com as pessoas e não se importa com elas, tendo total indiferença e frieza ao que sentem e pensam, não sente culpa nem remorso, mas não pode ser considerada uma psicopata, porque você não finge que se importa, você está em um nível mais grave, porque está certa de que a violência é uma boa solução em uma reação, e acha que sempre está certa.
- Dá para perceber isso na minha voz, doutor? Eu achava que iria me dizer algo que eu não soubesse, eu não acredito no trabalho de psiquiatras, eles nunca vão me entender. – Ela lançou no ar as sua palavras repentinamente.
- Não terminei de falar. O que quero entender é o porquê de seu comportamento. Eu já pude perceber que você é sincera, embora seja por causa da convicção exagerada de estar sempre certa, mas me diz, o que te leva a pensar assim? Psicopatas de verdade agem de todos os piores modos possíveis e acham que estão certos, como você, só que geralmente dissimulam as suas ações, quer dizer que você está em um estágio em que nem mesmo tenta dissimular sua ação, porque sua convicção de estar certa é tão forte que você acha que a sociedade deverá aceitá-la, por ser justo, achar que não pode ser punida estando certa. Mas não é assim, você será punida se fizer coisas como cortar os pulsos de uma colega.
- Serei, não é? Nesse mundo as pessoas são punidas por tentarem sobreviver, se você reage a uma briga, você é punida. – Ela agia como se fosse uma vítima.
- Tá bom Camilla, eu não sou idiota. Não finja mais, está mais do que óbvio que você não fez aquilo para se defender, fez para se divertir, você sente algum tipo de alegria quando vê as pessoas sofrerem, você é sádica, só que pelo jeito, você não sabe disso, você acredita nas mentiras que fala sobre “se defender”, mas na verdade você faz quase como por instinto. Quando você disse que ria como se fosse algo natural, você foi sincera, mas não soube explicar muito bem, porque você nem ao menos sabe realmente porque isso acontece, então é realmente um distúrbio do qual você sofre, e que faz com que tenha atração por violência, incluindo nesse livro que você está lendo. – Apontou para o A Prostituta Maligna. Mas por que? Me conte, você tem algum trauma? Normalmente as pessoas não nascem frias e cruéis, elas são transformadas nisso, pessoas que se divertiam com o sofrimento alheio tinham motivos para se tornarem sádicas, Andrei Chikatilo, o canibal russo, teve o irmão morto, achava ser castrado, era extremamente frustrado e sofria bullying, Henry Lee Lucas foi abusado sexualmente, era vestido de menina e Alonso Lopes, foi expulso de casa e estuprado. – O doutor era muito bom, estava começando na carreira, ainda jovem, embora estivesse ainda trabalhando em uma escola, tinha futuro, sabia analisar bem a mente humana, além de ter um bom conhecimento sobre maníacos, tendo feito alguns trabalhos sobre psicologia e criminologia lado a lado para entender os assassinos mais violentos de que se tem conhecimento na época da faculdade, recebendo verdadeiras chuvas de elogios de seus professores.
- Eu não conheço nenhum deles, tirando Henry, eu li um livro sobre ele, “Henry e Ottis, a Dupla da Morte”, ele tinha todos os motivos para fazer as barbaridades que fez, se uma pessoa sofre, é muito infeliz, ela quer parar de sofrer e então ser feliz, mas ao mesmo tempo, principalmente se ela não conseguir as primeiras opções, ela irá querer que as outras pessoas sejam infelizes com ela, sejam mais infelizes que ela, sofram com ela. – Se lembrava do livro que leu, contando a chocante história dos maiores assassinos Estadunidenses da história, Henry Lee Lucas e Ottis Toole, que agiam em conjunto e fizeram mais de 300 vítimas, e não cometiam simples homicídios, praticavam necrofilia, canibalismo, estupro, pedofilia atos de extremo sadismo antes das mortes, filmavam as execuções, entre outras barbaridades, o livro incluía detalhadas descrições dos crimes baseadas nas confissões dos criminosos, detalhes de suas vidas pessoais, e uma receita de molho para carne humana criada por Ottis. Aquele era um seus livros favoritos, leu com prazer e envolvimento cada uma das 300 páginas de pura violência e perversão, era impressionante a irresponsabilidade de Satoshi quanto à filha, ele permitia que aos 7 anos ela lesse tudo aquilo, alguns pais exageram nas proibições, mas podia-se dizer que a liberdade que ele dava para ela quanto aos seus envolvimentos literários e cinematográficos fosse exagerada e indevida, já que ela quase sempre escolhia os livros mais violentos nas bibliotecas e livrarias, e o mesmo tipo de filme nas locadoras.
- Você leu um livro sobre Henry Lee Lucas e Ottis Tooles? – Hiroya se surpreendia cada vez mais, aquilo não era um livro pra uma garota de 7 anos, mas o que disse sobre o motivo de todos os crimes era o realmente surpreendente, teria que pensar mais para poder lidar com aquilo, e a faria falar mais enquanto isso.
- Sim, eu leio muito, meu pai me acha um prodígio, pois leio coisas maduras e complicadas pra minha idade, e eu entendo a maioria das coisas, na verdade, tudo.
- O que sentiu quando leu sobre os crimes de Henry Lee Lucas?
- Envolvida, entretida, alegre, era uma alegria boba, tipo vontade de rir, mas não ria, só me divertia com ele, era algo suave, mas ainda mais intenso do que o que geralmente sinto quanto leio.
- E o que você sente quando lê?
- Levemente entretida, uma pequena alegria, um prazer, não sei, mas muito muito fraco, não sei explicar bem, é difícil explicar sentimentos.
- E você tem preferência por que trechos?
- Trechos em que as pessoas sofrem.
- Você disse que quem sofre e não consegue ser feliz acaba querendo compartilhar seu sofrimento, o que te levou a pensar nisso? Não é algo simples, ainda mais para alguém da sua idade.
- Eu percebi isso quando li o livro de Henry Lee Lucas, eles tinham sofrido muito, eu me imaginei no lugar dele, se eu fosse submetida a um grande e constante sofrimento, eu iria querer fazer com que alguém pagasse, alguém sofresse mais do que eu, me vingar. Se esse sofrimento é constante, a vingança seria impossível, pois o sofrimento necessário para superar o da pessoa seria o de vários anos, por exemplo, o Henry sofreu abusos por anos e mais anos, e isso o tornou uma pessoa ruim, e ele via pessoas felizes, pessoas que não sofriam abusos, pessoas com mãe legais, realmente felizes. Uma pessoa que sofre e vê a outra feliz se sente em uma situação inferior, é normal que sofrer sozinho seja pior que sofrer em grupo, mas se outras pessoas sofrerem mais que ela, o próprio sofrimento poderá parecer amenizado, como se fosse uma visão relativa, ele irá querer causar muita dor, muita morte, muito medo, tudo que possa torná-lo uma pessoa muito feliz na visão relativa, mais feliz que as pessoas que tortura. Esse prazer que a pessoa sente com o sofrimento alheio, então, seria uma felicidade momentânea relativa, um alívio para a própria dor.
- Você quer dizer que o motivo para alguém ser sádico e aliviar a própria dor?
- É, algo assim, mas pode simplesmente ser para aumentar a sua própria felicidade relativa, se sentir melhor, mais sortudo, vendo alguém na pior, irá sentir prazer.
- Mas se fosse assim, todo mundo iria matar e torturar pra se sentir melhor e aumentar sua felicidade relativa, não? – Percebeu o erro na teoria da menina.
- Não, ela tem outras alegrias, essa é apenas mais uma, a de ver os outros sofrerem, e elas sabem das conseqüências se elas matarem e torturarem, e sabem que não compensaria, o que evita muitos assassinos em série, mas uma pessoa que não tem nada a perder, e nem uma alegria, como Henry Lee Lucas, ele não tem motivos para não fazer isso, pode ser sua maior diversão, e não tem nada a perder. – Ela tapou o buraco da idéia.
- Você é uma menina inteligente, mas suas teorias são muito erradas, isso tudo são fatores, mas não podem ser generalizados, muitas pessoas sofrem, sofrem e sofrem, e ao invés de desejar que outras pessoas sofram o que elas sofreram, elas desejam que ninguém passe pelo que elas passaram, deseja o bem delas, algo diferente do mal a que foram submetidas, e acabam se tornando extremamente altruístas.
- O que é altruísta mesmo? – Ela ainda tinha algumas falhas de vocabulário.
- Alguém que gosta de ver as outras pessoas felizes, o contrário de sádico.
- Ah sim. Você tem razão, eu estou errada, mas para algumas pessoas, isso se aplica sim.
- Sim, se aplica, faz sentido em parte. Mas você acaba me explicando o que te leva a ser como é. Você não é feliz?
- Não sou feliz? – Repetiu a pergunta.
- Você não é feliz, pode não ser deprimida, mas uma pessoa que não se importa com nada não pode ser feliz, se você não sente, você não sorri, e de um jeito ou outro, mesmo que insconscientemente, você irá desejar o que disse, ver os outros sofrerem.
- O que o senhor disse faz sentido, talvez eu nem perceba, mas seja muito infeliz.
- Mas para você tanto faz, não é isso? – Ele deduzia o que estava dentro daquele mente.
- Sim. – Ela balançou a cabeça, indiferente à idéia.
- Preciso saber sobre o seu nariz quebrado, já arrumaram. Mas, não doeu?
- Doeu.
- Não se importou?
- Não, eu resisto a dores facilmente, é só uma sensação.
- Então é indiferente à dor assim como é ao mundo?
- Sim, acho que sim, é uma sensação ignorável, más sensações são ignoráveis.
- Você tem que ser cuidada, fico impressionado por ter conseguido montar seu perfil tão rápido. – Estava muito surpreendido, realmente tinha feito um excelente trabalho, conversando de igual para igual para entender sua paciente.
- Por que tenho que ser cuidada? Eu não farei mal a ninguém, mesmo que você tenha razão, não sou idiota e não quero ser presa.
- Isso será mais forte que você, a gente identificou seu problema cedo, e você precisa ser tratada logo, para que não haja problemas posteriores.
- Você tem certeza de que está certo? Como espera me tratar?
- Tentaremos desenvolver sua capacidade de se importar, “a indiferença é a pior monstruosidade que uma pessoa pode sentir”, e se você só tem indiferença a tudo, você é um monstro, ou acaba se tornando um.
- Eu não sou um monstro, nem me tornarei um.
- Você tem duas opções, ou se trata, ou será tratada, acusada de ser um perigo.
- O que você quer dizer?
- Ou você aceita o tratamento que faremos com você, que é suave, ou teremos que te enviar para um sanatório, vulgo hospício.
- Você tá me chamando de louca? – Mantinha-se calma o tempo todo.
- Não louca, sociopata de rank 10, o que é muito pior.
- Então vai me internar em um hospício caso eu não faça o que mandam. – Ficou em silêncio um pouco. - Está bem, está bem, eu farei como quiserem e não tenho nenhum problema, e mostrarei isso. E você não vê que tenho 7 anos? Pare de falar como se eu fosse uma adulta e tivesse cometido um crime terrível. – A garota reclamou, o doutor realmente a tratava como se fosse uma semelhante em vivência e vocabulário. Os livros que lia a ensinavam sobre a vida adulta, das piores coisas até as mais simples, sabia bem como funcionava uma delegacia ou um traçado de perfil psicológico, ainda mais levando em conta o gosto que tinha por livros de Serial Killer, o fato de ler livros maduros ao invés dos bons infantis ajudava a seu desenvolvimento, mas nunca chegou a ter inocência.
- Então temos um trato?
- Sim, mas eu tenho uma exigência: sem remédios.
- Está certo, ainda teremos que falar com seus pais sobre seu perfil psicológico.


- Camilla Hitokaze, 7 anos. Demonstra-se em um estágio avançado de sociopatia, não demonstra sinais de alegria ou humor, exceto quando em contato com alguma forma de violência ou sofrimento alheio, tendo muitos sintomas de depressão, mas sem aparentemente se importar mesmo com isso. Adquiriu uma personalidade extremamente sádica devido à falta de humor, demonstrando prazer ao ver pessoas sendo submetidas a alguma dor ou sofrimento, principalmente quando é violência feita por suas próprias mãos. Demonstra uma inteligência extremamente avançada, não só para sua idade, grande capacidade de dissimular sentimentos, mas pouco uso da habilidade por achar que não faz nada de errado sendo como é. É total a ausência de culpa ou remorso, nunca se arrepende do que faz, tem certeza de que está sempre certa, com uma convicção extremamente forte, é incapaz de perceber outros pontos de vista. Dissimula quando percebe que não adianta insistir, mas mantém suas certezas dentro de sua mente, planejando e guardando, mantém a calma sempre, não se exalta exceto quando lhe parece conveniente, como foi visto na briga com Kushira. É extremamente egocêntrica, vive no próprio mundo, mesmo tendo noção das coisas, ela não se importa com o resto, exceto ela mesma, não dando nenhuma importância às pessoas ou acontecimentos, exceto quando necessário. Encontra na ficção o seu meio de entretenimento para escapar do tédio diário, já que não se interessa por nada e nada a diverte, porém mantém um gosto completo por ficções violentas, já que demonstra completa felicidade ao ver um semelhante sofrendo, como ela mesma diz, sente uma “alegria relativa”, por saber que ela está melhor que a pessoa em agonia. Tem complexo de superioridade e se acha melhor que as outras pessoas, menosprezando-as, é necessário que se cure sua falta de interesse no mundo externo, sua depressão, e sua falta de motivação constante, para depois desenvolvermos seu lado humano e seus sentimentos, porque demonstra não ter nenhum. – Satoshi lia o papel com certo choque, mas mantinha a calma, na sala do psiquiatra, a filha ouvia tudo, sentada em um canto, Gabryella também estava lá, sentada e calada, muito preocupada. – Como pode? Isso é sério, doutor? – Ele parecia não acreditar.
- Você é um irresponsável, senhor Satoshi, deixando essa menina ler todas aquelas porcarias, ela não tem idade para se interessar em histórias de necrofilia e tortura, o que tem na cabeça? O desenvolvimento dela foi comprometido com idéias horrendas. - Hiroya dava uma bronca com voz exaltada, não podia tratar bem um pai que dava “Henry e Toole” para uma criança de 7 anos ler.
- Achei que um simples livro não fosse um problema, é apenas ficção.
- Pois a ficção não ajudou em nada sua filha. E pelo que ela disse, ela tá sempre lendo, e gosta dos violentos, isso em excesso é um perigo, principalmente para alguém instável como ela. Sabia que ela sofre de depressão? Quero que façam exames de sangue nela mais tarde, para identificar a quantidade de hormônios da felicidade, a serotonina, só pra confirmar, se estiver baixa a quantidade, deveremos dar injeções do hormônio sintético.
- Você jurou que não ia haver drogas! – Camilla se intrometeu, com o tom tranqüilo
- Oh, é verdade, mas isso não é droga, falei de drogas mesmo, sedativos e coisas pra te deixar controlada, esse hormônio é diferente, vai te deixar feliz.
- Eu não preciso ser feliz. – Dessa vez sua voz se exaltou.
- Cala boca, Camilla. – Satoshi mandou, deixando sua autoridade visível, era ficou quieta imediatamente, obediente, olhava para o doutor com a expressão totalmente vazia.
- Talvez se o senhor ajudar no tratamento, ele possa ser um sucesso com maior facilidade, conte pra ela que é pro bem dela.
- Ouviu Camilla? Ele tem razão, é melhor você obedecer às recomendações, por enquanto é inofensivo, mas pode acabar tendo distúrbios maiores mais tarde. – Olhava para a filha, depois virou o rosto pro psiquiatra.
- Não, ela não é inofensiva por enquanto, ela já está em um estágio perigoso, e essa depressão combinada com sociopatia pode gerar resultados terríveis. Pense, se para ela, tanto faz, que diferença fará pra ela se lhe derem 100 yens para dar um tiro em alguém? Ela ainda tem consciência de posse, dinheiro, todo tipo de bens, uma das poucas coisas para o qual liga são os bens materiais, você entende?
- Entendo, o que devo fazer?
- Primeiro leve ela pro exame, traga os resultados aqui, e não deixe ela ler nada, arranje uma atividade pra ela, faça com ela converse com os colegas na escola, faça amigos, se relacione.
- Isso é papel da professora, eu não venho à escola.
- Sim, eu já avisei pra ela, sua filha irá melhorar, ela irá ficar bem, e não haverá perigo, tudo ficará como devia ser. – Se virou para a mãe, que se manteve calada o tempo todo. – E a senhora deve participar mais da vida de sua filha, a senhora nem sequer participou da conversa.
- Sim senhor. – Ela estava aérea, desesperada por dentro.
Camilla foi levada pelos pais para uma clínica, fizeram o exame e foram embora. No dia seguinte, Gabryella foi com sua filha suspensa da escola buscar o resultado enquanto Satoshi trabalhava, ela levou o papel até o psiquiatra, com a menina do lado.
- Então como eu imaginei, o nível de serotonina é muito baixo, ela realmente vai precisar dos hormônios.
- Onde posso conseguir?
- Espere só um pouco. – Tirou uma folha no seu bloco de receitas, escreveu “Autorizo Camilla Hitokaze a utilizar substâncias que possam aumentar o nível de serotonina”
- Mãe, isso é anti-depressivo, ele só falou que eram hormônios pra eu não recusar, pro nome não parecer feio, claro pra aumentar meu nível hormonal. – Ela conseguia ler a receita de onde estava.
- Fique quieta Camilla, ele só quer seu bem. – Ela não acreditava muito no que dizia, mas acreditava no trabalho de um profissional, se a filha tinha poucos hormônios, deveria corrigir isso, mesmo que fosse com anti-depressivos.
- Tá. - A obediência dela quanto aos pais era algo útil, se ela fosse rebelde, o doutor conheceria o verdadeiro significado de sofrer. – Mas eu juro que vou matar você, doutor.
- Cale a boca, filha. – Gabryella deu um tapa no braço da filha, que se calou.
- Aqui está, vão na farmácia “Lar da Saúde”, lá com certeza tem. – Hiroya não respondeu à ameaça, entregou a receita na mão de Gabryella, que guardou, agradeceu e foi com a filha para comprar o remédio. No papel tinha escrito a autorização, as doses diárias que deveriam ser tomadas, por injeção, coisa que não seria problema pra garota, e a autorização do médico.
Ela levou a menina para o local, mostrou a receita para o lojista, que foi buscar nos fundo da farmácia, era um antidepressivo líquido que vinha em um frasco, as doses deveriam ser de um tampa cheia, mas precisava ser colocado diretamente na veia, por injeção, pra trabalhar com maior efetividade.
A garota foi tratada com o remédio, cuidados especiais, teve os livros e filmes de horror tirados de sua vida, e teve seu tempo ocupado com esporte e estudo, incluindo estudos de informática e programação, aos quais se dedicava bastante. Acabou ficando bem, conseguiu fazer duas amigas na escola, embora a relação não fosse íntima, já parecia ter algum interesse em suas vidas, chegava até mesmo a perguntar coisas a elas, ela realmente começava a se socializar, não entrava de cabeça na vida social escolar, mas se relacionava com as pessoas normalmente, um resultado surpreendente em apenas 2 semanas, parecia mais feliz, uma nova pessoa. O dia em que fez suas amigas foi o principal acontecimento da nova fase, quando realmente pareceu estar totalmente curada, tomando 2 injeções todo dia .

- Oi, o que você está fazendo? – Chiaki chamou Camilla que lia um livro sobre informática sentada no banco na frente do parquinho, no recreio, a bela criança realmente se interessava pela colega incomum, desde o primeiro dia de aula, a voz dela era agradável, mas a colega nem prestava atenção nesse detalhe.
- Sim, por que? – Ela olhou, tranqüila e desinteressada, mas sem nenhuma dúvida, estava mais interessada e simpática do que nos primeiros dias.
- Eu quero ser sua amiga, desde a primeira vez que vi você. – Falou um pouco tímida.
- Ah, que gentil. Você é a Chiaki, não é? Adorarei ser sua amiga. – Ela sorriu, a colega quase não acreditou, uma gentileza da menina mutiladora de veias, era inesperado, mas ótimo.
- Sou sim, sou eu mesma. A gente fica te olhando e te acha muito legal, posso te apresentar minha outra amiga? A gente gostaria que você fosse da nossa turma, você é incrível, tão inteligente e bonita, a gente realmente gostaria muito de ser sua amiga.
- Poxa, é muito saber, achei que tivessem medo de mim, desde aquele dia com a Kushira, eu fico muito feliz mesmo. Quem é sua amiga? – A garota parecia tão interessada que seus olhos chegavam a brilhar.
- Mitsumi! – Chiaki virou para trás e gritou bem alto, a colega alta, não muito, e gorda chegou correndo, tinha cabelos loiros e olhos negros, apesar de ser gorda, não era feia, tinha um rosto agradável.
- Oi Camilla. – Estava muito animada, aquelas duas pareciam estar se encontrando com uma celebridade querida, era uma boa sensação de se sentir, se sentir admirada.
- Oi Mitsumi, agora somos todas amigas. – A pequenina abriu os braços e se levantou. – Abraço coletivo, e as três se abraçaram todas juntas, apertadas e sorridentes, pareciam realmente felizes, inexplicável, talvez fosse o poder da amizade, uma coisa mágica e incomum.

Algumas pessoas dizem “devemos praticar esportes desde a infância”, mesmo com sua pouca idade, ainda era pequena, aparentemente inofensiva naquele lugar, mais ainda entre mestres da artes marciais, adultos, adolescentes e algumas crianças treinando com atributos avançados sobre o enorme tatame que cobria quase todo o local, todos no Dojô de Caratê, conversava com a mulher, sentadas no banco no canto da sala esquerdo da espaçosa sala, usada para ensinar e treinar a luta.
- Disse para o meu pai que eu deveria treinar uma arte marcial, eu pensei em Kung Fu, porque parece muito bom nos filmes do Jackie Chan, mas ele me disse que não poderia treinar isso, porque é uma luta chinesa, e eu deveria fazer uma luta japonesa, por ser japonesa, judô ou caratê pareciam as melhores, mas acabei escolhendo Caratê, pois prefiro pancadas à quedas. Diga-me, fiz uma boa escolha? Papai me apoiou, eu confio nele, mas é óbvio que a sensei pode me dizer isso melhor. – Ela falava séria e tranqüila com a professora de caratê, parecia estar conversando com alguém do mesmo nível, não a tratava como uma superior, não deixava de ter respeito, mas não se sentia nada acanhada, aquela mulher era conhecida como uma das mais duras caratecas do Japão, uma celebridade, mas realmente, isso não fazia diferença pra Camilla, não no seu modo de agir, estava melhorando de seu comportamento social, mas ainda tinha melhorado totalmente, absolutamente, ainda era bastante indiferente às coisas, embora não a tudo e todos, havia sua exceções, principalmente em locais aonde já estava acostumada, o que não era o caso da academia.
- Veja, em qualquer arte marcial, há mais que golpes e lutas, mas essa não é a hora, não vejo razão para ensinar profundamente a filosofia antes de você ter controle sobre o seu corpo, da habilidade de lutar, dos golpes e da força. Se você já leu sobre caratê, você conhece a filosofia, mas a verdadeira luta só pode ser aprendida com treino, se você realmente quer entrar neste dojô, você precisa passar por um teste, o caratê não é para qualquer um, não o verdadeiro caratê, sabe, muitas academias pelo mundo todo dizem que estão ensinando caratê, mas a maioria é regida por incapazes que se dizem mestres mas na verdade são apenas lutadores, eles sabem a luta, mas não são verdadeiros praticantes, não sabem ensinar, não buscam os verdadeiros objetivos do caratê, e muito menos os passam para seus alunos, fazem ridículos treinos de uma hora quatro vezes por semana e dizem que estão ensinando. Não, não é assim, não aqui, você é jovem, então seu teste não será muito difícil, Meu nome é Yamamura Toriyama, sua sensei, eu acredito que pessoas estrangeiras não deveriam aprender as artes marciais japonesas, você, mesmo tendo sangue gaijin brasileiro, como Satoshi contou, ainda é japonesa, e está sendo criada aqui, com nossa cultura, por isso não há problema em você aprender, quero dizer, não falo de estrangeiros de raça, mas de nascimento, costume, cultura e criação. E acho até bom te ensinar se passar no teste, pra garantir que não esqueça da cultura japonesa, afinal, o caratê é uma marca de nosso povo.
- Interessante, sensei, estou pronta pro teste, papai disse que é difícil passar em um teste aqui, uma respeitável academia de caratê, acho que a mais respeitável do país, não sei bem. Eu tenho Japão em minha alma, mesmo tendo mãe brasileira, ela nunca tentou me impor a cultura original dela, ela nem se importa, não é patriota como eu e papai.
- Este dojô é um dos mais velhos na arte do caratê em todo o país, o sensei anterior não tinha descendentes, e eu, sua melhor aluna, herdei a academia e me tornei a nova mestra.
- Por favor, o teste. – O tom da garota mudou, chegava a ser petulante, ousado, como se pudesse mandar na professora, agora não parecia tão simpática, mas tinha seus olhos como sempre, indiferentes, sem brilho.
- Não, você terá que ser paciente. Primeiramente, espere, fique sentada aqui, vou ver como meus alunos estão indo, não saía daí. – Se levantou e foi andando até alguns adolescentes que treinavam golpes sincronizados. – Muito bom, continuem assim, só que mais rápido.
A garota ficou sentado naquele banco longo e duro de madeira, dividido com algumas mochilas e bolsas, havia algumas no chão também, as coisas das pessoas que iam treinar, que incluía faixas, quimonos, luvas, caneleiras, capacetes, de tudo, bem guardados, esperando para serem usados, essa era uma das regras do dojô de Yamamura, as pessoas deveriam levar seus próprios equipamentos, exceto os 4 grandes sacos de pancada pendurados no teto, suspendidos a cerca de 1 metro do chão, por ser muito grande e fácil de acertar, longo, era fácil de ser tanto chutado quanto socado por pessoas de diversos tamanhos, tanto crianças pequeninas como Camilla, quanto adultos altos como Yamamura. Nenhum dos equipamentos a serem levados era obrigatório, nem mesmo quimono ou faixas. A garota ficou lá, observando como treinavam, como a professora brigava e elogiava seus alunos, era bastante justa, e mais severa ainda, aqueles esportistas pareciam muito cansados, ela só estava com seu celular, o pai tinha a deixado lá e ido embora, ela poderia voltar sozinha, os pais não eram nada superprotetores, mesmo tendo 7 anos, eles a deixavam andar sozinha de noite, sabendo que do quanto ela era esperta e nada distraída, exceto quando queria, como quando estava desenhando e parecia estar em outro mundo. Estava impaciente, ficou lá esperando o tempo todo, mas não deixava de observar o que faziam, era capaz de aprender olhando, pelo menos os movimentos mais simples, não parecia tão difícil assim olhando, mas muitas vezes o que parece fácil ao se ver, é difícil de se fazer. Passou-se uma hora sentada lá sem fazer nada, e Yamamura ignorando totalmente sua presença, teria reclamado, mas aquilo parecia óbvio, pelo menos nos filmes era sempre assim, havia um teste de paciência em que o aluno tinha que esperar, se ela tinha que esperar, esperaria sem reclamar, e se não fosse isso, perderia seu dia, mas valia a pena arriscar. Esperou mais uma hora, estava ansiosa, mas estava prevenida, aquele pequeno celular que levava com ela, um modelo colorido da Panasonic, possuía uma grande utilidade extra nas horas vagas: O jogo da cobrinha, ela ficou jogando sem parar o tempo toda, considerava um jogo genial, mas não era divertido, apenas servia pra esquecer o tempo, com o jogo, insistia em tentar “zerá-lo”, embora fosse um jogo impossível de ser zerado. Na quarta hora lá, a professora a chamou, enquanto ela atentamente jogava, com uma paciência admirável.
- Ainda está esperando aí? – Yamamura Toriyama a abordou com um sorriso no rosto
- Sim, vai me chamar para o teste agora? – A menina sorriu também, estava muito ansiosa, se continha, mas nesse momento dava pra ver na sua face o quanto estava.
- Sim, vamos, levante-se. – Ordenou, mudou a expressão rapidamente, ficando intimidadora, como uma professora má e brava.
- Claro. – A menina se levantou, guardando o celular no bolso da calça.
- Me dê o celular, se não irá quebrar, vá para o meio do tatame. – Tomou o celular da mão dela.
- Sim senhora. – Camilla correu para o meio do tatame, algumas pessoas treinavam nos pontas, mas longe do meio.
- Agora você passará pelo teste que vai definir se você entra ou não nessa academia, não é um teste relativo ao caratê, mas sim um de resistência, é muito simples, está vendo aquele saco ali? – Apontou para um saco pendurado em um dos cantos do tatame, estava livre, sem ninguém treinando.
- Estou? – Olhou para o saco imenso, já imaginava o que teria que fazer, e a idéia não a assustava.
- Você dará 20.000 socos nele, você tem uma hora pra fazer isso, você não pode ficar mais de um minuto sem socar, se não perde, você não pode socar fraco, deve socar com toda a força que puder, eu não contarei os socos mal dados, você não irá passar a menos que consiga dar todos os socos, um a menos do que 20.000 e você perde. Tente socar direito, se você não socar direito, suas mãos irão doer violentamente, se fizer direito, nem tanto, mas ainda assim doerá.
- Como soco direito? Como mantenho minha postura?
- Assim. - Se posicionou com uma perna na frente e outra atrás, para manter um bom equilíbrio, e esticou o braço direito com a mão fechada em posição de soco, com os dedos dobrados retos, e o polegar segurando o indicador e o médio sem apertar. – Lembre-se, socar, não empurrar, não mantenha o punho no saco por muito tempo, bate e volta. – Deu sua última dica.
- Entendi. – Camilla fez igual, abrindo as pernas e posicionando as mãos daquele jeito na frente do saco.
- Pode começar, eu estou contando. – Fez sinal de sim com a cabeça, observando atenciosamente a aspirante à aluna.
- Iá! – Começou a socar com as mãos bem posicionadas. Seus golpes eram rápidos, e ela não tinha nenhum problema quanto a empurrar, ela socava corretamente, atingindo o saco com seus punhos usando quase toda a força que tinha, que definitivamente não era muito, e voltava rápido, para que fosse um soco, não um empurrão. Continuou suas sequências de golpes, não eram perfeitos, mas eram bons, pelo menos para uma iniciante, ela voltava a mão rápido, e logo socava com a outra, alternando entre as duas mãos com rapidez, seus socos eram ganchos, dados a pouca distância, diagonais. Ela se concentrava em todos os golpes, mantendo o corpo parado, ela deveria virar o corpo enquanto socava, mas não sabia disso, ficava parada, só movia os braços, e mantinha os pés no lugar, as mãos já doíam desde o sexto soco, mas continuou, ainda era “resistente à dor”, como dissera anteriormente. Ela ainda ficaria muito tempo ali, e a professora ia contando os socos, eram 20.000 socos, e não seriam dados em pouco tempo. Se passaram 15 minutos, as mãos de Camilla sangravam, eram finas, e aquele saco era muito duro e pesado, mas ela nem ligava para a dor que sentia, embora seus músculos doessem muito mais do que os esfolamentos na mão, dores musculares violentas nos braços, que eram submetidos a um esforço ao qual não estavam acostumados.
“Não sinto meus braços, tá doendo muito. Ah, é tão bom, isso, vamos ver até onde eu agüento, eu preciso entrar nessa academia, eu preciso”
Suava sem parar, a sensei estava impressionada com a resistência da menina, que continuava socando, as mãos totalmente esfoladas sangravam, mas não podia ser visto, não naquela altura, mas após muitos, muitos socos, que causavam uma dor realmente violenta nos seus braços e mãos, o sangue começava a cair no chão, Yamamura viu e falou bem alto:
- Tá bom, para de socar, e me mostra suas mãos. – Ela ainda não tinha visto o estado das mãos da garota, mas tinha certeza de que não era bom, de qualquer modo, estava surpreendida com a resistência da menina, já que ela realmente socava com bastante força, sem parar e sem luvas, e o mais incrível, era uma total iniciante de 7 anos que nunca havia feito aquilo antes, pelo menos achava que não, e ela sequer parou ou enrolou para socar, socava direito, rápido, embora tivesse dado muitos socos tortos, a força ainda era o bastante para que fossem contados.
- Tá. – Camilla parou de socar, abriu as mãos, e se virou, mostrando os punhos abertos, estavam com quase toda a pele arrancada, com toda a carne à mostra, e muito sangue, que escorria das enormes feridas e passava pelos dedos, parecia que sua pele tinha sido arrancada com faca em alguns pontos.
- Se estava te machucando tanto, por que não parou? Não falou que não agüentava mais? - A professora olhava muito brava para a aluna, não podia permitir que ela agisse daquele modo exageradamente esforçado ao ponto de ser suicida, excesso de esforço já matou muitas pessoas, é bom conhecer os próprios limites.
- Você mandou eu dar 20.000 socos, se eu não conseguisse, não entraria na academia, e eu quero entrar, se eu tenho um objetivo, eu devo correr atrás dele até alcançá-lo. – Falava com a maior naturalidade, as mãos ardiam violentamente, sem falar nos músculos que haviam sido forçados, ela alongou as mãos enquanto isso, esticando as duas juntas com os dedos entrelaçados.
- Está aceita.
- Eu não dei os 2000 socos ainda, só 767.
- O objetivo desse teste é ver até onde você consegue chegar, eu não espero que você consiga dar 20.000 socos na primeira tentativa, isso dá mais de uma hora socando sem parar, não é pra qualquer um não, na verdade, é pra quase ninguém.
- Mas essa academia não é para qualquer um? É?
- Ah, vamos, vou enfaixar isso, vem, não agüento mais olhar. – Yamamura puxou a garota pelas mão e levou para o banheiro, no canto do local, tinha um vaso, uma pia e um armário de parede, maior que o normal, que a mulher abriu, revelando alguns rolos de gaze, esparadrapo, pastas de dente, durex, um tubo de cola, latinhas de pomadas, guardanapos por algum motivo incomum, e o mais estranho, um rolo de barbantes.
- O que são essas coisas? – Era difícil entender porque tinha barbante no armário do banheiro, os materiais de primeiro socorros tinham utilidade óbvia, mas não o barbante.
- Eu coloco coisas que podem ser úteis aí, nunca se sabe. Vê? – A professora sorriu, estava começando a gostar da garota, uma pessoa que resistia à dor como ela tinha um grande futuro como lutadora, e sem dúvidas, merecia respeito, enrolava as mãos da pequena com a gaze, mostrando o porquê de deixar aquelas coisas lá.
- E o barbante, pra que?
- Suponhamos que eu queira amarrar alguma coisa. – Terminou de enfaixar a mão direita, estico o braço e pegou o durex.
- Você vai colocar com durex? – A menina observava atentamente, curiosa, enquanto a mestra puxava a fita, mordia, e usava para prender a faixa.
- Sim. – Começou a enfaixar a outra mão, a esquerda, com todo o cuidado, essa estava mais machucada.
- Não é necessário usar durex, a faixa por si só já fica bem, não fica?
- Fica, mas eu quero ser precavida, se você mexer demais com elas, pode sair, você tem que cuidar dessas mãos, elas têm futuro, você não faz idéia.
- O que quer dizer com “você não faz idéia”? – A idéia deveria ser algo bom, levando em conta o contexto.
- Quer dizer que você não faz idéia do futuro que tem, se saiu melhor que qualquer outro aspirante no teste de entrada, acho que você pode se tornar uma grande campeã. – Enfaixava a mão da menina enquanto falava.
- Uma grande campeã, é, eu gosto de como soa. – Respondeu após ficar em silêncio por alguns segundos.
- Mas vamos ter que treinar bastante, você será forte para se defender em qualquer situação e vencer torneios, competições, você é muito talentosa, você pode se tornar a nova Myio Desukoto. – Se referia à uma das mais maiores lutadoras juvenis que o Japão já viu.
- Meu pai é amigo de Myio Desukoto. – Ela falou com falsidade.
- Sim, eu sei, ela era uma campeã incrível quando nova, venceu o campeonato japonês de caratê várias vezes seguidas, e ainda sim se tornou uma rica empresária. Exemplo de vida, não?
- Meu pai é melhor que ela. – Camilla sorriu de lado, com certa arrogância.







No recreio, terceiro ano do ensino básico. A garota estava sentada em um banquinho próximo ao parquinho de areia, os outros alunos se divertiam nos brinquedos, na roda, na gangorra, e principalmente nos balanços, mas ela nem sequer se levantou, lia o seu livro, a leitura da garota poderia ser considerado um vício praticamente nocivo, o livro que lia dessa vez era um manual de caratê, que ensinava a parte teórica da arte marcial. Ela lia atenciosamente, gostava realmente de ficção, podia se dizer sem dúvidas que tinha seu próprio mundo, e que não se importava muito com a realidade, viajava entre as letras daquela história, ainda mais sobre temas adultos e indevidos, o livro falava sobre uma prostituta que matava por diversão e por dinheiro. Mesmo que gostasse daquilo, tinha se entretido com filmes, livros, músicas de violência extrema, com cenas detalhadas com sangue, órgãos, torturas, e aquilo a cada dia se tornava menos interessante, ainda gostava, mas não como antes, talvez logo perdesse a graça, e levando em conta que aquilo era praticamente a única coisa em que via graça, acabaria chegando a um mal estado. Entrava na Internet para estudar e pesquisar sobre programação e designer de games, coisas que não gostava mas que fazia por incentivo do pai, que queria que seguisse a mesma carreira dele, gostava de muitas poucas coisas, sempre relacionadas de algum modo a algum tipo de violência ou horror, a possibilidade de fazer um jogo sangrento a incentivava a continuar aprendendo a desenvolver games. Ela não gostava de treinar caratê, nem desgostava, mas tinha certeza de que era necessário e útil, acreditava fielmente na famosa frase "o mundo é dos fortes", e claro, gostava das raras aulas práticas em que podia lutar e bater nos colegas, e apanhar deles também. Em nenhum momento naqueles anos ela pensou em usar a arte marcial que treinava duramente para bater nas pessoas fora da academia, realmente só pensava em se defender, afinal "o mundo é dos fortes". Satoshi, seu pai, era um admirador das filosofias de Anton LaVey, o fundador da Igreja de Satã no ano de 1966, criando o satanismo moderno, apesar do nome, o Satanismo de Anton LaVey nada mais é que um ateísmo em que se acredita que o homem deve ser seu próprio Deus e procurar prazeres na vida, tendo a culpa como o pior dos pecados, Satoshi passou essa filosofia à filha, a ensinando a não sentir culpa e buscar o que desejasse quer custasse o que custar, a ser independente e nunca depender de alguém, porque ela seria a coisa mais importante na própria vida, e sem dúvidas Camilla aprendeu bem isso, até demais, pois parecia não sentir as emoções alheias, era como se ela fosse a única pessoa no mundo, e todo o resto fossem objetos sem vida. Essa indiferença incomum não vinha devido à criação, embora fosse um fator, ela nunca se importou mesmo com as pessoas ao seu redor, com o que faziam, o que pensavam, sentiam, gostavam, queriam, a menos que isso tivesse algum impacto real contra ela, não importava se ouvisse pessoas falando mal dela, mas se importava se alguém a cutucasse enquanto lia, por exemplo, aí ela se importava, e o mais impressionante é que ela falava e se comunicava muito bem, só não o fazia com abundância porque não queria. Depois do tratamento, ela fez amizade com Chiaki e Mitsumi e passou a ser educada, não dando as respostas secas que sempre dava para as pessoas, mas mesmo assim, se mantinha como uma anti-social, mas uma anti-social normal, não mais uma “robôzinha” como antes.

Na rua, um grupo de arruaceiros rebeldes brincava de um péssimo jeito, eles perseguiam um pequeno rapaz com aparência de nerd, eles todos usavam óculos escuros e chapéus de cowboy, aquilo poderia parecer cosplay se fosse em outro contexto. Camilla estava andando para sua casa, que ficava a uns 10 minutos da escola, a aula acabava de acabar, o nerd correu até ela, gritando por ajuda, com a rua cheia de pessoas.
- Por favor, me ajude, eu sei que você é uma lutadora, eles me matarão. – Ele se escondeu nas costas dela.
- Não é problema meu. – Ela se distanciou, não dava a mínima para um estranho, mesmo que supostamente estivesse curada de seu antigo problema psicológico, mas os arruaceiros a atacaram, ela usou dois rápidos movimentos de artes marciais para derrubar dois deles, acertando-os precisamente no pescoço, era um golpe especial que ela aprendeu em um vídeo no Youtube chamado “Como matar qualquer pessoa com apenas um movimento”, algo útil e perigoso para ser ensinado, mas os outros a agarraram, e uma das garotas do grupo acertou um tacou de beisebol na nuca dela, causando um nocaute instantâneo, e sem dúvidas, muita dor, nesse momento, o nerd correu pra bem longe.
- Eu disse que era um bom plano. – A garota do taco sorriu, puxando o cabelo negro da vítima.
- Nossa galinha dos ovos de ouro. – O que usava uma camiseta da banda brasileira de Punk Rock ,“Ratos de Porão” sorriu, e gesticulou como se dissesse “venham comigo”, começando a correr, ele foi seguido pelos outros membros da gangue, nas ruas cheias de pessoas que iam se esvaziando com a passagem deles. Os gritos eram constantes, e era garantido que ninguém evitaria a ação deles, ninguém ajudou a menina, isso porque um dos membros segurava duas submetralhadoras, e mantinha qualquer indesejado intrometido bem longe, pois as apontava para todos os lados, os gritos vinham junto com a fuga das pessoas que viam o perigoso grupo. Escaparam facilmente, uma mulher que observava a cena de longe pegou o telefone celular

- Oi, quem é? – Gabryella atendeu ao telefone celular, ela estava na sala de estar assistindo o jornal na TV, algo sobre um atentado terrorista no Iraque.
- Sou eu, a Noriko, uma gangue seqüestrou Camilla, eles tão armados com armas grandes, não pude fazer nada, ninguém pôde, desculpe.
- Não! Como? Tenho que chamar a polícia imediatamente! – A voz da mãe da garota foi tomada de desespero, seu coração batia muito mais acelerado que o normal, e era quase como se suasse frio, um nervosismo intenso e muito desagradável que tomava conta de seu corpo e de sua mente em pouquíssimo tempo.
- Então ligue, eu pensei em ligar, mas achei que seria melhor te ligar agora, antes.
- Temos que fazer alguma coisa logo! Algo que dê mais certo que a polícia, ou simplesmente esperar o contato deles e pagar o resgate. – Gabryella estava desesperada, mas não poderia apenas se lamentar, faria alguma coisa, mesmo se não desse para fazer nada, arranjaria algo.

- Olá bela adormecida. – A prisioneira acordou com a voz do bandido, estava amarrada com grossas cordas em uma estranha sala vazia, sem janelas, apenas um porta fechada, e duas velas queimando para iluminar a silenciosa escuridão, havia lâmpada no local, mas por algum motivo, preferiam usar fogo.
- Você me matará? – Observava-o com desprezo, mas não parecia assustada, mesmo que aquela fosse a pior situação possível.
- Não, é apenas um seqüestro, vamos tirar 5 milhões do seu pai em troca da sua vida. Mas eu preciso te parabenizar, você derrubou o Jonathan e a Jéssica, realmente surpreendente. Se estivéssemos em outra situação, eu poderia te chamar para nossa gangue Jigokomo (地獄/Jigoku = Inferno + 子供/kodomo = criança), e talvez eu até deixasse você me namorar.
- Jigokomo? Que estúpido nome clichê, eu posso dizer, se você quer um grupo do mal, faça um nome decente, depois penso em algum, eu poderia ajudar, qualquer coisa seria melhor que “criança do Inferno”. E prefiro morrer virgem a te namorar.
- Você ama falar, não é? Vadia, cale a boca ou te machucarei, e então...
- Olha, eu não dou a mínima, meu pai não vai pagar o resgate se você me tocar, ele já me disse isso antes, se um dia eu fosse seqüestrada, eu realmente morreria, por ser uma fraca, fraca por deixar alguém me seqüestrar, mas isso não significava que fosse ficar de graça. Olhe, você não vai conseguir merda nenhuma, e se ligar pra ele, ele irá identificar o endereço e mandar homens para matar você e seus amigos, e se você me matar ou me machucar, ele vai fazer o mesmo, eles te acharão, e vão ser bem vingativos. Deixe me ir, então nada acontecerá. – Interrompeu o seqüestrador antes dele terminar sua frase, de algum modo, o modo como ela falava era sempre muito convincente.
- Bom blefe, mas nessa situação, é a única coisa que você pode fazer, mas eu ainda penso que seu sangue frio é interessante, você sabe, eu posso te foder que nem uma cabritinha agora, putinha, eu posso cortar seus dedos, sua língua, suas tetas, eu posso fazer qualquer coisa que eu quiser, você não demonstra medo agora, mas irá demonstrar. – Ele tirou os óculos escuros, revelando a face, qualquer psiquiatra poderia dizer que eram os olhos de uma pessoa ruim.
- Blefe? Não não, garoto, a vida é um jogo, e um perdedor deve morrer, veja, eu vou vencer isso ou morrer, então, se quiser continuar vivendo, me solte, eu tenho palavra, sou uma japonesa honrada, uma garota com o sangue dos Hitokaze, mas não vamos falar de mim, vamos falar de você. Cadê sua gangue? Por que apenas você está aqui? Sua gangue é fraca, 10 pra um, e derrotei dois de seus capangas capengas, sem falar nas armas, e a coisa dura que me acertou. Era um bastão?
- Eles não são fracos, e eu não sei como você nos insulta tanto. – Ele tocou no pescoço dela, ela se balançou, mas as cordas detiveram o movimento. – E sim, era um bastão, de beisebol.
- Não me toque, eu não quero sua pele imunda em mim. – Ela disse que uma voz amaciada e sarcástica.
- Oh, então você se importa? Agora você poderá mostrar o quanto está assustada, minha putinha. – Segurou o pescoço dela, e lambeu, extremamente pervertido e mal intencionado.
- Assim que você gosta, é? Eu posso agir como uma prostituta se necessário, me fode, me machuca, eu não ligo pra seus métodos de tortura. – Ela estava realmente calma, sentindo a desagradável língua do seqüestrador, ao mesmo tempo que sentia um estranho e suave prazer tomando conta de seu corpo.
- Você não vai dizer isso se eu cortar seus dedos fora, disso eu tenho certeza. – Sussurrou, soprando quente no pescoço dela, desejando a refém, nada mais que um seqüestrador pervertido.
- É verdade, mas você sabe, isso não depende de mim, mas do meu pai, e ele ama mais o dinheiro, mesmo me amando bastante também. Pense comigo, se ele não pagar, vocês se divertem me torturando, me matando e metendo no meu cadáver. Não estou certa? Você poderá sumir com meu corpo para nunca ser encontrado, mas isso não é tão interessante.
- Olhe, eu não concordo, torturar, matar e estuprar é realmente divertido, é o bastante para pagar pelo nosso crime, mas se ele pagar, nós te soltamos e ficamos ricos, oh, é bem melhor para todos nós.
- Hun. Estão planejando cortar meu dedo e mandar pro papai? – Ela sorriu, aparentemente, poderia estar sendo queimada viva que estaria calma, mas dessa vez os olhos dela não tinham apenas a comum calma, mas brilhavam com bastante prazer.
- Boa idéia, mas meu tempo acabou, agora eu deixarei você sozinha, mas alguém vai te vigiar. – Ele abriu a porta e deixou o quartinho, encontrando o resto da gangue jogando Pokemon Trading Card Game na mesa central, um popular jogo de cartas baseados na série de vídeo-game. O Esconderijo da Jigokomo era debaixo de um cinema, como os rolos de filme nos cantos poderiam mostrar.
- Mestre, como foi? – O adulto loiro perguntou seriamente.
- Ótimo. James, desça e atire nela com isso se ela tentar escapar, mas não pra matar nem aleijar, só faça com que doa muito. – Abriu um velho armário próximo a parede, e tirou uma pequena arma da segunda gaveta, jogando-a para o membro alto de cabelo negro, arma era uma pistola Taurus PT100.
- Sim senhor. – Com a arma, foi até o quarto da refém, fechando a porta logo ao entrar.
- Hun, Camilla Hitokaze, me sinto em deleite por te conhecer. – Ele olhava sério e irônico, não era assustador ou qualquer coisa assim, mas era um verdadeiro bandido.
- Afinal, como vocês me conheceram? Vocês todos? Parece que vocês têm me espiado há muito tempo, espiando o tempo todo, estudando meus hábitos. Vocês sabem demais de mim, vocês estudaram, tenho certeza. – Ela tentava analisar a situação, os acontecimentos como uma detetive, mesmo estando no papel de refém.
- Não, isso não é verdade, nós nunca estudamos, apenas sabemos sobre seu pai, descobrimos onde você estuda e quanto você sai da aula, então atacamos. – Ele se aproximou dela, mas as cordas caíram e ele sentiu a mão dela em seu pescoço, caindo no chão sem consciência, ela estava livre das cordas e o acertou com um preciso golpe antes que ele fizesse qualquer coisa.
- Eu quero saber como é um cérebro. – Ela pegou a arma dele e começou a bater em sua testa, espancando com extrema brutalidade por um longo tempo, batendo sem parar com toda a força que tinha, abrindo a pele e o crânio até o cérebro aparecer, carne atravessada e sangue espirrando na arma, nas mãos dela, no rosto dele. Camilla dilacerou a pele do bandido como se ele fosse um boi no matadouro, ela olhava com olhos muito abertos enquanto o matava, parecia muita calma, e ao mesmo tempo, feliz e sorrindo, coisa que não costumava fazer, exceto quando estava com Chiaki e Mitsumi, bateu até fazer uma grande cratera na face dele, uma cratera larga com cérebro, pele, ossos, tudo dilacerado, junto com um pequeno mar de sangue, muito nojento. Ela era realmente muito forte para sua idade e tamanho, e o conhecimento sobre “onde quebra”, “onde mata” e “onde dói” também ajudava muito na hora de derrubar o inimigo com um único golpe, como dizem os instrutores de auto-defesa: “Conhecimento é poder”.
“Nada mal, eu sabia que os anos treinando golpes finalizadores e golpes com unha, cultivando minhas unhas como espadas, e boa forma física, principalmente braços fortes, acabaria sendo útil. Eu unhei aquelas cordas sem dificuldade, exatamente no nó, abrindo e afrouxando, permitindo-me desfazer o nó e me soltar, fingindo ainda estar amarrada quando o estúpido garoto chegou, bem, agora é liberdade, eles deviam ter amarrado melhor minhas mãos, mas fui tão discreta para desfazer o nó que nem os culpo por não tem percebido.Claro que eles não me deixarão ir, e não sou boa o bastante para matar todos eles juntos, então eu tenho duas possibilidades, me aliar a eles, ou um resgate miraculoso. – Pensava enquanto procurava alguma coisa nos bolsos do menino morto, puxando o fundo de cada um deles, que eram muitos, acabou achando um celular, um Nokia 1100, um modelo finlandês básico, sem cores ou câmera, mas que tinha o principal, era capaz de ligar para outros telefones. Ela pegou o telefone e teclou o número do pai, então ligou.
“Espero que ele atenda, mas realmente eu gostei de arrancar o cérebro daquele babaca, espero que papai mate todos os outros pra mim e deixe eu brincar com os corpos.” – Pensava enquanto esperava a resposta do pai, com uma mão livre, pressionou o cérebro do garoto morto entre seus dedos, como se fosse o macio pêlo de um gato.
- É você? Devolva minha filha ou eu vou te matar, é um proposta simples, seu fracassado. – Ele atendeu, pensando que era o seqüestrador, não foi precipitado em suas palavras, estava muito nervoso, mas fingiu que estava muito calmo, sua voz parecia equilibrada e relaxada, sabia que nunca deveria demonstrar suas emoções em situações ruins como essa, embora as palavras usadas fossem agressivas, falava como quem fala com o padeiro. Estava na sala de estar de sua casa, sentado na frente da mesa principal, com sua mulher desesperada, com o notebook e o telefone sobre a mesa, pronto para receber o contato dos bandidos e rastreá-los.
- Não, pai, sou eu, as artes marciais foram realmente úteis hoje, matei um que ficou me vigiando, agora estou em uma solitária e fechada sala, quarto, não sei, e eles pensam que o morto está me vigiando, roubei o celular dele e te liguei. Ele não tem GPS, então, descubra onde eu estou, me resgate, e mate todos eles. – Ela dizia com um leve tom de raiva, controlado, mas no “mate todos eles”, o tom ficou bem mais agressivo.
- Oh, santificadas sejam as artes marciais, é você, Camilla. Ok, com o material da Hitonomi, isso será fácil, e eu já estou fazendo isso, espere. – Ele ligou o telefone ao notebook com um Hitonomi Link T-Cable, um cabo conector produzido pela empresa, abriu um software onde logo apareceu um mapa da cidade, mostrando onde Camilla estava presa, ele deu um print screen e copiou a imagem para um programa de edição de imagens, salvando o endereço exato. – Eu já sei onde você está, eu e os rapazes iremos aí.
- Ok pai, já posso cancelar a ligação?
- Sim, eu estou indo aí. – Após a frase, a ligação foi terminada pela filha. – Gabryella, nossa filha matou um homem, é perigoso chamarmos a polícia, então nós podemos resolver esse maldito problema sem a ajuda deles.
- Oh, obrigada, Camilla está viva, nós a salvaremos. – Ela abraçou o marido, com lágrimas nos olhos e fortes emoções no coração, não deu a mínima pro “matou um homem”, ou simplesmente não ouviu.
O programador discou outro número e ligou:
- Alô, Utaki, você pode vir para o velho cinema Movie Lover?
- Ei, mas esse cinema não está fechado há anos?
- Sim, mas eu rastreei o cativeiro onde uns seqüestradores malditos prenderam minha filha, eles estão no cinema, esteja aqui em 20 minutos.

- Vamos estuprar ela? – Jeremy perguntou a Anton, fumando um cigarro, havia apenas 8 pessoas naquela sala, ao invés das 11 que sobravam na gangue após a morte de James, mas antes dele responder, 11 homens entraram atiram repentinamente, para matar, eles só tiverem chance de gritar enquanto tinham seus corpos perfurados.

- O fraco morre, então somos as verdadeiras pessoas fortes no mundo, ou eu não posso morrer. – Ela estava cantando a música recém-inventada enquanto arranhava o cérebro de sua única vítima, apenas para ver a carne ser rasgada em pedaços, aparentemente aquilo era muito relaxante pra ela, tudo à luz de velas, o que dava um clima de “elegância” à cena. A essa altura, dava para se ouvir o som de vários tiros e gritos, obviamente o pai e mais alguém já havia chegado e matado toda a gangue, ou na pior das possibilidades, terem sido mortos pelos bandidos. Sentia uma sensação estranha entre suas coxas enquanto lambuzava as mãos com sangue, e era uma sensação muito prazerosa. – Por favor, salvem-me, eu estou aqui. – Ela gritou. Quase instantaneamente, Satoshi abriu a porta, com uma Submetralhadora Mini DGX na mão, uma rápida e pequena submetralhadora desenvolvida pela empresária, programadora e engenheira Myio Desukoto, ele abraçou a filha, com um grande e sincero sorriso.
- Oh, como é bom ter dinheiro, aliados, amigos e armas, e você está viva, Camilla. – Ele largou a arma e ergueu a garota, girando como em uma brincadeira de garota.
- Você matou todos eles pra mim? Alguém continua vivo? – Ela estava séria, parecia até um pouco emburrada, mesmo estando na sua feliz libertação. – Por favor, me ponha no chão, eu odeio isso, não sou mais uma criança.
- Ah sim, desculpe, eu odeio esse tipo de coisa também, mas no momento, eu estou feliz, eu nunca pensei que eles pudessem te machucar, eles não poderiam, nós rastreamos perfeitamente sua localização, nós chegamos, andamos silenciosamente próximo à sala onde eles estavam, seguindo os sons, calculamos sua localização, e então entramos atirando em todo mundo para matar, não achamos você, mas você gritou e aqui estamos. Esses bandidinhos adolescentes eram lentos, todos mortos, você está segura. – Só a colocou no chão depois que terminou de falar, foi quando finalmente percebeu o sangue nas mãos e nos braços da pequena, mas sem nenhum ferimento, o resto da equipe estava chegando os cadáveres na outra sala, para garantir que estavam todos mortos. Utaki era um dos líderes da Equipe de Segurança da Hitonomi, a empresa era tão importante que tinha um verdadeiro arsenal de armamento militar, fazendo verdadeiros extermínios quando realmente necessário, e tinham permissão para fazer isso, alguma coisa sobre “limpar as ruas do crime” ao lado da polícia.
- Oh pai, você é o melhor. – Ela sorriu com a notícia, e o abraçou fortemente, mas logo se soltou, tirou a arma do bolso e deu ao homem.
- Ei, você arranhou a cabeça dele com os dedos? – Os olhos dele pareciam um pouco impressionados, guardando a arma, e em seguida pegando a mão cheia de sangue fresco dos recentes arranhões no cadáver, ele reparou em alguns grotescos miolos espalhados no chão, e a cabeça aberta do garoto, coisa que era praticamente impossível de não ser vista, sentiu o estômago se embrulhar. Se lembrou do caso dela no primeiro ano escolar, aquilo era bem pior do que uma recaída, mas pensou que talvez pudesse relevar, já que ela foi vítima de um seqüestro.
- Oh sim, é bom matar esses vermezinhos. Eu estava com certa raiva, ele poderia ter me feito mal, mas morreu antes, e com a cabeça dela aberta, tenho certeza de que se manterá morto. – Começou a chutar o corpo, sentia um prazer enorme com toda aquela violência.
- Pára, vamos, vamos pra casa, e pegue essa arma, pode carregar pra escola, pra qualquer lugar onde for, você precisa se proteger. Mas nem pense em fazer besteira – Puxou a filha mão, e colocou a arma no bolso da calça dela, a guiando para fora, onde todos os atiradores esperavam com as armas na mão, e 9 corpos cheios de buracos de bala no chão, também havia um notebook aberto.
- Papai, pegue aquele notebook. – Ela soltou a mão do pai e correu para a máquina, fechando, pegando o carregador e levando com ela, tentava esconder o quanto que adorava ver aqueles corpos sangrando e desfigurados com balas, a sensação entre suas coxas apenas se intensificava a cada momento, cada vez mais prazerosa.
- Ok, ok mas vamos pra casa. Obrigado rapazes, o trabalho de vocês é sempre profissional e impecável. – Satoshi agradeceu aos homens, parabenizando cada um deles, pronto para voltar para casa após aquele dia perturbador.
- Espera pai! Eu lembro, eram 12, aqui há apenas 8 corpos, três deles ainda estão vivos. Eles certamente vão voltar, vamos fazer uma armadilha, esperar por eles a tirar quando chegarem.
- Camilla, isso pode levar um longo tempo, e Equipe de Segurança da Hitonomi não pode gastar muito tempo. Não é verdade, rapazes?
- Sim, não podemos passar muito tempo aqui, então nós vamos voltar ao nosso lugar, mas eu sugiro que coloquem uma armadilha aqui pra matar o resto dos marginais, uma bomba seria uma boa idéia. A Hitonomi tem bons explosivos e armas, você sabe, Satoshi, um sensor de movimento, uma bomba relógio, uma bomba controlada por controle remoto com câmera, você tem criatividade para escolher, você sabe. Mas óbvio que precisa ser rápido, depois de acharem os corpos aqui, eles rapidamente mudarão de esconderijo. – Utaki explicou seriamente, pensando em como matar com todos os “homens maus” da história.
- Pai, temos várias armas aqui, se ficarmos de tocaia e esperarmos pela chegada deles, nós podemos matá-los sem dificuldade, apenas precisamos não dormir, não consigo achar que isso será difícil, além do mais, só tem três deles vivos. – Ela puxou o terno do pai.
- Se eles viverem, você estará em perigo, eu preciso aceitar, principalmente depois de ver o que você fez com um deles sem usar arma. – Ele aceitou a sugestão, era uma das poucas pessoas que não achava ruim que a filha tivesse um comportamento extra-violento, afinal, ela não apenas matou o garoto, mas também cometeu atos de sadismo com o cadáver, e ele sabia disso, mas apenas ficava um pouco impressionado, o fato de ter sido tudo contra um bandido, parecia suavizar demais a brutalidade de sua ação no ponto de vista do pai.
- Tchau Hitokaze, tchau pequena Camilla. – Utaki se despediu e deixou o local com sua equipe, deixando os dois lá sós, o trabalho dos profissionais já estava terminado.
- Oh papai, eu gostaria de ficar sozinha aqui, você sabe, treinar para o futuro, sobrevivendo sem os pais, mas matá-los sem ajuda é realmente perigoso.
- Sim, mas eu não poderia te deixar sozinha, manterei minha posição até eles chegarem. – Ele se sentou em uma cadeira qualquer, ela sentou na frente dele, colocou o notebook em cima da mesa, e ligou, então clicou nos arquivos recentes, procurando alguma coisa, abriu um chamado “jigokomo.txt”, um arquivo do bloco de notas, então começou a ler em voz alta:
- Nida Nishiyama era um garoto de estatura média, um horrível exemplo para os meninos menores, ex-praticante de caratê, mas banido de sua academia e do mundo do caratê devido às suas constantes brigas, machucando pessoas sem ter razão, apenas por diversão, por ser um odioso marginal. Quando treinava era um excelente aluno, não o melhor, mas realmente muito bom, mas ao invés de treino duro, ele começou a brigar na escola e na rua por razões estúpidas, um olhar torto, por exemplo, poderia causar um nariz quebrado. Ele fez sua gangue se chamar Jikomo, uma combinação das palavras Jigoku (Inferno) e Kodomo (criança), criança do Inferno, coisas más sempre são estilosas, mesmo para um garotinho rico sem razões para ser “mau”, exceto, claro, diversão.
Jikokomo é como uma família, é como uma empresa, nós somos uma seita, um culto, uma religião. Esse é nosso principal documento, como a lista dos membros e alguns dados, mestre Nishiyama dá as informações de que preciso quando um novo membro entra.
1 – Nida Nishiyama: O líder, potente no caratê, nos combates de rua ele criou seu próprio estilo de luta, chamado Jigoken , uma vergonha para as artes marciais japonesas, enquanto as outras buscam nomes como “caminho da paz”, ele usou Jigoku e Ken (Inferno e punho), punhos infernais, apesar do nome estúpido, é uma ótima luta, derivada dos golpes mais poderosos do caratê, combinados com algum conhecimento de anatomia para garantir um estilo de finalização, nocaute ou assassinato em um golpe para brigas de verdade. Ele tem 16 anos e sua arma pessoal são dedais metálicos pontudos em cada dedo em sua mão esquerda, tirando o dedão, além de uma pequena e clássica pistola Colt 1911.
2 – Anton Marshall: Eu, o administrador secundário da Jigokomo, tenho 20 anos, bem, eu sou foda, apenas Nida pode ser melhor que eu, mas eu sou realmente muito foda, sou inglês, eu tenho grana, eu compro as armas da Jigokomo, eu obtenho as armas e o dinheiro para comprar tudo, minha arma pessoal é uma submetralhadora Uru, eu entrei dois anos atrás, o garoto tentou me atacar quando eu estava indo pra uma casa da luz vermelha pegar umas vadias, ele apontou a Colt pra minha cabeça, eu reagi, fazendo ele largar a arma, mas o filho da mãe acertou meu pescoço e me fez cair, então eu ri e disse, ignorando a dor que sentia: Cara, você tem potencial, se você usar sua força com inteligência, você pode ficar rico, ou simplesmente se divertir muito. Vamos ser parceiros, garoto, eu também sou bom.” O resto eu não lembro, mas ele aceitou e decidimos fazer uma gangue , infelizmente, ele escolheu o nome, mas depois fomos arranjando novos membros.
3 – James Root: Velho rival de Nida, 16 anos, um mestiço com metade do sangue estadunidense, pratica kung fu e caratê sozinho em casa, usando livros e vídeos na Internet para fazer tudo. Sempre lutando na escola com seu rival, eles se tornaram amigos após ele ser atacado por 4 viadinhos de uma gangue qualquer, e nosso grupo, perto no momento, deu uma surra neles e o salvou, ele podia ser forte, mas eram 4 caras, Nida sabia que ela ia ser uma boa aquisição, e chamou ele pro grupo, ele aceitou, agradecido pela ajuda. Sua arma pessoal é um leque de ferro, uma arma incomum que ele usa com perfeição.
4 – Jonathan Jones: Um nerd mestiço meio americano desviado e nem um pouco virgem, 15 anos, capturado pela Jigokomo em um dia ensolarado, então, Nida o chamou para o grupo, e ele aceitou bem temeroso, o líder sabia que o moleque era um hacker talentoso, então, ele é nossa parte tecnológica intelectual, nós precisamos de um suporte virtual, sem lutas, apenas a quebra de senha e invasão de sistemas. A arma pessoal dele é um notebook Dell Inspiron, não é bem uma arma, mas é bem útil, em último caso, se realmente precisarmos, ele usa qualquer coisa que ele achar, até um garfo, talvez.
5 – Salomon Nishiyama: Esse rapaz é realmente interessante, 17 anos, um estudante louco, nós sabemos que ele tem problemas mentais e é muito instável, ele é primo do Nida, e foi banido da casa dos pais, de todas as escolas onde estudou, foi deserdado e passou 3 anos no reformatório, tudo por causa das manias incendiárias dele, queimou dezenas de coisas nas escolas, objetos, e animais, nas ruas, em casa, desde os 10 anos, até ser preso por queimar a própria casa inteira, mandado pro reformatório. Ficou lá até ter 15 anos, quando conseguiu fugir, e em adicional, botar fogo no colega de quarto, ele entrou na nossa gangue por um convite feito por Nida pessoalmente, eles tiveram a sorte de se encontrar e se reconhecerem, uma oferta irrecusável para uma garoto sem casa, dinheiro ou qualquer coisa. A arma pessoal dele é um lança-chamas customizado feito pelo próprio com um tutorial da Internet.
6 – Jéssica Shimecho: Oh, ela é gostosa, 15 anos, uma garota comum da escola, mestiça com metade do sangue brasileiro, ela foi molestada pelo pai e acabou fugindo de casa, matando ele enquanto dormia usando a própria arma dele, isso que dá ter armas em casa e não guardar direito, haha. Bem, foi uma história trágica, como conhecia nossa gangue superficialmente, pediu pro Nida para entrar na gangue, e ele permitiu. A arma pessoal dela é uma pistola Glock G25, a arma do pai morto.
7 – Jeremy Loyd: Um mendigo que nós atacamos e pedimos pra entrar na gangue, por ter um corpo muito forte, realmente forte, músculos impressionantes devido a constantes exercícios físicos, 43 anos, o cara mais velho da gangue, de qualquer modo, pegamos ele facilmente com o Dedo Cometa Duplo do Nida, ele é do México, tentou a sorte como um imigrante ilegal aqui, e sabe, a sorte não sorriu pra ele, até nós o acharmos. A arma pessoal dele é um halteres de 10 quilos que pode esmagar cabeças e também manter a sua forma física.
8 – Haruka Kanata: Uma garota rapper do gueto, 16 anos, era da escola do Nida, entrou na gangue tentando me roubar com uma faca idiota, eu tomei a faca dela e soquei aquela cara feia, pisei na barriga com força e a chamei pra gangue, haha, foi realmente engraçado, às vezes penso que sou quase tão louco quando o Salomon. A arma pessoal dela é um cutelo, ou qualquer objeto pontudo.
9 – Enzo Perez: Um otaku homossexual que ama o Nida, tem 16 anos, entrou por um convite pessoal, sendo um grande amigo do chefe, que é hetero, mas gosta de ter amigos viados e gosta de ser desejado por eles, é nojento, o Enzo nunca escondeu seu amor, mas nunca foi descarado ou abusivo, ainda bem, porque nunca seria respondido e ainda levaria uma surra. A arma pessoal dele é uma katana de um filme do Jackie Chan cujo nome eu nunca me lembro, mas não é pra decoração ou coleção, aquela coisa corta.
10 – Tenten ???: Uma puta jovem, não tão sexy, mas gostosa o bastante pra conseguir clientes, eu era um deles, vendo o fabuloso corpo dela pelado e suas “habilidades físicas”, se é que me entende, a convidei para a gangue, Nida aceitou também, mas só porque ela é uma garota, e todos acham que grupos cheios de homens são para viados, como o Village People, de qualquer modo, essa vadia se recusa a dizer o sobrenome dela, e a gente não tá nem aí, enquanto ela atirar e abrir as pernas, está ótimo. A arma pessoal dela é uma pistola Desert Eagle 44, mas ela tem bons chutes e uma boa chupada também.

11 – Kazuki Desukoto...

- Por Myiamoto! (o criador de Mário, pra qualquer designer de jogos seria como um Deus), você disse Kazuki Desukoto? – Satoshi a interrompeu, dessa vez parecia realmente impressionado em ouvir o nome, bem mais do que quando viu o rosto estragado de James Root.
- Sim, agora deixe-me terminar, ok? Ele entrou de um modo estranho, ele é realmente misterioso, e eu não entendo que razões ele tem em mente, 12 anos, um garoto gênio filho adotivo da famosa Myio Desukoto, ele invadiu nosso esconderijo com duas submetralhadoras nas mãos, e nos forçou a aceitá-lo na gangue, ele podia ter matado todos nós de uma vez se quisesse. Obviamente, o aceitamos, ele é tem sangue frio e é brilhante, o que explica porque o Nida gosta tanto dele, ele é realmente foda, a única coisa é que ele passa a maior parte do tempo ausente, ele só aparece às vezes, sabemos que é um garoto ocupado e que só pode nos ajudar nos sábados ou em dias especiais, mas eu ainda suspeito da atitude dele, mas ok, qualquer coisa, nós o matamos, mesmo ele sendo nossa precioso melhor atirador. A arma pessoal dele são duas submetralhadoras Ingram M10, as mesmas que ele usou para nos render.
12 – Sakura Futamura: Apenas um ex-mendigo, 34 anos, ele foi atacado pela gangue e reagiu, mostrando o quão forte um mendigo pode ser, principalmente quando usando um taco de beisebol, mas ele foi derrotado, pelo bom e velho Dedo Cometa Duplo do Nida, o incrível golpe finalizador que acertou certeiro no pescoço, mas vendo a boa luta do infeliz, o chamamos para a gangue, e ele aceitou. A arma assinatura dele é um taco de beisebol. – Ela finalmente terminou a leitura.
Mas em qualquer caso, a gente divide as armas uns com os outros, e quando alguém é convidado pra gangue e não aceita, apanha que nem um condenado. E aí, é o fim – Ela finalmente terminou a leitura, a última frase não estava escrita, aquele arquivo poderia continuar sendo editado enquanto a gangue existisse.
- Hun, ok, fomos fazer alguma coisa enquanto esperamos. Melhor, os que morreram, vamos reconhecê-los, esse arquivo de texto diz como cada um deles é.
- Kazuki tá vivo, Nida tá vivo, Salomon tá vivo. Eu lembro do rosto do Nida, Kazuki provavelmente seria o primeiro a deixar esse lugar, não vi o rosto dele, e Salomon... eu acho... ok vamos checar o bolsos e identificar as pessoas pelas suas armas. – Ela começou a checar cada cadáver, cada bolso, as roupas, possíveis esconderijos para objetos, Satoshi fez o mesmo, eles obtiveram as armas listadas no arquivo de computador, tudo escondido nos mais diversos lugares, roupas de baixo, bolsos, jaquetas, atrás ou dentro das calças, etc. Também tiveram que procurar na sala e nos móveis, onde também havia alguns armamentos, também tinha muita coisa não listada, incluindo comida e revistas de pornografia, o reconhecimento não seria perfeito devido a isso, mas colocaram tudo no chão.
- Então você estava certa, Nida, Kazuki e Salomon vivos. Olhe, aqui tem vários onigiris (bolinhos de arroz) e saquê para comer e beber, nós podemos satisfazer nossa fome e sede por um tempo, e estamos armados, quando eles chegarem, a gente atira para matar.
- Bem, eu não quero matar eles assim, eu quero fazê-los sofrer, nocauteando, amarrando, e então torturando com extrema crueldade, papai, como eles merecem. Olhe, podemos fazer uma armadilha, os sobreviventes são os piores deles, mas nós podemos pegá-los de algum modo.
- Não, Camilla, mas se você insiste, afinal, não é só você que quer vingança, eu também quero. Nós podemos fazer assim, se apenas um deles vier, sozinho, desacompanhado, nós o invalidamos e então o punimos enquanto está indefeso. – Ele deveria ser contra, aquilo seria estragar todo o tratamento anti-violência feito por ela, mas ele também queria se vingar dos bandidos que sobraram, podia não ser um perfeito exemplo de sádico, mas era muito vingativo.
- Certo, mas eu não insistirei, de qualquer modo, temos uma boa chance de revanche, se for apenas um deles, nós podemos capturá-lo facilmente e vivo, então o faremos sofrer muito. Eu me escondo em um lugar onde eles não possam me ver, e então, quando atravessarem nosso caminho, nós atacamos, aqui há sistema de ventilação, podemos esconder lá, então pulamos na cabeça deles. – Apontou para a tampa no teto, a luz elétrica da lâmpada ao lado da tampa era a única luz do local, junto com a que vinha do corredor que levava às escadas fora do subsolo, já que na parte superior havia algumas janelas.
- Nada bom. Eu tenho uma idéia mais simples e melhor. Nós atiramos nele ou neles, nas pernas e nos braços para invalidá-los totalmente, isso irá dor muito e vai paralisá-los sem problema.
- Oh papai, você é meu ídolo. Ei, não avisou mamãe sobre minha sobrevivência? – Ela sorriu novamente, pegando as pistolas Glock G25 e Desert Eagle no chão, apertando o gatilho e enfiando duas balas na parede, fazendo um estrondo sonoro.
- Os rapazes já devem ter a avisado, ela está esperando do lado de fora, você sabe que ela não é nada superprotetora, ela confia em mim, se ela sabe que estou aqui para terminar toda a ação, ela não ficará muito preocupada, não muito, pois sabe que eu iremos resolver tudo. – É melhor explorarmos um pouco esse lugar, achar munição, conhecer o território do inimigo e preparar para a batalha.
A sala era realmente grande, no subsolo do cinema, local onde anteriormente já havia existido uma habitação, onde o dono do cinema morava, muito pão duro pra comprar um lugar melhor, preferindo morar debaixo do local de trabalho até mesmo para pagar uma só conta d’água, o “quarto” de refém antigamente era um quarto de dormir, e os outros locais, vários coisas, excluindo o banheiro, que continuou com a função de banheiro. Os dois atravessaram o corredor, em direção à superfície e saída, por onde Satoshi e a Equipe de Segurança da Hitonomi entraram, pelo corredor, havia duas portas fechadas, Satoshi abriu a primeira e Camilla a outra, nada além de um banheiro com um cheiro repugnante e um quarto que tinha o chão coberto com um tatame, e alguns travesseiros, provavelmente onde os vagabundos dormiam, no mínimo, eles realmente viviam em um lugar péssimo e desconfortável, talvez aquilo tivesse algo a ver com “manter a força”, e dormir com o conforto de escravo poderia ser realmente útil para manter a força e a resistência, o desconforto fortalece e retira frescuras e fraquezas.
- Oh papai, idéia fantástica, nós nos escondemos atrás dessa porta, e então, se ouvirmos um som, nós atacamos. Ah, mas se atirarmos com eles no meio, acabaremos acertando um ao outro, e isso seria estúpido, é melhor que apenas um de nós ataque, você, você atira melhor que eu, eu apenas treinei algumas vezes com sua ajuda, já você já atirou em atuações reais. Mas eu não posso ser inútil nessa atuação, eu posso distraí-los, eu finjo que estou desmaiada logo em frente à porta onde você se esconderá, a uns 2 ou 3 metros dela, então eles tentarão me pegar, e quando eles tentarem me pegar, e com certeza falar qualquer coisa antes ao me verem, você abre a porta e atira nos braços e nas pernas, usando as duas armas, uma em cada mão, se for mais de um, realmente, vá direto na cabeça, mas tente manter pelo menos um vivo, o Nida. Eu vou ficar na diagonal, distante para garantir que você terá uma visão completa do corpo deles, e poderá atirar em ambos os braços e pernas, não uma visão lateral, se me entende.
- Entendo. Camilla, tenho orgulho por ser seu pai, é um plano perfeito. – Ele tomou a Glock da filha, e colocou na cintura.
- Ei, eu pego a Uru pra você, é melhor pra você, me devolve a Glock – Ela andou de volta à sala, onde o extermínio ocorreu, ela não era uma grande conhecedora de armas, mas sabia ler o que estava escrito nelas, e se lembrava bem da lista no arquivo de texto do computador de Marshall.
- Eu já tenho minha Mini DGX, não preciso de outra submetralhadora, mas é bom garantir, me traga, você não precisará de arma, mas nenhum problema em ter uma. Os rapazes fizeram um bom trabalho, colocando todos os cadáveres no canto frontal da sala, daqui eu não posso vê-los, tudo em um ângulo perfeito, a Equipe da Hitonomi é realmente profissional.
- Pare com a propaganda, papai, aqui tem muito sangue, se realmente queremos esconder o que aconteceu, precisamos limpar isso tudo. – Ele chutou a Uru com toda sua força, a arma deslizou até Satoshi, que a pegou, e jogou a pistola de volta para a filha, que a agarrou com perfeição, guardando dentro da calça, na cintura. Abriu o único armário na sala, abriu cada gaveta até achar um pequeno pano, guardou e entrou no mesmo quarto onde havia sido aprisionada, então fechou a porta, sentindo a sensação entre as coxas se intensificar muito mais, era muito gostoso, mas muito estranho, estava ficando com a calcinha um pouco umedecida. - Pai, espere, eu volto logo, é importante.
“Oh, papai não pode ver isso. Você sabe, você precisa limpar toda essa merda, menina, e cuspe não é o bastante. Eu devo admitir, aquele sangue, ah, me deixa excitada. Eu já estou na idade disso? Nunca fui uma vadia, ah, eu tenho que ter tido um dano cerebral com aquele maldito taco na minha cabeça, mas não posso mais me controlar por muito tempo, quase gozando na frente dele. O que tá acontecendo? Eu não era assim, uma vadia, apenas gostava de violência. Excitante, essa arma. Foder... é essa a palavra? – Ela ouvia a própria voz dentro da cabeça dela como um eco, provavelmente a própria consciência, ela se sentou sobre o garoto morto com os miolos de fora, então colocou a arma dentro da calcinha, sem tirar as roupas, e lentamente começou a empurrar e puxar o cano dentro da vagina, uma prazerosa e dolorosa sensação, sua genitália era apertada e virgem, e a arma relativamente grossa, e muito dura, ela colocava exatamente o cano, uma apertada no gatilho e ela poderia ser desvirginada do modo mais doloroso possível.
- Oh, é bom, se eu fizer alguma besteira com meu dedo, eu vou atirar na minha buceta, e isso não seria engraçado, oh, foder com a arma, foder com a arma. – Ela começou a sussurrar pra si mesma, não gritando, como a situação poderia sugerir, apenas grunhindo baixinho, rebolando como em uma verdadeira relação sexual, mas com uma arma carregada, e segurando no gatilho com a mão que enfiava, quase pressionando, o perigo era mais excitante, seus olhos estavam muito abertos, como o cérebro de James Root, já tava muito molhada.
- Camilla, por que tá demorando tanto? – Satoshi gritou, estranhando a demora dela, mas sem seguir a filha.
- Eu estou bem, espera. – Ela gritou bem mais alto que o pai, que não respondeu, confiava na filha, embora ela fosse muito perigosa.
- Uhuhuhuhu, é bom, eu meto com mais força, mais. Aaaaaaaaaaaaaaaah! – Ela quase gritou, mas abafou o chão, colocando a mão livre na boca, silenciando o grito de prazer e dor, no exato momento em que seu hímen era rompido, perdendo sua virgindade com o cano da arma, após pressionar com muita força, sentia uma dor violenta e sangrava bastante na sua parte íntima, mas aparentava estar muito feliz, enlouquecida com uma estranha natureza sexual, transando com uma arma em cima de um cadáver desfigurado, seus olhos eram como o de uma prostituta irritada, mas a boca sorria como uma criança feliz. – Eu gozo, que legal. – Foi tudo que ela disse em voz muito baixa, sussurrada, a mão a masturbava rapidamente com o armamento, enquanto sentia ficar cada vez mais úmida, enquanto o sangue escorria por suas pernas, debaixo da roupa, e também pela arma. Acelerou a velocidade da masturbação e acabou gozando, rapidamente removeu a arma de dentro das suas roupas, e colocou, no lugar dela, o pano que tinha pego do armário, gozou nele, molhando-o inteiro com seus fluídos vaginais, em seguida caiu no chão com as pernas bambas, após exteriorizar a última gota. – Oh meu Deus! O que fiz? Ah, está doendo, estou ficando louca, sem controle, ah, isso é ótimo, está doendo tanto, é gostoso. – Sussurrava baixinho como uma total esquizofrênica. – Pai, por favor, venha cá, eu preciso de você, está doendo. – Ela começou a gritar, um pouco confusa, estava com um pouco de medo de realmente perder o controle e pirar de vez, pois já não estava muito bem, estava em algum tipo de transformação, uma descoberta, e ela podia ser perigosa ou até mortal, tinha sido controlada por todos aqueles anos, mas naquele momento, ela chegou a pensar que não teria controle sobre si mesma. Pegou o pano úmido e colocou no chão, sentando no cadáver novamente, esperando a ajuda do pai.
- Filha, o que aconteceu? – Ele chegou, com medo do que poderia ter acontecido, ele viu a menina em cima do garoto morto, com uma pequena mancha na calça negra do uniforme escolar, ela olhava silenciosamente para frente, como se observasse alguma coisa.
- O que aconteceu, Camilla? Você está bem? – Ele a ajudou a se levantar, puxando pela mão, que estava suja de sangue fluído vaginal, as pupilas estavam bem dilatadas, ele achava que o sangue fosse do menino morto, mas não entendia porque tava gritando.
- Acho que estou ficando louca, esqueça. – Se levantou, retomando a compostura, mas mentindo, antes dele chegar, já tinha limpado o cano da arma na blusa que usava, mas a mancha ficou discreta, essa era a vantagem de roupas pretas.
- O que aconteceu, filha? Fale a verdade. – Ele não acreditou, embora o tom de voz fosse convincente, a história não estava nada bem explicada.
-Eu acho que estou ficando louca, eu vi o desgraçado do Nida aqui dentro, ele tentou me estuprar, eu to pirando, achei que ia ficar bem, mas fiquei traumatizada, marcada, eu não sei. – Ela mudou totalmente o tom de voz, agora parecia estar quase chorando, desesperada.
- Calma filha, foi só um delírio, não foi real, esquece isso, e você não está louca, é que às vezes acontece, ficamos nervosos. – Ele a abraçou, era difícil não acreditar naqueles olhos úmidos.
- Verdade? Você não está mentindo pra mim, papai? – As lágrimas estavam quase saindo dos olhos dela, não dava pra saber se estava com medo, louca, ou fingindo.
- Sim, é verdade, você tá bem, vamos limpar o chão e capturar aqueles malditos bandidinhos. – Ele sorriu, tentando acalmar a pequena filha.
- Se você tá falando isso pra mim, eu acredito, esse pano molhado vai servir. – Se soltou do abraço, parando de chorar e falar com o tom de tristeza e medo, pegou o pano “molhado”, deixando o local e indo para a cena onde o massacre ocorrera, limpando as manchas de sangue no chão, esfregando o pano com força, não tinha tanto líquido assim, mas era o bastante, Satoshi não ajudou, apenas assistiu ao trabalho da filha, pensava em alguma coisa, ela esfregava bem, Camilla, no original em latim significa serva, empregada, uma jovem criada que serve obedientemente, nenhum dos dois sabia disso, mas ela mostrou merecer esse nome, fazendo um bom trabalho doméstico lá, usando seu próprio líquido, esfregou até não ter uma única manchinha em nenhum lugar. Se o inimigo viesse, ele não veria o que tinha acontecido no local, sem sangue, sem corpos à primeira vista, graças à boa limpeza feita por ela.
- Bom trabalho, agora você pode deitar no corredor, eu guardarei seu corpo e os matarei. Está preparada, querida?
- Sim, eu estou. – Ela estava um pouco preocupada por causa do seu momento de insanidade sexual, embora estivesse louca para ter outro, e então foi até o local próximo à porta onde o pai se esconderia, seguindo o plano, a uma certa distância diagonal, se deitando no chão de modo que parecesse desmaiada ou morta, bem estirada, como se tivesse caído se uma só vez. O pai caminhou ao local, abriu a porta e entrou, fechando logo em seguida, já levando as armas, ele as posicionou bem na mão, em posição de ataque.
- Camilla, continue silenciosa, tente dormir, quando eles chegarem, nós venceremos. Nenhum som a partir de agora. – O game designer avisou seriamente, e ela não respondeu, se mantendo quieta como o ordenado, e eles continuaram lá, silenciosos, esperando pela chegada do inimigo.

- Merda, aqueles filhos da puta não atendem minhas ligações! Como podem? Como pode uma merda de família ser tão fria? A filha seqüestrada, desaparecida, e eles nem mesmo atendem o telefone, eu chamei todos os números que consegui, mandei SMS, mas não, eles não atendem. Mas de qualquer modo, já que não farão nada, eu mesmo vou me divertir e foder a gostosinha, eu apenas. – Nida estava andando sozinho, entrando no corredor, mas falando bem alto, dava para os Hitokaze ouvirem a sua chegada, e isso ia exatamente de acordo com o plano, parou, surpreendido ao ver Camilla jogada no corredor, desmaiada no chão. – Que merda é essa? O que você tá fazendo aí, sua cadela? – Ele sacou sua arma da cintura correu até a garota, mas quando estava realmente perto, soltou a sua pistola Colt antes de poder reagir, sentindo seus braços serem perfurados rapidamente, primeiro o direito, que segurava o utensílio, e depois o esquerdo, livre. Sentiu logo em seguida as pernas serem atravessadas, ao mesmo tempo, era tudo muito rápido, e muito doloroso, estava desprevenido e foi atingido por trás, caiu no chão tão rápido quanto foi atingido. Mesmo no chão, ainda levou muitos tiros, que dilaceram cada um de seus membros, e tiraram gritos de dor tão altos que abafavam o som dos disparos sem silenciador, ele acabou com mais buracos que um queijo suíço. Estava sangrando como um porco no matadouro, saboreando à força o verdadeiro significado de dor, vítima de uma chuva de balas com duas submetralhadoras, sem nenhum dano fatal, mas que o invalidaram permanentemente, não poderia andar nem comer sozinho, nem escrever, nem digitar, atirar, não poderia fazer nada sozinho se saísse vivo daquilo. Camilla se ergueu, cuspiu na cara de Nida, e começou a rir bem alto, quando já não havia disparos.
- Oh garoto, você veio só? Tenho certeza de que papai não atendeu suas ligações, ele estava aqui, e ele matou todos os seus amigos retardados e fez essa armadilha pra você. – Ela pisou no peito dele, ele não podia se mover, invalidado, destruídos, e grunhindo como uma fera, gritando, uma bizarra mistura de ódio, raiva, dor e medo, enquanto isso ocorria, Satoshi se aproximou, soprando as armas, como em um filme de cowboy, ele não era do tipo que costumava se divertir com a dor alheia, mas em caso de vingança, era outra coisa.
- Puta, vadia, filha da puta, chupadora de pau, cachorra desgraçada. – Ele gritou desesperadamente todos os xingamentos que sabia.
- Ele é seu, filha, esperarei lá fora, quero me vingar, mas já to quase vomitando. – Ele deixou o local, indo com as armas roubadas de mortos, Satoshi era vingativo, mas nem sempre tinha estômago para certas coisas, e vendo o que a filha tinha começado a fazer, tinha certeza de que não agüentaria ver o que ela faria agora, até mesmo o que ele acabava de fazer com os membros do bandidinho o deixava enjoado, mas era irresponsável a ponto te deixar a filha diagnosticada como uma sociopata violenta se divertir torturando um bandido. Ele não se importava que a filha ultrapasse os limites da brutalidade em uma vingança, por isso, deixou ela lá, para que fizesse o que sua “imaginação” pudesse inventar.
- Tchau pai. – Acenou com a mão, então se virou para a vítima. - Agora é eu e você, babaca, você já tá sofrendo demais, mas não é o bastante pra você, eu sei que seu sofrimento é realmente péssimo, sério. Mas eu quero ver você nessa situação, você pode me xingar e me amaldiçoar como quiser, mas você não pode me tocar, você não pode pôr esse seu pequeno e imundo pênis na minha doce vagina. – Ela tirou a calça e a calcinha, abaixando de uma só vez, nada discreta, mostrando sua genitália, que estava bastante úmida, novamente, ela sentia aquele forte prazer naquela área, estava excitada, e muito. – Veja, to molhadinha. Você me quer? Quer me fazer sua putinha imunda?
- Puta desgraçada, eu vou gozar em você sua puta desgraçada, e você vai gritar por socorro, eu vou... Desgraçada! – A última palavra foi a gritada com maior intensidade de ódio, como uma besta louca, sentiu uma bala atravessar o pênis, uma dor suprema, indiscritível, o grito foi assustador.
- Querido, você vai me foder? É tão excitante, e eu estou com muito tesão... mas... oh. Como você pode me foder? Eu penso que você precisaria de um pau pra fazer isso, mas eu explodi seu pintinho impotente. Então, como você pode me foder? Com os dedos? Ah, seus braços e dedos tão inutilizados, então não dá pra fazer, não com seus dedos. O que acha de sexo oral? Ah, é perigoso, você é louco, acabaria me mordendo, e a única coisa que você sabe falar é “puta”, a única palavra do seu vulgar e limitado vocabulário, mas você só pode falar coisas feias, porque você não pode meter nada dentro de mim, chore, chore. Veja como meus dedos se movem. – Ela ficou de pé na frente dele, humilhando-o, cuspindo em seu ego enquanto agonizava, a garota se masturbava com um dedo da mão esquerda, suavemente, fazendo movimentos que geravam bastante prazer nela mesma, enquanto segurava a arma com a outra mão.
- Pare! Por que tão cruel? Eu nunca pretendi te matar. Pra que toda essa tortura ao invés de apenas em matar? Eu te odeio, eu te odeio e quero que todas as coisas ruins nesse mundo aconteçam a você, que se foda, vá pro Inferno, seja estuprada por Satanás, seja morta, morra, tenha os braços arrancados, sofra pra sempre, morra, eu te odeio, eu te odeio. – Ele estava no pior estado psíquico, lamentava, gritava, amaldiçoava com todas as coisas que imaginava, mas nada podia parar aquela dor enlouquecedora, sangrando demais em cada buraco no corpo, morrendo lentamente, mas não tão lentamente assim, não como em uma crucificação, o seu desespero e confusão já alcançavam níveis absurdos.
- Veja, você está sangrando, logo morrerá. – O sangue abundante escorrendo pelo chão era impossível de não ser visto, o garoto não podia parar de gritar e chorar, ela se virou, terminando de se masturbar, já havia gozado pela segunda vez naquele dia, dessa vez o prazer tinha sido muito, muito mais intenso, e o clímax vindo muito mas rápido, realmente impressionante. Subiu as roupas. – Obrigada, foi excitante, seus gritos, o cheiro de sangue, inspirador. – Lambeu o dedo cheio do seu “mel íntimo”, sorridente, acenou e se distanciou. – Você morrerá sem minha ajuda, tchau.
- Não, puta, não me deixa só aqui, não ouse. Não! – O último “não” foi realmente alto, ele via sua visão escurecer rapidamente, muito fraco, depois disso, não falou mais nada, nem mesmo conseguia, sangrava rápido demais. Camilla não se cansou dos gritos, mesmo que o barulho fosse ensurdecedor, ela gostava de ouvir o profundo sofrimento de sua vítima, um homem morrendo grita mais alto que um megafone. – Ela já não podia ouvir nada, quando estava pronta para subir as escadas para a superfície, se virou para trás e percebeu que o infeliz já estava morto, subiu e saiu do local onde os horrores foram presenciados, com um grande sorriso no rosto.
- Camilla, como foi lá? – O pai estava realmente curioso e preocupado, ao lado de Gabryella, que esperava ao seu lado, mas não disse nada, apenas sorriu com sinceridade ao ver a filha bem.
- Muito divertido. – Ela só disse isso, e entrou no carro dos pais, que estava parado logo à frente e com as portas aberta, passando direto pela mãe. – Mãe, eu estou ótima, vamos pra casa. – Seu tom de voz era absolutamente indiferente.
- Te amo, Camilla, não importa o que diga ou faça. – Gabryella disse em lágrimas, não tinha uma boa relação com a filha, mas a amava verdadeiramente.
- Ok mãe, eu acredito em você, e sei que você é muito fraquinha pra participar de um tiroteio, por isso não ajudou, mas sem problemas, eu sei que você poderia ser dispensável em algo assim. – A resposta consoladora da filha apenas a deixou mais pra baixo, era esse o motivo da má relação entre as duas, Camilla achava a mãe muito incompetente e comum pra ser sua mãe, a achava fraca, relativamente burra, não como a própria e seu pai, e a sinceridade extrema não ajudava nada. Isso deixava Gabryella muito para baixo, acabava com sua auto-estima.
- É verdade, Satoshi resolve tudo sem mim. – Ela entrou no carro, parecendo conformada com sua posição de inutilidade e impotência, Satoshi já estava na cadeira de motorista.
- Ok, vamos pra casa. – Ele estava apressado para retornar, seis horas de tocaia eram muito cansativas, Camilla não se sentia tão cansada porque tinha dormido, mas ele se manteve de olho aberto o tempo todo, sempre alerta.

Em casa, Camilla e o pai tomaram banho, nada como uma casa grande, com vários cômodos, vários banheiros, vários quartos, espaço de sobra, mais do que o necessário, mas é como se fala, antes sobrar do que faltar.
Após o banho, a garota foi para o computador, navegar na Internet. No quarto, com luz desliga e porta fechada, abriu a página inicial do Google, o famoso site de pesquisa, e sem pensar duas vezes escreveu “sexo”, não parecia mais feliz como quando estava matando Nida, ela agora estava séria, feições sem emoção, desanimada, como alguém que realmente não liga pra nada. Na tela apareceram alguns resultados nada aconselháveis para menores de 18 anos, mas ninguém nunca ligou para essas censuras mesmo, desde a época em que revistas playboys eram o único acesso à pornografia existente, clicou em um site em inglês, “PornographyWorld”, ela usava fone, não haveria problema se visse alguma coisa com som, algum vídeo, clicou no primeiro que viu, mostrava um homem japonês e uma mulher loira ocidental fazendo de tudo juntos, mas a garota não sentiu nada vendo aquilo, nenhum tipo de excitação como sentira mais cedo, nem ao menos quis levar seus dedos até sua intimidade, era tão excitante quanto bois defecando, e ela definitivamente não era fã de scat, também conhecida como coprofagia, ou para os mais leigos, comer excrementos.
Estranhou não ter sentido nada. Aquilo que sentia até sentir suas pernas bambearem e sua vagina ficar melada não era excitação sexual? Nunca havia visto um filme pornô antes, mas aquilo não tinha graça, ainda estava confusa, até achava saber o que era, mas ainda achava um pouco estranho, ainda estava confusa. Escreveu na barra de ferramentas do Google “bloody”, sangrento em inglês, talvez visse alguma pornografia violenta, ou qualquer coisa, mas serviria, apertou para fazer a busca e foi em imagens, apareceram algumas fotos nojentas, a primeira e mais chamativa era de uma pessoa com o rosto arrancado, com toda a carne dentro da cabeça mostrada, e muito sangue, ela clicou para aumentar a visualização, era uma foto real, com os detalhes dos músculos rasgados muito bem visíveis. Deu um sorriso com a imagem, e sentiu um suave arrepio e uma sensação agradável entre as pernas, novamente, só que bem fraca dessa vez, como um toque de meio segundo, rápido, mas bom. Levou as mãos discretamente até as pernas, e apertou entre elas, observando atentamente a imagem, era agradável, mas a sensação era muito fraca e distante, não o bastante.
“Não é uma grande inspiração.” – Pensava, colocou a mão dentro da calça e da calcinha, e fico alisando a própria vagina suavemente, metendo os dedos entre as alisadas, ainda sim, a sensação não era grande coisa, não era algo que a convencesse a continuar, ela queria sentir novamente o que sentiu no cinema abandonado, um prazer lancinante que a fazia se sentir realmente viva. Tentou procurar por vídeos de tortura, clicou para assistir um em que usavam chapas quentes para desfigurar cada canto do corpo nu de uma mulher, na verdade, aquilo era a cena de um filme, mas ela não sabia, e não dava para saber a diferença, era realista e sem a qualidade visual de filmes profissionais de ficção. Enquanto assistia, pensou:
“Ela está sofrendo, eu não, eu me sinto feliz. É isso.” – Se masturbava rapidamente, desejando ter um orgasmo e sentir a sensação que sentiu antes. Era bom, mas ainda não era o bastante, aquilo não a fazia querer viver, não a deixava viva, era um prazer suave, não um deleite selvagem e inexplicável como o que teve junto ao corpo agonizante de Nida, mas era bom, era algo que poderia fazer sempre que pudesse, e não tivesse nada melhor para tentar.
“Ah, eu quero, eu quero muito aquilo de novo, chega de fingir, eu não estou feliz, nunca me divirto, não se mesmo conseguiria me divertir com alguma coisa, eu quero de novo, eu preciso.”
Ela nem chegou a gozar com aquilo, por mais que tentasse.

1975
- Ei Satoshi. – O garoto foi chamado por Myio, os dois entraram na faculdade no mesmo ano, Myio com as maiores notas em todo o Japão, e Satoshi com as segundas, impressionantes alunos, a mulher tinha apenas 17 anos de idade, uma alta e bela mulher com negros olhos e cabelos de mesma cor, seu nariz, delicadamente pontudo, mas agradável de se olhar, sua alta estatura poderia assustar algumas pessoa, combinado com sua personalidade explosiva e duro orgulho, sua força física era surpreendente, forte, mas ainda assim era feminina, fazendo judô desde 7 anos. Satoshi era um típico “geek”, os conhecidos nerds tecnológicos, sem músculos ou talento para esportes, mas uma boa mente para produzir tecnologias, estatura média, olhos castanho escuros, cabelos negros, um nariz pequeno e usando óculos, completando a aparência de geek, mas não era feio, nascido em uma família de classe média, estudando na faculdade Gakubura, uma das melhores do país, onde entrou sem problemas, devido a suas excelentes notas em todas as matérias, realmente o segundo melhor estudante nos rankings nacionais japoneses, não apenas um geek, mas um designer, um de seus hobbies favoritos era desenhar personagens e histórias com eles, criando um mangá chamado O Jogador, sobre um arruaceiro viciado em jogatina, misturando com violência, perversões loucas e bruxaria. Aquele era o primeiro dia, Satoshi estava colocando suas coisas em sua cama no dormitório da escola quando a garota chegou e o chamou, eles deveriam estudar e dormir na faculdade, e aparentemente eles estavam no meus dormitório e no mesmo quarto.
- Sim? – A voz dele era bastante grave, mesmo que sua aparência fosse mais infantil e jovem do que sua real idade, sua voz era mais adulta e aparentemente velha, muito masculina. Ele não conhecia Myio Desukoto exceto de nome, aquele era o primeiro dia na faculdade, e ambos eram novos lá, tiveram aulas mais cedo juntos, mas nunca chegaram a falar um como outro, ela era bastante famosa no mundo escolar, como a aluna com melhores notas e melhores práticas, e também como a campeã nacional Junior de judô. Satoshi era um pouco tímido, mas não anti-social,tendo uma média oratória e bom vocabulário.
- Eu ouvi falar de você, Satoshi Hitokaze, o aluno número dois em nosso querido Japão, bem, você sabe quem sou, Myio desukoto, a número um, nós estamos na mesma faculdade, fazendo o mesmo curso, com nossas inteligência excepcionais. Desde minha infância eu desejei ser poderosa e rica sem meu pai, a companhia dele é grande, não como Sony ou Toyota, mas grande, o bastante pra me fazer viver como uma princesa, mas eu não quero isso, eu quero fazer meu próprio dinheiro, e então, eu penso que nós podemos nos unir para fazer um projeto. Eu estou planejando este projeto faz um certo tempo, mas faltava um parceiro para me ajudar, mesmo eu, a número um no melhor país do mundo, não posso fazer isso sozinha, e eu fiz uma busca por alunos em Tóquio, suas habilidades, notas e interesses, e você é a pessoa perfeita para meu projeto, notas altas, desenhista e interessado na produção de jogos, incluindo a parte gráfica, e também engenharia, afinal, é nessa faculdade que nós nos formaremos. – Ela disse como em um discurso político.
- Interessante, mas que projeto? – Ele estava impressionado por ela ter descobertos tudo sobre e ter planejado tudo tão cuidadosamente, bastante bem feito e racional, mas ele não demonstrou o que pensava.
- Um programa de computador. Computadores são novos, bem, nós estávamos fazendo engenharia mecânica, bem, eu estou aqui, eu quero fazer vídeo-games, mas eles continuam sendo simples, bobos e primitivos, eu gostaria de fazer jogos mais divertidos com programação avançada e engenharia, eu quero fazer tanto o hardware quando o software. Seu pai é o dono da Desugames, imagino que você tenha o mesmo futuro, não estou certo? – Satoshi estava gostando da conversa.
- Sim, você está, mas eu estou pensando em algo diferente, pense comigo, se vídeo games ainda são um novo mercado, eles são bastante valorizados, e nós faremos algo muito melhor que fazer jogo.
- Eu não entendo, se jogos são valorizados, por que deveríamos fazer outra coisa?
- Vamos desenvolver um programa de desenvolvimento de jogos, isso pode ser realmente interessante e lucrativo, poucos são os que desenvolvem jogos, e menos ainda os que podem desenvolver sofwares para desenvolver jogos, eu sei que você é o único nessa faculdade que pode fazer isso comigo, Satoshi. – Ela sorriu, bastante simpática, uma talentosa adolescente com vários sonhos e ambições.
- Uau, isso é realmente bom. Eu aceito seu convite, Myio Desukoto, mas nó precisamos dividir os deveres. Com que parte você é mais talentosa? Eu realmente prefiro a parte gráfica, fazer a interface, o ambiente do programa.
- Oh, perfeito, eu não gosto dessa parte, eu poderia fazer a parte das funções, da programação pura, veja, nosso programa precisa ter uma poderosa ferramenta para a criação de imagens, com várias ferramentas para ajudar o game designer, e eu farei a parte do programador para o programador que usar o programa, mas se eu precisa te ajuda, você me ajuda, e vice-versa.
- Excelente, eu ajudarei o designer e você o programador. Qual pode ser o nome do nosso software?
- Game Builder? O que acha? Para meus ouvidos soa bem, simples e bom, se você aceitar esse nome, pegue minha mão, se não aceitar, pegue do mesmo jeito, pois significará que nós estamos trabalhando juntos, qualquer coisa, arranjamos outro nome. – Ela estendeu sua mão para que ele apertasse.
- Eu aceito, parceira, nos faremos do Game Builder uma realidade, e nós ganharemos muita grana. – Ele pegou a mão dela, com seu primeiro sorriso completo desde o começo da conversa. – Ah, e só pra lembrar, eu não tenho um computador, eles são muito caros, mas imagino que você tenha a solução, certo?
- Claro, eu sei, eu tenho, e eu trabalho para o meu pai na DesuGames, eu comprarei um computador para você, quando ganharmos dinheiro, eu pego a grana do computador, isso é um empréstimo, mas eu vou cobrar 10 por cento de juros no final do período, se você deixar o projeto antes disso, você não vai ter dinheiro para me pagar e eu vou cobrar a dívida, sim, é minha garantia de continuará comigo até o fim.
- Hun, parece muito bom, apesar de eu correr um certo risco com isso. Sei que posso, mas prometa-me que será leal ao projeto Game Builder, e isso não é um plano pra me deixar endividado com você.
- Veja, ganharemos verdadeiras fortunas se esse projeto for completo, a dívida não passará de um ano do meu salário anual, mas quando o projeto for completo, o lucro será mais do que eu ganharia em 10 anos com esse meu emprego ridículo na empresa do meu pai, eu disse que não queria ter a vida de uma princesa, mas meu pai, muito menos, ele me faz trabalhar e estudar bastante.
- Qual é seu emprego e quanto é seu salário. – Pergunta indiscreta na hora certa pelo garoto.
- Não te interessa o meu salário, só que era uma mixaria para a minha especialização, eu trabalhava em uma equipe de programadores, estou estudando isso por conta própria desde os 8 anos, mas agora que estou na faculdade, ele me liberou, por isso terei tempo pra trabalhar com você. De qualquer modo, amanhã eu trago o seu computador, estamos no mesmo quarto, os dois melhores alunos do país. E por favor, não pense que sou legal, eu apenas preciso de alguém talentoso para fazer a parte gráfica dos programas, essa é minha fraqueza, eu não sei como desenhar, eu não gosto de desenhar, então preciso de você. – Ele sempre era sincera, e sabia como e quando ser, sem ser desagradável.
- Ok, sem bondade, apenas negócios, como deveríamos fazer, colega de quarto. E eu também tenho estudado programação.
- É, eu sei, seu pai trabalha na Sony, certo?
- Sim, você é realmente uma boa investigadora de vidas alheias, garota.
- Eu sei que sou, bem, vai desenhando em folhas o que imaginar, antes de termos os computadores aqui, não poderemos fazer nada, e claro, não será só um computador para você, mas vou trazer o meu também.

1978

Satoshi estava em seu quarto com Myio Desukoto, estavam vivendo juntos naquele local no dormitório da faculdade Gakubura, no quarto número 1, para os melhores estudantes. Os dormitórios escolares eram uma espécie de condomínio para os estudantes, com um tipo de república estudantil para cada tipo de pessoa, dos melhores alunos para os piores , de acordo com a nota na entrada, contando todos os cursos, na verdade, tudo era dividido em 4 partes, dependendo apenas da nota de entrada do aluno. O Área Kamakura, para os piores estudantes era uma espécie de cortiço dentro da faculdade, lá eles viviam em quartos simples com 5 beliches e algumas mobílias simples para os 10 alunos de cada quarto colocarem suas coisas, e também um refeitório extremamente simples e limitado. A Área Ashikaga era para os alunos médios, vivendo em um dormitório exterior, nas dependências da faculdade, mas independente da construção, uma grande casa cheia de quartos, com cinco camas em cada um, uma sala de estar comum compartilhada entre todos com uma TV em preto e branco, e tickets para almoçar grátis no restaurante principal da faculdade. A Área Tokugawa era para os melhores estudantes com altas notas, uma completa casa exterior com quartos para 3 pessoas, mas bastante espaçosos, espaço o bastante, uma TV velha em cada quarto, tickets grátis para almoço no restaurante e alguns privilégios alimentícios, como sobremesa grátis. E havia a Área Hirohito, enquanto os outros dormitórios eram nomeados em homenagem aos xogunatos japoneses, esse era em homenagem ao imperador Hirohito, no poder desde 1926 e ainda no poder, essa área especial era apenas para os 4 alunos com as maiores notas, e foi feita como um modo de se estimular os estudantes a passarem com as melhores notas possíveis, com 2 quartos para duas pessoas em cada, com muito espaço, TV e rádio, bons banheiros, mesas de estudo, e até um tatame, que permitia atividades físicas, que seriam bem vindas para manter a saúde dos alunos mais preciosos da faculdade. Cada área tinha na parede uma grande pintura do último xogum de cada xogunato, e do imperador Hirohito no último dormitório, Satoshi e Myio obviamente fiavam na Área Hirohito, com outro par no outro quarto, desde a segunda semana lá eles começaram a namorar, não exatamente apaixonados, mas namorando, Myio aparentava não ser capaz de amar um homem do modo como toda romântica sonha, provavelmente devida ao seu egocentrismo e seu materialismo, e Satoshi era um nerd obcecado por dinheiro e sucesso profissional, mas eles “amavam” o corpo um do outro toda noite, como pervertidos adolescentes, dormindo no mesmo quarto sem qualquer proibição e total intimidade, aquilo era inevitável, até mesmo arrastaram sua camas para que ficassem como uma só.
- Oh meu Deus. Está terminado, vamos dançar, celebrar, uhul! – Satoshi estava gritando e pulando como um homem louco, seus olhos tinham um intenso brilho, Myio estava estudando em sua cama, ela já havia terminado sua parte no projeto 3 dias antes, que apesar de mais difícil, era menos demorada, e apenas o rapaz tinha que continuar o trabalho, ela gostaria de ajudá-lo, mas não era capaz de ajudar na parte gráfica no qual ele trabalhava, no computador dele estava escrito “Game Builder”.
- Perfeito, vamos salvar o conjunto completo junto, testar, registrar, e vender para uma empresa. – A garota fechou o livro, deixando a cama onde estava deitada.
- Sim, ah, eu realmente amo esse sistema, nós podemos compartilhar um arquivo nos dois computadores ao mesmo tempo.
- Sim, empresas de software, mídia ou jogos precisam ter algo como isso em suas máquinas. O Game Builder já pode ser executado? – Ela andou até o computador de Satoshi, de pé do lado de sua cadeira, enquanto ele sentava novamente, parando a energética celebração.
- Sim, agora nós apenas temos que executar isso e criar nosso próprio jogo, pode ser uma simples versão alternativa de tetris ou pingue-pongue, apenas temos que fazer alguma coisa. – Ele deu um clique duplo para abrir o programa, o par de computadores era do modelo DPC-2.0, a segunda versão de um dos primeiros computadores pessoais do mundo, produzido pela DesuGames, alta tecnologia usada para programação, a DesuGames podia não ter produção em massa, mas sua produção era de tecnologia de ponta, seguindo o Toyotismo, o método japonês de gerenciamento, centralizado na qualidade dos produtos, não no número, gerando poucos produtos, mas os melhores no mercado, as pequenas e poderosas máquinas da DesuGames eram excelentes, mas aquela tecnologia era para poucos. Game Builder começou a rodar, mostrando a janela de apresentação, com o nome do programa e dos criadores, Myio Desukoto e Satoshi Hitokaze, nessa ordem, eles terminaram o projeto realmente rapidamente, mas eles haviam dedicado todo o seu tempo livre para aquilo, e fizeram um preciso e competente trabalho, usando a linguagem de programação original dos computadores da DesuGames, o D-Script, para fazer o sistema de programação e designer gráfico do jogo, reutilizando para acelerar o trabalho.
- Penso que Pingue-Pongue seria mais rápido. – Myio sugeriu, após calcular mentalmente qual jogo seria mais rápido.
- Sim, eu sei, menos variáveis e imagens, mas por favor, estou trabalhando só por uns dias, eu já fiz a parte gráfica, eu sei que você pode fazer uma bola e duas barras para o pingue-pongue. – Ele deixou a cadeira e se jogou na cama, rindo alto mas logo parando.
- Ok, mas se eu farei sozinha, esse jogo é só meu, não seu. – Ela sentou de frente da máquina, sem um sorriso, apesar de ter terminado o grande projeto.
- E relaxe, após o Pingue-Pongue, faremos um jogo decente, nós não devemos colocar o software no mercado sem fazer testes completos antes, se bem que aposto que muitos comprariam o nosso pingue-pongue se tivéssemos um console. Mas eu já tenho uma idéia para nosso primeiro jogo original, ele se chamará “Ataque Shien”, um jogo em que um samurai luta contra americanos para defender o Japão.
- Isso não poderia fazer sucesso nos Estados Unidos, e eu estou pouco me lixando para eles, nós não precisamos fazer sucesso no estrangeiro ainda, qualquer banda, escritor, diretor de filme, qualquer pessoa começa seu trabalho na língua do país onde mora, e quando consegue um bom sucesso nacional, ele pode exportar seu trabalho, aí sim começam a produzir em inglês, a linguagem internacional, para fazer sucesso internacional com maior facilidade, japonês significa sucesso no Japão, inglês significa sucesso mundial, então, como estamos apenas começando, é bom fazer um jogo nacional, e se for um grande sucesso, nós traduzimos. – Myio odiou os Estados Unidos desde o seu berço, devido à sua criação, por Daisuke Desukoto, nascido em Nagasaki em 1930, mas educado pelo pai, Hiroshi Desukoto em Tóquio, após ele se mudar para trabalhar na Kamino Yorokobi, uma empresa de jogos que mais tarde se tornaria a DesuGames, naquela época, os únicos jogos disponíveis eram jogos de tabuleiro, jogos de carta, de lógica, para crianças, e vários jogos de azar, mas nada eletrônico. Hitsohi subiu nas escadas da vida trabalhando e melhorando sua posição na Kamino Yorokobi, fazendo seu filho Daisuke trabalhar na mesma empresa desde os 5 anos, guardando dinheiro e comprando ações com suas economias. A mãe de Daisuke, Haru Kinochitoru, que ficou em Nagasaki devido ao seu trabalho como diretora em uma escola, entrem a família e o trabalho, ela escolheu o trabalho, mas continuou ajudando a família, mandando dinheiro para o filho e o marido, tendo um bom salário e um custo de vida relativamente baixo, mais em 1945 ela morreu devido à bomba atômica lançada pelos americanos no fim da Segunda Guerra Mundial, então, o ódio brutal começou na família. A essa altura, Hiroshi já era o vice presidente da empresa, ele era incrivelmente brilhante e criativo, começando como um faxineiro em 1925, na filial de Nagasaki, mas foi mandado para a parte criativia da empresa após mostrar um jogo feito a mão por ele ao patrão, um jogo de tabuleiro misturado com cartas que ele chamou de Devil’s Chess, a idéia era realmente excelente, e daí em diante o seu trabalho apenas melhorou, então em 1930 ele deixou Nagasaki e foi para Tóquio para trabalhar na sede principal de Kamino entre os mais importantes desenvolvedores, com esse excelente trabalho criando e editando jogos, conseguiu a posição em pouco tempo. Trabalhando como um datilógrafo na Kamino, Daisuke recebeu a má notícia antes do pai, muito ocupado para ouvir rádio na sua sala, eles dois choraram horrivelmente, e amaldiçoaram os Estados Unidos da América por aquilo, pai e filho jurando vingança com as exatas palavras: “Os Estados Unidos precisam ser destruídos, e os amaldiçoados americanos vão sofrer pior do que nós sofremos”. O ano continuo mal, com os dois Desukotos em lamentação, mas mantendo o bom trabalho, mesmo Daisuke não sendo brilhante como o pai. Em 1956, Hiroshi se tornou o presidente da empresa Kamino Yorokobi, comprando ações, então, fez a empresa crescer, estando na liderança, com novos jogos, em 1960 ele mudou o nome da empresa para DesuGames, e começou a produzir outros materiais além de jogos, incluindo aparelhos eletrônicos como rádios e TVs, caindo de cabeça no mercado de tecnologia, em apenas 5 anos, a DesuGames se tornou uma das principais empresas no Japão, com incrível tecnologia e a excelente administração de Hiroshi, o homem que transformou uma empresa de jogos de tabuleiro em uma grande potência multinacional na produção de tecnologia múltipla, mas o grande homem morreu em 1972 devido ao câncer. Com um império em mãos, Daisuke continuou o trabalho do pai, mas não se comparava ao pai, embora fosse um bom administrador, realmente não chegava aos pés do incomum Hiroshi. Myio nasceu em 1958, filha de Daisuke Hiroshi e Izumi Fumiruka, admirava o avô quase como um Deus, mas foi criada pelo pai, que morava com ela em um apartamento luxuoso em Tóquio, ele trabalhava na empresa do pai, na parte administrativa, mas não se destacava muito, então acabou passando a trabalhar como um desenvolvedor de tecnologia, coisa que ele conseguia fazer muito bem, e tratava de investir na educação da filha, que passou por um treinamento extenso para desenvolvimento completo, para que ela pudesse ser uma empresária perfeita, exigia que ela tivesse notas excelentes, estudasse muito, e principalmente, fizesse cursos de programação. A garota começou com a leitura de livros, até os 7 anos, livros infantis interessantes, sobre o funcionamento de coisas, matemática, história simplificada, coisas do tipo, introduções às ciências. A partir dos 7 anos, começou a treinar judô seriamente para aumentar seu condicionamento físico, força física e disciplina, além de resistência contra dor, pois o treino severo era doloroso, ao mesmo tempo, ela recebia educação sobre informática, tecnologia e as novas ciências que surgiam, com cursos especiais com grandes profissionais, uma educação cara, mas que gerou efeito, pois aos 11 anos elas já conseguia operar um computador muito bem, e tinha um conhecimento sobre programação, podendo criar programas simples. Na escola, ela sempre foi a aluna número 1, tanto por estudar muito quanto por ser naturalmente brilhante, mas não era uma garota muito generosa, inicialmente, foi perseguida por ser muito concentrada e não conversar muito (lê-se, não conversava), mas acabou mudando a situação, causando a expulsão de todos que tinham a incomodado, através de armações muito bem feitas pra flagrar seus inimigos em situações ruins, ou simplesmente plantar provas, ela era excelente nisso, cruel, mas justa, com aquelas pessoas fora da escola, ela obteve respeito, alguns alunos tipicamente socialmente fracassados tentaram criar amizade com ela, e ela aceitou, se tornaram seus subordinados escolares, e praticamente fez uma “turminha”, obrigava quem entrasse no seu grupo a ter as melhores notas, ela ficou super popular, porque apesar de ser concentrada nos estudos, tinha uma ótima oratória, com 13 anos começou a trabalhar na empresa do pai, até se formar com 17, no ensino médio, ela liderou várias atividades competitivas extras, além de ter vencido o campeonato japonês de judô na sua categoria duas vezes, com 13 e 15 anos, na adolescência teve alguns problemas, por ser orgulhosa, batia nas pessoas que a provocavam quando estavam na rua, nunca batia ela mesma, mas mandava seus amigos, que funcionavam como capangas, nunca batiam pra machucar, mas que doía, doía.
Após terminarem, eles venderam o jogo em um console separado chamado “Shien Attack”, um pequeno game de mão com gráficos primitivos e boa jogabilidade, por um preço relativamente muito baixo, um grande sucesso, eles contrataram qualquer um que quisesse vender os seus games, recebendo uma comissão de 20 por cento por cada venda de cada vendedor, o que garantiu que o jogo se tornasse uma verdadeira febre, todos no Japão tinham um Shien Attack na casa, o game favorito dos adolescentes japoneses. Daisuke se sentiu realmente feliz com o trabalho da filha, e deu a ela as condições para a produção em massa do produto, ficando com boa parte do lucro, mas mesmo assim, ainda garantindo muito dinheiro para os criadores.

1980
- Satoshi, venha aqui. – O programador ouviu a voz da mulher, enquanto se concentrava em seu novo projeto para a DesuGames, ele era um dos melhores pagos funcionários na companhia, muito talentoso realmente, mas Myio Desukoto era de fato mais esperta, além de ser filha do chefe Daisuke Desukoto, e havia sido bem treinada na sua infância para ser a empresária perfeita, mas naquela altura,ela era apenas uma programadora comum na empresa, bem, não uma programadora comum, a principal da empresa, mas apenas a programadora, ela e Satoshi foram contratados logo após saírem da faculdade, e também eram responsáveis pela parte física dos projetos, como engenheiros.
- O que é, Myio? – Ele não parou de digitar, e nem mesmo olhou para ela, mas estava ouvindo atentamente.
- Meu ai é um administrador estúpido, por que continuamos trabalhando com ele?
- O que você está dizendo? Ele é seu pai, ele possui a DesuGames e nossos trabalhos. – A essa altura, ele olhou para trás, sério e desconfiado, os dois foram amigos por um longo tempo, desde a faculdade de Engenharia Eletrônica em 1975, o mesmo ano em que começaram seu primeiro projeto, o Game Builder, usado para criar vários jogos, software que eles usaram na DesuGames, onde começaram oficialmente a trabalhar, o que gerou muito lucro, eles dividiram o dinheiro obtido e colocoram tudo na poupança, para ganhar juros. O par era especialmente esperto, com a pequena fortuna, trabalhavam na empresa do pai de Myio, antes de fazerem suas próprias empresas e se tornarem patrões, mas a essa altura, o único objetivo era juntar dinheiro.
- Satoshi, desde a faculdade nós somos os melhores, não podemos servir meu pai, nós precisamos ser os chefes. Nós já temos muito dinheiro, e o Game Builder, nós podemos fazer um novo Game Builder melhor que o anterior, e com ele, podemos fazer um novo grande jogo.
- Myio, a idéia me atrai, mas somos apenas dois e não podemos fazer tantas coisas.
- Lembra do método usado para vender Shien Attack?
- Claro.
- Bem, nós vamos contratar novos recém formados na faculdade onde nos formamos, será uma excelente oportunidade para eles todos e nós não podemos pagar muito. Também contrataremos pessoas de qualquer tipo para vender nossos produtos do mesmo modo que fizemos para vender Shien Attack, por comissão, bem, pelo menos no começo, quando nossa empresa crescer, podemos melhorar esse método,as iremos em passos. Primeiro gastamos a grana em equipamento e empregados, e nós não gastaremos dinheiro para ter muito espaço, pois ainda não precisaremos de tanto espaço, eu já escolhi um lugar para comprar, compraremos computadores da DesuGames e o velho Game Builder, os modificaremos e teremos novas máquinas e novos programas, e como modificaremos tudo, nós teremos os direitos autorais, e apenas nós poderemos usar isso, não haverá DesuGames usando nossa tecnologia, mas nós temos acesso à tecnologia deles atualmente, afinal, temos boas posições lá e acesso a muita coisa mesmo, nós podemos copiar, crackear e modificar o que eles tem para nosso próprio uso, salva em equipamentos de registro, imitar as peças de hardware.
- Myio, você me assusta, mas você é realmente a mulher mais incrível que já conheci. É brilhante, criar coisas usando o material deles, nada original, mas piratear e aperfeiçoar a tecnologia deles será excelente.
- Bem, então Satoshi, eu sou a filha do chefe aqui, então eu cuidarei do espaço da empresa, dos computadores, aparelhos eletrônicos, todas as máquinas, e os empregados no colégio, você obtém o resto.
- Que resto? – Ele perguntou, parecia que ela já tinha falado de tudo
- Não seja estúpido, Satoshi, o que uma empresa precisa além de equipamento e pessoal?
- Papéis, contas, regulamentação, toda aquela maldita burocracia. É isso?
- Sim, eu odeio a maldita burocracia, por favor, resolva tudo isso, você é bom com leis, eu não. Mas Satoshi, eu sou a líder, ok? Você é o vice-líder.
- Eu não concordo, somos parceiros, não deveremos ter níveis diferentes. – Satoshi odiou a atitude de sua namorada, mas mantendo seu trabalho, um bom cérebro como o que ele tinha era bom para trabalhar e planejar o futuro das vidas deles ao mesmo tempo.
- Veja, querido, eu arranjo as máquinas, eu idealizo o projeto, eu sou o principal programador. Eu serei a líder, é a coisa certa, você sabe que não é um problema, somos parceiros, e eu deveria estar na liderança, isso não fará você pior, é apenas uma separação de trabalhos.
- Oh, que seja, eu não vou criar um problema por algo como isso. E nós somos uma equipe, e eu tenho que admitir, você sempre foi a cabeça de nossa equipe. – Ele foi modesto, admitindo quem era a principal.
- Oh, perfeito, Satoshi, vamos começar no fim do expediente. Depois de tudo vamos pra sua casa? Estou um pouco... ah, você sabe.
- Ah sim, eu sei o que você quer, vamos sim, exatamente como você quer. – As intenções maliciosas de dois jovens empolgados eram sempre claras, um casal feliz louco para enriquecer.

- Ei Satoshi, pode parar o que está fazendo? – Ambos estavam na sala de administrador na sede da Hitonomi, Satoshi estava checando alguns dados em seu computador, e Myio estava trabalhando no código fonte de um programa, mas virou o rosto e as mãos para chamar o parceiro.
- Que? – Ele parou, virando também.
- Desenha um ambiente para um programa capaz de reproduzir música, ok? Esqueça o que está fazendo. – Ela falou autoritariamente, ignorando o que ele estivesse fazendo, embora ela mesma tivesse mandado ele checar os dados.
- Caramba, Myio! – Ele não gritou, mas falou bem alto, com um péssimo tom.
- Eu sou a líder nessa parceria, eu forneço os elementos mais importantes de nossa aliança, então relaxe e deixe de besteira
- Líder. Como pode ser a líder? Você se tornou uma maldita mandona, você não era sim, era orgulhosa, tinha liderança, mas não era mandona, você podia pelo menos falar gentilmente.
- Pare com idiotices, apenas faça os desenhos, não temos tempo para frescuras, temos muito trabalho a fazer. – A empresa já estava no seu segundo ano de existência, 1982. Desde a fundação, em 1980, Myio Desukoto começou a mudar sua atitude com o namorado, não era mais uma companheira, parecia mais uma dona, mandona e difícil de convencer, tratava o sócio realmente como um empregado, e isso estava o deixando mais irritado a cada dia, embora as contas bancárias de ambos apenas aumentassem vertiginosamente, era óbvio que os lucros da líder eram muito maiores. No início da empresa, Satoshi conseguiu além de regularizá-la, obter todos os documentos, conseguiu vários investidores que deram bastante capital para que o material inicial usado por Myio, se multiplicasse, com muito mais equipamento, funcionários e uma produção alta, a empresa cresceu muito rápido, tornando-se uma empresa com ações em bolsa, e os investidores se tornaram importantes acionistas com parte da companhia, mas ainda atrás de Satoshi e Myio, a mulher ficou com a maior parte da empresa, não só porque era mais capaz, mas porque tinha a maior parte das ações, mas assim, Satoshi ficava pra trás
- Não quero mais namorar com você, quero uma mulher, não uma patroa. – Ele falou, terminando o namoro de 7 anos que nunca deu em casamento.
- O que? Como ousa? Você acha que pode viver sem mim?
- É claro que posso, você não pode me despedir, porque você precisa de mim, mas não precisamos um do outro. – Ele mostrou seu dedo do meio para a recém ex-namorada.
- Filho da puta, não ouse terminar comigo. – Seu tom de voz era furioso e selvagem, podia ser mandona, mas realmente gostava de namorar com o parceiro, poderiam ser consideradas almas gêmeas, mas pra Myio, sua alma gêmea deveria ser como um cachorro à disposição. O designer simplesmente deixou a sala e a deixou falando sozinha.

1990, Tóquio

- Eu estou grávida, Satoshi. – Gabryella, a linda escritora, com uma estranha atração por histórias violentas, apenas uma amadora, mas razoavelmente talentosa para criar boas e imundas histórias, como seu maior sucesso, “A Maldosa Prostituta”, sobre uma prostituta sádica que subiu na vida através de sexo e violência, exatamente o que os leitores procuravam em um livro com aquele título.
- O que? Sério? Minha primeira herdeira? - O programador tinha dificuldades para acreditar, era exatamente o que ele desejava, um herdeira para ajudar no império dos Hitokaze, um império financeiro “médio”, ele era muito rico, um programador famoso, respeitado no mundo da tecnologia. Ficou rico guardando dinheiro, comprando ações de outras empresas além da Hitonomi e Desugames, ele conheceu Gabryella viajando para o Brasil, para conhecer a Taurus, a famosa fabricante de armas, comprou ações, e fez uma pesquisa sobre o poderoso combustível alternativo feito no país, que poderia ser uma excelente alternativa para os negócios, ao lado dos jogos.
- Sim, e algo me diz que será um garoto.
- Um garoto? É perfeito, é bom demais para acreditar! Qual será o nome dele? Eu estou esperando já faz tempo, pessoas dizem que crianças só dão despesas, mas se nós tivermos controle sobre elas, elas podem ser boas até mesmo para os negócios.
- Hun, é verdade, eu penso em Victor, mas não tenho certeza disso, se for uma menina, penso em Camilla, com dois “L” poderia ser o melhor.
- Por favor, o nome dele ou dela devem ser japoneses, quero um nome japonês sem dúvida alguma, Ken se for garoto e Kazumi se garota.
- De modo algum. Penso que poderia ser metade japonês, metade brasileiro, poderíamos dar um nome misto, nome brasileiro com fonética japonesa, como Bikutoru, a versão nipônica para Victor.
- Hun, soa bem, gosto disso. Se a criança for uma menina, pode ser Camira, poderia ser com K, mas C é mais exótico, de qualquer modo, tem a fonética de “kami” (Deus em japonês), o nome dela soaria divino, se menino, Bikutoru é bom, nos simbolaria uma vitória, mas eu realmente prefiro Arekusanderu, como Alexandre o Grande.
- Eu amei Camira, mas Arekusanderu é muito grande, fiquemos com Bikutoru mesmo, realmente Arekusanderu é grande demais, mas poderia ser um bom sobrenome, só não quero ter que falar Arekusanderu toda vez que for chamar meu filho. Podemos ter um trato? – Ela sorriu, abraçando o marido com excesso de calor humano e carinho.
- Sim. – Satoshi sorriu de volta, bastante agradável, beijando a boca de sua esposa com paixão, eram um verdadeiro e lindo casal apaixonado, casados desde 1983, quando o programador japonês já era presidente da Hitonomi e já estava tendo problemas de Myio, com que não se dava mais bem, mas o seu amor com a brasileira era verdadeiro e sem nenhum problema de “patroa e homem obediente”, ou vice versa. Ele também tinha ações da Coca-Cola e da Sony, sua principal concorrente, não em quantidade consideráveis para ter parte na administração, mas ainda sim, o bastante para lhe render lucros consideráveis, ele era muito respeitado no mundo dos negócios, uma lenda viva, o homem que criou seu império em pouco tempo usando o baixíssimo capital inicial, pelo menos em relação à proporção que a Hitonomi alcançara, quanto a isso era mais respeitado que Myio, que era filha do dono da Desugames.


- Pai, posso sair com minhas amigas, Mitsumi e Chiaki? – Na manhã, desceu as escadas e foi a primeira coisa que disse, com a cara de anjo que raramente mostrava, mas parecia tão animada.
- Desde que não seja na hora da escola nem do caratê, você pode.
- Não é, é às 4 horas.
- Tá.

Camilla entrou animada na sala de aula, procurando as amigas, mas não estavam lá, tratou logo de se sentar e ler o seu livro sobre história dos animes, logo Chiaki entrou na sala.
- Oi Camilla, como você tá?
- Ótima, quer sair comigo hoje às 4?
- Pra onde? – Ela se sentou a cadeira ao lado da pequenina.
- Pra um passeio. Você confia em mim, não confia, Chiaki?
- Claro, eu confio, eu confio totalmente em você, minha amiga. – A garota pegou nas mãos da amiga, seus olhos tinham um brilho especial quando a olhava, um brilho muito especial.
- Então você vai vir, é importante, quero que me ajude em algo. – Falava baixinho.
- Algo? – Respondia no ouvido de Camilla.
- É, e eu vou ter que mostrar pra vocês às 4 horas.
- Onde? – Chiaki ficava curiosa, aproximando seu rosto da amiga.
- Pode ser na frente do cinema Movie Lover.
- O que é pra fazermos lá? – Ela não entendia.
- Você vai saber.
- Olá amigas. – Mitsumi entrou cantarolando, jogou sua mochila no seu lugar, deu um abraço nas duas ao mesmo tempo, que estavam quase coladas.
- Mitsumi, quer sair com a gente às 4 horas?
- Pra onde? – Ela falou alto, qualquer outra pessoa na sala poderia ouvir.
- Psiu, fala baixo, vem cá. – Camilla puxou o rosto de Mitsumi para mais perto, quem olhasse de longe, com um pouco de malícia teria facilidade para achar que era um beijo lésbico triplo.
- Tá bom, pra onde? – Perguntou bem baixinho.
- Em frente ao cinema Movie Lover. – Camilla cochichou.
- Pra que?
- Você verá, vai ser legal, confie em mim.
- Tá bom.

Camilla foi para casa, almoçou, estudou um pouco, uns 4 minutos, foi ao caratê treinar, chegou atrasada e teve que fazer 200 flexões por isso. Depois foi para o cinema abandonado logo após o duro treino, chegou lá às 3:52. Esperou 20 minutos até que Chiaki chegasse, quando chegou, não tava animada como de costume.
- Oi Camilla, a gente vai esperar a Mitsumi para fazer o que íamos fazer? – Ela parecia um pouco desconfiada, tinha uma sensação um pouco ruim, talvez por estar em uma rua deserta e abandonada.
- Sim, mas vou te preparar. Amiga, eu preciso da sua ajuda, e é algo muito sério. – Dava para ver que era muito sério pelo modo como a garota falava.
- Me fale, me fale logo. – Segurou as mãos da misteriosa amiga, preocupada.
- Vamos entrar. – Soltou-se da outra, deu alguns passos e abriu a porta daquele cinema abandonado, que tinha as trancas arrombadas desde a chegada da Jigokomo lá, permitindo a entrada de qualquer um, bem intencionado ou não. Entrou junto com a amiga, que demonstrava medo daquele lugar, principalmente quando Camilla fechou as portas. – Você não conta para ninguém. – Olhou séria e colocou a mão dentro da calcinha, pegando alguma coisa, puxou lá de dentro uma arma, uma pistola Taurus PT100, que roubou do primeiro garoto que matou.
- Oh meus Deus, é uma arma. – Ela levou um susto, deus dois passos pra trás.
- Calma minha princesinha, não vou atirar em você, é pra isso que preciso de sua ajuda. – Falava com a maior tranqüilidade.
- Para guardar a arma? – Ela tava amedrontada, mas tentava se controlar.
- Espera. – Camilla abriu a porta, viu Mitsumi esperando de costas do lado dela.
- Oi, vocês tão aí. – Mitsumi as cumprimentou, feliz por não ter levado bolo.
- Estamos, entra. – Ela gesticulou para que entrasse, foi nessa hora que a recém chegada percebeu a arma na mão da amiga.
- Que isso, o que é isso? – Deu passos pra trás.
- Entra não tenha medo, eu vou explicar pra vocês, confiem em mim. – A baixinha falou, já estava mais séria que antes, puxou o braço da amiga para dentro, era rápida, com ela dentro, fechou as portas novamente, as outras duas estavam amedrontadas.
- Bem, é sério, fiquem calmas. Vocês são minhas melhores amigas e eu confio totalmente em vocês, então as chamei para me ajudarem no meu novo estilo de vida. Eu devo admitir, amigas, eu não sou feliz, eu nunca fui, mas agora eu sei como posso fazer para ser feliz de verdade, eu vivi desde meu nascimento como uma pessoa sem alegrias, aos 7 anos, consegui duas amigas maravilhosas e amáveis, vocês, mas mesmo assim não sou feliz.
- Mas Camilla, todas as nossas risadas foram mentiras? Foi tudo fingimento? – Chiaki não podia acreditar, desde que as três se uniram a menina parecia tão feliz.
- As risadas foram, eu não rio, eu não vejo graça nessas bobagens de criança, algumas vezes eu ri de verdade, vi graça, mas muito pouco, diversão fraca. Mas eu sinto, minhas queridas, eu gosto muito de vocês, e quero que vocês me ajudem a fazer a única coisa que me deixa realmente feliz, a única coisa que realmente tem graça pra mim.
- O que? – As duas perguntaram juntas, estavam muito nervosas, mas ambas estavam totalmente interessadas em ajudar aquela pessoa que adoravam tanto, ela tinha o talento de conquistar as emoções das pessoas, fosse amor ou admiração, fosse medo ou raiva.
- Orgasmos. – Ela falou dando um sorrisinho com certa malícia.
- O que é um orgamo? – A inocência de Mitsumi a impedia de saber, o mesmo sobre Chiaki.
- Orgamo não. Orgasmo. Como explicar? É quando eu tenho uma explosão sexual, fico excitada, sinto muito tesão, e fico com a minha xoxotinha molhada. – Ela falava como uma profissional no assunto, gesticulava, mostrando o queria dizer, apontando pra entre as próprias pernas.
- E como quer que a ajudemos? Quer ter uma explosão de tesão com a gente? – Chiaki não sabia nada sobre sexo, apenas que se coloca o do menino no da menina, coisa que aprendeu na escola, sentia um arrepio percorrer seu corpo, suas pernas bambearem bruscamente e um nervosismo muito forte.
- Eu não consigo um orgasmo a menos que matemos pessoas, eu quero que me ajudem a matar.
- Você tá brincando né? – O coração de Mitsumi gelou, o de Chiaki mais ainda, mas essa se manteve em silêncio, com as pupilas dilatadas e a feição totalmente alterada.
- Não amigas, eu quero que me ajudem a capturar pessoas e trazer para cá, para torturar e me trazer prazer, fazendo ter orgasmos, eu sei que é um pouco egoísta, mas você podem fazer por mim, todas juntas podemos nos divertir, e é muito legal.
- Você está louca! Pára com isso, Camilla! Você não pode estar falando sério, eu não vou participar disso, é loucura, como pode? Você lembra no primeiro ano, quando você cortou a Kushira? Não era aquilo que no atraía em você, era sua inteligência. Agora me diz! O que tem de inteligente em querer matar pessoas? Me fala! – Mitsumi perdeu o controle, gritava com raiva, embora também morresse de medo, tinha esperança de tirá-la daquele caminho errado que queria seguir.
- Não tem nada, mas eu não ligo, o inteligente é tentar ser feliz. – Se explicou bem, apontando a arma pra frente.
- Você vai atirar em mim? – O coração da gordinha batia rápido.
- Claro que não, mas me ajudem, você aceitam? – Agia como se fosse a coisa mais natural do mundo, aquele local escuro e úmido deixava o clima ainda mais pesado, havia um cheiro péssimo vindo das escadas, um cheiro de carniça, dava pra sentir, mas não era com que isso que se preocupavam.
- Eu não sei, eu não sei, eu. – Chiaki parecia totalmente perturbada, talvez enlouquecida momentaneamente, ou apenas sobre muita pressão, gaguejava confusa, sua mente parava.
- Chiaki, não seja idiota, ela está louca, não vê? – Gritou olhando para a menina confusa. – Camilla, pára com isso, se não eu vou ter que fazer alguma coisa. – Se virou para a homicida.
- Mitsumi, não fala isso, não fique contra mim, nós somos amigas, é do meu lado que você deve estar, minha companheira, eu gosto tanto de você, gostaria que fizesse parte disso, na minha vida. – Ela sorriu gentilmente, aparentemente emocionada, tinha percebido alguma coisa nas ações das amigas, principalmente Chiaki
- Eu vou embora, eu nunca participarei de algo assim. – Ela saiu andando rapidamente em direção à saída, mas caiu no chão rapidamente, após sua “amiga” dar um tiro na sua cabeça, estava morta, o sangue espirrou pelo chão, e escorria pelo furo de sua cabeça, Chiaki deu um grito altíssimo e agudo, e começou a chorar sem parar, Camilla jogou a arma no chão e a abraçou, a pobre garota continuava sem reação, apenas chorava.
- Calma, minha princesinha, ela estava contra nós, ela ia nos atrapalhar. Mas agora somos só eu e você, só eu e você. Eu vou cuidar de você, sem ela nós até poderemos ser mais unidas, eu sempre gostei muita mais de você, só eu e você, só eu e você. – Repetiu várias vez, abraçada na menina que tremia, olhando o corpo morto de Mitsumi, fazia carícias no pescoço dela, afastando os longos cabelos e tocando cuidadosamente pela pele macia. Mas ela não reagia. A menina implacável sentia aquele prazer sexual que adorava entre suas coxas, e ao mesmo tempo que se excitava com a morte de Mitsumi, o sangue no chão, o desespero de Chiaki, ainda tinha os toques físicos, que quando combinados com esses fatores, se tornavam deliciosos, o contato de uma menina linda e macia parecia mais agradável que o de um homem para a sádica. – Por favor, não tenha medo, fale algo, eu nunca faria aquilo com você, mesmo que você me traísse e me entregasse à polícia, mas nesse caso, você nunca mais me veria, e eu não te veria também, e minha dor seria muito grande, minha querida, fique calma, não chore. – Beijou o rosto dela suavemente.
- Ca-camilla. Pro-promete? – Falava com dificuldades para a assassina, olhando-a nos olhos, seu coração batia rápido como uma batedeira, sentia muito medo mesmo, mas não queria perder a única amiga que lhe restava.
- Você me ama, Chiaki? – Se soltou do abraço e deu um passo para trás, olhando fixamente nos olhos de Chiaki, como esperando uma resposta.
- Eu, eu. – Gaguejava.
- Eu te amo, mais do que como amiga. – Ela segurou as mãos da morena, mas dessa vez era diferente, não era um simples gesto de amizade, acariciava, ela fazia com que suas mãos duras de socar fossem macias com movimentos suaves e carinhosos sobre os dedos dela, eram delicados, sua mão era nada sensível devido ao treino pesado de caratê, mas tinha graça e sabia como tocar alguém de modo agradável, o que era estranho, já que não tinha prática.
- Ah, pára Camilla, eu... – Ela estava da cor de um tomate, corada demais, muito nervosa, muito envergonhada, era como se estivesse pelada na frente de uma platéia de milhares de pessoas, a vergonha se tornava mais intensa que o medo, mas gostava daqueles toques, e muito.
- Não diga mais nada, eu te amo. – Aproximou lentamente os seus lábios dos da amiga que não reagia, apenas a olhava com as pupilas dilatadas, com as mãos trêmulas, mas logo podiam sentir seus lábios colados, e era o primeiro beijo de ambas, embora Camilla agisse como se fosse muito experiente. Beijaram-se calorosamente, como duas amantes fervorosas, cujos corpos se uniam em um único toque úmido e carregado de uma vontade que nenhuma das duas conhecia, mas que podiam sentir tão nitidamente quanto o toque de seus lábios. O coração de Chiaki nunca bateu tão rápido quanto naquele momento, o de Camilla batia normalmente, nunca se acelerava, mas se beijavam de um modo impressionante, e suas línguas e lábios se moviam juntos com tal sincronia que poderia se acredita que tudo foi ensaiado, e qualquer um que visse Chiaki naquele momento poderia ter certeza: ela amava a pessoa que estava beijando. Terminado o beijo:
- Eu te amo Camilla, oh, como eu te amo, eu te amo demais, e eu nem sabia que sou lésbica, eu me sentia extremamente atraída por você. A primeira vez que te vi me senti atraída, totalmente inocente, mas com o tempo eu só gostei mais e mais de você, eu te amava, e sabia que te amava muito muito muito, de modo incomum para uma amiga, mas não sabia que realmente era esse tipo de amor, de namorada. Mas agora que você me beijou eu tenho certeza, é isso. – Ela falava que nem uma boba apaixonada, que realmente não sabe bem o que está fazendo ou sentindo.
- Eu te amo também, entende? Eu não sou muito de me apaixonar, mas sei quando conheço alguém ideal para mim, e você é ideal, além de ser linda. – Ela sorria, suas palavras eram extremamente confortantes, fazendo a “amada” quase se esquecer do cadáver ali perto.
- Oh meu Deus, você matou Mitsumi! – Mudou o tom de voz de apaixonado para desesperado rapidamente, voltando a deixar suas lágrimas caírem. – Soltou as mãos das da garota.
- Calma, ela ia nos atrapalhar, você precisa aceitar. Você vai me ajudar a ser feliz, eu preciso de você, a gente pode ser feliz junto.
- Calma? Como posso? – Ela tentava parar de chorar novamente, e sentiu as mãos de Camilla envolvendo as suas novamente, ela tinha um sorriso tão confortante, que podia convencê-la de qualquer coisa:
- Minha princesinha, você sabe que pode, esquece o que aconteceu aqui, você só precisa de uma coisa, de ser feliz, a gente pode ser feliz agora mesmo, eu quero muito que você se divirta comigo, eu te mostro o quanto é legal, você vai gostar.
- Tá bom, me mostra. – Ela aceitou, mesmo com as pernas tremendo em pensar no que seria, e ela não conseguia pensar direito, sua inocência a impedia.
- Fica esperando aqui, vou descer lá em baixo para pegar uma coisa. – Antes de descer, deu um selinho bem úmido na boca da garota, então desceu para o local onde jaziam os cadáveres do massacre do outro dia, ninguém entrou lá ou se preocupou em esconder toda a sujeira. Procurou pelos corpos, pelo armário, procurou entre os corpos e entre as armas jogadas no chão no dia anterior, quando ela e o pai separaram tudo para reconhecer os mortos. Achou o que queria debaixo de uma revista “Peitudas Safadas”, algum tipo de pornografia barata, o objeto pego era um cutelo bem afiado, listado na lista de Anton Marshall no computador.
Voltou com o cutelo na mão, sorrindo como estava sempre fazendo, com aqueles dentes brancos e brilhantes.
- Por favor, não me fala que é isso que estou pensando. – As coisas piorariam para a pobre garota apaixonada.
- O que? Amor, eu vou te ensinar a gostar disso. Se ela ficar aqui, vão me descobrir, e não quero que isso aconteça, além de eu ser presa, eu vou ficar sem minha diversão, sem você, sem meus pais. – Atingiu o cutelo na mão de Mitsumi, arrancando fora, pegou o pedaço arrancado, e ergueu, sujando-se com o líquido que escorria, mostrava para a companheira, deixou o objeto cortante no chão. – Olha, eu to muito excitada, minha princesinha, vem pra mim, você vai gostar.
- Meu Deus, meu Deus. O que você tá fazendo, sua maníaca? – Ela andava para trás, novamente tomada totalmente por terror.
- Espera, já disse pra não ter medo. – Deu dois passos e puxo a menina, que tentou se soltar batendo nela, mas foi beijada na boca e “neutralizada”, as duas não fecharam os olhos em nenhum momento Camilla largou a mão cortada de Mitsumi, mas a amável menina não conseguia resistir aos seus encantos. Camilla estava gostando demais daquilo, enquanto o sangue corria por sua mão e a saliva por sua boca, experimentou passar a mão no traseiro da sua “namorada”, o que a fez reagir com um movimento brusco do corpo, mas se entregou mais ainda, envolvendo o corpo de sua amada com seus braços, a puxando para si, deixando o corpo de ambas coladas. A baixinha logo se soltou do beijo, e falou com tom malicioso ao extremo:
- Deixa eu tirar sua roupa, vamos descer.
- O que? Camilla,espera. – Ela estava com medo de fazer aquilo, mesmo amando a menina, ela achava ser nova demais para “tirar a roupa e se excitar” com alguém.
- Tire, eu não vou te fazer mais ver nada, eu já to bem excitada, não preciso de mais sangue nem mutilação.
- Está bem, mas vai com cuidado. – Ela pediu com a voz bem mansa, tirando a camiseta que usava, do anime Sakura Card Captors.
- Eu nunca fiz isso também, também preciso de seu cuidado. – Deu um sorrisinho malicioso.
Elas desceram para o andar subterrâneo, onde a Jigokomo costumava se esconder, pararam se agarraram no corredor, antes de chegar aos corpos. Elas fizeram tudo que imaginaram, na verdade, Camilla fez, também guiando a outra, sabia de todas as possibilidades, tudo aprendido nos livros que lia, do qual conseguia retirar informação prática com facilidade. Sentiu muito prazer no começo, quando ainda estava excitada pelo prazer sanguinário no começo, quando tinha arrancado a mão do cadáver, mas fazendo tudo aquilo sem olhar pro cadáver, seu prazer era fraco, mesmo que a amiga a chupasse nas partes íntimas, mordesse, colocasse tudo na boca dela, não adiantava, só sentia aquela ótima sensação com sangue, mas mesmo assim, acabou fazendo a amiga gozar pela primeira vez na vida, dentro de sua boca, a chupando, mas já estava cansada daquilo, não era o que queria.
- Aaaaaah. Camilla, como é gostoso. Eu te amo, eu te amo tanto, quero fazer isso sempre, é tão bom, ai ai ai. - Chiaki chega enlouquecia, tinha adorado aquilo, depois de sentir aquela sensação, Camilla poderia fazê-la cortar a outra melhor amiga se quisesse, por aquilo, valeria a pena, chega suas pernas tremiam e se contraiam no chão, se sentia no paraíso, ou em algum lugar ainda melhor.
- Hun, gostei do gosto, agora feche os olhos, te farei uma surpresa. – Soltou a intimidade da garota, que se estirou, fechando os olhos.
- Tá. – Ela esperava alguma nova experiência deliciosa, estava tão feliz que realmente não ligava mais para horrível morte da outra amiga.
- Só esperar. – Ela caminhou silenciosamente até o cutelo no chão, voltou, sempre dando passos macios, levantou o cutelo acima da cabeça e então falou:
- Abra os olhos.
Ela abriu, apenas sentiu sua perna cortada em um único golpe, dando um grito de pânico.
- O que você tem, sua maníaca? O que você tem? Eu te amo! Por que? – Ela não acreditava naquilo, gritava demais, a dor de ter tido sua perna arrancada era brutal, e a raiva também, aguda, seu coração estava absurdamente acelerado, quase explodindo enquanto ela sangrava, toda a alegria se transformou em um desespero incomparável.
- Desculpa Chiaki, eu realmente gosto muito de você, mas você não serve pro que eu quero. – Ela acertou o peito da menina com o cutelo, abrindo-o, e abrindo o coração, antes de ser atingida, deu um grito tão agudo que podia ser ouvido baixo do lado fora, rua, mesmo com o bom isolamento térmico dentro daquele local em relação à saída. – Oh, seu rostinho tão lindo não pode ser tocado, eu quero ele intacto, você é tão linda. – Segurava o cutelo e acariciava o rosto imóvel da amiga morta, seus olhos estavam abertos com uma expressão de profundo horror, e a boca totalmente aberta em posição de grito, exatamente como estava quando teve o peito atravessado, por onde sangrava demais, o seio esquerdo ficou desfigurado, acabando com o equilíbrio visual do cadáver da garota perfeita de corpo e rosto. Camilla se sentou sobre a barriga dela, por onde o sangue escorria, vindo do horrendo ferimento, ambas estavam nuas, a garota sentia o sangue tocando em seu traseiro, e isso a excitava demais, colocou as pernas para trás e tocou sua vagina na da amiga. Sentia muito prazer, o toque daquele lindo corpo morto, o sangue escorrendo nela, sentia se umedecer, enquanto sua intimidade roçava delicadamente na da morta. Levou os lábios até os de sua “amada”, e a beijou, mas não havia reação, afinal, a sua companheira estava sem vida, mordeu a língua dela com toda a força que tinha, com seus dentes afiados, de uma só vez, cortando-a fora da boca, sentiu o sangue da menina entrar em sua boca rapidamente, invadindo como em uma chuva vermelha, deixou a língua dentro da própria boca, parou o beijo e cuspiu no chão, como se fosse um ossinho de galinha. Continuava roçando suas intimidades, o tesão se tornava extremamente intenso, estava gostando muito mais do que antes, extremamente excitada, voltava a beijar, bebendo todo o sangue que saía do local onde antes havia uma língua, sentia suas pernas tremerem de tanto prazer enquanto se esfregava no corpo da morta, era muito mais prazeroso que masturbação, e aquela sensação a dominava, e a deleitava de modo que sua vida parecia mais preciosa a cada instante. Aquela seria uma longa tarde, e finalmente, poderia mergulhar com totalidade naquele intenso deleite carnal, satisfazendo absolutamente o seu desejo, e mergulhando de cabeça em prazer.

A menina puxava o saco de lixo cheio de carne em pedaços mínimos para o banheiro, estavam tão bem cortados que não dava para dizer que tipo de ser vivo era, muito menos pra saber que eram de Chiaki, reduzida à uma peça de açougue, o saco tinha um odor muito forte, embora fechado, devia ter algum buraco ou rasgado, deixou no chão e olhou pro vaso.
- Muito bem, vai ter que descer, cortei tão pequenininho, com certeza vai descer. – Abriu o saco, e se preparou para jogar a estranha carne moída na descarga, sua genialidade grotesca não tinha limites.

- Alô? – Satoshi atendeu ao telefone de casa, eram 10 horas da noite.
- A Chiaki está aí? – Era a mãe de Chiaki, sua voz parecia desesperada.
- Não, ela não está aí, Camilla chegou aqui eram umas 7 horas, elas não ficam muito tempo fora, disse que foram embora cada uma para sua casa. Ela não chegou aí?
- Não, ela não chegou até agora, já mandei uns amigos pra procurarem, talvez tivessem se perdido. Você sabe o lugar exato para onde elas iam?
- Não, Camilla só disse que sairiam.
- Não tem como chamá-la? Por favor, a minha Chiaki.
- Pera. – Soltou o telefone e gritou bem alto: - Camilla, vem cá, mãe da Chiaki no telefone.
A menina logo largou o que estava fazendo e desceu as escadas e tomou o telefone das mãos do pai.
- Oi. – Tom de voz simpático e animado.
- Camilla, a Chiaki sumiu. Onde vocês andaram? Onde se separaram? – O pânico era tão fácil de ser percebido.
- Demos uma caminhada, entre lojas, não entramos em nenhuma, fomos a umas ruas mais afastadas e brincamos de pega-pega. Nos separamos aqui pro centro, perto de um Mcdonald exportado dos Estados Unidos, aí eu não as vi mais, devia ser umas 6:40. – Seu tom rapidamente para o sério meio preocupado, tinha um forte controle sobre o tom de sua voz.
- Ela disse que ia pra casa?
- Disse.
- Oh meu Deus. Ela deve ter sido seqüestrada.
- Talvez, chame a polícia, não quero minha amiga desaparecida, não quero que ela sofra algum mal. – Ela falava meio chorosa, lágrimas tomavam seus olhos superficialmente, se lembrava do que tinha feito com a amiga, a maior barbaridade em toda a sua vida.
- Oh meu Deus, vou tentar ligar pra mãe da Mitsumi.
- Tente, se tiver notícias, ligue pra avisar, quero minha amiga.


“Então afinal, sou lésbica. É ótimo isso, a bobinha da Chiaki sempre me amou, era tão fácil ver isso nos olhos dela, ah, os livros imorais da infância, como me fizeram bem, saber como tocar uma mulher de modo prazeroso, reconhecer o olhar de um apaixonado, ótimo ótimo. Ah, pude até enganá-la e fingir que a amo, mas foi realmente ótimo ter alguém pra me tocar enquanto mato, e ela ainda me deu a idéia de me esfregar com o morto, oh, eu posso praticar necrofilia e masturbação ao mesmo tempo, parece que minha vida tá começando a ficar boa, ah, felicidade, finalmente, Chiaki, você coberta de sangue ficou muito excitante.” – Pensativa em seu quarto, relembrava de todos os eventos do dia, e ria silenciosamente, pela primeira vez, uma lembrança a divertia como se estivesse diante da cena, bem, não tanto como
na situação pessoalmente, mas estava adorando.
“Então isso é a felicidade, é delicioso.”
Ela dormiu tão bem naquela noite que teve um doce sonho, dormia como um anjo, bastante feliz. No sonho, se encontrava no seu quarto com sua velha “amiga” Rena, que estava sentada ao seu lado com um cutelo na mão, conversavam alegremente.
- Oras, então você aprendeu? Não é divertido com o cutelo? – Rena ria enquanto lambia a lâmina, que estava limpa.
- Com o cutelo é muito bom. Você voltou? Como pode ser tão cínica? Você me matou anos atrás, e como senti medo, foi tão doloroso, tão doloroso, aquela maldita serra elétrica.
- Mas te ensinei isso aqui. – Cortou a própria mão esquerda, outra cresceu no lugar.
- É, isso é, vou tentar mais, a Chiaki estava tão linda morta, pena que tive que destruir o lindo rostinho dela, pra acabar com as provas.
Rena não respondeu, desapareceu, logo tudo voltaria a ficar escuro.

- Pai, posso sair hoje? – Camilla desceu as escadas perguntando, dessa vez estava séria, Satoshi estava na mesma, e a bela Gabryella ainda dormia.
- Não. – Ele respondeu grosseiramente.
- Por que? – Se sentou sobre a mesa.
- A sua amiga desapareceu, não quero que o mesmo aconteça com você.
- Mas a Chiaki era distraída e inofensiva, eu sou atenta e forte, ninguém vai fazer nada contra mim, eu tenho uma arma, se tentarem, morrem.
- Não se forem em conjunto, Camilla, sua arma não serve pra qualquer caso, e olhe, quando voltar da escola, me dê notícias da menina.
- Ela é minha amiga, espero que esteja bem. – Fingia com perfeição.
- Eu também espero. – Ele estava pensativo.
Ela tomou seu café da manhã, pegou suas coisas e foi para a escola, mas não seria um dia normal. Quando terminou a aula, ao invés de ir para a casa foi para uma loja de fantasias ali perto, foi cantarolando, como uma chapeuzinho vermelho, o céu estava totalmente cinza e as ruas cheias, era fácil reparar na garotinha feliz, mas não era algo que realmente parecesse um problema.
- Vocês têm corpse paint?
- Corpse paint? O que é isso? – A atendente nem sabia o que era, não sabia que Corpse Paint é o nome que se dá à pintura usada por membros de bandas para parecerem cadáveres, usando as cores branco e preto.
- Ah, é uma pintura de rosto para parecer uma pessoa morta, mas bem, serve qualquer tipo de pintura, guache ou acrílica branca, e preto, claro.
- Espera, temos, deixa que eu pego pra você, pra pintar o rosto, guache é melhor. Quer um pincel também? – Ela foi até uma prateleira cheia de tintas, lápis, pincéis, essas coisas.
- O maior que tiver. Posso usar o banheiro daqui pra me pintar? – Perguntou enquanto a atendente voltava com as tintas guache e o pincel.
- Ué, você vai sair na rua pintada?
- Sim, eu sou uma otaku e estou indo pra um evento, vou fazer um cosplay de Black Metal.
- Nem sei o que é Black metal, mas tudo bem. Use. Tá aqui sua nota. – Teclou na caixa registradora, tirou a nota fiscal e entregou, enquanto colocando as mercadorias em um saco.
- Pera. – Camilla pegou dinheiro na carteira que levava no bolso da calça, a quantia exata, deixou sobre o balcão, depois tomou o saco e foi até o banheiro nos fundos da loja. – Obrigada.
Lá dentro, colocou as tintas abertas, uma de cada lado da pia, e se olhando no espelho, se pintou, primeiro pintou o rosto todo de branco com a tinta guache fácil de remover, tirando a boca e os olhos, depois pintou a boca com a tinta negra, nos lábios, e fez 3 crucifixos negros invertidos, um em cada bochecha e 1 na testa.
“Ah, to mesmo parecendo o King Diamond, isso é triste. Corpse paint? Eu poderia ter tido uma idéia melhor, mas assim eu já posso não ser reconhecida, pelo menos irá dificultar.
Logo saiu do banheiro com sua pintura pronta, foi novamente até a balconista.
- Me desculpe, eu também preciso de uma fantasia, o que temos aqui que seja feminino, sexy e sirva em mim?
- Você é satanista? Temos um vestido bom, acho que talvez você goste, é vermelho. Venha comigo. – Levou a menina até alguns vestidos de várias cores e vários modelos, a atendente tirou um vestido vermelho bastante pequeno, que caberia bem na garota, embora ficasse um pouco longo.
- Sou não, é apenas uma fantasia, eu gosto de metal. Não não. Sabe, acho que tive uma idéia melhor, você tem um smoking que caiba em mim?
- Smoking? Deve ter. Deixe-me ver. – Procurou em outras partes da loja, e voltou com um terno negro muito elegante, muito pequeno, ficaria um pouco apertado, mas caberia em Camilla.
- É esse mesmo. – Ela disse bem alto, e pegou sua carteira novamente, dessa vez ia gastar muito mais dinheiro. – E também vou querer...
Escolheu mais algumas coisinhas, e pagou a considerável quantia, era bom ser rica, colocou o terno, uma camisa branca, uma gravata vermelha e saiu da loja, aquela fantasia chegava a ser bizarra, principalmente por causa da pintura facial, a combinação de terno, gravata vermelha e corpse paint não era nada comum, era macabra, e as pessoas que viam na rua não poderiam pensar em outra possibilidade: “essa garota está fazendo um horroroso cosplay”.
- “Ah, estou que nem um daqueles filmes slasher, com assassinos de máscara e fantasia, mas assim fica mais divertido, é hoje que eu acabo com minha infelicidade, será o melhor dia da minha vida. Coisas a se fazer: Arranjar um bom disfarce, levar algumas pessoas para o cinema abandonado, cortar as pernas delas, e me divertir o resto do dia. Filmar com a câmera do celular, e guardar para ver depois e pra me masturbar, acho que com algo que eu fiz eu posso ficar mais excitada.” – Andava na rua, pensativa, mas atenta a cada pessoa. - Ah besteira, tem coisa melhor pra fazer.E como vou matar? Ah, isso depende do clima na hora, o importante é saber onde vou conseguir minhas vítimas, e como vou atraí-las. Ah, é tão simples, basta descobrir onde tem marginais, e eu sei onde tem, é, marginais juvenis, nenhum maldito iria recusar uma orgia como uma gostosinha de 10 anos, só eu oferecer minha frutinha pra eles meterem e chuparem, é, eles vão vir comigo, atiro nas pernas com a Taurus, é só ser rápido, se for uns 3 garotos, acho que dá tempo de acabar com todos, perfeito.” – Caminhou alguns minutos até chegar a uma rua, onde 4 garotos de rua dormiam debaixo de cobertores, em plena luz do Sol, pareciam realmente muito preguiçosos, se aproximou bem e chamou:
- Meninos, acordem!
Eles acordaram na hora, e deram muitos gritos quando a viram, recuando no chão, assustados.
- O que é isso?
- Aaaaaaaaah!
- Se acalmem, sou uma menina, eu só to fantasiada.
- Ah tá. – O mais alto deles se acalmou, o problema é que tinha acabado de acordar, era aquela visão bizarra era uma piores coisas a se ver após uma boa dormida.
- Eu sou virgem, quero que vocês me comam. Não tem ninguém melhor pra tirar meu cabacinho. – Usou a linguagem mais grosseira que conhecia, tinha que parecer uma garota muito fácil.
- Você tá brincando né? – Parecia ótimo, a menina podia estar vestida do pior modo possível, mas parecia deliciosa se tirasse tudo.
- Não, mas se vocês aceitarem, a gente vai pro cinema abandonado, Movie Lover, lá a gente pode brincar um pouco, nós 5 juntos. – Ela deu uma piscadinha sexy, mas com aquela maquiagem não ficava tão sexy assim, mesmo assim, havia uma beleza incomum naquele estilo, uma sensualidade grotesca.
- Claro, gracinha, mas você tira essa roupa de homem? – O menorzinho e mais safado perguntou, o grupo inteiro fedia a algo muito parecido com urina, mas ela não se importava.
- Eu tiro tudo, amor, mas só lá. – Piscou de novo e saiu andando, eles foram atrás, passavam as mãos no corpo dela, mas ela não gostou, poderiam sentir a arma guardada na sua calcinha. – Parem, só quando estivermos a sós no cinema. – Disse brava, eles pararam, e deram risadas baixas e maliciosas, estavam imaginando como seria no tal cinema, pensamentos sujos, imundos, depravados.
Chegaram no cinema após uma boa caminhada, Camilla abriu a porta primeiro e correu rapidamente pra dentro, descendo as escadas, eles foram atrás, mas não era fácil alcançá-la.
- Aqui em baixo, vamos fazer muito sexo! – Ela gritou, rindo, enquanto desciam as escadas, tirou rapidamente a arma da calcinha e atirou na parte íntima de cada um deles, todos caíram, incluindo o maior, que já tinha saído da escada, mas ela ainda estava alguns metros adiante, os gritos foram terríveis, vários xingamentos, maldições, pragas, palavrões, todo tipo de palavra e frase ruim vinha daquelas bocas que sofriam, tentarem rastejar até ela, mas a garota recuou rapidamente e atirou novamente, agora nas pernas de cada um deles, foi quando percebeu que a arma não tinha mais balas, mas tinha munição no esconderijo, bastava pegar e recarregar..
- Desgraçada, eu vou te matar! Que porra é essa? Sua vadia filha da puta, chupa meu pau. – Vá se foder, morre, queima... – Os gritos se misturavam em um coro perturbador e barulhento, a dor os impedia de se levantar, era absurda.
- Se acalmem, vai ter coisa pra cada um de vocês, foi ao fim do corredor, chegando na sala onde o terrível odor dos corpos apodrecendo estava mais forte, em cima deles estava o cutelo que havia usado para cortar suas amigas em pedacinhos. Os garotos não conseguiriam se levantar, mas podia rastejar ou agarrá-la com as mãos, mas não era burra para baixa a guarda a ponto de permitir isso

Saiu rindo do local, mas encontrou um policial na porta na entrada, quando abriu.
- Ei,que tá fazendo aí, vim por causa de uma denúncia anônima de que aí estaria sendo usado como esconderijo por uma quadrilha. – Ele perguntou, o modo como a pequena estava fantasiada e pintada o surpreendeu, e uma idéia veio em sua cabeça, parecia óbvio que ela estaria se drogando.
- Er, não, não está. – Ela tentou pegar a arma dentro da calcinha, levando as mãos até lá rapidamente mas o homem percebeu que havia algo errado e lhe deu um tapa no rosto, jogando-a no chão atordoada, a agarrou pelos braços e algemou.
- Vamos ver o que tem lá dentro. – Tirou a arma de dentro da roupa da menina, mesmo tendo que “abusar da sua autoridade” para isso.
- Como sabia? – Não conseguia se mover, grunhia raivosa, se debatendo, ainda estava muito excitada dos últimos assassinatos, mas sentia que sendo agarrada pelo oficial essa prazerosa excitação apenas crescia. - Me fode, seu filho da puta.
Ele ficou assustado com o que via e ouvia, aquela menina não era nada normal e muito menos inofensiva, deu uma pancada em sua cabeça assim que pôde, era muito forte e corpulento, e não tinha dificuldade para vencer a jovem campeã em artes marciais, que desmaiou na hora. Entrou no cinema com ela, a jogou no chão, e foi ver se a denúncia sobre drogas era verdade, no andar térreo não tinha nada, então desceu as escadas, teve um mau pressentimento muito forte, sentia que algo ruim aconteceria, mas tinha que continuar, havia um cheiro desagradável naquele lugar, de coisa podre, uma atmosfera estranha, e isso tudo foi comprovado, quando, andando pelo corredor, ele encontrou aquilo, uma cena grotesca e macabra, se tivesse um estômago mais fraco, sem dúvidas teria vomitado, mas se revirava, enquanto tentava manter o controle de sua mente, diante do horror que via.
- Oh meu Deus.


- Por que matou aquelas pessoas? – O interrogador vestido de terno e gravata perguntava para a garota recém capturada, ela ainda estava usando sua pintura e seu terno, que poderiam ter sido usados como provas para provar sua culpa pelas mortes, o policial a nocauteou a levou para a delegacia, pega quase no flagra, responsável por cerca de 14 assassinatos, acordou com as mãos algemadas na cadeira da sala de interrogatório, sozinha, nesse caso, o próprio delegado viria a perguntar, talvez ela estivesse adormecida a um certo tempo, mas quando acordou ali, não ficou com medo e nem nervosa, nem mesmo levou um susto, o que surpreendeu o homem que a interrogava, no outro canto da sala havia um homem barbudo, certamente um psiquiatra, que observava em silêncio, ouvindo.
- Por que você matou aquelas pessoas? – O delegado perguntou, com as mãos bem fechadas, juntas, a cena descrita pelo policial responsável pela prisão era incomum, muito pior do que o que costumava acontecer, 14 pessoas retalhadas espalhadas no chão de um cinema abandonado.
- Porque eu quis, sabe, é divertido. – Ela fala naturalmente, a combinação daquele tom frio com o rosto pintado era a pior possível.
- Seu nome é Camilla Hitokaze, estava nas suas coisas. Está certo?
- Sim, é Camilla Hitokaze.
- Mas você realmente matou aquelas pessoas?
- Ah, sim. Claro, é divertido! Doce Rena disse que é divertido e fez comigo, é muito legal, você deveria experimentar. Mas como vim parar aqui afinal? – Ela tinha algum plano em mente, e a possibilidade de ser presa não a estava assustando.
- Você foi pega tentando atirar em um policial, tem sorte dele não ter te matado, ele podia se quisesse.
- Se eu morro mais uma, menos uma vez, não faz diferença, a Rena não liga. – Ela olhava para um lado e pro outro, como se alguém a estivesse espiando
- Quem é Rena? – O delegado se mantinha calmo.
- Minha melhor amiga, ela me disse que matar é divertido. Eu matei os mendigos, quer que eu te dê o detalhe?
- Se refere aos maltrapilhos que foram encontrados com os rostos irreconhecíveis, os membros cortados e as roupas rasgadas junto com os troncos?
- Sim, eu fatiei os rostos deles com meu cutelo, eu gosto muito do meu cutelo, eu achei lá no cinema, eu também matei o cara da Jigokomo, e a minha linda.
- Quem é sua linda? O que Jigokomo? – Ele tentava fazer parecer uma conversa tranqüila, mas era assustador falar com aquela criança, uma criança que foi capaz de fatiar pessoas sem ao menos ter um motivo, pelo menos aparentemente.
- A Chiaki, eu matei ela, eu chupei a buceta dela, e depois cortei, bebi o sangue, me masturbei com o corpo dela, gozei na boca morta dela. Jigokomo era uma gangue idiota, eu matei todos eles.
- E onde está agora? – O homem sentia seu estômago se embrulhar de nojo e repulsa, nunca tinha conhecido alguém como aquela garota, ela contava tudo sem que ao menos fosse preciso perguntar, a idéia o deixava com vontade de sair correndo dali.
- Você sabe que vai ser presa por isso, não sabe?
- Sei, mas eu ainda vou ter a Rena, então não importa, amizade é tudo.
- Quantas pessoas você matou?
- Pera. – Começou a contar nos dedos, mesmo estando amarrada e presa. – Teve os idiotas da Jigokomo, acho que 10 deles, depois a Mitsumi, depois a minha linda Chiaki, depois os 4 mendigos, isso dá, 16 pessoas.
- Quando começou?
- Faz... acho que 3 dias. Acharam que a Chiaki tava desaparecida, ligaram para casa perguntando se eu tinha a visto, mas eu disse que não, mas eu que matei, a gente tava transando, aí eu cortei o peito dela, parti o coração, depois sentei nela e aproveitei o sangue, cortei os dedos, chupei o sangue, fiz cortes no corpo dela todinho, menos no rostinho lindo, aí eu chupei onde consegui, me masturbei, esfregando minha buceta na dela, gozei, e fatiei ela em pedacinhos bem pequenininhos, bem aos poucos, eu ia me masturbando enquanto isso, e sentava nela, deixando o sangue escorrer em mim, é muito gostoso. Eu fatiei ela muito muito pequeno, deu um trabalhão, aí enfiei na descarga, você não imagina o trabalho que deu pra lavar o sangue, eu cortei a Mitsumi igual, só que não transei com ela, nem viva e nem morta, ela não era tão gostosa assim.
- Você matou todos que foram encontrados lá, realmente? No cinema?
- Sim. - Ela ria por dentro, era doentio, mas ela gostava daquela sensação. – Eu fazia elas gritarem no subsolo do cinema, e como não tinha ninguém lá, e o som era bem abafado, ninguém ouvia, com o primeiro que matei, eu perfurei os membros dezenas de vezes e dei um tiro no pau, sangrou até morrer, lentamente, gritava e me xingava que nem louco, muito prazeroso.
- E você é satanista? Sabe, essa sua pintura, cruzes invertidas, símbolo anti-religioso adotado por satanistas e anti-cristãos, especialmente na Noruega. – Ele conhecia a cultura usada na pintura da criança.
- Oh, não, eu apenas queria me fantasiar, sabe, colocar o terno pra não reconhecerem a roupa que eu estava usando antes, e o mesmo pra pintura, eu fiz as cruzes invertidas porque foi a primeira coisa que lembrei, que nem o King Diamond.
- Quem é King Diamond? – Mas não conhecia o vocalista de Black Metal Finlandês.
- Um cantor de metal satânico.
- Você disse que não é satânica.
- Eu não sou, mas não me impede de ouvir alguém que seja.
- Está bem. Tem família, para avisar que você vai ser presa?
- Tenho, me traz um telefone, eles precisam ficar sabendo da merda que fiz, a Rena é uma vadia mesmo.
- Alô, pai?
- Camilla? Onde você tá? Você já devia estar aqui faz tempo. O que aconteceu? – Tô te procurando em toda parte.
- Tô na delegacia.
- O que, o que aconteceu?
- Pai, tenho que te contar, consegui uma arma e matei 9 caras de uma gangue no cinema. – Ela sabia que estavam ouvindo tudo, e não queria que o pai fosse envolvido pela morte dos seqüestradores, e nem que o seqüestro ficasse em evidência
- Como assim, como matou 9 caras? Do que você tá falando? Filha? Filha? – Ele estava nervoso de verdade, não podia ter sua filha na cadeia.
- Eu matei eles, arranjei uma arma e matei. E fui que matei a Chiaki, fui eu mesma, eu matei porque achei divertido, foi divertido, foi gostoso. – Ela não tinha vergonha nem mesmo de falar pro pai, que estava com o coração na boca com as más notícias, mesmo sendo um homem frio.
- Eu estou indo aí agora.
- Venha mesmo, eu acho que eu vou ficar presa aqui pra sempre, eu confessei, e de qualquer modo eles encontraram 4 corpos de pessoas que matei bem quando saí de lá, e como eu tava de arma, souberam que fui eu. – Ela ouviu o barulho do telefone desligando.
- Como seu pai está vindo se ele nem sabe onde você está? – O interrogador não entendeu.
- Nem sei, acho que ele arranja um jeito, tenho certeza, ele não vai demorar pra aparecer aqui. – Não citou as tecnologias de rastreamento do pai.
- Seu pai é Satoshi Hitokaze? – Tratou de confirmar, sabendo o sobrenome da menina.
- Sim.
- Olha, vamos ver o que o doutor tem a dizer sobre tudo o que você disse. – Se virou ao homem no canto da sala.
- Vamos sair daqui, ela não deve ouvir. – O psiquiatra se dirigiu até a porta e saiu, o interrogador foi com eles, fecharam a porta e ficaram conversando atrás do vidro, observando a prisioneira pelo vidro, daquele tipo em que a pessoa que está dentro não vê quem tá fora, mas quem tá fora vê quem tá dentro.
- Ela parece estar falando a verdade, mas não acho aconselhável que ela seja presa em um local comum,um reformatório ou qualquer coisa, só tem um lugar certo pra ela.
- O Hospital Psiquiátrico. – O delegado interrogador já sabia, era tão óbvio.
- Sim, ela demonstra um nível de psicopatia, mas ela não é uma simples garota sem remorso ou emoção, ela é um monstro enlouquecido por violência, ela nem mesmo se importa em fingir que é inocente,é óbvio que a brutalidade com a qual ela age não é algo normal, é nojento. – Mesmo o doutor parecia horrorizado.
- Ela tem consciência do que faz, não é melhor a prendermos?
- Ela tem consciência, mas temos que fazer mais testes antes de decidir se mandamos para o sanatório ou para a cadeia, aliás, ela certamente vai pegar pena de morte, mesmo sendo criança, ela vai ficar presa a vida toda, e ser executada depois que for maior de idade, que nem aquele cara que matou uma mulher e um bebê ainda menor, não me lembro o nome dele.
- Foram 16 mortes brutais, um caso indiscutível de Serial Killer, do pior tipo, teria matado muito mais se não a tivéssemos pego. – O interrogador tinha muito interesse no caso, embora o enojasse, já tinha a garota na mão, só faltava saber o que fazer com ela, que se mantinha em silêncio e quieta o tempo todo lá dentro da sala de interrogatórios, atrás do vidro, impotente.
- 16 mortes em 3 dias, 10 anos, é realmente assustador, acho que o novo recorde de um serial killer, era 14, mas depois que ela confessou mais esses dois, das meninas, fica 16, e 14 já era demais, 1 já seria!.
- Como eu disse, a gente tem que fazer as perícias nos corpos e o testes nela, pra saber mais detalhes, nem sabemos se ela tá falando a verdade, ela é louca.
- Vamos esperar o pai chegar, e estejamos preparados, pois se ela tentar libertá-la, fugir ou qualquer coisa parecida, a gente acaba com eles.
- Está bem. O pior é pensar que o pai é Satoshi Hitokaze, o ídolo nacional.

Satoshi não demorou muito para chegar berrando.
- Cadê minha filha? Cadê minha filha? Cadê minha filha?
- Se acalme, você é o pai da menina? Ei, você não é Satoshi Hitokaze? – Um dos policiais na entrada o segurou, parecia admirado em ver a celebridade ali e naquela situação.
- Sim sou, pai de Camilla Hitokaze, Satoshi Hitokaze.
- Espera, eu te levo. – Ele o guiou até uma porta ao fundo, levando um corredor ao fundo, andaram vários metros, atravessando, passando por várias portas, abertas e fechadas, até chegar na sala onde estava o psiquiatra e o interrogador, juntos com a menina, na verdade não estavam fazendo nada, ela estava algemada no banco, com os braços imobilizados, e eles conversavam sobre assuntos policiais.
- Camilla, o que fizeram com você? – Sentiu ódio profundo ao ver a situação da filha.
- Papai! Me tira daqui, aqui é ruim. – Ela gritou como uma criança em pânico.
- Não acredite nos olhos dela, precisamos conversar, senhor Hitokaze, você é o responsável, iremos fazer alguns testes psicológicos com ela, e eu quero que fique sabendo exatamente do que ela fez. – O psiquiatra avisava.
- E o que ela fez? – Sentou-se do lado da filha, e a abraçou, como se fosse protegê-la.
- Bem, deixe-me começar, matou à tiros 15 pessoas, confessou que algumas foram mortas com requintes de crueldade, torturou brutalmente e arrancou gritos, ela disse que sente prazer em torturar as pessoas e ouvir seus gritos. Ela cometeu necrofilia com pelo menos 1 deles, e fatiou uma pessoa que ela chamava de “minha linda” em pedaços bem pequenos, a ponto de conseguir botar tudo no sanitário e dar descarga.
- Sim, enfiei na descarga. – Ela falou o seu método, sorrindo. Satoshi ficou enojado com a idéia, mas tentava não largar a filha, era um bom pai, e a amava acima de todas as coisas, mas mesmo assim, não era fácil pra ele aceitar tudo aquilo, já que agora, não tinha sido uma vingança contra um bandido, mas sim uma grande quantidade de crimes sádicos sem motivo, mas era um homem extremamente forte.
- Bem, acho que agora já sabe, faremos o teste psicológico, quero que fique do lado dela, mas não a toque. – O psiquiatra ordenou.
- Estou pronta. – Sentiu o pai se afastar, ele estava com o coração na boca, mas escondia muito bem.
- Esta garota ainda nos dará muito trabalho. – O interrogador comentou, olhando a garota, tinha um pouco de medo dela, se ela se soltasse não seria nada bom.
- O que vê nessa imagem? – Pegou um papel com uma mancha escura.
- Sangue. – Respondeu rápido.
- Ok. – Pegou outro papel, com uma mancha em outra forma. – E essa?
- Sangue.
- Só me avise, você vai responder sangue em todas as manchas?
- Sim, manchas negras sempre me lembram sangue, que nem em mangá, o sangue fica preto porque não tem cores como vermelho.
- Tá, já sei o que preciso. Agora eu quero que faça um pequeno teste de QI. – Mexeu em uma gaveta, tirou alguns cartões com figuras e letras, e começou a fazer perguntas, era perguntas de múltipla escolha a serem respondidas pela garota, e preparou um cronômetro, que ativou após a primeira pergunta ser feita. Ela fez o teste rapidamente, algumas perguntas foram respondidas logo após o fim da fala do psiquiatra, outras foram respondidas com certa demora, a cada questão respondida, ele anotava o resultado em um papel com uma caneta de ferro presa à mesa.
- Calculando aqui. – Conferia os cartões e as anotações, após uns 4 minutos terminou de fazer o cálculo. – Essa garota tem 202 de QI, um dos maiores da história
- Não é pouco, vê? – Ela falou sem expressar emoção, aquilo era ótimo para sua auto-estima, mas sua auto-estima já era excessiva, não precisava de mais, e não a deixava feliz de qualquer modo, era um momento absolutamente sem emoção para ela.
- Sim, não é pouco. Vamos para o próximo teste.
- Meu QI é de 148, mas mesmo assim não esperava que ela chegasse a tanto. – Satoshi comentou, demonstrava não estar preocupado, mas por dentro estava péssimo, deveria estar feliz em saber que a filha era uma super gênia, mas no corredor da morte, de nada adiantaria.
- É realmente impressionante. Ela teve algum tipo de trauma na infância? Foi molestada? Sofreu um acidente? Teve alguma batida na cabeça? Já apresentou algum comportamento anti-social ou agressivo?
- Não que eu saiba. Ela sempre foi anti-social, aos 7 anos ela teve um problema na escola, ela cortou o pulso de uma colega, o psiquiatra da escola receitou uns remédios pra ela, que supostamente tinha muitos problemas de depressão. Ela melhorou depois que tomou por um tempo, ela passou agir como um pessoa qualquer, se socializou, fez amigas, ria, se divertia, mas agora, você sabe.
- Então o remédio fez efeito?
- Sim, fez o nível de serotonina no sangue dela aumentar, fizemos o exame logo após o ocorrido, o nível de serotonina era baixíssimo, mas após o tratamento, ela melhorou, fizemos exame, o nível estava normal.
- Ela deverá fazer mais exames, a mandaremos para um sanatório, ela ficará lá em observação e passará por testes, para sabermos se ficará lá ou não. Porque aqui não dá pra fazer tudo o que precisamos, então, estejam preparados.
- Eu estou, vou provar que sou saudável e inteligente.
Só faltaria lavar o rosto dela, e tirar o terno que dava um ar ainda mais bizarro à sua aparência, Satoshi nem mesmo chegou a perguntar porque ela estava pintada e de terno, era totalmente óbvio: queria cometer crimes disfarçada. Mas ele poderia a reconhecer a quilômetros dali, mesmo com o corpse paint.
Gabryella não pôde comparecer na delegacia, estava internada em um hospital após bater a cabeça ao desmaiar com a notícia sobre o que a filha fez. Foi pro mesmo hospital onde internou a filha anos atrás, quando ela sofreu com uma estranha infecção alimentar, a mãe não aguentou um susto tão grande como aquele, e deu o azar de estar perto de uma quina quando caiu, só teve sorte de continuar viva, mas estava mal, muito mal. Satoshi tinha todos, todos os motivos do mundo para estar desesperado, e sabia que aquilo era culpa dele, que permitiu que a filha cometesse brutalidades com o seqüestrador que a pegou, mas a última coisa que queria, é que ela começasse a matar pessoas inocentes por diversão, isso seria sadismo, e não justiça ou vingança, e do mesmo modo, tentava evitar o sentimento de culpa, pois isso não o ajudaria em nada, o enfraqueceria e infligiria muito sofrimento.
O delegado ainda ficou, conversando com um detetive de cabelo rapado em um corredor da delegacia, entre as salas:
- Como podemos chamar esse caso? Afinal, todo bandido famoso ganha um nome de imprensa. O que poderia ser pra ela?
- O que acha de “Executiva”?
- Por que Executiva?
- Ela é filha do Satoshi Hitokaze, que é um grande executivo, filha dele, então executiva, além de ter executado todas aquelas pessoas, como um carrasco, uma executiva. E claro, ela estava usando um terno quando matou aquelas pessoas, como uma executiva, uma empresária. Então seria “A Executiva”, com o sentido de “assassina de terno que executa”
- A ambigüidade soaria boa para divulgação, além de ser um nome que ainda não foi usado, diferente de qualquer coisa que tenha monstro, assassino ou açougueiro, é, é um bom nome. A Executiva (役員の少女/yakuin no shōjo, literalmente menina executiva) vai ser o apelido dessa coisa, a executiva, aquela que executa de terno. – O delegado realmente gosto da idéia, realmente...

Hospital Psiquiátrico Oku

Ouviam-se gritos por todos os lados, absolutamente por todos os lados, Camilla era levada pelo extenso corredor, algemada com as mãos nas costas para evitar qualquer problema, as pessoas presas gritavam e batiam em nas grades e paredes de “seus quartos”, melhor dizendo celas, a maioria, embora não todos, com grades verticais e horizontais que impediam que se colocasse até mesmo um dedo mindinho para fora, algumas celas eram totalmente fechadas, com portas de ferro maciço, essas eram as mais barulhentas, onde ficavam os presos mais perturbados e violentos, as celas não eram de acordo com a brutalidade dos crimes cometidos, mas pela capacidade e vontade do bandido de escapar, se ele tentasse fugir alguma vez, ia pras celas maciças. Aquele hospital psiquiátrico havia sido fundado por Shogun Oku, pai de Hiroya Oku, mas após seu falecimento 2 anos antes, o filho assumiu, abandonando o consultório que tinha em uma escola. Havia trabalhado lá apenas para começar sua carreira sem precisar da ajuda do pai, grande psiquiatra, especialista em casos difíceis, especialmente loucos, criminosos, e assassinos em série, tendo maior interesse nos mais difíceis de entender, como o da temida Vampira de Yokohama, responsável por mais de 100 mortes, mas chegou a interrogar muitos outros daqueles loucos, sendo cotado como o maior especialista em assassinos em série dentro de seu país, já que era dono do hospício para onde grande quantidade de maníacos dos tipos mais perigosos eram mandados. O filho era muito semelhante ao pai, tendo o mesmo gosto por psiquiatria, por casos difíceis, e principalmente por assassinos em série, tinha lido muito sobre eles na infância, e chegou a entrevistar um enquanto na faculdade, Tsutomo Miyazaki, o famoso “assassino da menina pequena”, também conhecido como “Drácula” (ドラキュラ/dorakyura), responsável por cruéis mortes de crianças do sexo feminino, e que chegava a enviar restos das vítimas para as famílias, além de informações sobre o que fazia com elas, o que incluía mutilação e necrofilia. Havia dois guardas andando no corredor com cassetetes elétricos, deram alguns cumprimentos ao doutor quando passaram, e também os outros, mas foram ignorados. Um dos loucos chamou quando a menina passou por ele, assobiando como um verdadeiro tarado:
- Fiú! Vem cá, eu te dou um chamego, lindinha. – Os olhos daquele homem eram avermelhados e monstruosos, como os de um predador noturno faminto.
- Depois, estou acorrentada. – Ela sorriu maliciosamente e piscou, depois virou o resto, bem séria, olhando pra frente, embora muitos dos prisioneiros dormissem, outros gritavam, falavam coisas perturbadoras, barbaridades, insanidades, aquilo assustava Satoshi, que ia ao lado da filha e do psiquiatra da delegacia, que se retirou especialmente para levar a perigosa paciente.
- Esse cara foi responsável por 4 mortes, ele comia o cérebro de suas vítimas acreditando que ficaria mais inteligente com isso, um retardado com QI de 72. – O doutor comentou enquanto andava, aquele corredor de horrores parecia não ter fim, embora o fim já estivesse à vista.
- Divertido. – Camilla riu, era impressionante o modo como reagia a tudo.
Chegaram ao fim, tinha uma bifurcação, em um dos lados, havia mais alguns “quartos”, e no outro, uma porta de madeira fechada, o doutor bateu duas vezes, estava trancada à chave.
- Ei, doutor Hiroya, aqui está a garota que queria que fosse examinada
Um silêncio se estendeu por alguns segundos, até que ouviu-se o som de chave em fechadura, destrancando, a porta se abriu e de trás dela estava o mesmo psiquiatra que havia cuidado da menina anos trás, só que com mais barba, os olhos dele mostraram extremo espanto quando a viu, e ficou sem reação por alguns segundos mesmo tendo sido avisado de que Camilla Hitokaze viria, mas depois falou:
- Camilla, os remédios não fizeram efeito? – Parecia alguém que estava se desculpando, sentia o olhar fulminante de Satoshi, que parecia dizer “Idiota, por que não a ajudou enquanto era tempo?”.
- Fizeram, eu estou feliz. Não estou? – Tinha um sorriso no rosto.
- Seu imbecil, você disse que aqueles remédios iam fazer ela melhorar, e olha onde ela está agora! Ela vai ficar internada aqui o resto da vida por sua causa, por seu maldito erro medito. – O pai o acusou com ódio concentrado e afiado queimando em seus olhos, embora ele também fosse culpado, por permitir que a filha torturasse o bandido no cinema, ou não, talvez a culpa fosse apenas e exclusivamente de Camilla, que faria algo daquele tipo de um jeito ou de outro.
- Eu fiz o que era certo, sua filha tem algum problema pior, confirmamos que ela tem depressão, e encaixando com as confissões dela, o óbvio era que ela achasse na dor alheia um escape para sua tristeza crônica.
- Não seja burro, senhor psicólogo, eu não poderia fazer isso, eu já disse que não me importo, que eu sinto alegria e nem tristeza. Olha! Eu fingi, a Rena me falou que eu deveria fingir que estou feliz, os meus hormônios podem até ter realmente aumentado, e me fizeram muito bem, eu superei minha depressão, como você diz, e passei a ser feliz, rir, sorrir, me divertir, fazer amigos, me importar com eles. Mas nada, nada disso deixa menos prazerosa a sensação do sangue entre seus dedos, eu nunca, nunca vou esquecer da alegria que senti quando cortei a veia de Kushira e ela sangrou.
- Camilla, você está louca, é bom mesmo te internar. – Satoshi realmente não sabia o que falar, aquilo era tão perturbador, constrangedor e assustador.
- Ah pai, eu to bem, eu só queria, ser feliz.
- Senhor Satoshi, peço que não fale nada a partir do momento, irei fazer uns testes com sua filha, eu posso ter cometido um erro naquela época, mas agora que ela tirou a máscara, eu poderei corrigi-los, e realmente entendê-la
- Você não vai entender nada, seu idiota, você não seria capaz de entender um gênio como eu, você é apenas um psiquiatra idiota que passa a vida tentando entender as mentes brilhantes e não consegue, eu faria em 10 minutos o que você demoraria a vida toda para descobrir. Você quer saber o que eu tenho na cabeça, né? Quer me dissecar? Pode tentar, vou te dar toda a informação que quiser, mas você é tão idiota que não vai entender nada!
- Quer testar? Vamos, entre. – A puxou pelas algemas, ambos os médicos presentes ali estavam armados, tinham que estar, afinal, estavam entre dezenas de maníacos terríveis. - Senhor Satoshi, pode ir embora, já a acompanhou até aqui. – O homem da polícia o avisou, pegando amigavelmente em seu ombro.
- Está certo. – Tentou disfarçar uma lágrima e foi andando com o outro em direção à saída, que aliás, ficava bem longe.
- Então Camilla, você está pronta para ter seu destino definido?
- Você, seu idiota, eu vou te matar, você não vai conseguir o que quer, seu idiota. – Ela se sentou em uma cadeira, embora falasse como se estivesse furiosa, sua feição era calma, tão calma como se dormisse. Aquela sala era muito grande, tinham algumas paredes separando partes, 2 sofás, um no meio e outro no canto do local, 3 computadores, incluindo um notebook, 1 televisão grande, 5 mesas com gavetas, papéis em cima, canetas, blocos de anotações, agendas, livros de vários tipos, aparelhos eletrônicos portátil diversificados, além de um grande espelho na parede, de onde a garota conseguia se ver, quando se sentou no sofá do meio, o homem se sentou em uma cadeira 3 metros à frente dela, mantendo a calma.
- Sabe o que tem de especial nessa sala?
- Não, eu não sei. – Demonstrava total má vontade, com os olhos de lado, para a esquerda.
- Estamos em um hospício, e agora eu poderei fazer o que quiser com você pra tirar o que quero. – Ele sorriu, tinha que entrar no clima do joguinho doentio do qual participaria com assassina. - Bem, me ligaram da delegacia dizendo que iam me trazer uma assassina de 10 anos pega no flagra, acusada de extremo sadismo e de necrofilia, não disseram o nome, mas não esperava que fosse você, apesar de ter me lembrado do seu caso de anos atrás, não esperava até dizerem seu inesquecível nome, Camilla Hitokaze. O que realmente aconteceu? Os hormônios não fizeram efeito?
- Fizeram, mas isso não tirou meu gosto por sangue.
- E o tratamento psicológico também falhou.
- Sim, nada que algumas mentiras e fingimento não pudessem resolver.
- Eu entendo porque você sempre fala a verdade. – Ele acreditava nisso. - Acha que não fez nada errado. Mas seu caso ainda é difícil de entender, eles me contaram sobre suas confissões, mas não podemos entender como possa se divertir tanto com tamanhas barbaridades.
- Olha, eles disseram que iam me examinar. Não tem como parar com estes testes idiotas?
- Não são testes idiotas, você está sendo analisada a cada momento.
Você não vai entender nada, seu idiota, você não seria capaz de entender um gênio como eu, você é apenas um psiquiatra idiota que passa a vida tentando entender as mentes brilhantes e não consegue, eu faria em 10 minutos o que você demoraria a vida toda para descobrir. Você quer saber o que eu tenho na cabeça, né? Quer me dissecar? Pode tentar, vou te dar toda a informação que quiser, mas você é tão idiota que não vai entender nada! – Usou o máximo de grosseria que conseguiu.
- Ótimo. Então me diga o que faria se eu baixasse as calças nesse exato momento e pedisse para você me chupar. – Ele arriscou-se, aquela pergunta poderia causá-lo problemas mais tarde, acusações de pedofilia, abuso, mesmo contra ela, mas aquele poderia ser um bom método de interrogação para uma maníaca daquele porte.
- Hun. Eu ia chupar seu pau até você gozar, e quando estivesse com a boca cheia, arrancaria ele com uma mordida, e beberia o sangue, e enquanto isso, me masturbaria com a mão esquerda inteira. – Tentou mostrar com as mãos, mas a algemas que as prendiam nas costas impediram.
- E qual graça veria nisso?
- Em te chupar nada, mas em beber seu sangue e ouvir você gritar desesperado, acho que eu ia gozar na hora, que nem fiz com a Chiaki.
- Vamos fazer os testes químicos e biológicos. – Se levantou, não queria mais conversar com a menina, pelo menos não antes de resultados científicos.
Ela passou o resto do dia fazendo alguns exames.

Primeiro tiramos suas roupas e fizeram um exame de corpo de delito, ela não tinha nenhum tipo de marca de pancada, machucado, corte, nada, só algumas marcas na mão, que de acordo com a própria, foram geradas por excesso de treino de socos, até causar a destruição da epiderme, e um o feito pelo policial que a capturou, no rosto, que está vermelho só que tinha muitas manchas de sangue que não é dela sem dúvida alguma, a calcinha estava cheia de fluído vaginal, com certeza gerado por masturbação durante os crimes. Tiramos uma amostra de 300 Ml de sangue da garota, depois ela foi exposta a um slide com vários tipos de imagens, suas reações eram avaliadas com eletrodos que identificavam seus batimentos cardíacos, enquanto ao mesmo tempo o seu comportamento era observado, o modo como moveria as mãos, os olhos, como o coração bateria seriam importantes para identificar alguns detalhes sobre ela, os batimentos se mantinham em um comportamento normal, ele acelerava um pouco quando exposta a imagens perturbadoras que apareciam de susto, como de pessoas mutiladas e deformadas, e diminuía com as imagens relaxantes, como de cachoeiras ou do céu noturno, já seu corpo não reagia, mantinha as mãos entrelaçadas um no outro, e observava com o olhar totalmente apático.
Depois foi submetida a um teste com perguntas que pareciam bobas e sem importância, mas ligada a um detector de mentiras, os resultados surpreenderam os médicos e profissionais. Bem, os testes no sangue mostraram um comportamento totalmente comum, não é nenhum problema de hormônios, de falta ou excesso, está tudo normal, não é nada do tipo. Ela teve reação normal a todos os testes de comportamento, e seu coração bateu como o de qualquer um. No interrogatório nós conseguimos identificar mentiras, o detector as detectou sem nenhum problema, além dela não ter demonstrado nenhum comportamento suspeito, e isso é muito estranho, ela disse que prefere música leve à música pesada, mas é mentira. No outro teste, usamos um aparelho para identificar a freqüência de suas ondas cerebrais e como reagiam em diversas situações, além dos batimentos cardíacos, que foram contados a cada momento, deram um coelho para ela durante esse teste, ela arrancou a cabeça dele com uma mordida e se masturbou com a mão esquerda enquanto mutilava o resto do animal com as unhas, cuspiu a cabeça fora e não bebeu o sangue, nesse momento sua freqüência, o coração acelerou, não muito, mas o cérebro permaneceu do mesmo modo, atividade normal, freqüência normal. Depois de 2 minutos com a mão na intimidade, jogou o coelho longe e gritou pra todos ouvirem:
“Com animais não tem graça!” Ela não tinha a mínima vergonha ou “timidez” de fazer tudo aquilo, era nojento, sua total indiferença aos outros e suas reações.
Depois disso tentamos um método censurável, a prendemos em uma cama e a torturamos com dolorosos choques elétricos, a freqüência cerebral e os batimentos cardíacos eram alterados durante as descargas, mas ela não reagia fisicamente, não gritava, quase não mudava sua expressão, mesmo tendo uma dor violenta garantida.
“Ei, ei, ei, não não não, não vai doer doer doer, não não não, me me me me me, im im porta.”ela falava, gaguejando por causa da violenta eletricidade, tremia e sentia sua pele torrar, com certeza doía muito, mas não iria matá-la a menos que ficasse muitas horas lá. Ficaremos impressionados, porque depois dela dizer isso, começou a rir “Hahahahahahahahahaha...” por um longo tempo, não demoramos para soltá-la, era muito barulhenta e não estava dando resultados.. Terminamos com uma ressonância magnética, que não apresentou nenhum problema, absolutamente nenhum problema, então a levamos até o seu quarto, ela se manteve séria e entrou. O mais estranho é que ela não tentou nos atacar em nenhum momento, não fez ameaças, não reagiu aos testes, não se rebelou, foi totalmente obediente o tempo todo. – O homem responsável pelos testes, Shiroi Chan, um mestiço meio japonês e meio chinês especialista em neurologia, conversava com o doutor Hiroya na sala do chefe, que estava sentado enquanto o outro falava com ele, de pé.
- Então quer dizer que não há nenhum motivo compreensível para os problemas dela?
- Sim, está acima de nossa compreensão, fizemos poucos testes, mas não houve sinal de nenhuma anomalia química ou biológica, doutor, você vai ter que descobrir o que aconteceu.
- Maldição, eu preciso saber o que há com aquela mer... coisa. - Bateu a mão fechada na mesa, não se conformava em ter falhado no diagnóstico anos atrás e ter gerado tudo aquilo. – Sabe se a polícia já fez a perícia?
- Não, eu não sei, mas certamente, no mínimo já estão fazendo.

Camilla estava em seu quarto, não tinha paredes acolchoadas, mas tinha grades verticais e horizontais, mesmo que não reagisse a nada, naquele local só era disponibilizado um lápis e uma agenda, tudo colocado com um propósito, cada quarto naquele local era filmado 24 horas por dia, para o estudo do comportamento dos loucos, aquilo não era um simples hospital psiquiátrico, onde se encontram pessoas falando sozinho e se dizendo Napoleão, era o maior do Japão para abrigar e pesquisar maníacos de todos os tipos, apenas os loucos perigosos entravam lá, Camilla era a pior coisa que aconteceu lá desde a fundação, o primeiro grande caso foi o Filho de Susanowo, preso 30 anos antes, um homem que não pôde ser identificado, um total indigente, que não disse seu nome, mesmo sob tortura, supostamente não sabia, e se declarou como o Filho de Susanowo, responsável pela morte de 30 pessoas, descreveu como as matou com detalhes, e disse que o fazia porque sentia fome e o Deus Susanowo mandava que fizesse isso, mas ele não tinha a crueldade da menina, ele não torturava as vítimas, e se mostrava instável, não demonstrava culpa ou remorso, mas mostrava ter medo e delírios de verdade, pois se dizia o enviado pelo Deus Susanowo. O doutor Hiroya estava se dedicando totalmente ao caso da garota, talvez a mais notória serial killer na história do Japão, devido a sua idade muito tenra, sua brutalidade mais do que desumana, e o pior, a falta de motivos para isso. Ela estava no quarto e escrevia algo lá dentro, o psiquiatra a assistia em sua sala por uma televisão especial, sozinho.
- Vamos, vamos ver o que você faz com esse lápis? Será que vai desenhar o que fez? Será que vai falar do seu dia? Rabiscar? Posso saber muita coisa, sem nada pra fazer ela vai acabar confessando muita coisa com aquele lápis. – Falava sozinho enquanto assistia atentamente a garota escrever, não dava para ver da câmera o que ela fazia no papel, mas parecia se divertir, pois sorria e ria, até que ouviu ela dizer algo, já que a câmera também incluía um microfone.
- Ah, vou escrever uma linda poesia descrevendo minhas experiências. – Disse, e continuou escrevendo, 5 minutos depois entoou em voz alta:

“Oh doce doce Chiaki
Eu te amo tanto tanto
Você é meu pedaço do céu
Minha florzinha de papel
Gosto de te ver sorrir
Gosto de te ouvir falar
Gosto de sentir-te perto
Gosto do seu coração aberto
Gosto de te ver morrer
Gosto de te ouvir gritar
Gosto de te ver aberta
Gosto de te ver sangrar
Eu te amo tanto que quero te ver por dentro
E quero sentir seu sangue invadir minha vagina”
- Será mesmo que esses idiotas acham que vou cair nessa? Eles devem estar me vendo, devem estar me ouvindo, espiando, olhem, se estiverem me ouvindo, eu só peço, desistam, se quiserem me mandar pra cadeira elétrica, mandem, não me importa, eu vou morrer um dia mesmo, e morrer desse jeito apenas será um pouco precipitado. – Sua voz sempre parecia totalmente sincera, mas não dava pra saber se estava realmente falando a verdade, ou blefando.
- É óbvio, não se ache inteligente por isso. – Ele se sentia como se estivesse em um duelo intelectual com uma criança com QI de 202 e sem nada a perder, nesse ponto de vista, a derrota seria praticamente certa, mas ainda tinha muito a fazer, muito.


- Eu falei com os legistas, as perícias definiram que os tiros nos garotos da gangue não foram feitos por Camilla, a arma dela é uma pistola, aquilo foi feito por metralhadoras de grosso calibre, exceto no garoto encontrando com a testa aberta no fundo, os corpos em pior estado foram nas mãos dela, foram 6 pessoas no total, mas mesmo assim, se formos levar em conta os estados em que encontramos os corpos e as descrições dos crimes, ela não pode ficar menos do que a vida inteira presa em um hospício, já que demonstrou todos os sinais de insanidade. Ela não demonstra qualquer tipo de emoção como medo, raiva, tristeza, remorso, apenas alegria. – Um dos médicos do hospital psiquiátrico conversava com Hiroya em sua sala, falava sério, parecia um pouco tenso.
- Sim, Akane, o, é óbvio, aquela garota é a assassina perfeita, isto é, é o tipo de maníaca completa, é como se tivesse nascido pra isso, inteligência combinada com sadismo e habilidades marciais. Mas se não foi ela quem matou aquelas pessoas, quem foi? Conseguiram descobrir quem eram?
- Descobriram, mas eu não saberia dizer, não me contaram os detalhes, lembre-se que isso não é nosso trabalho, é da polícia.
- Mas isso mostra que o contexto dos crimes é bem diferente do que nós pensamos, ela pode até ter dado um motivo para se tornar uma assassina.
- Que tipo de motivo poderia ser? E por que ela disse que matou todos?
- Como vou saber? Sou um psiquiatra, não um detetive. Mas temos que ter contato com a polícia, podemos ajudar a tirar coisas dela, afinal, é isso que fazemos, e ainda poderemos desvendar os segredos perturbadores que permeiam sua mente doentia.
- Não fale tão difícil. Podemos ir na delegacia e pegar mais informações.
- Sim, acho que irei pessoalmente para esse caso.
- Doutor, como você consegue dormir nesse inferno? – O médico se referia ao fato do chefe dormir em sua sala no sanatório, ele usava fones à prova de som para evitar acordar com gritos desesperados no meio da noite e trancava bem a porta, pro caso de um maníaco conseguir fugir, mas não deixava de ser uma obsessão de mau gosto por trabalho, tudo isso pra não ter que largar o local de trabalho pelo qual praticamente vivia, um verdadeiro profissional obcecado. Ele vivia tendo pesadelos, mas não era do tipo que se importava ou tinha medo, não fazia diferença, para quem todos os dias via os piores monstros que a humanidade já produziu, sonhar com as piores barbaridades não era nada, nem era real mesmo, mas de fato, aquele local tinha uma atmosfera extremamente pesada e desagradável.
- Eu coloco fones isolantes, não escuto nada. Devo admitir, parece que o clima é pesado, parece que a energia é negativa, que há uma força incomum nesse local, uma coisa ruim, incômoda e inevitável, mas amo demais meu trabalho para deixar de fazê-lo com o máximo de dedicação, mesmo que isso custe minha paz, e bem, eu não fico muito incomodado, só um pouco, durmo sem dificuldades, chega a ser emocionante saber que estou rodeado de maníacos que arrancariam meu fígado se conseguissem me alcançar.
- O senhor realmente é um grande psiquiatra, vivendo entre as feras sem ter medo.
- Eu sei que eles não vão fugir. Irei agora mesmo ver o que a polícia descobriu, preciso de relatórios com algum detalhamento, das suspeitas e do encaixe de fatos que fizeram.
- O senhor não tem problemas em deixa o sanatório?
- O que você pensa que sou? O Corcunda de Notre Dame? Eu evito sair, mas agora é necessário, e devemos ir, vou arrumar minhas coisas, só preciso de uns papéis. – Abriu uma gaveta e pegou a primeira pasta, escrita “Camilla Hitokaze”. Logo se despediu de Akane e foi embora, atravessou todos os corredores, avisaram aos guardas e funcionários de que iriam voltar apenas em algumas horas mais ou menos, e foi no seu carro até a delegacia, era um Toyota Hilux 1998 preto, muito bonito, não teve problema pra estacionar, lá dentro foi diretamente falar com o delegado.
- Senhor, precisamos conversar, e queremos alguns materiais. – Oku foi direto.
- O que quer? – Levantou os olhos à altura do profissional, sentado na sua cadeira reclinável.
- Quero saber se tinha digitais nas pessoas que morreram no caso A Executiva, quero saber os resultados detalhados da balística, quero detalhes para fazermos teorias, o nome dos mortos, quero saber de tudo.
- Bem, já me informaram de tudo, todos os tiros que não foram dados com a Taurus da garota foram feitas por um modelo de arma desconhecido, deve ser alguma novidade que ainda foi catalogada, certamente da Hitonomi, exatamente onde Satoshi trabalha, mas ainda sim estava muito difícil de identificar. O garoto que Camilla realmente picotou recebeu tiros de outra pessoa antes, e essa pessoa só pode ser Satoshi, foram dados por outra arma não catalogada, mas não a mesma que matou os outros, essa foi mais difícil de identificar, já que os membros atingidos receberam buracos até rasgar totalmente e não se poder identificar buracos de bala, mas esse mesmo garoto recebeu um tiro de Taurus PT100 nas partes íntimas, esse foi o da garota, e bem, ele morreu algumas horas depois dos primeiros, o que mostra que ele não estava lá na hora em que os outros foram atravessados. Um deles não tinha nenhuma bala no corpo, foi morto a coronhadas, e tinha muitos sinais do DNA dela, ela meteu unha com toda a força, não há dúvida alguma, e lá também havia uma cadeira e cordas, cordas rasgadas, cordas de amarrar. Levando em conta a posição, de cada um deles, chega-se à conclusão de que ela estava amarrada na salinha de fundo quando matou o primeiro, ela conseguiu se soltar dos nós com unhadas, rasgando as cordas de uma maneira impressionante, tipo, as unhas dela deviam ser feitos de aço ou coisa assim, aí ela voou nele rapidamente quando teve chance e ele estava desprevenido, e o nocauteou, ele tinha sinais de danos no pescoço de uma pancada, uma lesão nada grave, mas o golpe foi exatamente no bulbo carotídeo, isso dá um tremendo problema na pressão e causa o desmaio, bem, acho que é isso que os legistas disseram. Ele foi nocauteado desse modo, temos quase certeza, Camilla é praticante da caratê, e é bem provável que ela tenha um profundo conhecimento de pontos fracos no corpo humano, é certo que a arma que ela usou era da primeira vítima, se fosse dela, teria usado nele, então assim, nós podemos tirar uma conclusão de que era um sequestro, e isso foi confirmado assim que soubemos de uma testemunha que viu Camilla ser capturada e levada por uma gangue armada para algum lugar, ser seqüestrada no mesmo dia de que data a morte dos primeiros mortos, mas tem uma coisa que ainda não dá pra entender, de onde vieram as outras armas.
- Bem, acho que não devemos falar disso aqui, onde estão os detetives?
- Na cena do crime, eles ainda estão tentando achar provas.
- Vamos conversar, podemos montar uma cena
- Isso não é seu trabalho, doutor. – O delegado sabia do lugar de cada um.
- Estou oferecendo uma ajuda extra, nós podemos ajudar, eu estou observando Camilla o tempo todo e descobrindo muita coisa sobre seus hábitos, eu com certeza posso ajudar.
- Talvez, vamos nos reunir em algum lugar privado.
- E o senhor pode deixar seu posto? Qual é o problema em deixar outros policiais ouvirem? Por que não pode?
- Na verdade posso, tanto sair do meu posto pra algo importante quanto deixar eles ouvirem, esse caso é público, vamos falar aqui.
- Eu não estive na cena do crime, só sei que é um cinema abandonado. Poderia descrever para mim?
- Os crimes ocorreram no subsolo do cinema abandonado, vocês sabe ,1 corpo de um lado, 13 do outro, além das confissões, lá havia um lugar parecido com uma sala e um outro parecido com um quarto, o quarto era onde Camilla certamente estava presa, e onde matou o cara sem usar arma, lá tem total isolamento sonoro, e é um local perfeito para se matar, ninguém ouviria nada, absolutamente nada, mesmo se tivessem as partes íntimas serradas lentamente. Um dos corpos estava no corredor até a tal sala. A gente conseguiu identificar parte dos corpos dos mortos, um era Nida Nishiyama, o que foi morto pela Taurus da Camilla, os outros eram James Root, Anton Marshall, Jonathan Jones, Jessica Chimecho, Haruka Kanata, e os outros eu não lembro, não tenho uma memória tão boa assim, mas eu sei que todos os identificados eram pessoas que deixarem seus lares, encontraram algumas anotações na cena do crime, diziam sobre algo chamado Jigokomo, mas não sei o que é isso. Os outros mortos eram indigentes, não conseguimos descobrir nada deles, 4 deles morreram mais de 24 horas depois dos outros, o que mostra que eles faziam parte do grupo morto originalmente.
- Uma gangue profissional, não? Ela tava amarrada, é óbvio que foi uma gangue, os primeiros a morrer eram da gangue, morreram com a reação, os outros foram vítimas casuais. Ela estava com algum tipo de telefone ou celular quando foi presa? Com o que ela estava?
- Tenho certeza de que era, todos vagabundos, sem citar a comum ocorrência de crimes naquela área. Camilla tinha uma mochila com material escolar, um livro,e celular, realmente estava voltando da escola quando foi seqüestrada, que nem a testemunha, na verdade, as testemunhas, disseram, elas vieram aqui na delegacia testemunhar por vontade própria, muita sorte.
- Qual era o livro?
- “Ringu”, de Kôji Suzuki.
- Nunca li. Sobre o que é?
- Li a sinopse, é sobre uma maldição em uma fita, algo assim, nada realmente impressionante ou que tenha alguma importância no nosso caso.
- Então na verdade ela foi seqüestrada, não há dúvidas de que o resgate da filha de Satoshi Hitokaze seria altíssimo, ela foi levada pela gangue para aquela sala, onde ficou amarrada, o garoto que morreu sem tiro ficou vigiando com a arma, ela se soltou discretamente das cordas e o matou quando estava desprevenido, ou então atacou tão rápido que ele não conseguiu se defender, uma pequena de 10 anos com grande conhecimento de pontos vitais, um perigo. Ela pegou a arma, então vem a parte difícil de descobrir, mas basta raciocinar, se os furos nos outros eram de armas desconhecida, só poderiam ser de armas de pessoas ligadas à Hitonomi, pessoas ligadas ao Satoshi, com armas não catalogadas, isso é óbvio. Só me fala, sabe o horário das mortes?
- Eles falaram, mas só lembro do que morreu sem armas, o James Root, ele morreu às 3 da tarde, 3 dias atrás.
- Ela saía da escola meio dia, não é?
- Sim.
- No dia em que cometeu seus últimos crimes, tinha ido direto do colégio, pois tava com a mochila, e o celular, então. Ah, não, eles com certeza tomaram o celular e a mochila, não importa então, mas é possível que o pivete tivesse um celular e que ela tenha usado pra ligar pro pai.
- Nesse caso a gente só teria que pegar o celular dele e exigir que mostre o histórico, se tiver uma ligação dela por volta das 3 horas no dia da primeira morte, teremos uma certeza.
- Sim, ele foi com algum tipo de capanga da Hitonomi e matou todos lá, deve ter rastreado a ligação com a maior facilidade do mundo. O que falta entender, é porque Camilla voltou nos dias seguintes, os resíduos no sanitário mostram que pessoas foram jogadas lá dentro no dia seguinte, como A Executiva confessou. E os quatro indigentes não identificados vestidos com trapos foram os últimos, que foram assassinados pouco tempo antes dela ser presa. Só acho estranho que ela tenha sido denunciada. Será que alguém sabia?
- Eu não sei, a denúncia foi de venda de drogas, totalmente anônima, talvez tenha sido uma pessoa que achou que estavam vendendo drogas lá dentro, ou mais provável, que soubesse do que estava acontecendo e quisesse denunciar de modo mais convincente e normal, não é normal ouvir denúncias sobre pessoas sendo esquartejadas por uma menina de 10 anos. – Ele falou e ficaram no silêncio por um tempo, em que o psiquiatra não respondeu, pensativo, mas logo já tinha algo pra dizer:
- Do jeito que ela fez, tinha algo errado, uma pessoa com tão elevado QI não seria estúpida pra se deixar ser capturada assim. As vítimas que ela realmente matou estavam cheias de impressões digitais, ela não usou luva, ela não temia ser pega, ela não se importaria se fosse pega, e ela parece estar se divertindo aqui, é como se realmente tivesse planejado! Foi tudo planejado! É isso, quem telefonou falando sobre tráfico de drogas era aliado dela! Foi a seu mando! Ela pretendia ser presa e internada, era o plano dela o tempo todo! – Sua voz estava totalmente eufórica.
- Como? Como ela planejaria ser internada? E por que?
- Precisamos rastrear de onde veio a ligação, assim saberemos quem ligou e que possível relação tem com a assassina.
- Já foi rastreada, veio de um orelhão na quadra ao lado do cinema, do outro lado, poderia ser qualquer pessoa, teríamos que ter testemunhas, perguntar para os donos de comércio se viram alguém ligando por volta de 3 horas, mas acho difícil que se lembrem. A gente sabe que não foi a própria Camilla, porque era voz de homem, grossa.
- Podemos tentar, mas acho que não será necessário, antes temos que descobrir o que a menina planeja. Veja, temos que levar em conta que para investigar A Executiva, nós não podemos seguir uma lógica normal, isso não é um caso racional, é um caso de total insanidade, mas ao mesmo tempo, temos que levar em conta um nível doentio de racionalidade, um nível que talvez não possamos compreender, que é exatamente onde a mente dela está.
- Não fale difícil, doutor, fale de modo que eu possa entender. – O delegado Toshio, e a maioria das pessoas na verdade, odiava quando o doutor começa a falar daquele jeito complicado, muito parecido com frases de filósofos da antiguidade.
- Ela pensa de maneira insana, mas ao mesmo tempo é racional e extremamente inteligente, mas o padrão de pensamento dela é diferente do nosso, porque ela nega qualquer tipo de regra ou valor que as pessoas normais tenham, ela tem seus próprios valores, seu estilo de raciocínio, ela acredita totalmente em si mesma, e ignora as outras pessoas, ela não vive por algo, por um ideal ou objetivo, ela vive por si mesma, ela não liga se o mundo passa fome ou se as pessoas ignorantes, da pra ver nos olhos dela, apenas quer se divertir, estar feliz, satisfazer seu corpo e mente, espantar a tristeza, por isso ela mata, o que não consigo entender é porque ela é assim, o que a deixou assim, mas cada vez mais eu acredito que seja de sua natureza.
- Quer dizer que não tem nenhuma causa para ser má e cruel? Apenas nasceu com o dom do sadismo? Isso não é algo comum. – Os olhos do delegado se arregalaram um pouco.
- Sim, mas ainda falta descobrir o que é que ela fez, ou o que fará. Por que queria ser presa? Se formos seguir a lógica macabra em que ela acredita, ela pretende pôr em prática algum tipo de diversão obcena e doentia, algum jogo sádico sangrento, dentro do hospício, ela quer fazer isso, sim, ela quer. Deveríamos matá-la. – A última frase foi sussurrada baixo para garantir com toda a certeza que ninguém ouviria, o psiquiatra tinha certeza de que ela tinha um plano, e morta, não poderia realizá-lo.
- Não podem matá-la, sabe o que acontece com seu hospital se ficarem conhecidos por terem matado uma garotinha de 10 anos, mesmo sendo aquela garotinha, você irá destruir sua vida. - O tom do policial já estava da mesma altura do psiquiatra, bem baixa.
- Não se fizer parecer um acidente. – Abaixou mais ainda a voz, essa frase poderia ser muito comprometedora.
- Não seja estúpido, ela está em evidência, vão descobrir, e basta vocês manterem ela presa que nada acontecerá, se ela tentar fugir ou atacar, a matam por legítima defesa, mas nada se ela não tentar alguma gracinha. Arranje um jeito de descobrir o que a desgraçadinha está fazendo, e não deixe que nenhuma exceção perigosa seja aberta.
- Tá bom delegado, não farei nenhuma besteira, eu voltarei para o sanatório, quero ver o que ela está fazendo. Obrigado pelas informações, e não deixe de investigar. – Se levantou e foi embora, recebendo apenas um “tchau, tenha um bom trabalho” do delegado.


- Akane, quero falar com você! – O doutor chegou agitado, puxando o companheiro de trabalho que conversava com um homem de aparência doentia por trás de grades, exatamente o temido assassino da menina pequena, Tsutomo Miyazaki, os olhos do assassino eram assustadores como os de um demônio faminto, não precisava mais tentar se passar por uma pessoa normal agora que estava permanentemente preso.
- Que foi, chefe?
- Vocês vão falar da garotinha assassina? Por que não trazem ela pra mim pra eu fazer sexo com ela? Ela vai gostar e eu também. - Tsutomo se intrometeu na conversa, com um grande sorriso no rosto, já imaginava a pele macia da menina de quem todos estavam ouvindo falar, a pequena TV que tinha no corredor havia mostrado seu retrato diversas vezes, mesmo os loucos conheciam “A Executiva”, como ficou conhecida mesmo dentro do sanatório após ser apelidada pela polícia, e ouviam os médicos repetindo seu nome diversas vezes
- Não Tsutomo, ela não vai vir aqui, ela tem um problema pior que o seu, e está sendo tratada como você.
- Não minta pra mim. – Gritou, mostrando os dentes em um sorriso rasgado e mal humorado. – Vocês apenas nos querem como cobaias, ratos de laboratório para seus estudos, não seremos tratados, não seremos curados, seremos monstros até o fim de nossas vidas, trancafiados nesse buraco.
- Vamos logo, Akane, tenho pressa, é importante. – Estava virado para o outro médico, mas virou-se para o prisioneiro. – E sim, é sobre a Camilla, e você nunca melhorará se não colaborar. Na Verdade, Camilla estava a poucas celas de Miyazaki, quando eles saíram de vista, foi até a grade, e ficou observando o maníaco.
Foram pra sala de Hiroya, deixando o pedófilo falando sozinho, irritado, acompanhado de um coro de loucos cujas celas ficavam próximas, uma diversificada combinação de pragas, palavrões e maldições, até ser interrompido por um chamado de Camilla.
- Ei, então você é Tsutomo?

- Descobri que Camilla teve ajuda do pai no crime.
- O que? – Foi pego de surpresa.
- Ela foi seqüestrada por uma gangue, conseguiu matar a pessoa que tava a vigiando, ligou pro pai, ele foi no cativeiro, que era o cinema abandonado, matou todos com a ajuda de capangas, as primeiras pessoas que ela matou foi por auto defesa, bem, que eles mataram, ela só matou um dos marginais, em quem atirou com a arma que roubou do primeiro que matou, com as mãos limpas. Mas depois ela voltou ao local e matou mais 6 pessoas, duas no dia seguinte e 4 no outro, quando foi presa. Mas o mais importante é que a denúncia de drogas que levou à prisão dela foi planejada, ela pediu pra alguém ligar pra polícia pra que ela fosse presa, ela sabia que iria direto para o hospício, tendo problemas psicológicos graves e confessando tudo sem demonstrar culpa, assim, ela poderia fazer uma coisa.
- Isso não é possível. Que coisa?
- Eu não sei que coisa, mas imagino, imagino que alguma monstruosidade, tentar fugir, tentar soltar os outros presos, me matar, matar alguém aqui dentro, botar fogo, qualquer coisa assim, algo que não será nada bom. Devemos ter um modo de descobrir o que ela planeja, ou de prendê-la, impedir que faça qualquer coisa.
- Mas se ela foi seqüestrada, não quer dizer que ela teve motivos para matar?
- Teve, mas depois matou 6 pessoas gratuitamente. Eu pensei no caminho e cheguei à única conclusão. Ela estava realmente controlada, mas quando foi seqüestrada, se viu em uma situação que a levou a despertar novamente seu sadismo, matou o primeiro e gostou, matou o segundo com extrema crueldade, como ela mesma descreveu, e depois levou mais pessoas pra matar e torturar, apenas pra se divertir, é como um viciado que passa anos sem usar e um dia cheira uma dose de cocaína novamente, e volta a ser usuário.
- Ela é uma viciada em sangue
- Uma definitiva necrófila sádica violenta. E ela vai fazer algo contra nós, eu sei que vai, ela planejou ser presa. Se você fosse um serial killer, e quisesse ser preso, pra que seria?
- Pra estar com outros assassinos, e fazer coisas com eles, talvez uma aliança, para matar ao lado deles, talvez até mesmo criar um jogo, que nem naquele mangá.
- Que mangá?
- O Jogador, mangá feito pelo pai dela, é, eu li, é bom. Tem uma parte em que o marginal prende várias pessoas em um shopping, que ele domina com sua gangue, e começa a brincar com a vida das pessoas, torturando, matando, tudo através de um RPG estranho com direito a cabeças arrancadas, saco queimado, e me refiro ao saco em que você pensou, e olhos perfurados.
- E ainda pergunto de onde que ela tirou toda a violência? – Pela lógica, a violência seria hereditária, do pai.
- Bem, eu li e não mato ninguém, não é isso.
- Mas é isso, ela quer fazer uma brincadeira de mau gosto, eu não vou permitir, vou vigiá-la bem, ela não vai fugir, ela não vai fazer nada.
- Espero que não, eu realmente espero que não.
Jornal Yomiuri Shimbun (読売新聞)

A Executiva (役員の少女), um filme de terror real

“Camilla Hitokaze, 10 anos, foi presa na quarta feira, acusada pela morte de 14 pessoas dentro de um cinema abandonado. Presa, ficou conhecida como “ A Executiva”, devido ao terno que usava no flagrante, e que também usava uma estranha pintura facial branca no rosto todo, e cruzes invertidas pintadas com tinta negra, o que levou a acreditar que fosse satanista, mas a hipótese de rituais de magia negra foi descartada. As perícias confirmaram que ela “só” foi responsável pela morte de 6 pessoas, confessou todas sem demonstrar remorso e descreveu como as torturou antes, tendo sido confessada o ato de necrofilia com algumas das vítimas. Todas foram encontrados em péssimo estado, exceto outras duas crianças que era amigas da menina e foram esquartejadas em pedaços mínimos e jogadas em um vaso sanitário, que também foi analisado, confirmando a confissão, e não foram encontradas. Ela foi internada no hospital psiquiátrico especializado nesse tipo de caso, o Hospital Oku. Foi presa na cena do crime, o cinema abandonado, quando um policial checava por causa de uma denúncia anônima de tráfico de drogas, foi interrogada e confessou rapidamente, sem nem ao menos tentar negar. O caso chocou todos os envolvidos, os pais das duas vítimas que foram esquartejadas, foram internados em um sanatório para tentarem se recuperar, mas é possível que não consigam após saberem o que aconteceu com suas crianças. O pai da criança, o famoso programador e empresário Satoshi Hitokaze não quis gravar entrevista, estando em péssimo estado, ainda chocado com o ato da filha, mas deu algumas palavras:
- Não quero falar disso, eu não sei o que aconteceu com ela, era uma garota tão comportada e obediente, pelo menos comigo.
E a mãe, Gabryella Hitokaze, entrou em coma após ficar sabendo.
O doutor Hiroya disse em entrevista que esse é possivelmente o caso mais grave de toda a história do Japão:
- Ela não tem motivos para isso, ela mata, ela tortura porque gosta, não sabemos se sofreu algum tipo de abuso em casa, mas fizemos exames de corpo de delito para descobrir, e recentes não tinha. É uma menina rica, filha de pais bem sucedidos, come bem, estuda, faz o que quer, mas parece que nada disso foi o bastante pra ela, o que queria era matar, matar por prazer, ela mata pra se masturbar e cometer necrofilia, fica excitada, gosta, é nojento. Além do mais, ela demonstra sadomasoquismo tanto sexual quanto não sexual, demonstrar ficar excitada ao sofrer, e não demonstra qualquer tipo de loucura real, delírio, ouvir vozes, ela fingiu ver alguém que chamava de Rena, mas foi fácil perceber que estava fingindo, embora represente perfeitamente, cometeu o erro de não citá-la em momentos em que a veria caso realmente tivesse esse tipo de delírio. Outra coisa que nos impressionou foi o QI dela, é de 202, Einstein tinha 160, você idéia do que é isso? Monstro é pouco pra descrever aquela criança, se eu fosse religioso diria que ela é o diabo, a combinação mais perigosa de inteligência, indiferença e crueldade.

A Executiva, poderia ter feito muito mais vítimas se tivesse ficado solta. Mais informações ainda serão disponibilizadas, e as autoridades garantem que ela ficará aprisionada e longe da sociedade chocada, um caso assustador de uma criança de 10 anos capaz das maiores atrocidades.” – Satoshi lia o jornal, já tinha se acostumado com a idéia da filha naquele hospício, sendo tratada como um monstro a ser isolado.

- Sim, sou eu, eu sou Tsutomu Miyazaki. – Ele sorriu, com o rosto enfiado na grande, quando ouviu o chamado da criança.
- Que bom, vou te contar meus crimes, e você me conta os seus, eu ouvi você dizendo que queria que o Hiroya te levasse ai pra fazer sexo, pareceu interessante. Gosta de sexo com meninas? – Olhava gentilmente para o homem de péssima aparência, que parecia uma espécie de nerd mal arrumado, desengonçado, e totalmente maluco.
- Sim, eu adoro meninas, sou o Assassino da Menina Pequena, conte-me seus crimes, e então te contarei os meus.
- Você não vai me assassinar, né? – Ela mordeu os lábios, como se estivesse “dando mole” pra ele, tinha algo na cabeça, uma idéia, um plano, algo assim, e pensava muito, muito naquele momento.
- Não se você não reagir. – Ele riu, se sentia como um adolescente dando cantadas em uma garota bonita.
- Então tá ótimo, agora te contarei como matei aqueles imbecis no cinema.

- Criança, vim, te visitar. – O doutor bateu nas grades da assassina, enquanto ela desenhava uma história de mangá. Entre as grades havia uma pequena abertura maior, parecida com uma caixa fechada, grande o bastante para se colocar papéis, pratos de comida, uma mão, mas era fechada e não podia ser aberta por dentro, apenas por fora, aquele tipo de entrada era usada para passar comida ou qualquer outra coisa que os prisioneiros precisassem, mas claro, as pessoas que fazia essas entregas sempre iam armadas, prontas para matar e salvar suas vidas no caso de ter a mão arrancada, aquilo parecia uma caixa de correio.
- Olá senhor Hiroya, como está hoje? – Ela sorriu, se levantou e correu até a grande, colocando as mãos e observando com uma expressão infantil, inocente e falsa.
- Estou muito bem. Poderíamos conversar um pouco? – Se ajoelhou na frente do quarto, melhor dizendo, cela.
- Claro, como vê, não tenho muitas coisas melhores para fazer aqui. – Ela parecia outra pessoa, uma pessoa decente e educada, não a menina arrogante e sádica de antes.
- Por que está sendo tão simpática? Bem, ontem eu realmente observei o que fez o dia todo. Eu descobri o motivo para as ações cruéis que você cometeu. – Ele falou com total convicção.
- Qual é? – Ela sorriu, virando um pouco a cabeça para o lado, para ver de outro ângulo.
- Você não sabe o que fazer, é indecisa, e acabou fazendo algo sem sentido, escolhido por acaso, pra você não importa se está matando ou se está morrendo, mas uma vez que tenha definido seu objetivo, foi atrás dele.Você escolheu o que faria através de livros, dos livros violentos que lia. Estou certo?
- Não, nem de perto você acertou. Você acha que eu sou retardada? Quer dizer, é claro que faz diferença pra mim se mato ou morro, eu me amo, e não quero que anda aconteça comigo, e principalmente, eu não sou retardada o bastante para basear minhas ações em histórias de livros, embora tenha muito a se aprender neles. – Parecia ofendida, e sua educação foi pra algum lugar bem longe.
- Então você mentiu, disse que não se importava de ir pra cadeira elétrica.
- É óbvio que menti, eu não vou ficar desesperada se eu for. Mas você acha mesmo que não me importarei de morrer?
- Claro que não acho, mas voltando ao assunto dos livros, não minta, eu sei que é isso
- Não, não é, seu idiota. Vou esclarecer as coisas pra você, você acha isso porque eu era apática ao mundo exterior, então esse tipo de quase autismo poderia me levar a fazer as coisas por acaso, já que eu não veria diferença entre elas e nem teria noção do queria bom ou ruim, ou mesmo se tivesse, não me importaria, então seguiria o exemplo mais próximo, os livros que lia. É isso? – Ela não teve que pensar pra perguntar.
- É. Se você soube tão bem, é porque acertei, porque não admite, garotinha influenciável?
- Mesmo que tenha acertado, nunca saberá, você não conseguiria saber isso olhando em meus olhos. E basta você me entender pra me mandar pra outro lugar, né? Você quer que eu morra, só me deixa viva para o caso. Serei a nova Charles Manson? Encherei esse hospital de repórteres, fãs malucos, e psiquiatras querendo uma entrevista? Darei fortunas de publicidade para você e todos os envolvidos? – Ela sabia como funcionava, tinha lido um livro sobre Charles Manson, o bandido mais pop do século XIX, adorado por muitos, temidos por outros, mesmo 30 anos após ser preso, um ícone de serial killer, criminoso, maníaco, e claro, guia espiritual para os mais insanos.
- Você não acha que lê demais sobre essas coisas?
- Aposto que você também lia na minha idade.
- É, é verdade, mas eu não estou te estudando, se assim posso dizer, para me promover ou te usar como publicidade, eu quero entender o que leva uma criança de 10 anos a esquartejar a melhor amiga do nada, para quem sabe, ajuda a evitar que aconteçam essas coisas novamente. Você sabe, por exemplo, no caso de Charles Manson nós podemos perceber o péssimo efeito das drogas e obsessão musical, se você ouve demais uma música você pode acabar confundindo ela com a realidade, como no caso da maldita Helter Skelter dos Beatles, que causou a morte da mulher de Polansky, que dirigiu o filme O Bebê de Rosemary.
- Desse filme eu gosto. Se eu fosse cristã, diria que ele foi punido por profanar o nome de Deus em um filme e fazer Satã vencer no final.
- Não sei como, mas é interessante conversar com você. – Ele plantou um pouco de sinceridade, a conversa não estava mais tensa como no começo, embora ele ainda se sentisse incomodado com a presença dela, era inevitável, com quase todos os internados daquele hospício, era inevitável.
- Ora, eu apenas gosto das mesmas coisas que você. A diferença é que você decidiu lutar contra o que você mais ama, e eu decidi fazer. Não é mesmo? Um homem que cuida de psicopatas, maníacos, os estuda, se interessa por eles, suas confissões, seus motivos, seus crimes, os detalhes, um homem desse só pode ser um grande apreciador do mal, mas que ao invés de fazê-lo com as próprias mãos, prefere assistir e estudar, até mesmo combatê-lo, ao mesmo tempo que se diverte vendo tudo.
O doutor ficou em silêncio, não poderia negar, sempre teve um gosto agudo por todo tipo de bizarrice e horror. Lembrou-se da sua infância, seu filme favorito era Psicose de Alfred Hitchcock, o mestre do suspense, o seu livro favorito era 101 Dias em Sodoma, do Marquês de Sade, o homem cujo nome deu origem à palavra sadismo, e seu principal interesse era por psicologia e loucura, gostava de viajar em mundos doentios, nojentos, brutais, desde cedo, sem ter nenhum medo ou nojo, quanto pior, mais se interessava. Os pais o incomodavam um pouco pelo exagero, mas o pai liberava apesar de tudo, já que também era um psiquiatra e já havia trabalhado com maníacos.
- Talvez tenhamos os mesmo interesses, mas jamais o mesmo ponto de vista. Eu sei o bastante pra entender parcialmente porque você fez o que fez, e com certeza o que ainda faria, mas é praticamente impossível entender totalmente. Você tem a sua saúde totalmente perfeita. Como pode gostar tanto dessas barbaridades? Seu corpo não tem nenhuma marca de maus tratos, a sua família não tem nenhum histórico, e principalmente, se fosse algo vindo de casa, seus pais seriam os primeiros as sofrerem. Tem algo que não me contou?
- Não, eu não tenho nenhum trauma, traumatizei a Kushira, você se lembra, mas mesmo assim, não teve nada que me transformasse nisso. Eu apenas gosto, apenas gosto, do mesmo modo que Mozart gostava de música e Mohamed Ali de boxe.
- Por que começou a ler livros violentos?
- Meu pai me deu um mangá edição única chamado “O Jogador”, muito violento, mas que ele mesmo havia feito, era muito bom, eu gostei, aí passei pra livros, e filmes, mangás nem tanto, não são a mesma coisa. Ele não pensou que eu fosse achar difícil, já que eu era brilhante como uma criança, depois que passei a ser proibida de ler ou assistir esse tipo de coisa, aí eu passei a mexer no computador, eu abria uma janela sobre alguma coisa que meu pai apoiaria, como informática e game design, coisas com que eu realmente mexia, mas não era tão interessada assim, na outra janela, eu abria tudo em que queria mexer, principalmente ebooks, comecei a ler ebooks, eu li livros de vários tipos nessa época, mas a maioria sobre serial killer, sexo, sadismo, terror, essas coisas, o melhor de todos sem dúvida foi “Jigoku”, um livro sobre o Inferno muito bem descrito. Não cheguei a acessar pornografia até alguns dias atrás, antes de ser presa, e vídeos de tortura também, não era tão interessante, me masturbei vendo pornografia e violência pra ver se sentiria prazer, mas nada, então no dia seguinte eu sair pra matar, aí sim, gozei muito.
- Você daria uma entrevista para a televisão, Camilla? – Ele falou sem relacionar nada com o assunto sobre o qual falavam, planejava algo.
- Vê? Está louco para ganhar dinheiro e mídia em cima de mim, não seja ganancioso.
- Não importa quais sejam as minhas intenções com isso. Você teria carta branca pra falar o que quiser, poderia dizer às pessoas tudo que quiser, e elas te ouvirão, poderá convencê-las. E você tem fãs, por mais absurdo que seja, eles também poderão te ouvir.
- Não sou vaidosa a esse ponto, mas eu aceito, tenho certeza de que esses sádicos mascarados adorarão ouvir o que tenho para falar, todos amam assassinos em série, só que ninguém admite.
- Eu ligarei para a emissora, e irei falar que se quiserem podem ter uma entrevista com você, na verdade, já recebemos muitas ligações pedindo por reportagens, todo mundo quer ouvir sua voz, querem ouvir a Executiva, que marcou esse país com medo.
- Que bom, ligue, terei prazer em falar para a nação
. – Sorriu como costumava dizer, com maldade, malícia e sarcasmo.

- Mais notícias sobre o caso A Executiva. Camilla Hitokaze, conseguimos uma entrevista exclusiva com a criminosa que falou sobre os seus crimes. – A repórter, dentro do Hospício Hiroya Oku, na frente da cela da criminosa, que olhava bem penteada, havia se penteado com os dedos quando ficou sabendo que seria entrevistada, queria parecer bonita e arrumada na câmera, embora sua foto mais famosa circulando pelo mundo como o rosto de “A Executiva” era de quando ela estava usando Corpse Paint, era um modo de aumentar a publicidade do caso, as pessoas são capazes de tirar proveito das piores situações, a polícia conseguiu prestigio por prendê-la, o hospício por tratá-la e por disponibilizar informações que interessavam a todos os telespectadores, e principalmente, à imprensa, a audiência de um jornal mostrando qualquer informação sobre A Executiva tinha audiência máxima, sem citar os jornais que vendiam exemplares às pencas com a foto dela na primeira página. A repórter colocou o microfone próximo às grandes. – Então Camilla. Tem algo que gostaria de dizer? Por que cometeu aqueles crimes? – Era algo desnecessário, ela já havia dito dezenas de vez que matou por puro prazer, e o país todo já sabia dessa informação, mas nunca foi revelada nem uma gravação com a celebridade mais temida do país, agora poderiam ouvi-la, saber de sua boca o que sentia e pensava, e ver se ela, a sua imagem e sua voz eram tão perturbadoras quanto falavam:
- Ah, sim. Olá meus fãs, eu gostaria de falar pra vocês que os amo muito, e que logo nos encontraremos, é muito bom saber que se lembram de mim. Mas quanto ao motivo para ter matado aquelas pessoas, bem, eu fui justa, eu sou uma pessoa super zen, e procuro ser feliz e me equilibrar por dentro. O único modo que conheço disso é ser feliz. E que modo melhor para ser feliz do que fazendo o que gosta? Bem, eu descobri que gosto de machucar pessoas quando tinha 7 anos, eu cortei o pulso de uma colega em uma briga escolar, foi gostoso, nem tinha sido por maldade naquele dia, foi por auto-defesa, mas foi gostoso, foi prazeroso. Aí na primeira oportunidade eu arranquei os miolos daqueles imbecis que queriam me estuprar, aí sim, eu estuprei o chefe deles, hahaha. – Se referia ao seqüestro que sofreu, embora ainda não tivesse sido divulgada essa informação ao público, que por não ter essa informação, achou que se referia aos indigentes. - Bem, o quero dizer é que necrofilia é bem divertido, e vocês não imaginam como isso é estranho quando feito por uma menina, mas é ainda mais divertido. – Aquela transmissão feita ao vivo no meio da tarde era algo absolutamente ousado, não se sabia que tipo de barbaridades a garota poderia dizer, mas não deixava de ser um excelente serviço, já que o trabalho da imprensa realmente deveria ser transmitir notícias do modo cru, como elas são, sem sensacionalismo, sem censura. Milhares de pessoas assistiam atentamente àquilo, alguns sentiam-se perturbados com a simples visão da criança falando, ela falava tão alegre e empolgada, como se estivesse falando com os amigos sobre um vídeo-game novo que ganhou, sua voz soava tão inocente, seus olhos tão brilhantes e alegres, mas suas palavras eram exatamente o contrário. – Bem, eu sei que vocês querem ouvir a verdade vinda da minha boca, não é? E...
- Não gostaria de dizer o que pensa sobre estar internada nesse hospital psiquiátrico e se planeja sair ou ter algum plano? – A repórter perguntou, demonstrava total nervosismo, era estranho estar na presença da assassina.
- Sim. Eu sei muito bem que não há saída desse hospício maldito, onde o demônio e seus filhos andam com pés humanos. Bem, escrevi isso no meu caderno, sabe, uma poesia, eu a chamei de “Temporadas no Abismo”, fala sobre como é estar aqui, e gostaria de ler pra vocês. – Levantou, pegou seu caderninho mais ao fundo do quarto e levou até a grade, abrindo na página marcada com o lápis, estava escrito o título da poesia em letras grandes e legíveis.

.
- Sim, pode. – A repórter sabia a audiência que aquilo iria dar.

- Não há saída desse lugar amaldiçoado, onde o demônio e seus filhos ainda andam com pés humanos, e onde nenhum bem pode entrar.
Fecho meus olhos e escuto os gritos, sinto meu coração frio, eu não mais sinto. Remorso? Onde você está? É como estar no Inferno,e culpa não pode me tocar.
Apenas a dor se arrasta, o medo, o desespero e o terror, o desejo de sangue e a falta de amor.
Eu passei anos frios sem vida em um lugar vazio
Um lugar onde o bem e o amor não podem entrar
Onde não se sente nada e nada importa
Uma vida dura e o esforço mais doloroso
A dor constante de uma luta diária
A dor eterna de um esforço dormente
O amor não difere do ódio e nem do medo
Apenas endurece, escurece mesmo quando se abre a porta
Temporadas no Abismo, como se eu estivesse morta
Para a brutalidade indiferente em minhas mãos
Apenas por tantas Temporadas no Abismo.
Tá, é isso, eu não sou uma boa poeta, eu sou péssima nisso, mas acho que vocês entenderam o que quis dizer. Esta minha poesia se refere ao sofrimento ou à ausência de felicidades que leva as pessoas a dois caminhos. Esses caminhos são o mal ou a evolução, às vezes, os dois, no meu caso, escolhi os dois caminhos por ausência de felicidade. Se estavam tentando me entender quando ligaram suas TVs, agora entendem, eu escolhi matar porque isso me dá prazer, já falei isso dezenas de vezes, mas parece que ninguém entende. Quando mato, sou feliz, então nada mais foi do que meu modo de terminar minhas infelizes “Temporadas no Abismo”, eu só quero superar a infelicidade constante em minha vida, eu só quero ser feliz. Será Que não tenho esse direito? – Sua voz soou bastante dramática quando entoou seu poema, suas últimas palavras nem tanto, mas levariam quem ouvisse a ficar pensativo, como uma forma excêntrica de reflexão.

“Então, sua puta, você está virando uma celebridade? Matou meus amigos, matou meu primo, matou minha namorada, você vai pagar caro, ficar aí nesse hospício o resto da vida não serve, é muito pouco, você tem que sofrer, nas minhas mãos, eu quero, eu vou. “– Salomon pensava sozinho de frente a uma televisão de uma loja de eletrodomésticos. Desde o massacre da sua gangue, ficou sem ter para onde ir, já que o cinema abandonado era seu lar, não poderia ter denunciado o acontecido, pois era um marginal culpado de diversas mortes que teria problema se fosse identificado, e muito poderia morar entre os cadáveres ou consumi-los, se alguém entrasse lá, o que certamente não aconteceria, mas ainda seria possível, ele iria ser culpado por todos os assassinatos e iria para a cadeia tão rápido que não poderia dizer sua defesa. Quando os encontrou lá, e sem a garota, no mesmo dia em que morreram, soube o que aconteceu, mas não conseguiu entender como ela poderia ter matado todos sozinha, supôs que tivesse sido resgatada, o que realmente aconteceu, mas o sentimento vingativo que se desenvolveu era exclusivo para Camilla, não importa quem fossem os outros, era ela, ela que ele queria, a garota que destruiu a Jigokomo e sua vida atual. Psicologicamente insano poderia ser um perigo, ainda mais que, diferente da inimiga, ele não era uma pessoa fria, apenas loucas, um maníaco, não do tipo de psicopata sem sentimentos guiado por emoções mal pensadas. O obsessivo desejo de vingança o deixaria mais louco do que já era, e poderia fazer uma loucura ainda maior do que as antigas, um mar de insanidade.


Ela dormia tranquilamente em seu lugar, com a cabeça virada para baixo, usando os braços como apoio, o doutor Hiroya observava atentamente pelas câmeras, embora ela não mostrasse nenhuma reação, o psiquiatra buscava encontrar algum tipo de comportamento durante o sono, mas nada acontecia, imaginava que talvez a criança fosse se levantar, tirar um tijolo falso da parede e fugir por um buraco secreto, ou qualquer coisa parecida. Ficava pensando compenetrado no significado do poema da assassina, “Temporadas no Abismo”:
“Ela está aqui porque quer, ela fez o poema porque queria deixar um aviso. Ela quer algo, Temporadas no Abismo significa alguma coisa, tempos de sofrimento que podem mudar uma pessoa. Um abismo, um local escuro. Temporadas, tempos, abismo poderia significar o hospício, o tempo aqui no hospício, mas ela não está sofrendo, isso só faria sentido se esse período de sofrimento não fosse pra ela. Mas como ela foi presa por vontade própria, é totalmente provável que essas temporadas no abismo sejam seu objetivo, sim, ela quer transformar o sanatório em um Inferno onde o sofrimento irá reinar, e ela se divertirá completamente, uma espécie de paraíso sádico, sim, é isso que ela quer, mas não posso deixar.
Acabou adormecendo, às 2 da manhã, estava cansado, os últimos dias haviam sido realmente corridos, tratar da executiva era a coisa mais trabalhosa que já tinha feito na vida, e realmente se preocupava com isso, o caso de sua vida, e sem dúvidas, o maior caso da história japonesa de psiquiatria. Portanto não estava assistindo às fitas de segurança, mas o vigilantes viam tudo na sala de segurança, que mostrava cada quarto, precisavam de 11 deles, que vigiavam cada quarto naquele local, cada um responsável por vigiar mais de 10 quartos, exceto um deles que ficava responsável por vigiar os corredores, não era nada barato manter a segurança naquele hospital, mas era necessário, aquilo era simplesmente o lar dos piores maníacos do país, não podia haver qualquer tipo de mão fechada para trancar os monstros direito.

No dia seguinte, acordou cedo com o barulho do despertador, às 5:30 da manhã. Tomou um banho no banheiro da sua sala/dormitório, e foi logo falar com a garota, que de acordo com as câmeras de segurança, estava conversando com alguém, quando chegou lá, ouviu o que ela gritava, com a cabeça encostada na grade, para uma pessoa que estava a 4 celas de distância:
- Então tudo aconteceu por que você era nerd?
- Você não entende! Nós nerds desenvolvemos a ciência e tecnologia que dá conforto para esses filhinhos mamãe, marginais, bonitões, vagabundos filhos da puta que se acham os fodões, e mesmo assim nos tratam como se fossemos lixo, mas nós somos os fodões, o mundo sem nós seria uma merda. – Miyazaki mostrava toda sua revolta em sua voz, o homem que havia sido conhecido como “assassino nerd” e “assassino otaku”, Drácula, além claro, do mais conhecido título, “assassino da menina pequena”, a cela dele era diferente da de Camilla apenas por não ter a abertura para a comida a altura dos braços, a abertura ficava quase no teto, na porta, bem alta, e as refeições eram colocadas por pratos de plástico embalados, que eram jogados lá dentro, sem derramar a comida graças ao plástico.
- É verdade, não é? Por que as garotas acham que rappers que falam gíria e que fumam maconha são melhores que nerds que estudam ciências? Senhor Miyazaki, se você tivesse minha idade eu te pediria em namoro, você merece, e o melhor de tudo, você me entende.
O psiquiatra fico parado no corredor, pouco antes da cela do assassino da menina pequena, e bem mais longe de Camilla, que estava mais à frente, ele deveria chamá-la, mas ouvir a conversa entre os dois assassinos mais famosos do hospital seria algo muito útil, poderia entender o que pensavam com maior facilidade, já que trataria apenas de ouvir o que diziam espontaneamente um pro outro, diferente de como seria em um interrogatório, e isso permitiria que mais informações sinceras fossem coletadas.
- Doutor, por favor, não leve ela pra lugar nenhum, é uma garota adorável, traz ela pro meu quarto. – Se virou pro médico, com o olhar assustado, os olhos de uma pessoa louca e instável.
- Você a estupraria e a mataria, ou ela te mataria e te estupraria, exatamente nessa ordem. – A frase parecia ter algum tipo de humor negro, mas não tinha.
- Não, eu também gosto de necrofilia, mas eu não a mataria, ela é legal, eu não vou matar uma menina tão legal.
- Mi. – Já o tratava com um apelido carinhoso. – Eles nunca deixariam, eu falei que te namoraria na minha idade, mas não quer dizer que não faria o mesmo com você nessa idade que tem hoje, mas aí eu ia preferir morto, você sabe como eu sou.
- Sim, eu sei, criança. – Ele sorriu como um homem apaixonado
- Não me chame de criança. Me chame de executiva.
- Camilla, eu quero falar com você, poderia vir?
- Claro. – Nem parou de olhar para Tsutomo, apenas respondeu, observando o seu “quase namorado” com seu já conhecido sorriso sarcástico.
- Coloque as algemas e garanta que estão presas, tentando abrir os braços, você sabe como. – Pegou algemas no bolso e pôs lá dentro com o maior cuidado, pela entrada da comida, aquilo também tinha outras utilidades.
Ela se virou, olhando rapidamente nos olhos do seu anfitrião, abaixou-se e pegou as algemas, prendendo as próprias mãos e depois tentando abri-las, cruzadas nas costas, é claro, pra mostrar que tava presa mesma. Nesse momento, dois guardas passaram segurando um adolescente cabeludo algemado, que permanecia sério, mas calmo o tempo todo, mas quando passou pela cela de Camilla, disse com a voz um pouco rouca, parecia ter aspirado muita fumaça:
- Lembra de mim?
- Claro, Salomon. O que tá fazendo aqui?
- Botei fogo nas crianças de um orfanato, morreu um monte. – Ele disse, os guardas pararam do lado do psiquiatra, com o prisioneiro sob controle.
- Doutor, esse moleque, Salomon Nishiyama, botou fogo mesmo em um orfanato, com um lança-chamas, 8 crianças morreram, ele disse que fez isso porque essa era a vontade de Satã. Ele tava rindo feito louco, e disse que não importava se morresse ou fosse preso, ele cumpriu sua missão e terá um bom lugar no Céu quando Satã dominar o paraíso.
- Mais um satanista maluco? Isso tá ficando irritante, parece que esses maníacos não tem idéias melhores. Mas você é da família do garoto que a Executiva matou?
- Cale a boca pra falar de Satã, seu viado! – O garoto grunhiu com raiva, mostrando os dentes como um cão hidrofóbico. – Sim, sou primo dele. – Isso ele falou um pouco mais calmo. – Virou o rosto para Camilla, que assistia a risos. – E você, sua vadia, vai pagar. – Grunhiu de novo.
- Também te amo, Salomon. – Camilla mandou um beijo no ar, sem as mãos, já que estava algemada.
- Tá bom, leve ele pra o Akane examinar, estou ocupado. – O psiquiatra ordenou, e fez um gesto de “xô”.
- Sim senhor. – Eles concordaram e foram andando com o criminoso.
- Eu vou te matar, palavra de Salomon Nishiyama. – Já se distanciava, os guardas o levavam para longe, disse virado pra ela, pra trás, mas logo voltou a olhar pra frente, não demoraria muito para ser levado para uma cela.
- Ótimo. – Ela sorriu mostrando os dentes, sempre extremamente sarcástica.
- Foi ele que te sequestrou?
- Sim, um deles, um dos sobreviventes, deve estar bravo pelo que fiz aos amigos deles, mas mereceram.
- Ótimo, esquecendo esse assunto, agora vou te libertar. – Ele sacou a arma que levava para auto-defesa, uma Micro Uzi, poderia atirar rápido o bastante pra derrubar metade dos loucos daquele hospício, segurou-a na mão direita, e abriu o cadeado da cela com a chave que pegou na esquerda, a fechadura era pequena e cheia de detalhes, não podiam se dar ao luxo de ter uma fechadura fácil de abrir. Abriu a cela com certo receio, apontando a arma para a garota, que se levantou e andou, ele deu passos para trás a medida que ele ia, mas a menina parou dois passos após a saída, enquanto Hiroya apontava a arma, sempre com medo do que ela podia tentar fazer.
- Você é um idiota. – O nerd gritou de sua cela para o psiquiatra, mostrando seu dedo médio, mas ele não virou o olhar, isso seria algo imbecil, como dar as costas para um leão. – Camilla não deixe esse cu te dissecar, você é única e perfeita demais pra mostrar tudo que tem pra um lixo desses. – Olhou para a menina, mudando o tom para algo simpático.
- Vamos Camilla, tenho que falar com você longe dele. – Ignorou as palavras do nerd matador. – E foi empurrando a menina pelo corredor, com a arma, mas sem tocar.
- Ah claro. – Ela disse sorrindo e andando, mas fez um grunhido estranho logo em seguida.
- O que você tem? – Continuou “guiando-a” para o fim do corredor, para sua sala, para que fosse examinada.
- Eu não sei, estou enjoada. – Caiu no chão de uma vez e bateu a cabeça, desmaiando na hora.
- Droga, o que você fez? – Tentou levantar a garota, realmente estava desmaiada.
- Camilla, Camilla. O que esse idiota fez com você? O que você fez com ela, seu desgraçado, eu vou te matar e estuprar seu cadáver! – Tsutomo viu a cena, gritou que nem louco, furioso, alto, sem controle.
- Vou ter que te levar pra enfermaria, mas vou garantir que não vai ter modo de você fugir, você não vai fazer suas temporadas do abismo no meu sanatório, não, não vai. – Falava como se ela realmente pudesse ouvir, ignorou totalmente o homem que gritava insultos e ameaças, não poderia e nem deveria responder nem mesmo com um “não foi minha culpa”. Levou a garota nos braços até a enfermaria, com ajuda de um dos vigias que logo o acudiu, morrendo de medo dela acordar o tempo todo.
Foi levada à enfermaria, na verdade era uma área com alguns quartos com 3 camas em cada um, médicos e enfermeiras divididos entre eles, dependendo da necessidade de cada paciente, dentro dos quartos ele seriam cuidados, em casos de doença, e também em alguns tipos de testes, a equipe incluía profissionais de várias áreas, incluindo neurocirurgiões. Todas as pessoas tratadas eram algemadas para garantir que não fizessem nada contra os médicos, enfermeiras ou qualquer pessoa que passasse por perto, com a menina não foi diferente, apertadamente presa à cama. O doutor a deixou lá e foi cumprir outras responsabilidades, o quarto onde ela ficou tinha outros 2 pacientes, quando mais pessoas melhor, não seria bom que ficasse sozinha com a única enfermeira que iria tratá-la, mas antes de sair deixou uma recomendação muito importante:
- Não acredite em nada que ela disser, não solte-a em nenhuma condição, e principalmente, não se aproxime demais, você deve estar acostumada, mas com ela é pior eu garanto.

- Por que você queimou o orfanato? – Akane perguntava na sua sala, parecia um consultório psiquiátrico normal, com uma mesa, um banco reclinável, cadeiras, arquivos, a única diferença é que o paciente ficava algemado.
- O chefe mandou. Satã, meu pai, o senhor do fogo. – Respondeu bem rouco, estava inquieto, olhava para um lado e pro outro, mesmo estando imobilizado, e parecia nervoso.
- Você fez um teste de QI na delegacia?
- Fiz, deu 110.
- Então apenas te farei um interrogatório.
- Que se foda. – Fechou os olhos, sua má vontade era grande, realmente grande.
- Então vamos começar.

- Eu te dou 1 milhão de dólares americanos se você me deixar sair desse lugar, você vai embora pra fora do país e não terá problemas mesmo que seja culpada por me deixar sair. – Camilla abriu os olhos após meia hora, falando baixo enquanto a enfermeira a examinava na enfermaria, claro que ficava presa na cama, totalmente algemada, imóvel, ela poderia se debater, mas mesmo o seu pescoço ficava preso à cama, pra garantir que não daria mordidas, e as mãos eram apertadas com o dobro da atenção, já que as unhadas dela não eram desejadas, podia ser uma garotinha, mas as partes pontudas não exigiriam muita força para causar uma morte ou danos graves. Sua voz era chamativa, mas baixa, saiu exatamente quando a mulher vestida de branco estava perto dela, se inclinando para segurar em sua testa e ver a temperatura, mas parou quando ouviu as palavras.
- Você não pode fazer isso. – Sussurrou no ouvido da menina, sentia medo em cuidar daquela criança doente, mas sabia que estava bem presa e não poderia fazer nada.
- Eu posso, só preciso de um computador ou notebook, do número da sua conta, então faço a transferência, você não precisará fazer nada, apenas me tirar daqui a me levar até onde estou pedindo.
- Sei que é apenas um truque. Acha que irei acreditar em uma assassina? - Ela demonstrava seriedade e incorruptibilidade.
- Acredita, sabe que tenho dinheiro, não sabe? Eu posso te dar o que quiser, você pode apontar uma arma para minha cabeça quando eu estiver fazendo a transferência de dinheiro. Olha, eu fui capaz de sair da cela e vir pra cá, tropecei de propósito, bati a cabeça pra desmaiar, batendo sem muita força, o bastante pra me fazer desmaiar, mas não pra me matar, claro, acordei e fingi ainda estar desmaiada, e agora estamos negociando, estou sendo sincera com você, não tem porque não ser.
- Não, eu não acredito que você tenha poder pra isso.
- Basta um telefonema, eu ligo pro meu pai, ele deposita todo o dinheiro, e você me solta, eu prometo que não vou te machucar, se não tem uma arma, use um bisturi, ai você foge, porque eu não irei te machucar, mas quanto aos outros, não posso dizer o mesmo.
- 2 Milhões de dólares, é esse o meu preço. – Ela cedeu, já imaginava o que faria com todo o dinheiro.
- Tem celular para ligar?
- Tenho.
- Ei, eu quero ir no banheiro, posso? Me acompanha? – A menina falou em voz alta, e a enfermeira foi cuidar do paciente do lado esquerdo, no centro, Camilla estava na cama mais à direita, o homem estava lá por ter tentado se matar com um garfo no estômago em um acesso de loucura.
- Não, eu não vou cair nessa, o doutor disse que eu não deveria acreditar em você, ele sabia que você ia tentar alguma coisa, garotinha, e eu sei muito bem do que você é capaz, se eu te deixar fora daí um segundo que for, eu morro. – Pensou um pouco mais e chegou à conclusão, seria suicídio tirar aquele demônio de sua prisão, mesmo por 2 milhões de unidades do dinheiro americano mais usado no mundo.
- Já pensou que eu poderia ter planejado toda essa loucura e poderia estar prestes a fugir e te matar?
- Sim, mas eu estou armada. – Tirou uma Glock da cintura. – Você acha que alguém nesse lugar trabalha sem arma?
- Quem sabe, não adianta estar armada, meu QI é alto, é 202, você é uma idiota. Aliás, de quanto é seu QI?
- Aliás devo te tirar daí agora, já está curada de seu acidente proposital.- Terminava de conferir o curativo, a temperatura e o pulso do homem, que com certeza sobreviveria, mas ficaria com uma marca enorme na barriga, foi até um armário no quarto e pegou um seringa descartável que já vinha com líquido e agulha. – Olha, isso aqui vai te botar pra dormir, quando acordar, já estará na sua cela. – Falou sarcasticamente, se preparando para furar a criança.
- Vagabunda, você me paga, poderia ter ficado rica.
- Mas vou continuar viva. – Sorriu, e injetou o líquido no braço da garota indefesa, que adormeceu na hora, em algumas horas acordaria na sua cela, totalmente presa e dolorida.

- Camilla, finalmente você acordou, eles te doparam feio dessa vez. – Tsutomo falou atrás de sua grade, sorrindo, realmente tinha se apegado a ela.
- Mi, você nunca pensou em fugir desse buraco? – Ela se levantou após abrir os olhos, era a noite do dia seguinte, ela havia ficado dopada um dia inteiro.
- Todo dia eu penso nisso, mas como? Não tem como, a gente fica algemado o tempo todo, as grades garantem que não coloquemos nem um dedo em quem está fora, não temos qualquer meio de comunicação, isso aqui não tem saída.
- Tem que ter, tem que ter, eu não quero ficar aqui pra sempre. Eu tenho que matar de novo, eu quero matar, Mi. Você não quer também?
- É, eu quero muito matar, faz tempo que não mato, eu preciso matar. – Sorria como o maníaco que era, meio infantil.
- Vamos fugir, eu tenho um plano. – Ela virou o olhar rapidamente pra câmera do quarto cela.
- Conte-me, conte-me que eu também quero fugir e matar muito.
- Espere, eu estou pensando nisso, essas grades, as algemas, é tudo muito difícil, só tem uma maneira de fugir.
- Qual?
- Essa. – Se jogou contra a grade com toda a força, sentiu bastante dor quando seu corpo colidiu violentamente, sem causar nada mais do que uma vibração no metal.
- Não, você não vai conseguir derrubar as grades com o corpo, não vai! – O louco batia as mãos nas grades com força, mas estava enganado.
- Sim, eu vou, eu vou, eu vou... – Repetiu várias vezes, enquanto se jogava mais e mais vezes nas grades, esfolando rapidamente o ombro direito, com o qual batia no metal, parecia doer bastante, mas ela nem se importava, até ria enquanto falava, tinha tomado aquela expressão de insanidade absoluta, definitivamente aquele hospício era o lugar que merecia.
- O que ela tá fazendo? – O vigilante de corredor que ouviu os gritos correu até de frente à cela da menina, que acabaria morrendo se continuasse daquele jeito, o chão e as grades já estavam manchados de sangue . Ele ficou nervoso com a situação, totalmente repentina, teria problemas se deixasse ela se matar sem fazer nada, sacou sua arma, uma Taurus exatamente igual à que a menina usou em seus crimes, abriu a grade à chave logo após de uma das colisões da menina, tentou agarrá-la, mas ela acertou tão rápido o pescoço do homem, que ele desmaiou na hora, aquele era o segredo de sua efetividade mortal, tinha uma força muito avançada para alguém de 10 anos, uma velocidade de golpes absurda pra qualquer idade, e o pior de tudo, tinha conhecimento pleno de exatamente onde acertar. Outros 2 guardas vieram correndo, ela pegou a arma do desmaiado e apontou em sua cabeça, gritando bem alto.
- Agora, parem ou eu atiro.
- Se entregue, ou nós atiramos.
- Tenho uma idéia melhor, vocês me deixam em paz e ficam vivos. Eu estou com a unha na veia do pescoço dele, é só eu apertar que ele morre. Vocês não querem isso. Querem? Não façam nada. – Mostrou a unha afiada sobre o pescoço do infeliz, eles não havia sido inteligentes o bastante para cortar suas unhas quando a internaram, talvez tivesse sido a falta de contato físico, eles sempre evitavam tocar nela ou chegar muito perto, cortar as unhas seria do mesmo jeito, assustador.
- Você não nos obrigue a matá-la. – Eles apontavam as armas e se aproximavam discretamente, certamente tentariam pegar a arma das suas mãos.
- Ah, está certo, isso não vai dar certo mesmo, não tem como fugir daqui. – Jogou a arma, que deslizou além dos guardas, os dois se viraram e abaixaram pra pegar, eles ficaram de costas por pouco tempo e sem abaixar suas armas, foi praticamente um reflexo, uma reação instantânea, mas a garota se jogou tão rápido sobre eles, que nem conseguiram ser rápidos o bastante para deter as palmadas que levaram na parte de trás de seus pescoços, caíram na hora, mais uma vez, a técnica mortal e certeira da menina funcionava. – Opa, vamos ver. – Enfiou as mãos nos bolsos deles com bastante pressa, o tempo até chegar mais gente para detê-la acabaria logo, achou chaves lá dentro, pegou uma arma, e foi abrir a cela de Tsutomo. – Querido, pegue a outra arma, vamos matar quem tentar fazer qualquer coisa contra nós, e então libertar os outros, estamos nos rebelando. – Abriu sorrindo.
- Obrigado. – Ele sorriu de modo como nunca fez antes, nem mesmo em sua infância, correu até um dos homens desmaiados e pegou sua arma, que estava à mostra.
Ela depois correu para abrir outra cela. – Atenção, eu sou Camilla e sou a rainha dos assassinos, estamos em guerra contra esses malditos que nos prenderam, e se quisermos sobreviver, temos que matar todos eles, mas juntos, como uma grande equipe que se entende. – Gritou com sua voz mais estridente, para que todos os loucos ouvissem, abria a cela de uma mulher ruiva, que saiu correndo, pegou a arma que restava e deu um tiro em cada um dos homens caídos.
- Meu nome é Justine Nakayoshi. – Falou, dando uma batida com a arma na parede.
- Ótimo, bonito nome. – Camilla abria mais uma cela, o prisioneiro dormia profundamente, mesmo entre os gritos dos loucos animados que em couro cantavam:
- Executiva, Executiva, Executiva!”
- Amigos, peguem as outras chaves e vão libertar os outros, digam a eles que devemos estar unidos e que devem pegar as armas de quem matarem, assim poderemos escapar daqui. Nós os internados iremos prevalecer! E ninguém mata o Hiroya! Ele é meu. – Deu a ordem, como uma grande libertadora, os novos conhecidos fariam o mesmo, e passariam as ordens pra frente, aquela era uma grande revolta, e seria uma batalha violenta e doentia, liderada por Camilla Hitokaze, que daria ordens aos loucos, e mataria outros que não obedecessem.

Logo, enquanto a garota corria no tiroteio, lutando pra sobreviver, viu uma pessoa que não conhecia abrindo a cela de um garoto cabeludo, Salomon Nishiyama, que saiu correndo da cela, na direção dela.
- Eu vou te matar!
- Cale-se. – Atirou no pênis do infeliz, que caiu no chão, dando dezenas de gritos impressionantes, deu um tiro em cada mão do garoto, que gritou mais, e voltou ao tiroteio.
- Sua desgraçada. – Gritou com todo o ódio que tinha, mas foi deixado pra trás, e continuo repetindo a frase em gritos, ela sumiu de sua vista, e ele ficou lá, gritando sem parar enquanto sofria cruelmente, até um dos guardas passar por lá e estourar seus miolos, um “feliz” golpe de misericórdia, morreu que nem o primo, castrado.

O doutor Hiroya não chegou a ver nada, estava tomando banho, coisa que não fazia todo dia por achar desnecessário, só tomava quando estava fedorento, suado, ou incomodado com a própria sujeira, era sempre no banheiro da sua sala especial, um verdadeiro excêntrico, e no banheiro não tinha nenhuma TV para assistir aos pacientes, mesmo ele, tinha que ter um momento sem trabalhar, mas desligou o chuveiro assim que ouviu barulho de tiros e gritos que surgiu do nada, a catástrofe já tinha alcançado os corredores próximos a ele, saiu rapidamente do banheiro, se vestiu, pegou sua Micro-Uzi e saiu do quarto, se encontrando com um guarda de rosto desfigurado e um assassino com o coração atravessado por bala no chão, além de dois serial killer correndo pelo corredor, Camilla estava de pé, encostada na parede, com a arma apontada para o doutor, riu com o maior sarcasmo que poderia ter um dia.
- Doutor, não vê? Já falei pra todo mundo que não é pra fazerem nada com você, você é meu.
Ele não falou nada, e tentou apontar a sua Uzi para a garota e atirar, mas sentiu sua mão ser atravessada pela bala da Taurus da garota, exatamente o mesmo modelo de arma usado contra Nida dias atrás. A dor era aguda, e seu coração parecia estar embaixo de uma prensa esmagadora, de tanto medo, agora estava à mercê da Executiva, podia ser qualquer um, mas não ela, logo ela, e ela definitivamente o odiava, ou fingia muito bem, além claro, era “A Executiva”, a pior parte. Ela pegou a arma que caiu no chão, e colocou dentro da calcinha com rapidez, o psiquiatra só conseguia gritar e apertar a mão perfurada com a mão saudável, tentando parar o doloroso sangramento, Camilla manteve a Taurus em mão, mas essa arma ela só guardaria na cintura, como uma pessoa normal.
- Temporadas no abismo, meu próprio abismo, eu vou me divertir tanto, esse é meu próprio Abismo, e eu sou Satã! – Se sentou no chão, rindo, enquanto pessoas morriam dos outros lados, guardas atiravam, maníacos atiravam e roubavam.
- Então você conseguiu! Como?
- Coloque as algemas, peguei especialmente pra você. – Tirou algemas da calcinha, certamente tiradas de alguém que matou na tomada do hospital, e jogou para o homem, que pegou com a mão inteira, suando frio.
- Como você fez isso? Como? Isso aqui deveria ser à prova de fugas! Como? – Ele falava com raiva, mas o medo era muito maior, era como estar no Inferno, no Inferno com todos os demônios existentes, além da dor intensa.
- Tá doendo, é?
- Eu vou te contar, isso é divertido, eu fingi que ia me matar. – Levantou o ombro, mostrando todo o sangue na roupa e algumas partes das escoriações profundas na carne. – Aí o cara parece que ficou nervoso, eu não o matei, mas acertei tão rápido no lugar que dói que ele desmaiou, foi muito engraçado, eu tava excitada, mas não vem ao caso, os outros caras vieram, peguei a arma do idiota, usei ele como refém, joguei a arma, os idiotas se viraram, por reflexo, claro, mas acertei o pescoço de ambos antes que pudessem se virar, desmaiaram, peguei a chave, libertei todo mundo, e pronto, eles foram libertando e matando, quem não colabora comigo morre, eu sou a mais inteligente, rápida e esperta de todas e estou armada. Agora coloque as malditas algemas, eu prometo que não vou te matar nem te torturar, a menos que você faça algo errado.
- O que planeja, sua maníaca? – Deu dois passos pra trás, segurando a algema sem usar, não usaria, seria estupidez.
- Ok, acho que não vou te convencer a pôr isso.
Gritou bem alto em seguida:
- Mi, vem cá!
- Que merda você tá fazendo?
- Espera, não se mexe, eu não posso fazer nada contra você, mas o Assassino da Menina Pequena pode.
Miyazaki chegou correndo, com a arma apontada para frente, dois homens viam atrás dele, mas esses passaram direto:
- Executiva, o que foi? - Parou do lado dela.
- Bate nele pra mim.
- Como quiser. – O nerd se preparou para dar um soco no psiquiatra, dando impulso, mas recebeu um soco do homem antes, na barriga, quase caiu, segurou no pescoço do adversário e tentou estrangulá-lo, mas levou dois socos que o fizeram se soltar, porém, Camilla se aproximou e deu uma coronhada no pescoço do ocupado médico, que desmaiou na hora, sempre no local certo.
- Mi, você fez um trabalho horrível. – Olhou triste para o pedófilo.
- Me desculpe, é que eu sou nerd, eu não sou forte. – Ele parecia uma criança levando uma bronca.
- Ok, vai, carrega ele lá pra dentro. Você consegue? – Piscou, passando a língua nos lábios.
- Aguento, claro que eu aguento. - Se agachou e levantou o homem com toda a força que tinha, não era muito, mas o psiquiatra fanático não era pesado, era muito magro, isso sim, não comia e nem se exercitava, o que o deixava fininho e leve, conseguiu deixá-lo em uma cadeira lá dentro, mas se esforçou tanto que caiu no chão após deixar a “carga” lá.
- Ótimo, agora basta eu algemar o desgraçado. – Pegou as algemas que o psiquiatra deixou cair no chão durante a briga, posicionou os braços do homem nas costas e o algemou à cadeira. - Eu quero uma corda será bem melhor. – Se virou para o ajudante.
- E onde eu vou arranjar uma corda?
- Arranje, e feche a porta quando sair, irei trancar. – Apontou pra fora, a chave estava enfiada do lado de dentro da fechadura.
- Ok. – Ele saiu pela porta correndo, foi procurar em qualquer lugar o utensílio pedido.
Camilla foi até a porta, a fechou, e trancou com a chave, guardando dentro da calcinha, como sempre fazia.


- Hahahaha, vamos todos cantar, vamos, morram suas vadias nada refinadas, morram. – Justine estava na cozinha, os cozinheiros estavam todos no chão, era uma equipe de 10, 8 deles estavam mortos com tiros no coração, e 2 tentando rastejar, sangrando sem pés nem mãos, Justine segurava um facão em uma mão e uma arma na outra, chegou atirando, matando todo mundo, e deixou 2 apenas feridos, para poder se “divertir” um pouco, cortou suas mãos e seus pés para impedir que se defendessem, e ficou rindo enquanto eles agonizavam indefesos.
- Eu gostaria de te contar minha história, ninguém liga pra ela, sou subestimada como assassina. Ah, querem saber? Não escutem, desgraçados. – Narrava com sua voz forte, que soava rebelde em todos os sentidos.
Um dos fugitivos entrou de repente na cozinha, espumando, ia em direção à ruiva, mas ela arrancou a cabeça dele com o facão ,quando ele se aproximou, era estúpido e não tinha controle o bastante pra vencer a linda mulher em uma briga, um assassino retardado sem noção de realidade. – Ah, deixa pra lá. – Desistiu de contar sua história, que certamente não era algo bonito de se ouvir, se aproximou devagar de um dos sobreviventes, se abaixando do lado dele, com a faca na mão, a pessoa não tinhas forças pra gritar, quase morta. – Agora eu vou te decapitar, em nome de meu pai Satanás. – Arrancou em um só corte a cabeça do pobre cozinheiro, atravessando seu pescoço com a faca como se fosse feito de papel, a força que tinha era impressionante, cortou com facilidade. Deixou o objeto cortante no chão, correu para a pia no canto de trás da cozinha pegou uma garrafa de água de 3 litros que estava em cima dela, jogou o líquido fora, e a encaixou na jugular cortada da pessoa, que soltava muito sangue, assim, teria a garrafa com certa quantidade do líquido. Depois foi ao outro sobrevivente, que na verdade a essa altura já estava morto, mas continuava sangrando, colocou a boca no pulso esquerdo cortado, e sentiu o sangue escorrer pra dentro de seus lábios. – Sangue fresco, ah, tão maravilhoso . – Bebia, lambia, se lambuzava, ficando com a boca, o queixo e o pescoço totalmente sujos. - Meu banquete. – Disse enquanto enfiava fundo a língua na mutilação e bebia, ainda demoraria muito para sair dali.

Era uma mistura de gritos, pancadas, tiros, choros, palavras, conversas, gemidos, corriam pelos corredores, outros fugiam para fora, corriam pela rua, pulavam os muros, quebravam as cercas elétricas, uma baderna inconcebível, alguns deles, ainda presos, gritavam ainda mais alto e batiam em suas grades até as mãos sangrarem, alguns se matavam, descontrolados, sem organização, atirando uns nos outros. As pessoas podiam ouvir aquilo de longe, e aqueles homens e mulheres com mentes doentias correndo chegavam cada vez mais perto, ao invés de seguirem as regras de sua libertadora, dominando o hospital, preferiam fugir. Com todos os anos presos ali, ficavam ainda mais loucos do que quando foram internados, pelo menos a maioria deles. Porém, nem todos agiam assim, alguns fugiam discretamente, andando como pessoas normais, sem gritar, tranqüilos, esses eram mais espertos, pegando o ingresso para a liberdade da maneira certa. Uma mulher ligou para a polícia de seu celular, enquanto fugia de um dos fugitivos que corria com um rodo na mão, com a intenção de espancá-la até a morte, ela estava totalmente amedrontada. Era um retrato do perfeito, e totalmente óbvio para os moradores dos arredores:
O Hospital Psiquiátrico Oku foi aberto.
- Socorro, os loucos do Hospício Oku fugiram, eles vão acabar com a gente, venham agora, por favor! Aaaaaaaaaaaaah! – Largou o celular quando levou uma paulada na cabeça, caiu no chão tonta. – Não, para com isso. – Desesperada cobriu a cabeça com os braços, gritava enquanto recebia as pauladas e protegia com o braço, acabaram quebrados, e logo o alvo foi sua cabeça, causando sua morte após a quarta pancada, o maníaco espancador tinha uma força impressionante, e além de tudo, o celular se quebrou ao cair a uma velocidade acelerada.

O coração do delegado se arrepiou como nunca antes quando atendeu aquele telefonema, não teve chance de falar nada, pois a ligação caiu antes que pudesse. O medo era intenso, aquela era a pior notícia que poderia se receber, mas antes de mobilizar todos os seus homens, teria que fazer algo. Pegou o celular pessoal e ligou para Hiroya Oku.
Camilla ouviu um som vindo do psiquiatra amarrado, um toque de celular, pegou-o de seu bolso, leu o nome de quem ligava, Delegado Toshio, atendeu, e falou com voz forçada rouca:
- Alô?
- Alô? Hiroya?
- Não, Miyazaki Tsutomo, o Assassino da Menina Pequena. Camilla Hitokaze nos libertou, e agora somos livres, e agora só resta diversão. Segure os homens dela se conseguir.
- Camilla? É você? Eu vou pegar vocês todos, seus desgraçados irão todos morrer, devia ter aproveitado sua doença mental pra continuar viva! – Desligou o celular na hora, não tinha tempo pra ficar falando no telefone, teria que fazer algo logo, de qualquer modo, a voz fajuta dela não ficou boa e nada convincente. – Todos, escutem agora! A Executiva conseguiu fugir e libertar todos no Hospício Oku, todos os doentes do Japão estão soltos na cidade! Estão livres! E nós vamos precisar de reforços, muitos reforços! E a ordem é uma só: matar todos! – Se virou e declarou a gritos para todos na delegacia, estava muito irritado e amedrontado, mas teria que fazer um bom trabalho policial se quisesse que Tóquio continuasse com habitantes vivos.

- Voltei. – A Executiva ouviu a voz gritando na porta enquanto enfiava um trapo molhado dentro da boca do doutor Hiroya, era o Assassino da Menina Pequena, foi até a porta, destrancou e abriu, então o homem entrou e caiu no chão, segurando uma corda bem longa.
- Não consegue se agüentar de pé. Por que demorou quase meia hora pra voltar? Eu tive que ficar maltratando esse infeliz com esse maldito pano em que urinei, fiquei enfiando e tirando na boca dele, ele parece odiar, grunhindo e tentando me xingar, mas não conseguiu nada. – Fechou a porta e trancou de novo, com a expressão decepcionada no rosto, deu a mão pro coitado se levantar, e ele se ergueu com sua ajuda.
- Foi difícil de achar, esse Inferno é muito grande, e é fácil se perder. Um filho da puta começou a me bater, dei um tiro nele, mas me machucou, ele acertou minha barriga, não sei como ainda estou de pé.
- Amor, você é muito mole. – Abraçou-o, mas logo se soltou e foi correndo pro médico desmaiado, e começou a amarrá-lo na cadeira, com um grande sorriso no rosto.
- Eu sou nerd, você sabe, você disse que gostava de mim mesmo assim. – Ele se sentia um pouco inseguro, desde sua infância, tinha essa grande insegurança quanto às mulheres.
- Eu sei, amor, não é um problema pra mim, mas estamos em uma guerra, você tem que ser duro, senão vão acabar te matando. Como que tá lá fora? – Falou sem virar o rosto, ocupada em dar bons nós no psiquiatra, que deveria ficar totalmente imóvel.
- A maioria foi embora, e alguns ainda tão presos, só vi que a ruiva gostosa ficou na cozinha cortando um cara, e que o velho careca estava comendo um cadáver.
- Qual é o nome do velho? E da ruiva?
- Não sei o do velhote, mas a ruiva é Justine, eu acho.
- Ah sim, a Justine, eu simpatizei bastante com ela. Faz idéia de qual foi o motivo pra ela ter sido presa? – Ainda amarrava, demoraria um pouco pra terminar, queria prender o homem com o máximo de eficiência.
- E ela é linda, só não é mais bonita que você. – Se sentou na poltrona e fechou os olhos, como se fosse relaxar.
- Olhe, aqui, só tem eu e você, e esse infeliz do dono desse buraco. Certamente os outros mataram todos os outros, mas eu tenho ele em minhas mãos, o idiota que disse que eu era louca no meu primeiro ano escolar, esse idiota que manda aqui, que me algemou e tentou me dissecar. Eu só preciso dele, ele irá sofrer mais do que qualquer outra pessoa na história, agora eu irei me divertir verdadeiramente como nunca. Serão Temporadas no Abismo, é sobre isso que falei na minha poesia declamada em rede nacional, as Temporadas no Abismo hoje serão para o nosso querido Hiroya Oku, não será mais do que algumas horas, no máximo dias, mas como o tempo de sofrimento passa mais devagar, eu posso supor que essas horas parecerão anos, ou mais, quem sabe, irá doer demais, irá ser bem ruim. – Ela terminava de amarrar, o admirador apenas escutava com atenção. – Mas eu sou justa. – Se sentou do lado dele na poltrona, que colocou o braço em volta de seu ombro. – E não deixarei que ele morra tão facilmente, sem culpa, covardemente, ele deve morrer pela própria fraqueza ou culpa, ele terá a chance de se salvar, mas ele não vai conseguir, e vai morrer dolorosamente, e a graça disso é que ele saberá que morreu pela própria culpa e falha, e morrerá com o sentimento de um verdadeiro perdedor fracassado.
- Camilla, sabe o que penso sobre o motivo para sermos assim? Esses psiquiatras idiotas ficam o tempo todo tentando descobrir, mas pra mim é simples.
- E o que é?
- Depende do caso, mas tem uma base. As pessoas são infelizes quando são privadas de felicidade, a infelicidade é a falta de alegrias. o mal é a ausência do bem, e a ausência da felicidade é a semente do mal.
- Você é sábio, Mi, é exatamente isso, todo o mal vem da ausência do bem, portanto, todo sadismo vem da ausência de alegrias, ou sofrimento, dá no mesmo, a ausência do bem que molda uma pessoa má, exatamente isso. E de certo modo, mesmo no meu caso, que tive tudo que precisava, ainda é aplicável, porque eu não era feliz, e a única coisa que me deixa feliz é ver os outros sofrerem, e quando descobri o prazer da necrofilia então... Enfim, felicidade é estar acima dos outros, nada pior do que ver todos felizes e você sem nada. – Fez uma pausa, pensativa. - Mi, quer meter em mim? – Camilla passou a mão no pênis dele por cima da calça, ele deu um sorriso safado, enquanto sentia seu volume aumentar, para um pedófilo, aquilo era como um presente do céu, colocou a mão no pescoço dela, e foi devagar aproximando seus lábios, com ela seria especial, a amava verdadeiramente, mas se afastou repentinamente quando alguém começou a bater com força na porta.
- Abre, abre, abre, agora, eu sei que você tá aí, chefa, quero falar com você! – Era a voz de Justine, bem estridente e alta.
- Porra, logo agora! – O pedófilo se levantou, com raiva, bateu no braço da poltrona com força, mas não tinha muito disso.
- Calma Mi, não faz mal que ela entre, eu quero que ela entre. – Tirou a arma da calcinha e apontou pra porta. – Vá e abra, por gentileza.
- Tá. – “Mi” foi até a porta, destrancou e a abriu, com total má vontade. Justine entrou com o rosto totalmente vermelho, e parte do pescoço da mesma cor, além de ter bebido, se “pintou” com o sangue que deixou cair no chão durante seu pequeno massacre na cozinha, aquilo a divertia totalmente, caminhou em passos espaçosos até de frente ao sofá onde Camilla estava sentada.
- O que é essa pintura? Me excita. – Camilla apoiou as mãos atrás da cabeça, em posição de relaxar, olhando para a recém-chegada, enquanto isso, Miyazaki trancava a porta.
- Isso é sangue, você irá entender se eu te contar a minha história. – Ela se ajoelhou de frente à menina, e se curvou respeitosamente.
- Então Justine, me conte sua história. – Observava com total atenção, a nova amiga se sentou do lado dela e colocou o braço em volta do seu ombro, sorrindo e respondendo em bom tom:
- Tá. Sabe o que dizem: “Monstros não nascem, são criados”. Bem, isso é mentira, tem gente que nasce má mesmo, faz parte, e não há nada errado nisso. Eu sou uma vampira, sabe, eu sou muito má, quando eu tinha 5 anos, assisti “Drácula” na TV e descobri que sou uma vampira, aí assisti muitos filmes. Eu cresci pensando nisso, eu tinha fome para me alimentar, mas não poderia, afinal, eu era pequena e fraca, uma vampira pequena e fraca, e não poderia ter força para matar uma vítima humana. Mas claro, arranjei uma solução, comecei a caçar cachorros e gatos nas ruas, eu os matava e bebia o sangue, bem gostoso, o ruim eram os pêlos, mas isso não me preocupava, nunca peguei nenhuma doença, vampiros não ficam doentes. Virei gótica na adolescência, o movimento ainda tava novo, era 83, por aí, comecei a ir em shows, me divertir, beber sangue com fetichistas fãs de vampiros, alguns vampiros de verdade, tanto homens quanto mulheres, orgias maravilhosas e cheias de sangue, bem, eu tinha 12, mas quem liga, tendo sangue humano, pra mim tá bom. Foi nessa época que eu descobri que sou filha de Satã, o pai de todos os vampiros, e comecei a louvá-lo, passei a orar ao Papai Satã antes de ir caçar presas para satisfazer minha sede, minhas refeições eram em nome dele, papai foi muito bom comigo, e se comunicava comigo através de músicas. Pois bem, com 14 anos, mordidinhas um pouco mais fortes em namorados e amantes não eram o bastante, e muito menos cortar a garganta de cachorros pra beber, e aliás, meu instrumento de trabalho sempre foi uma faca Tramontina, uma ótima marca. – Falava bastante empolgada, Camilla estava no sofá com 3 lugares, do lado direito estava Justine, Miyazaki se sentou do lado esquerdo, e colou nela, com a mão em sua perna, só encostada, deixando a poltrona sem espaços livros. - Eu comecei chamando um cara pra foder comigo em um depósito, ai a gente fodeu, eu cortei a garganta dele, colhi sangue em uma garrafa 2 litros, pus na mochila e bebi mais tarde. Comecei a fazer isso, às vezes eu atraía as vítimas com sexo e cortava sua gargantas com minha faca, pra coletar o sangue, outras vezes eu procurava pessoas em lugares desertos, e fazia o mesmo. Qualquer coisa que desse sangue servia, em todo tipo de pessoa, já até ataquei pessoas em banheiro público que tentavam mijar, pessoas andando em parques, muitas pessoas. Demoraram pra me descobrir, minhas roupas e luvas de couro impediam-me de deixar qualquer digital, e as provas, nos casos com sexo, eram limpas por eu mesma, eu botava fogo nos corpos pra destruir as provas nesses casos, embora raros, geralmente eu atraía pra fazer sexo, mas matava antes de tirar a roupa. Fiquei conhecida como a “Vampira de Yokohama” (吸血鬼/yokohama no kyūketsuki ), já que descobriram que o assassino era uma mulher por causa de algumas vítimas masculinas sem roupa, o que obviamente significava sedução feminina como isca para as vítimas, eles me explicaram tudo quando fui presa. Matei exatamente 122 pessoas. Em média, matava uma pessoa por semana, já que 2, 3, 4 litros de sangue eram o bastante para me satisfazer por uma semana, eu bebia escondida, escondia a garrafa na minha mochila, meus pais nunca ligaram pra mim, nunca conferiram minhas coisas, meus materiais, então nunca chegaram a ver a garrafa, não davam a mínima para mim e deixam-me fazer o que quisesse, o caso da Vampira de Yokohama ficou famoso no país todo, quando pessoas começaram a aparecer mortas com a garganta cortada, além dos pulsos, e outras partes, cortava onde desse pra cortar e tirar um bom sangue, usava um funil pra evitar desperdício e fazer tudo entrar na garrafa, mas nunca os mordi, senão deixaria provas, e não era minha intenção. A polícia não fazia idéia de quem fosse o culpado pelos crimes, a maioria das vítimas era masculina, mas isso não era um padrão, houve uma certa paranóia nacional, quase nenhum homem tinha coragem de ir pra um lugar escondido pra transar com uma estranha, e eu mesmo não usei mais o método, poderia acabar sendo descoberta, passei apenas a matar pessoas isoladamente, em lugares sem ninguém, ou em horários complicados, mendigos na rua no meio da madrugada eram um bom alvo também, quando não tinha ninguém na rua. Matava muito, sabe, eu tinha pais que não ligavam pra mim, mas nunca fui rica, sou classe média, e eu tinha que trabalhar de segunda à sexta, só pra deixar bem claro pra vocês que eu nunca fui uma maldita mimada, sou uma vampira esforçada, sempre fui, e me esforçava muito pra conseguir o meu sangue da vida. Fiz isso dos 14 até os 18, quando fui presa, aconteceu que o cara que tentei matar era policial e se defendeu quando ia cortar a garganta dele, ele me bateu e me prendeu por tentativa de assassinato e desacato à autoridade, ele descobriu que eu era a Vampira quando abriu minha mochila e encontrou a garrafa, ela estava vazia, mas foi óbvio o motivo para o qual eu a carregava, na delegacia eles me fizeram um exame no intestino e na bexiga, encontraram sangue que não era do meu tipo, aí ficou provado que eu era a Vampira de Yokohama. Então eu admiti que era uma vampira, que era filha de Satã, e que bebia sangue para sobreviver e obter poder e prazer, eles não acreditaram, riram, ficaram horrorizados, me menosprezaram, disseram que eu estava louca. Aqueles ignorantes tinham certeza de que sou louca, não acreditam no poder dos verdadeiros vampiros, no sangue de Satanás, meu caso ficou famoso e fui entrevistada, falei tudo, e o próprio repórter disse que eu era louca, tentei mordê-lo, já que estava com as mãos algemadas, mas me seguraram, e me mandaram pra cá, disseram que uma prisão de segurança máxima não seria o bastante pra mim, e que eu precisaria ser mandada para o Hospital Psiquiátrico Oku em Tóquio, especializado nos piores casos de insanidade perigosa no país. E eu estou aqui desde 88, sou muito comportada e dou lucro pra esses infelizes, os prisioneiros sem talento não demoram muito tempo para irem pra forca, eles sempre nos exploram, geralmente nos colocam para escrever, livros ou artigos escritos pelo que eles chamam de “serial killer” fazem muito sucesso, e como eles ficam com os direitos autorais, conseguem manter esse local caríssimo e ainda ter um lucro absurdo, mas claro que a maior utilidade para eles ainda é nos usar como objeto de estudo, malditos psiquiatras.
- Então é isso? Eles me deram um caderno, só que eu desenhei. – A menina perguntou séria, embora estivesse muito feliz, seus olhos brilhavam bastante mas a boca parecia preocupada.
- Sim Camilla, eu mesmo já iria ser condenado em 2006, só tava passando por um monte de processos, eles só mantém vivos o tempo todo aqueles que lhe são úteis, os outros acabam sendo condenados normalmente, aqueles que não tem utilidade morrem normalmente. – Tsutomo explicou, parecia não gostar de ter de falar aquilo para sua pequena amada.
- Bem, agora estamos no comando, Mi, você é meu braço direito. – A Executiva se levantou, soltando-se dos aliados, e ficou de pé de frente pra eles, abrindo os braços junto com um belo sorriso. - Ju, você é meu braço esquerdo, vamos nos divertir, o Hiroya ali não pode fazer nada. – Apontou para o homem algemado e com um pano enfiado na boca, um pano de chão imundo.
- O que vamos fazer com ele?
- Nada ainda, aliás, Justine, sua pintura sanguínea me lembrou de algo que eu deveria ter feito. – Eu sou a Executiva, preciso estar vestida à rigor, o Hiroya está bem vestido, pena que ele nunca usa terno, apenas esse maldito jaleco. Você sabe onde posso conseguir um terno e tintas para fazer meu Corpse Paint temático?
- Corpse Paint temático? Que nem o do King Diamond?
- Sim, e de todas essas bandas satânicas. Não são só vocês vampiras que são filhas de Satã. – Fingia para agradar a psicopata que tinha matado dezenas de pessoas a mais que ela.
- Você, Camilla, é mais que uma garota, você é nossa libertadora, representante de Satã aqui na terra, você é a messias, como Jesus foi o messias de Deus, você veio para trazer a nova era satânica e libertar os vampiros, os demônios e os pecadores! – Beijou os pés da garota, com total devoção e fé.
- Eu sou A Executiva, e você é minha filha, Justine, Miyazaki é meu filho também, vocês são meus filhos, e tem muito a aprender comigo. – Ela aceitou a teoria da bebedora de sangue, ou fingiu muito bem.
- Do que está falando, Camilla? Vampiros não existem, e nem Satã. – O nerd não sacou o fingimento dela, parecia surpreso.
- Não seja estúpido, seu idiota, é claro que existem. Não tá vendo a Justine aí? – Virou pra ele piscou, então o pedófilo entendeu que ela apenas estava fingindo.
- Se você, diz eu acredito. – Fingiu estar convencido.
- Eu acho que sei onde que tem o que você quer. Deseja que eu vá buscar, mestra Executiva?
- Sim, Justine, por favor. Preciso de tinta branca e preta, e opcionalmente um terno e um pincel. – Usava de toda gentileza com seus “servos”, todos ignoravam os grunhidos constantes de Hiroya, que sofria com o gosto de urina na boca.
A linda ruiva não falou mais nada, foi até a porta, a destrancou e foi procurar tinta, pelos corredores já não havia mais quase ninguém vivo, mas muitos cadáveres, muito sangue, alguns pedaços de gente, alguns poucos vivos cometendo algumas atrocidades, um dos homens ainda vivos, cortava em pedaços o corpo de um guarda, utilizando uma faquinha de serra, era um processo demorado, mas ele demonstrava gostar de ver a carne e o ossos lentamente atravessados. Ela foi correndo pelo corredor, ignorando as cantadas de alguns sobreviventes que a viam, foram apenas duas: “venha pra eu te matar e meter no seu corpo” e “oi linda, tem fogo só nesse cabelo ou lá em baixo também?”, odiava cantadas sobre ruivas e tinha bastante orgulho da cor de seu cabelo, vermelho como o sangue que tanto apreciava, e no caso ela estava ruiva até no rosto pintado de vermelho, detalhe com o qual ninguém parecia se importar. Chutava todos os cadáveres “desocupados” que encontrava, os que não estavam sendo vítimas de algum ato nojento com o prefixo necro, isto é, necrosadismo, necrofilia e necrofagia, práticas realmente comuns por aquelas pessoas, olhava dentro de cada cela pelo qual passava, algumas realmente tinham pessoas dentro, prestava atenção nos objetos em seus interiores, não demorou até que encontrou uma mulher de uns 60 anos pintando em um folha da papel, estava com um pincel, e algumas tintas guache em pequenos potinhos, incluindo preto e branco, ela tentava ilustrar um cadáver em decomposição, mas não era muito talentosa, e aquilo mais parecia uma carne com olhos.
- Ei, dá pra você me dar essas coisas? – Justine perguntou com gentileza.
- Não, são minhas. – A velha puxou tudo pra trás e se afastou, zangada.
- Qual é seu nome? – Ainda fingia ser inofensiva.
- Meu nome é Elizabeth Bathory, sou uma condessa que se banhava em sangue para manter a juventude.
- Peraí? Você não é Elizabeth Bathory, ela morreu faz mais de 500 anos. – Uma grande fã de vampiros não poderia não saber quem foi Elizabeth Bathory, a maior serial killer da história, que se banhava com o sangue das jovens para ter beleza eterna, havia assistido o filme sobre ela, com Ingrid Pitt no papel da condessa.
- Eu sou reencarnação dela, fui mandada pra cá por ter seqüestrado e matado mulheres para me banhar no sangue delas, acho que foram 8, não lembro bem, não pude me banhar muito, nem conseguir a juventude eterna, e estou aqui faz 30 anos.
- Você parece uma mulher interessante. Você é uma vampira como eu? – Tirou a chave do bolso, era realmente muita sorte que todos os guardas que foram mortos tivessem chaves e todas as fechaduras fossem iguais.
- Não, eu não sou uma vampira, não bebo sangue, apenas me banho para manter a juventude eterna, eu estou muito velha, já tenho 60 anos, mas quando eu morrer, irei reencarnar mais linda, e a poderosa Elizabeth Bathory irá voltar! – Continuava pintando
- Ah, não é vampira? Mas acredita que nós vampiros existimos? E vai me dar essas tintas e esse pincel? Eu realmente devo insistir – Colocou a chave na fechadura e a abriu a porta de ferro.
- Não acredito não, e não vou dar, sua vadia ruiva. – A velha mostrou os dentes sujos e ameaçadores, abriu a boca com medo quando viu a ruiva apontando a arma pra sua cabeça e caiu pra trás quando teve o cérebro perfurado pelo chumbo, morrendo na hora.
- Então pronto, te vejo na próxima encarnação, e vadia ruiva é sua mãe, aquela vaca flácida com peitos peludos e caídos. – Deu dois passos, se abaixou, lambeu a testa enrugada suja de sangue, saboreando o líquido bem devagar, embora ele saísse e uma velocidade acelerada, ela era uma verdadeira dama na “mesa”, com modos para beber de suas vítimas em certos casos, quando considerava que era “sangue de primeira qualidade”, era suave, tinha movimentos graciosos com os lábios e a língua, e deixava que seus olhos demonstrassem o quando estava gostando do alimento. – Ah, o suco da vida. – Passou mais alguns segundos ali, e então tirou sua boca da carne perfurada, pegou o pincel, o pote de tinta branca, e o pote de tinta preta, colocou tudo na bolso da sua calça preta, e saiu correndo com sua arma em mãos, caso precisasse matar mais alguém no caminho. Mas não precisou, chegou na porta da sala onde a chefa estava e já deu dois socos e um grito muito alto e estridente:
- Mestra, abra, eu trouxe as tintas.
- Trouxe o terno? – Camilla foi até a porta e a abriu, com um sorriso.
- Não deu, não tem onde achar terno nesse lugar aqui, no máximo camisas de força. – Entrou, dando 8 passos apressados para frente, desde o começo, não planejava procurar um terno, sabia que não acharia, mas não avisou antes.
- Tá bom, dê-me, quero me pintar agora. E por favor, limpe seu rosto quando eu terminar, quero ver sua pele limpa enquanto estiver aqui, não há porque escondê-la, é muito bonita. – Esticou o braço.
- Aqui. – Tirou do bolso os 2 potinhos de tinta e o pincel, colocando na pequena mão estendida da Executiva.
- Obrigada, irei me pintar no banheiro, lá tem espelho. – Correu , driblando os móveis que funcionavam como obstáculos, entrou no banheiro, bateu a porta com toda a sua força, colocou as coisas na pia, com o espelho em cima, em um armário de banheiro comum. Mas para seu azar, não o alcançava.
- Maldição, por que eu tenho que ser baixinha? – Pegou novamente os materiais, deu alguns passos para trás, assim podia ver seu reflexo um pouco pequeno refletido no espelho, daquele ângulo era possível ver, guardou a tinta preta no bolso, abriu a branca, passou o pincel, começando a pintar seu rosto todo, olhando atentamente no seu reflexo para ter certeza de que tudo ficaria pintado. Pintou o rosto e o pescoço por completos, deixando apenas as orelhas limpas, mas eram escondidas pelo seu longo cabelo, então não atrapalhavam no visual. Fechou a tinta, colocou no bolso, foi até a torneira e a ligou, lavando o pincel com tinta branca, para que pudesse usar a outra, colocou a mão no bolso, tirou a tinta preta, deu alguns passos para trás, e ficou olhando seu reflexo daquela distância, por um tempo, imóvel, para garantir que a primeira tinta teria secado. Passou o pincel no pote negro e pintou duas cruzes invertidas nas bochechas, e uma linha vertical que atravessava da testa até o nariz, entre as narinas uma em cada uma, sem tirar os olhos do espelho por um único instante, fez ainda uma linha vertical no queixo, e pintou totalmente os lábios com a cor da noite, essa pintura não era igual à usada no dia de sua prisão, mas era bastante parecida, de qualquer modo, era esteticamente menos desagradável. Abriu a porta do banheiro de braços abertos, tendo deixado os materiais lá dentro.
- Aqui estou, a Executiva!
- Mestra, que bom que está aqui, devo me limpar agora? Justine estava arranhando a testa de Hiroya quando ela voltou, seus olhos demonstravam total agonia, e seus grunhidos quase inaudíveis também, enquanto sua pele lentamente era cavada como se fosse terra de plantação, Miyazaki dormia preguiçoso no sofá, ou só descansava deitado de olhos fechados.
- Ei, pare com isso, não te dei permissão para fazer isso, ninguém toca no psiquiatra sem minha ordem, agora vá se lavar, só eu tenho o direito de usar pintura de guerra aqui.
- Sim mestra. – Se curvou e correu pro banheiro, o pedófilo continuava deitado.
- Mas que droga. – Olhava com desprezo para o nerd, pegou nas mãos uma garrafa de vinho sobre a mesa, que teria sido bebida pelo psiquiatra feito de refém caso não tivesse sido feito de refém, e jogou na cabeça do dorminhoco, que deu um grito de dor, e caiu do sofá falando palavrões.
- Não é hora de dormir! Entendeu? Se levante. – Olhava com raiva, sincera ou não.
- Eu estou cansado, eu quero dormir.
- Não vai dormir, agora iremos brincar.
- Terminei. – Justine saiu do banheiro com o rosto limpo, liso e lindo.
- Me dá um beijo então? – Colocou a língua pra fora da boca pintada.
- Ah, mestra, você realmente vai me dar a chance de beijar sua boca? - A vampira segurou a mão da menina que idolatrava como uma verdadeira messias, sorrindo bem animada pela “oportunidade”.
- Sim, vamos. – Ela fechou os olhos, abriu bem a boca e colocou a língua para fora. Poderia se considerar que Camilla fosse estúpida por confiar em Justine e Miyazaki, fechando os olhos, ficando com guarda baixa perto deles, mas de fato isso poderia ser um equívoco, ela conseguia identificar e deduzir emoções humanas, uma combinação prodigiosa de matemática, psicologia e prática de convívio, primeiramente, sabia que um estúpido desequilibrado pedófilo rejeitado como Mi não seria capaz de matar a única garota que deu-lhe atenção e carinho, ainda mais sendo ela, uma combinação absoluta de beleza, inteligência, e o mais importante pra ele, 10 anos. Justine simplesmente não teria motivos para matá-la, a mulher que a libertou, podia identificar o tipo de assassina que ela era, era insana e desequilibrada por realmente acreditar ser uma vampira, mas com inteligência, racionalidade e capacidade de socialização intactas, sabia que para ela, ter uma aliada em sua busca por sangue seria útil, e de qualquer modo, e mais importante, sabia que a gótica realmente acreditava que Camilla fosse uma representante de Satã na Terra.
Justine segurou na nuca da menina, abaixou o corpo, para ficar na sua altura, fechou seus olhos e colocou a língua para fora, aproximando o rosto e os lábios até tocar nos da criança, logo as duas quentes línguas se entrelaçaram levemente, e seus lábios se aproximaram mais e mais, até se envolverem em um ardente beijo lésbico. Tsutomo assistia à cena e morria de ciúmes, aquilo para ele era inaceitável, a garota que amava beijando outra mulher na sua frente, começou a grunhir com desprazer, era inevitável, não controlava suas emoções, ele colocou a mão na cintura, dentro da cueca, onde estava guardando sua arma, mas antes que puxasse, Camilla sacou sua arma da cintura mais rápido e deu um tiro na cabeça dele, antes que pudesse fazer qualquer coisa, então se soltou daquele beijo pervertido.
- Ah, esse idiota faz tanto barulho, não acredito que ele ia nos matar.
- Uau, como viu que ele ia atirar? – Virou a cabeça pra trás, para ver o corpo morto do pedófilo, com a arma que tentou usar jogada no chão.
- A gente podia ter morrido, eu não deveria ter baixado a guarda, e nem confiado nele. – Parecia que sua perfeita combinação de fatores para prever as atitudes das pessoas havia falhado miseravelmente, não era tão perfeita quanto achava, era vulnerável a erros, mas ainda estava viva. – Esse desgraçado fez barulho demais, ficou grunhindo, você não ouviu?
- Ouvi.
- Eu ouvi, como esse idiota grunhiu, como ele me ama, como eu estava te agarrando, fica óbvio que ele estava bravo e que iria fazer algo, mas bem, eu ia matá-lo de qualquer jeito, por isso, vendo que ele estava grunhindo e irritado com nosso beijo, atirei nele, era um bom momento, isso é importante pro nosso plano, dava pra imaginar que ele ia atirar em nós, se tivéssemos fazendo algo que ele não suporta, então, pronto.
- Você é brilhante, mestra. – Roubou um selinho. - Posso beber o sangue dele?
- Claro, mas não muito.
- Ótimo, sangue fresco. – Justine se jogou sobre o corpo e deu uma mordida violenta na jugular do morto, para beber sangue como uma verdadeira vampira de filme de terror.
- Espera, não, pare, tem algo que preciso fazer com ele, é necessário.
- Ah, droga, tá. – Se levantou, afastando-se do corpo.
- Tem uma faca aí? – Camilla se ajoelhou na frente do nerd morto.
- Tenho. – Tirou um facão da cintura, estava com o cabo dentro da calça, e a lâmina dentro da camisa, estava suja de sangue, o mesmo que usou no massacre da cozinha, colocou a arma nas mãos da menina, que retribuiu com um sorriso simpático.
- Agora o meu Mi vai virar Hiroya Oku, se é que você me entende. – Tirou todas as roupas do cadáver, menos a cueca, levou tudo para debaixo da cama onde o psiquiatra dormia, escondendo lá em baixo. Depois voltou e enfiou a faca com toda a força no meio da testa do pedófilo, Oku assistia tudo, horrorizado, os golpes seguintes desfigurariam o rosto do homem até que ficasse totalmente irreconhecível, a carne era rasgada até simplesmente parecer carne, como em açougue, carne moída, mais ou menos como havia feito com Mitsumi e Chiaki, só que agora tinha público, e ela não picava, desfiava, desfiava os músculos e arrancava a pele, apenas para impedir qualquer chance de reconhecimento. Justine sorria enquanto assistia, tinha uma personalidade extremamente sádica, apesar de seu verdadeiro vício ser apenas o vampirisimo, também apreciava ver pessoas sendo dilaceradas ou torturadas, acreditava que não fosse nada mais do que uma herança de seu pai, o senhor de todos os malignos, Satanás, essa era sua fé, e ela lhe dava ainda mais prazer, um deleite obsceno enquanto via a sua guia reduzir um homem a uma peça de carne. Terminando de desfigurar o rosto, começou a fazer diversos cortes na barriga, bem longos, verticais e profundos, o peitoral e a barriga do homem foram totalmente cobertos de sangue, e mais difíceis de reconhecer, ela também tirou as tripas dele com a mão, algo realmente nojento, Oku sentiu que seu estômago não agüentaria mais, fechou os olhos, mas acabou vomitando, porém como estava com a boca tampada com o pano urinado, a gosma voltou, por pouco não se engasgou e morreu, mas conseguiu engolir novamente o vômito sem ter problemas, seu medo não poderia ser descrito com meras palavras naquele momento, mas teria sido sorte morrer.
- Justine, tira o óculos do doutor e me dá. – Pediu sem parar de esfaquear o corpo do homem, embora já estivesse o bastante desfigurado.
A vampira não disse anda, apenas arrancou o óculos do rosto de Hiroya e entregou na mão livre de Camilla, a que não estava sendo usada para esfaquear o cadáver de Tsutomo, ela o pegou em mãos, e bateu no chão, quebrando, deixou os pedacinhos ali, do lado do cadáver, então se levantou, e pegou na mão de Justine, a sujando de sangue, embora a boca da ruiva já estivesse suja.
- Está disposta a morrer por Satã? – Olhou a ruiva com total seriedade.
- Estou, ele me dará prêmios eternos no Inferno? – Parecia um pouco nervosa.
- Uma vida eterna de prazer, no lugar onde apenas os mais dignos vampiros vão. – Falava como se realmente fosse algo sério.
- Estou, diga-me o que devo fazer.

Naquela altura nas ruas de Tóquio se transformava em um Inferno. Cerca de 100 maníacos do tipo mais perigoso de todo o país corriam livres, a polícia foi ativada com a ligação da mulher assassinada à pauladas, e corria dando tiros, mas a quantidade de maníacos em liberdade era muito grande. Todos nas ruas tentavam fugir, se esconder, ir pra longe, não era fácil fugir de bestas insanas sedentas por violência, o cheiro de morte infestava todas as calçadas, policiais matando e morrendo, e pessoas doentes com inteligência excepcional cujo único desejo era matar, matar sem parar, a essa altura, não havia nenhuma preocupação dos oficiais de capturar os bandidos vivos, fazer isso sem morrer seria praticamente impossível, era uma guerra.
- Meu nome é Aizawa Kaonashi, e eu sou o Exterminador de Machos! Odeio homens, então morram! – O musculoso de um metro e 90, armado, gritava enquanto atirava com uma arma, arrancada de um guarda morto, em todos que via, seus tiros eram certeiros, matavam na hora, não se preocupava em fazê-las sofrer, parecia não ser sádico, apenas atirava para matar, na sua “brincadeira”, matou dois policiais, se movia com incrível velocidade, possuía reflexos acima da média, possuía uma força física invejável, e uma mira perfeita. Anos atrás, teria sido conhecido com o bizarro pseudônimo de “Exterminador de Machos”, responsável por um único crime, com uma AK-47 cuja origem nunca foi descoberta, matou 59 homens em uma única noite, saiu pelas ruas atirando do nada, deixando as mulheres em paz, e deixando os “machos” todos mortos. Quando foi preso, disse que seu objetivo era matar todos os homens por achá-los esteticamente desagradáveis, e que só não faria o mesmo com si mesmo porque tinha a missão de criar um mundo mais bonito, com mais lindas mulheres, e menos feios homens, e também porque queria ser o felizardo homem a viver na companhia apenas de mulheres, ele não teria que as dividir com ninguém. – Morram, machos filhos da puta, esse mundo é das mulheres, e meu, porque elas são só minhas, e eu não preciso dividi-las com vocês. – Atirava bem, realmente bem, ouviu passos se aproximando, virou-se para trás, dando um tiro mesmo se olhar, acertou um policial que estava prestes a tirar nele, caiu morto na hora. – Eu sou foda, e ninguém vai me foder! – E gritou com toda a força que teve, extasiado com a adrenalina em seu sangue naquela noite louca.

- Porra, vocês todos tem ordem para matar, isso aqui é uma guerra, uma guerra. Cadê a Executiva? Por que ela não saiu pra rua? – O delegado corria na viatura com 4 homens, estava aberta, ele ficava no banco ao lado do de motorista. Tirando o motorista, todos estavam com suas armas para fora da janela, atirando nos bandidos, um massacre, tanto de bandidos maníacos quanto de pessoas inocentes e policiais, algumas tinham as cabeças abertas à pedradas, outras à tiros, era muito azar dos que não conseguissem fugir, não tivesse pra onde ir, ou simplesmente não entendessem o que estava acontecendo a tempo.
- Ela deve ter algum motivo para ainda estar no hospício, pra eles terem fugido, devem ter matado os guardas, o senhor já mandou homens pra lá, pode ficar tranqüilo. – Um dos policiais no banco de trás falava, enquanto atirava em uma mulher que atirava contra o carro também, que por ser blindado, não era atravessado, também tinha vidros à prova de bala que estavam abaixados para permitir o tiroteio, de qualquer modo, a mulher atirou na parte metálica, não porque queria, mas porque estava difícil de mirar.

Dentro do sanatório, 5 policiais corriam por todos os corredores, com armas e posição de atirar, checavam cada cela, cada espaço, atiravam em qualquer pessoa que vissem, mesmo sem ter certeza se eram bandidos ou funcionários, de qualquer modo, seria totalmente improvável que ainda houvesse guardas ou funcionários vivos. Eles ficavam horrorizados com as visões, corpos despedaçados, todo o chão banhado em litros e mais litros de sangue humano, práticas grotescas que eles detinham a tiros, contra os insanos que as praticavam, “brincando” dos piores modos possíveis com os cadáveres dos funcionários assassinados, e também de outros prisioneiros, não havia lei, apenas loucura absoluta, e o cheiro de sadismo crescente a cada passo. Aqueles 5 homens teriam seu dever mais perigoso, se sentiam como estivessem no próprio Inferno do ponto de vista cristão embora nenhum deles fosse cristão, parecia não ser difícil matar os psicopatas que ainda estivessem lá dentro, mas o clima no ar era pesado e sufocante, ainda podia-se ouvir gritos lancinantes, talvez de sobreviventes, talvez de outros loucos se divertindo com seus assombrosos hobbies, andar por corredores cheios de pessoas mortes e imaginar o modo como cada uma delas morreu era difícil, estar no lugar onde moravam os piores homens e mulheres do Japão era mais difícil ainda. Não sentiram tanto horror quanto quando estiveram nas ruas, sentiram muito muito mais, mesmo que a rua estivesse infestada dos maníacos fugitivos, havia algo no próprio ambiente, era como se a energia maldosa das pessoas que lá viveram durante anos estivesse impregnada nas paredes, e pudesse ser sentida de modo sufocante por qualquer um que caminhasse pelos corredores brancos infestados de morte, ou talvez apenas temessem estar no território do inimigo e tivesse essa impressão, porque nas ruas eles, policiais, eram os conhecedores, os veteranos conhecedores do ambiente, mas lá no hospício, era o habitat natural dos assassinos, impressionantemente, ainda havia pessoas em suas celas, eles eram mortos com tiros dados pela abertura de comida, embora as balas de alguns dos oficiais fossem grandes demais para passar pela abertura, e o metal das celas fosse à prova de balas, mas bastava que os com armas menores fossem o responsáveis por matar os criminosos, as grades também eram muito juntas uma da outra para permitir que as balas passassem por elas. Aquilo era um massacre, depois da fuga da maioria dos presos insanos, eles teriam que “limpar” como pudessem, estava claro que aprisionar para pesquisar não daria certo, e que aqueles homens só serviriam mortos, pelo menos era nisso que eles acreditavam enquanto atiravam nas pessoas que se jogavam contra as grandes, gritando palavras ameaçadoras ou simplesmente sem sentido, isso apenas facilitava para que as balas atingissem em cheio, e como a maioria se jogava contra a grade, todos morriam sem dificuldade. Eles se separaram, e cada um foi pra um canto, aquela perturbadora missão ainda não tinha acabado.

- Escuta? Justine, são tiros, tiros altos, estão aqui, eles vieram, estão atrás de mim. Sabe o que vamos fazer? – Camilla se virou para a porta, apontando a arma, enquanto a ruiva largava o pescoço de Miyazaki, com o qual se alimentou vorazmente, sua obsessão por sangue era exagerada, e era incrível que não ficasse barriguda de tanto beber.
- O que, mestra? O que preciso fazer por Sat?. – Já estava de pé e virada para a porta.
- Tudo está acontecendo do jeito que eu queria. Ah, não é a toa que sou messias, representante de nosso pai na Terra. – Continuava fazendo seu teatrinho pseudo-satanista. – Só me resta você, Justine, eu te conheci hoje, mas é como se te conhecesse há muito mais tempo, o meu plano nesse momento é esperar eles virem até aqui, e fazer com que não nos achem, eles pensarão que fugimos, mas nós ainda estaremos aqui, e iremos nos divertir com Hiroya. Nosso pai quer que ele seja punido.
- Como? Onde iremos nos esconder?
- Me diga, se eles encontrarem a sala do doutor trancada, o que vão fazer?
- Arrombar.
- Então Justine, eu irei confiar minha vida à você. – Limpou as duas mãos imundas de sangue esfregando nas da outra assassina, deixando-as como se tivesse acabado de dilacerar um homem com as mãos. – Pegue a faca. – Lhe entregou a faca. – Eu só preciso que fique sentada atrás do corpo do Mi, fique lá, não saia de lá, quando vierem, não saia do lugar, diga que matou o Hiroya, diga que esse corpo é do Hiroya, e não fale de mim, diga que não sabe nada sobre mim. Está bom? Não fale nada, eu estarei escondida com o verdadeiro Hiroya, e quando eles forem embora, pensarão que você o matou, e que eu fugi.
- Sim, eu farei. – Seguiu as ordens e se sentou atrás do cadáver irreconhecível, segurando a faca.
- Eu te amo, Justine, nos vemos no Inferno. – Sua voz foi totalmente dramática, foi até o doutor, deu-lhe um tapa no pescoço na parte de trás que o fez desmaiar na hora, como costumava fazer. – Err, dá pra me ajudar a carregar ele até debaixo daquela mesa? Ele é pesado demais pra eu mover. – Apontou para uma mesa com um forro que ia quase até o chão, escondendo tudo que tivesse em baixo, um ótimo esconderijo.
- Tá. – Justine se levantou, estava realmente séria, com medo da morte, mesmo sendo uma vampira, mas faria qualquer coisa em nome da representante de Satã, e consequentemente, em nome do próprio Satanás. Deixou a faca no chão, empurrou a cadeira, deixando cair, e a arrastou até debaixo da mesa, levantando o forro na hora um pouco para colocar direito, ela era bastante forte, não teve nenhuma dificuldade em empurrar o psiquiatra, era como uma pena, talvez beber o sangue das pessoas fizesse com que absorvesse sua força, ou talvez fosse efeito das 100 flexões diárias que fazia em sua cela, uma mulher muito apegada ao corpo e à forma física, extremamente vaidosa. Camilla foi engatinhando até debaixo da cama também, levantou o forro pra entrar, e antes de abaixar o pano, disse e fez um biquinho, mandando beijo para a ruiva.
- A gente vai brincar muito no Inferno. – E se escondeu lá em baixo.
Justine sentia seu coração batendo acelerado, seu ar fugindo de suas narinas, sentou ao lado do morto, e finalmente pegou a faca novamente, posando como se tivesse feito picadinho daquela pessoa, tinha certeza de que aqueles eram os últimos momentos de sua vida, mas em sua mente, podia ver nitidamente a face de Camilla, por quem morreria, e por quem teria desenvolvido um violento amor tão rápido quanto o seu encontro com ela, uma pessoa perfeita, a representante deu seu pai Satanás na Terra. Ficou lá, esperando, impaciente pelos invasores, em cerca de 2 minutos, conseguia ouvir passos se aproximando, e logo um homem estava batendo na porta da enorme sala.
- Doutor, você está vivo? – O policial de cabelo grisalho, barba mal feita e armado gritava enquanto batia na porta sem o mínimo de delicadeza.
Ninguém respondeu, o silêncio se estendia ali, dois homens estavam naquela porta, aquele era o mais provável esconderijo de Camilla Hitokaze, a Executiva, a garota que orquestrou toda aquele horror, que naquele instante era a criminosa mais procurada do país.
- Vamos no 3. – O outro policial planejou, um jovem de cabeça raspada e lábios finos, dando um passo pra trás, o primeiro que falou concordou com a cabeça. – 1, 2. – Já estavam 3 passos atrás. – 3! – Deram todo o impulso que puderam e se jogaram juntos e ao mesmo tempo contra a porta, que caiu na hora, com suas armas, apontaram para a única pessoas que viram, Justine, mas dessa vez não atiraram, a mulher estava enfiando a faca na barriga de uma coisa que não parecia bem um homem, mas um bolo de carne moída cru, uma visão abominável e assustadora, ainda mais com a visão do queixo cheio de sangue dela, o que demonstrava que tinha praticado canibalismo ou vampirismo em sua vítima, que possivelmente era Hiroya Oku, eles definitivamente precisariam descobrir se era ou não ele, e talvez, fazer perguntas sobre a procura Camilla, que deveria estar naquela sala, mas aparentemente não estava, o fato dela estar dela estar na sala do dono do Hospital impediu que morresse na hora, mas com certeza, depois que falasse o que aconteceu, ou o que fez com o psiquiatra, seria morta.
- Se apresente agora ou morre. Quem é ele? O que fez com ele?
- Justine, a Vampira de Yokohama, esse é idiota aqui é o filho da puta que nos manteve aqui, Doutor Hiroya, finalmente tele teve o que merecia. – Ela sorria e lambia a faca cheia de sangue. Os homens não deixavam de estar horrorizados com o estado do que eles achavam ser o psiquiatra, mas tinham que se manter frios, frios se quisessem cumprir seu objetivo, capturar e matar a Executiva.
- Onde está a líder dessa merda? Camilla Hitokaze?
- E como vou saber? Ela me libertou e não a vi mais, vocês nunca a pegarão, dava pra ver nos olhos dela, ela é a escolhida por Satanás, nosso pai. Vocês vão me matar? – Tentava manter a calma, na mira das armas, agora sabia que não seria como quando foi presa como Vampira de Yokohama, não era mais questão de prender, mas de exterminar, massacrar.
- Ela não deveria estar aqui? – O policial mais velho perguntou ao mais novo, sem virar a cabeça, era estranho que a menina não estivesse lá.
- Deve estar se escondendo em algum lugar. – O mais novo virou o rosto, procurando possíveis esconderijos onde uma criança de 10 anos poderia estar, tinha certeza de que a garota estaria naquela sala, na verdade, o delegado Toshio já havia avisado a todos os homens que a sala de Oku seria o primeiro lugar onde Camilla se esconderia, afinal, ele era o do hospício, e ela a dominadora, a rainha capturando o rei inimigo. A mesa chamou a atenção do policial, mas ainda apontava a arma para Justine.
- Vocês vão me matar? Seus desgraçados, vocês vão? – Ela lambia o próprio queixo cheio de sangue seco, para um fetichista, aquilo seria uma visão do paraíso, era uma mulher muito sensual.
- Nós vamos. – O careca virou o rosto para a vampira novamente.
A toalha de mesa se levantou e um tiro saiu lá de baixo, acertando a cabeça do careca, que morreu na hora, por reflexo, o velho se virou, mas levou um tiro no peito antes que pudesse fazer qualquer coisa, também morreu na hora.
- Justine, se pudermos matá-los, ótimo, talvez você possa até continuar viva, após isso, poderemos ser felizes juntas aqui na Terra antes de irmos pro Inferno, mas vamos voltar a nossas posições, temos que ter certeza de que não virá mais ninguém. Agora a porta foi arrombada, e não tem como trancar, então já não teremos tanto tempo. Pegue uma arma e alguns cartuchos desses infelizes. – Olhava para a amiga com o forro levantado, mas logo se escondeu lá de baixo novamente. A ruiva ouviu um barulho vindo do corpo do homem careca que acabava de ser morto, mexeu no bolso dele, achou 2 cartuchos e walkie-talkie de onde saía a frase “Câmbio, onde você está?”, pegou a arma e a munição do infeliz e colocou tudo dentro da calça, que ficou bem espaçosa, exceto a arma, uma Walther PP y PPK. O Walkie-Talkie continuava soltando som, ela pegou e atendeu.
- Alô? Aqui é Justine, a Vampira de Yokohama, lamento pela morte de seu amigo, mas o sangue dele estava realmente saboroso.
- Onde você está? – O outro homem falou tranquilamente, embora não estivesse nada tranqüilo na verdade, mas sim muito nervoso e tenso, além de estar furioso com a notícia que acabava de receber.
- Você acha que eu sou louca de falar? Aí vocês vão vir me matar, mas nem. – Ela disse e fez um “brrr” com a boca, extremamente grosseira, depois quebrou o Walkie-Talkie no chão. - Quantos policiais será que eles mandaram para cá? – Apenas pensou em voz alta.

- Notícias urgentes, o Hospital Psiquiátrico Oku em Tóquio, para onde vão todos os piores loucos perigosos do país, teve uma fuga em massa, supostamente causada pela última internada, Camilla Hitokaze, conhecida como a Executiva. As ruas de Tóquio viraram um verdadeiro campo de batalha entre a polícia e os loucos, estima-se que 80 civis já tenham morrido, sem contar com os fugitivos e com a polícia, as ordens são de extermínio, atirar para matar todos os criminosos, antes que eles atirem para matar mais do que já mataram. Alguns dos criminosos ainda estão dentro do Hospital, e suspeita-se que o dono esteja sendo mantido como refém pela líder da rebelião, Camilla Hitokaze, e que todos os funcionários tenham sido mortos. A polícia já entrou no local para capturar a criminosa e resgatar sobreviventes, mas não temos mais informações. – A repórter falava na TV, Satoshi e Gabryella assistiam enquanto jantavam.
- Nossa filha vai morrer, nossa filha vai morrer. – Ela tremia enquanto via a reportagem, deixou sua colher de arroz cair no chão, com dezenas de lágrimas escorrendo rapidamente de seus olhos.
- Não, amor, ela vai sobreviver, ela sempre sobrevive, tema pelos policiais, não por ela. – Já Satoshi mantinha sua calma, com confiança excessiva na filha, lamentava que ela tivesse escolhido este caminho, mas sabia que sendo essa a escolha dela, ela não falharia em traçá-lo sem morrer cedo.

- Ora, vocês todos mortos, ficaram ótimos. Isso é uma visão do paraíso. – Um velho careca e de baixa estatura estava na sala de vigilância, via todos os corredores pelas imagens transmitidas pelas dezenas de câmeras espalhadas pelo hospital, ele via onde cada policial andava, cada corpo, cada ação de cada pessoa, e via que se aproximava uma dupla subindo as escadas em direção de onde estava. Segurava uma DGP da Hitonomi, uma pistola automática 38 milímetros roubada de algum funcionário, aquele velho tinha olhos vermelhos, certamente tinha dificuldades para dormir, se fosse para se julgar pela aparência, podia-se dizer que ele era o louco mais louco daquele hospício. Os guardas abriram a porta de uma vez, atirando, o velho atirou de volta, mas foi derrubado com uma bala no peito, que não acertou mortalmente, ao mesmo tempo que acertou o peito de um dos homens, que morreu na hora. O sobrevivente ainda lhe deu um tiro na cabeça, pois o primeiro não o matou “direito”, então, finalmente morreu.
- Oh meu amigo, eu lamento, mas acho que cumprimos nossa missão. – Se ajoelhou sobre o cadáver do companheiro e colocou a testa sobre a do morto, como uma forma de despedida, fechou a porta, pegou a arma do louco que acabava de matar, e procurou nas visualizações das câmeras por pessoas vivas e pela localização dos companheiros da polícia. Procurou nas dezenas de pequenas telas que mostravam cada cantinho daquele Inferno, só havia cadáveres, viu um policial correndo pelo corredor, o único aparentemente vivo, e depois viu, levando um forte choque em seu peito, 2 dos policiais mortos sendo lentamente desfiados por uma mulher ruiva com um facão em uma sala grande, a de Hiroya Oku. – Maldição, só sobraram 2 de nós, e ela. Quem é ela? Quem é essa louca? Camilla não está aqui, ela realmente fugiu, merda, merda, mas essa ruiva irá morrer, não vamos terminar isso sem um prêmio de consolação. – Se virou para o corpo morto do amigo. – Parceiro, nós vamos conseguir.

- Eu sou o grande Exterminador de Machos, vocês não podem fazer isso comigo! – Aizawa se jogou na frente do carro da polícia, e atirou contra o vidro, acertou a cabeça do motorista, que morreu na hora, mas o carro passou por cima dele, que foi jogado a 15 metros de distância e morreu na hora com o impacto violento, o delegado deu um grito enquanto o carro se descontrolava sem motorista e ia a toda velocidade contra um poste, um poste de energia em que bateu, ele caiu na hora, e causou um efeito dominó de quedas de postes, que iam caindo um por um, puxando um ao outro, o carro ficou amassado como uma lata de refrigerante, mas os policiais não morreram, exceto o que tomou o tiro do “Exterminador de Machos”, apenas desmaiaram com o violento impacto, mas o airbag foi a única coisa que salvou a vida do delegado Toshio, ele foi o único que não desmaiou, apenas sentiu uma violenta dor nas costelas, ainda teria muito o que fazer, não iria abandonar sua missão assim. Ao mesmo tempo que eles apagaram, as luzes também iam sumindo, enquanto os postes iam abaixo, um apagão era causado nos bairros daquelas redondezas.
- Porra! – Ele gritou toda a sua força, e saiu do carro, fazendo muito esforço pra isso, teve que sair pela janela, já que a porta foi deformada e não poderia ser aberta, mostrou ser realmente durão, ignorando a dor das costelas quebradas.

- Ei? – Justine estranhou quando todas as luzes se apagaram, e como o Hospício não tinha janelas, ficou na escuridão absoluta.
- É um apagão, demos sorte, eles não poderão nos achar desse jeito. – Camilla falou de debaixo da mesa, Hiroya acordou na hora, sem ver nem entender nada, grunhiu, e ela o apagou novamente com um golpe no pescoço.

- Oh Deus, não, não. – O policial que corria pelo corredor procurando por sobreviventes viu tudo escurecer, não conseguiu ver mais nada, e nem mesmo tinha uma lanterna, não haveria o que fazer nem pra onde ir, andar em um hospício habitat natural de assassinos sem ver nada seria, literalmente, loucura, faria barulho, e as chances de ser morto por alguém de tocaia seriam altíssimas, ele nem ao menos sabia quantos loucos ainda estavam vivos e o que eles queriam, estava perdido no total desconhecido, e seu medo era imenso, mesmo como um policial, uma profissão perigosa e arriscada, aquilo era novo para ele, e realmente assustador, tanto que demorou até perceber que poderia iluminar o próprio caminho com seu Walkie-Talkie, cuja pequena luz seria de grande ajuda naquela escuridão absoluta. Mas mesmo que usasse a luz, as chances de ser visto antes de ver alguém seriam bem maiores, afinal, ele teria que apontar a luz para uma pessoa para vê-la, mas qualquer um poderia vê-lo como um ponto luminoso à distância, não adiantaria.

- Justine, eles não vão saber aonde estamos, feche a porta, isso é tudo o que eu precisava,talvez eles pudessem nos ver com câmeras, vi um monte delas pelos corredores, deve ter aqui também, mas sem luz, sem câmeras, então estamos seguras, mais que antes, ah, melhor do que planejado. Tenho certeza que os policias não serão idiotas pra continuar a busca nessa escuridão total, e se forem, sei que não teremos dificuldades para matar todos eles, afinal, eu tenho uma arma que atira mais rápido do que se pressiona o gatilho. – Finalmente tirou sua Micro-Uzi roubada da calcinha.
- E se eles seguirem o som de nossa voz?
- Então eles chegarão atirando, mas a gente também pode atirar, vai ser uma batalha, e a gente irá vencer, não tenha medo, minha doce Justine.

- Eu vou matar vocês, eu prometo. – O homem que perdeu o companheiro nas mãos do velho maníaco careca descia as escadas bem devagar, segurava a arma com uma mão, e segurava um telefone celular com a outra, usando a luz verde para iluminar o caminho, mesmo assim cada passo era dado cuidadosamente, a luz do aparelho era extremamente limitada, só servia mesmo para ver os primeiros passos à frente, aquele lugar sem janelas na noite e sem eletricidade era como um verdadeiro abismo sem fundo, sem nenhum único raio de luz para iluminar seu caminho. Ele se arriscava usando aquela luz, se algum inimigo visse um pontinho luminoso, saberia que ele estava se aproximando e atacaria antes, mas nem mesmo pensou nisso, tinha apenas uma missão, e iria cumpri-la:
Matar a maníaca sobrevivente.

Justine percebeu a luz se aproximando e deu um tiro no escuro, pôde ouvir um grito bastante alto,
- Ahaha, consegui, matei ele, eu matei! – Ficou super animada, tinha certeza de que tinha matado o infeliz que estava para atacar, a luz do celular do homem sumiu de vez. Alguns segundos depois, sentiu sua barriga ser atravessada por balas, enquanto ouvia outros disparos, caiu pra trás e começou a atirar sem parar, pra todos os lados em que o homem poderia estar, dando gritos de dor, enquanto a vida deixava seu corpo. Agonizante, ouviu mais 2 gritos, atirou até o cartucho acabar, e se estirou no chão, sentindo muita dor, mas com a certeza de realmente ter matado o inimigo, o silêncio tomou o ambiente, certamente tinha matado o policial dessa vez, da primeira ele fingiu ser atingido mortalmente, quando na verdade tinha sido atingido na coxa, o que machucou e doeu muito, mas foi bem longe de ser mortal, ele guardou o celular para esconder a luz, e atirou diversas vezes no escuro, no lugar onde viu a luz dos tiros disparos da arma da vampira.
- Eu consegui, eu consegui. – Falava em lágrimas, estava jogada no chão, tinha 3 balas dentro da barriga, mas ainda não estava morta, não demoraria para morrer, sangrava rápido.
- Justine, ele te acertou? – Camilla saiu de baixo da mesa, e foi até a mulher que agonizava, se arriscando, mas naquela escuridão, não seria um problema tão grande.
- Sim, eu vou morrer, que merda, tá doendo. – Ela chorava, estava morrendo rapidamente, via tudo escuro, e não sabia se era por causa do apagão ou porque a vida a deixava.
- Eu não queria que isso tivesse acontecido, mas Satã te recompensará, eu prometo.
- Não tem como me salvar, Camilla? – As lágrimas corriam por seus olhos, sentia muita dor, e medo, era do tipo de pessoa que é totalmente indiferente às outras e às suas vidas, mas que tem medo quando se trata da própria, era estranho ver a Vampira de Yokohama daquele modo.
- Sim, tem. Você é forte, se fizermos a coisa certa, vai continuar viva, você é como Bruce Willis, minha amiga, “Dura de Matar”. – Ela sorriu quando fez o trocadilho fora de hora, embora na escuridão não desse para ver.
- Por favor, isso não é hora para contar piadas, você vê que eu estou morrendo. O que eu faça, mestra? O que eu faço? Você vai me salvar?
- Seu trabalho aqui na Terra já está completo, nesse estado você não pode fazer mais nada. – Levantou a blusa da mulher agonizante, e passou a língua em seus buracos de bala, sentindo o gosto de sangue em sua boca, levou as duas mãos para entre as pernas, estava pronta para praticar mais uma vez o seu macabro vício.
- O que está fazendo? – Já estava quase perdendo a consciência.
- Me masturbando. – Passava sua pequena língua por cada um dos 3 ferimentos mortais na pobre mulher, que gemeu baixo por alguns segundos. – Ah, e eu menti, Satã não existe e não sou representante dele, você é louco e eu te enganei, vampiros não existem. – Falou a verdade, voltando a lamber, Justine ouvia tudo, gemeu tentando dizer alguma coisa, mas só conseguiu articular duas palavras, não conseguia se mexer também.
- Executiva vadia. – Foram as últimas palavras que falou, gemidas, baixas e ofegantes, cheias de dor, emocional e física, tendo sido enganada por sua possível messias, desperdiçou sua vida à toa por ela, em vão, morreu do modo mais miserável que poderia, mas ainda tinha uma fraca esperança de que mesmo assim fosse recompensada no Inferno. Logo não emitiu mais nenhum som.
- Justine? – Camilla parou, descendo as próprias calças ao perceber que não haveria resposta. – Você está morta, quero amá-la uma última vez, minha querida. – Logo estariam ambas nuas, com seus corpos colados, beijos e esfregadas entre a viva e a morta, cortes feitos com o facão nos lábios, nos seios, nas coxas da ruiva, o sangue que se misturava entre saliva e fluídos vaginais, Camilla se divertiu como quando matou Chiaki, mas dessa vez tinha a vantagem de estar na escuridão total, e ter um público auditivo, o doutor Hiroya podia ouvir seus gemidos, e seus comentários sórdidos:
“Oh Justine, você morta é muito mais deliciosa.”
O corpo dela ainda estava quente, o gosto do sangue agradava a menina, embora ela não fosse uma vampiromaníaca como sua “amante”, Hiroya sentia nojo apenas em ouvir os sons, e de saber exatamente o que a menina estava fazendo, os ruídos dela demonstravam um prazer absolutamente lancinante. Ela terminou com as pernas bambas e o corpo todo cheio de manchas de sangue, então vestiu sua roupa, lambendo os beiços, procurou no escuro por corpos, no corredor ela sentiu o corpo do último policial morto por Justine, conseguiu pegar o celular dele, mesmo sem ver nada, então colocou na agenda numérica, deixando a luz do aparelho iluminar seu caminho e voltando pra dentro da sala, fechou a porta imediatamente. Discou pro número do delegado Toshio.
- Alô? – Disse com voz grossa, era ótima para simular vozes, não costumava falhar a menos que fosse de propósito.
- Tem notícias para mim, Ukita? – Toshio disse o nome do homem de identidade roubada.
- Vimos nas câmeras, procuramos em todos os lugares, conseguimos matar todos, mas não achamos a Executiva. – Tinha uma voz cansada além de grossa.
- Como não?
- Ela não está aqui, mas já está tudo sobre controle.
- Então acabou?
- Acabou, cumprimos a missão. – Tossiu como se estive muito mal.
- Você está bem?
- Não, eu levei um tiro na barriga, vou morrer, por favor, peguem a executiva, ela causou tudo, os outros morreram, eles e nós. – Falava com uma voz cada vez mais fraca, e parou de falar.
- Estão todos mortos? Você é o último sobrevivente?
- S-sim, eu estou morrendo. – Falou em um sussurro gago e muito fraco, como se realmente estivesse morrendo.
- Ukita? Ukita? – A voz do delegado se exaltou, mas não houve resposta. Insistiu por mais 2 minutos, mas não tinha resposta, então desligou a ligação, Camilla se manteve em total silêncio nesse tempo, apenas ouvindo, queria realmente convencê-lo de que a operação tinha sido cumprida, mas que os policiais estavam mortos, assim, não estranhariam que nenhum deles saísse vivo do hospital.
- Eles conseguiram matar todos, agora só temos que matar os que estão aqui na rua! E vamos pegar a Executiva, não importa como! – Gritou, guardando seu celular, nunca na vida seu senso de justiça tinha falado tão alto, capturar a assassina se tornava algo cada vez mais pessoal para cada profissional envolvido naquele pesadelo.


- Doutor? Vê? Está tudo acontecendo melhor do que planejei, esse apagão não foi planejado. Mas mesmo assim, terei prazer em te contar o que foi que eu planejei. Tudo começou quando você começou a me dar antidepressivos, você quase me internou em um hospício, e me obrigou a abandonar qualquer tipo de violência, coisa que eu sempre amei, eu tinha que fazer você pagar, e desde aquela época, planejo matar você, na verdade, prometi pra mim mesma que eu ia te matar. Meus primeiros crimes não foram planejados, eu fui seqüestrada, e matei todos eles com a ajuda do meu pai, mas ele apenas os matou como bandidos maus, eu os torturei, e senti prazer com isso, ele não tem culpa de ter uma filha tão sádica. Os outros crimes foram planejados, apenas por diversão, mas quando matei os 4 mendigos e fui presa, eu tenho que admitir, eu mesma fiz a denúncia de tráfico de drogas naquele cinema abandonado, eu fiz voz de homem tão bem no telefone. Não sei se repararam, mas sou filha do Satoshi Hitokaze, poderia fazer meu número de celular ser anônimo e irrastreável não seria tão difícil, a tecnologia da Hitonomi é impressionante, meu bom amigo, mas preferi ligar de um orelhão, bem mais prático. O meu plano era ser presa, conseguir fugir, e soltar todos os loucos, eu conseguiria te agarrar, te manter como refém, e finalmente, cumprir a promessa que fiz anos atrás, você lembra, fiz na sua sala, e claro, você não vai apenas morrer, vai doer e demorar muito. – Passou a mão no rosto dele, fazendo carinho, enquanto ele grunhia o máximo que podia, mas ainda estava imóvel e amordaçado, totalmente desesperado, nem mesmo podia acreditar que aquilo fosse real, era pior que o pior dos pesadelos, e era real, nas mãos da executiva.
- Agora, doutor, somos só e eu e você. Antes, só tenho que me livrar das roupas do Mi. – Beijou a testa de seu refém, e sorriu como nunca, podia não ser visível, mas ela realmente não se importava, se divertiria muito agora que a polícia ficaria longe do interior do hospital, ocupada, já que supostamente os criminosos no seu interior já teriam sido todos abatidos, só entrariam lá para contar os corpos e fazer as perícias, e o tempo antes disso era abundante, tempo que o psiquiatra desejaria nunca ter vivido, além disso, naquele apagão, não seria inteligente entrar no hospício, não fariam isso antes que alguém resolvesse o problema de luz, ou que a luz do Sol raiasse, Hiroya era só dela.


- A fuga do Hospital Psiquiátrico Oku foi controlada, estima-se que 170 civis tenham morrido, sem contar com os policiais e criminosos, mas todos os fugitivos já foram executados, exceto a causadora de tudo, Camilla Hitokaze, a Executiva, que continua foragida, e Miyazaki Tsutomo, que também não foi encontrado. O Hospital Psiquiátrico Oku já está no controle das autoridades, foram encontradas dezenas de corpos de funcionários, nenhum sobrevivente foi encontrado, o corpo do dono do hospital, Hiroya Oku, supostamente foi encontrado totalmente desfigurado, o reconhecimento foi dado devido ao óculos dele, que foi encontrado do lado do corpo nu, suas roupas não foram achadas, e há quase certeza de que ele foi assassinado pela própria Executiva. O hospital será permanentemente fechado, e após esse ocorrido, qualquer criminoso insano será executado ao invés de internado, de acordo com a nova lei aprovada, a lei Executiva, que exige a pena de morte para qualquer criminoso de alta periculosidade e com problemas mentais, para evitar que outra tragédia como a de ontem ocorra. E avisamos que tenham cuidado, pois a pior serial killer está à solta, e pode estar a qualquer lugar. – A repórter de cabelo cortado lia o texto com simpatia na frente do Hospital Psiquiátrico Oku, cujo perímetro estava completamente rodeado de fitas amarelas de isolamento, ainda teriam que contar muitos corpos, fazer muitos reconhecimentos e perícias, o Sol brilhava fracamente naquele dia, talvez ele estivesse de luto como toda a nação japonesa naquele trágico momento, ou talvez, simplesmente fosse um dia nublado, com A Executiva em qualquer lugar, pronta pra caçar, pronta pra se divertir. Mais tarde descobririam que o corpo encontrado era de Miyazaki, e não de Hiroya, cujo corpo nunca seria encontrado, o que impediu que o mundo sequer imaginasse as brutalidades que ele sofreu antes de morrer.




















Temporadas no Abismo




A que ponto uma pessoa pode chegar com sua insanidade? Qual é o mal supremo que uma pessoa pode fazer em sua vida? Camilla Hitokaze é uma criança japonesa de 10 anos que assusta o mundo inteiro ao cometer assassinatos brutais e necrofilia, e acaba sendo internada no principal hospital psiquiátrico de Tóquio, especializado em casos de assassinos em série, o que mais assusta é a indiferença com que os faz, não tendo nenhum motivo para fazê-los, aparentemente tendo os feito apenas porque gosta. O dono do hospital e principal psiquiatra tenta desvendar o que realmente aconteceu e entender o que levou a menina a cometer tais barbaridades, mas tudo dá errado e ela acaba no controle do hospício, transformando o local em seu próprio “Inferno particular”. Um livro que mostra a pior face do ser humano, extrapolando todos os limites de decência e moral, obsceno, grotesco, doentio, perturbador e bizarro, uma análise das mentes mais doentias já existentes em primeira pessoa, apresentando o pensamento e o raciocínio de um serial killer perfeitamente, através de páginas de pura, “refinada” e extrema brutalidade.